• Nenhum resultado encontrado

L UCIAN , Rafael Análises baseadas em web analy&cs: os quatro níveis de informação Revista Brasileira de Administração

2.1.1 – O estudo do comportamento humano

50 L UCIAN , Rafael Análises baseadas em web analy&cs: os quatro níveis de informação Revista Brasileira de Administração

Cien@fica – Anais do Simpósio Brasileiro de Tecnologia da Informação. Vol. 5, número 2, pp. 71-82, outubro 2014, p. 73.

51 ERTHAL, Tereza Cris&na – Manual de psicometria. Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p. 20.

Assim, a medição de um fenómeno exige: (1) que se determine uma escala de valores graduais entre a ausência e a plenitude da qualidade a ser medida, ou um ponto central que represente a média da normalidade (definição do ponto zero da escala de medida); (2) que essa qualidade possa ser observada quan&ta&vamente no fenómeno a ser medido (definição da unidade de medida e da graduação); (3) que a quan&dade do atributo observado possa ser comparada com o padrão de valores, iden&ficando sua posição pela proximidade com o ponto zero e o total, (em valores absolutos posi&vos) ou sua distância do ponto central (em valores rela&vos, posi&vos ou nega&vos).

A forma como se realiza uma medição está in&mamente relacionada com a forma como o objeto é observado. Quando nos propomos a medir os fenómenos psicológicos, precisamos, antes, conhecer um modo de observá-los, não apenas nos dando conta da sua existência, mas de uma forma que nos permita atribuir valores aos seus efeitos, estabelecendo uma escala quan&ta&va do atributo, com a determinação do ponto médio a indicar a normalidade53. Isso será ob&do através de um processo de

controlo de variáveis, com a realização de testes e análise compara&va dos seus resultados. Historicamente, os testes psicológicos evoluíram em complexidade e especificidade, das primeiras tenta&vas de medição da inteligência para os testes de ap&dão e interesse específicos, até os atuais estudos que buscam iden&ficar as determinantes do comportamento humano.

O estudo ideal de um fenómeno psicológico tem início com a observação do facto, com registos quan&ta&vos de eventos, tempo e produção, dispostos numa escala de avaliação. As informações ob&das pela observação são complementadas pela inquirição, através de ques&onários e entrevistas, culminando em testes (padronizados ou construídos) capazes de iden&ficar caracterís&cas cogni&vas, afe&vas e psicomotoras do indivíduo54.

53 ERTHAL adverte da impossibilidade de se estabelecer um “ponto zero” da inteligência ou da ap&dão, explicando o objeto a ser medido como “uma variável psicológica definida como uma caracterís&ca que cada indivíduo possui em diferentes níveis” (ERTHAL,

Manual de psicometria, pp. 21-22). Sob essa ó&ca, uma incapacidade absoluta poderia corresponder à completa ausência de

a&vidade cerebral. Ou, ainda com uma a&vidade cerebral básica, uma ausência de a&vidade mental. Ou, ainda, a ausência de a&vidade intelectual. De facto, mostra-se mais conveniente buscar um ponto médio de normalidade, do que estabelecer um ponto zero para a sua ausência.

Testes específicos podem medir caracterís&cas importantes da personalidade do indivíduo, como estabilidade emocional, a&tude, interesse, entre outras. Para alcançar o obje&vo pretendido, é necessário escolher o teste adequado ao objeto do estudo, e que seja aplicado adequadamente em ambiente controlado, sem interferência de esLmulos estranhos à experiência idealizada. PASQUALI faz uma associação

(aparentemente óbvia)55 da validade de um teste à precisão na iden&ficação do

resultado.

Em 1980, estudos da personalidade através da psicometria conduziram ao desenvolvimento de um modelo de avaliação de caracterís&cas individuais a par&r de cinco traços de personalidade56, conhecidos como Big Five, ou OCEAN (formada pelas

inicias, em inglês, das cinco caracterís&cas: openness, conscien ousness, extraversion, agreeableness, neuro cism).

A primeira caracterís&ca, “abertura”, corresponde à propensão do indivíduo a buscar novos desafios e experiências. A segunda, “conscienciosidade”, à correção de comportamento na realização de tarefas e a&vidades. A terceira, “extroversão”, é representada pelo grau de sociabilidade e capacidade de trabalho colabora&vo. A quarta, “afabilidade”, mede a capacidade de adequação e de se ajustar ao comportamento do outro. A quinta, “neuro&cidade”, é a tendência a dar uma resposta de ordem emocional. A resposta a um elenco de questões relacionadas a cada uma das cinco caracterís&cas estudadas, através de um ques&onário complexo e pessoal, possibilitava uma avaliação rela&vamente precisa da personalidade do indivíduo, iden&ficando seus medos, necessidades e tendências comportamentais.

As dificuldades na recolha dos dados para a psicometria dos big five impediam seu uso massivo, até que dois pesquisadores da Cambridge University, Michael Kosinski e David S&llwell, incluíram seus tópicos em ques&onários psicométricos distribuídos através de aplicações na internet57, possibilitando a reunião de um acervo considerável

55 “Ele é válido se de facto mede o que supostamente deve medir, para iden&ficar o objeto real da pesquisa: ao se medirem os

comportamentos (…), que são a representação [sica do traço latente, está-se medindo o próprio traço latente” O traço latente da personalidade não pode ser observado diretamente, mas tão somente por seus efeitos no comportamento do indivíduo. PASQUALI

apresenta como análoga a mensuração de fenómenos astronómicos (PASQUALI, Psicometria, p. 995).

56 GRASSEGGER, Hanner e KROGERUS, Mikael - A manipulação da democracia através do Big Data. Jornal eletrônico GGN, (06 fevereiro 2017) [acedido em 23 fevereiro 2018]. Disponível na internet: hcps://jornalggn.com.br/no&cia/a-manipulacao-da- democracia-atraves-do-big-data-por-hannes-grassegger-e-mikael-krogerus, p.2.

de dados com pontuações psicométricas de milhões de pessoas. Esse acervo seria, posteriormente, incrementado por outras informações disponíveis na rede mundial da internet, à medida que a evolução tecnológica das ferramentas de busca e estruturação de dados permi&a a o&mização dos processos.