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Resultados e discussão

2. Comportamento na contenção

As posições de entrada no tronco dos indivíduos de cada grupo nos momentos de contenção dos animais para coleta de amostras, estão discriminadas nas tabelas 2 a 5.

No manejo de encaminhamento dos animais ao tronco, os grupos foram apartados isoladamente. Os animais permaneceram em uma pequena área que confluía ao corredor de acesso ao tronco. A ordem de entrada dos animais neste corredor e, conseqüentemente, no tronco, ocorreu pela disposição dos indivíduos no grupamento dos animais na área de acesso ao corredor e pela reação do animal ao estímulo dos tratadores. Na grande maioria das vezes a voz dos tratadores foi suficiente para a mobilização dos animais, não sendo utilizado aparelho de choque em instante algum. Segundo Grandin (1998), os bovinos que tiveram uma experiência ruim com a contenção em tronco tendem a ser mais estressados em nova contenção do que aqueles que foram submetidos anteriormente a um manejo mais gentil.

Durante o experimento, observaram-se os seguintes padrões na ordem de entrada dos animais no tronco: 1) animais que mantiveram as posições de entrada no tronco, como o animal 1 do GL, primeiro, segundo ou terceiro indivíduo do grupo a entrar no tronco nos cinco momentos, e o animal 8 do GD, sexto a oitavo animal do grupo nos momentos avaliados; 2) animais que tenderam a mudar a posição de entrada no tronco, para as últimas posições, como o animal 3 do GD (terceiro a entrar nos três primeiros momentos e nono nos últimos dois momentos), ou para as primeiras posições, como o animal 10 deste mesmo grupo (décimo, nono, segundo, quarto e primeiro do grupo na seqüência dos cinco momentos) e 3) animais que mudaram aleatoriamente de posição, como o animal

2 do GD7T (segundo, sétimo, nono, primeiro e sexto do grupo nos momentos avaliados).

No GL, se mantiveram nas cinco primeiras posições de entrada, um animal nos cinco momentos, dois animais em quatro momentos, quatro animais em dois ou três momentos, dois animais em um momento e um animal em nenhum momento, ou seja, estes três últimos animais permaneceram quase sempre nas últimas posições do grupo. Padrões semelhantes, com pequenas variações, foram observados nos outros três grupos.

Os resultados do escore do comportamento dos animais dos quatro grupos no tronco, nos momentos avaliados, estão representados pelas medianas na tabela 6 e figura 1.

Não foi observada diferença significativa (p>0,05) no escore de comportamento no tronco entre os grupos dentro de cada momento e entre os momentos dentro de cada grupo. Este resultado sugere que a repetição da contenção em cinco momentos por quatro dias e os diferentes tratamentos impostos aos animais não influenciaram o comportamento dos animais no tronco.

Segundo Grandin (1993), os bovinos com temperamento mais calmo de raças européias tendem a se tornar mais dóceis na repetição da contenção não dolorosa, ao passo que animais mais agitados tendem a se tornar mais violentos. Solano et al. (2004) observaram que os indivíduos do lote que tendem a ser os últimos a entrar no tronco, tendem a um temperamento mais calmo. De acordo com estas considerações, haveria a possibilidade das possíveis alterações de comportamento entre os animais dóceis e agitados pudessem se compensar, resultando em igualdade de resultado do grupo ao longo dos momentos. Esta possibilidade foi eliminada por não haver correlação (p>0,05) entre a posição de entrada do animal

e seu comportamento no tronco, mesmo quando foram comparados apenas aqueles animais com comportamento de posicionamento bastante evidente, isto é, animais que permaneceram nos cinco momentos entre os primeiros ou últimos a entrar.

Conclui-se que, nas condições do presente experimento, a repetição da contenção e a ordem de entrada do animal no tronco de contenção, o desmame e o transporte rodoviário, não influenciaram o escore do comportamento dos animais no tronco.

