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O comportamento humano pode ser apontado como o mais intrigante objeto de estudo da ciência. Estamos a falar de algo que trazemos em nós (ou, mais além, do que nós somos), o que fazemos e, principalmente, por que o fazemos. A iden&ficação da

38 A caracterização pode ser feita com a separação em grupos com caracterís&cas comuns, como localização, etnia, género, ou qualquer outra forma de iden&ficação capaz de dis&nguir seus representantes dos demais indivíduos e grupos da comunidade.

causa do comportamento é a chave para a sua modulação, poder ambicionado não só pelos mercados, mas também pelas lideranças polí&cas, na imposição de ideias próprias a um indivíduo ou à cole&vidade39.

De consenso, pode-se dizer que o comportamento humano é uma reação aos esLmulos da experiência presente, com base em um condicionamento adquirido, decorrente das consequências de uma experiência passada. Assim, para compreender o padrão de comportamento atual, é necessário inves&gar a história comportamental do indivíduo. Quais os factos e eventos significa&vos (ainda que, em alguns casos, mal percebidos pela consciência) o levaram a agir de determinada forma, em um impulso de auto preservação. E qual o &po de esLmulo atual remeteria esse indivíduo a um cenário mental análogo, em que a reação esperada seria, se não a mesma, ao menos similar àquela manifestada na experiência pretérita.

COSTA E SOARES40 apontam três &pos de padrões a serem inves&gados: (1) o &po

filogené&co, relacionado à história de evolução da espécie; (2) o &po ontogené&co, em que o objeto é o próprio comportamento histórico do indivíduo; (3) o &po cultural, cujo interesse está na história do universo cole&vo em que o indivíduo está inserido41.

No primeiro caso (filogené&co), o comportamento do indivíduo está associado à condição geral do ser humano, na perpetuação hereditária de comportamentos que possibilitaram o sucesso da espécie. Como o comportamento de um predador, que sabe que, para subsis&r, deve perseguir a presa, e o da presa, que sabe que, para sobreviver, deve fugir do predador. São reações não aprendidas, que acontecem naturalmente porque herdadas da programação gené&ca dos antepassados.

39 O uso da propaganda por lideranças autoritárias que levaram seus povos à guerra e à miséria é facto que, neste trabalho, tomaremos como notório na história da humanidade (remota e recente), dispensando um aprofundamento no estudo de casos específicos.

40 COSTA, Carlos Eduardo e SOARES, Paulo Guerra – História comportamental: definições e experimentação. Psicologia e análise do

comportamento: Conceituações e aplicações à educação, organizações, saúde e clínica. Org. HAYDU, Verônica Bender, FORNAZARI, Silvia Aparecida, ESTANISLAU, Célio Roberto, pp. 61-90. Londrina: UEL, 2014, p. 61.

41 BELLO-GÓMEZ apresenta uma distribuição diferente dos componentes da a&tude humana em cogni&vos (mo&vações conscientes), afe&vos (emoções e sen&mentos) e de conduta (mo&vado pela referência de experiências passadas). (BELLO-GÓMEZ, Felipe de Jesús - El Populismo y la Neurosegmentación Polí ca del Indigente Cogni vo. Tehuacán: Universidad Internacional de La Roja, 2018. Dissertação de Mestrado [acedido em 14 dezembro 2018]. Disponível na internet: hcps:// reunir.unir.net/bitstream/handle/123456789/6569/BELLO%20G%C3%93MEZ%2CFELIPE%20DE%20JE%C3%9AS.pdf?sequence=1& isAllowed=y, pp. 13-14). Esses fatores podem ser classificados, respe&vamente, como conscientes internos (racionais), inconscientes internos (emocionais) e externos (socioculturais). A classificação diz menos da origem e mo&vação do que da forma como o indivíduo reage aos esLmulos, o que nos leva a preferir, por mais precisos, os &pos padrão adotados por COSTAE SOARES

O segundo padrão (ontogené&co) compreende as reações aprendidas pelas experiências individuais. Cada facto vivido pelo indivíduo deixa gravadas em sua mente as impressões sensoriais que determinarão o seu modo de reagir em circunstâncias similares posteriores. O medo ou o prazer provocado por um evento remoto (recompensas posi&vas ou nega&vas) voltarão a ser experimentados, sempre que os factos presentes produzirem um esLmulo análogo, ainda que em um contexto diferente.

Por fim, as reações influenciadas pelos fatores culturais. O indivíduo, inserido numa comunidade, aprende a se comportar como os demais indivíduos em circunstâncias similares. Resguardada a interferência dos fatores individuais, espera-se que cada integrante de um grupo reaja da mesma forma que os demais, quando confrontado com uma situação parecida.

Em síntese, a reação previsível de cada indivíduo estará associada: (1) ao comportamento geral da espécie humana (fatores filogené&cos); (2) às suas experiências individuais (fatores ontogené&cos); (3) ao comportamento dos demais integrantes de seu grupo comunitário (fatores culturais).

Sendo esses três fatores a base para o comportamento presente do indivíduo, conhecê-los nos permi&rá antever sua reação a determinado esLmulo atual. O que significa que, conhecendo a história da evolução da espécie humana42, os aspetos

culturais da sociedade e o histórico comportamental dos indivíduos, pode-se conhecer, com tanta precisão quanto precisas forem as informações que se tem, qual será sua reação a determinado esLmulo, ou, mais pragma&camente, como reagirá a determinada propaganda, comprando um produto ou votando em um candidato.

42 DARWIN lançou as bases para o estudo da influência dos fatores ambientais e de comportamento no desenvolvimento de caracterís&cas das gerações seguintes, no que se tornou conhecido como a “teoria da evolução” (DARWIN, Charles – On the origin of

species, or the preserva on of favoured races in the struggle for life. London: John Murray, 1859. E-book). Na obra, ao discorrer

sobre a domes&cação, já apresenta conceitos familiares à psicologia comportamental. FREUD refere-se à teoria da evolução como a

segunda grande deceção do homem, ao se descobrir descendente de outras espécies. A primeira seria a descoberta de que seu planeta, a Terra, não era o centro do universo. A terceira (e maior) deceção seria a descoberta de que ele, o ser humano, não era, sequer, senhor do seu próprio ser (ego), subme&do aos desígnios inconscientes de sua existência psíquica (it) (FREUD, Sigmund – A