Tabela 2: Posição de entrada no tronco de contenção dos bovinos da raça Nelore, de sete a oito

meses de idade, pertencentes ao grupo de animais lactentes (GL), segundo os momentos avaliados. Momento Animal MD0T-12 MD12T0 MD16T4 MD36T24 MD48T36 Mediana 1 1 1 3 2 3 2,0 2 2 4 1 7 2 2,0 3 3 3 8 1 6 3,0 4 4 5 10 5 4 5,0 5 5 8 2 6 5 5,0 6 6 2 5 9 10 6,0 7 7 7 9 8 9 8,0 8 8 6 6 3 1 6,0 9 9 9 7 4 7 7,0 10 10 10 4 10 8 10,0

Tabela 3: Posição de entrada no tronco de contenção dos bovinos da raça Nelore, de sete a oito

meses de idade, pertencentes ao grupo de animais desmamados (GD), segundo os momentos avaliados. Momento Animal MD0T-12 MD12T0 MD16T4 MD36T24 MD48T36 Mediana 1 1 5 7 1 2 2,0 2 2 1 1 5 3 2,0 3 3 3 3 9 9 3,0 4 4 7 5 8 7 7,0 5 5 6 4 3 10 5,0 6 6 10 10 2 4 6,0 7 7 4 9 6 6 6,0 8 8 8 6 7 8 8,0

9 9 2 8 10 5 8,0

10 10 9 2 4 1 4,0

Tabela 4: Posição de entrada no tronco de contenção dos bovinos da raça Nelore, de sete a oito

meses de idade, pertencentes ao grupo de animais desmamados e transportados (GDT), segundo os momentos avaliados.

Momento Animal MD0T-12 MD12T0 MD16T4 MD36T24 MD48T36 Mediana 1 1 1 6 3 1 1,0 2 2 7 2 9 7 7,0 3 3 10 5 1 9 5,0 4 4 4 9 4 4 4,0 5 5 2 3 2 2 2,0 6 6 5 1 10 8 6,0 7 7 8 7 7 6 7,0 8 8 9 4 6 3 6,0 9 9 3 8 8 10 8,0 10 10 6 10 5 5 6,0

Tabela 5: Posição de entrada no tronco de contenção dos bovinos da raça Nelore, de sete a oito

meses de idade, pertencentes ao grupo de animais desmamados sete dias antes e transportados (GD7T), segundo os momentos avaliados.

Momento Animal MD0T-12 MD12T0 MD16T4 MD36T24 MD48T36 Mediana 1 1 3 2 4 1 2,0 2 2 7 9 1 6 6,0 3 3 2 3 8 3 3,0 4 4 6 5 7 7 6,0 5 5 1 6 2 2 2,0 6 6 5 10 10 9 9,0 7 7 10 7 5 5 7,0 8 8 4 4 6 4 4,0 9 9 8 8 9 10 9,0 10 10 9 1 3 8 8,0

Tabela 6: Medianas e análise estatística de cinco repetições do comportamento no tronco de contenção (escore) de bovinos da raça Nelore de sete a oito meses de idade, dos

grupos lactentes (GL), desmamados (GD), desmamados e submetidos ao transporte rodoviário por quatro horas (GDT), e desmamados na semana anterior às coletas de amostras e submetidos ao transporte rodoviário por quatro horas (GD7T), segundo os momentos avaliados. Momentos Grupos MD0T-12 MD12T0 MD16T4 MD36T24 MD48T36 GL 1⎦ 1,5 2,0 2,5 1,0 1,5 GD 2,5 2,0 2,0 2,0 2,0 GDT 2,0 2,5 2,0 2,0 2,0 GD7T 2,0 1,0 2,0 2,0 1,0

1⎦

Não se verificou diferença significativa entre os grupos dentro de cada momento e entre os momentos dentro de cada grupo.

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 MD0T-12 MD12T0 MD16T4 MD36T24 MD48T36 Momentos Es c o re GL GD GDT GD7T

Figura 1: Medianas e análise estatística de cinco repetições do comportamento no tronco de contenção (escore) de bovinos da raça Nelore de sete a oito meses de idade, dos

grupos lactentes (GL), desmamados (GD), desmamados e submetidos ao transporte rodoviário por quatro horas (GDT), e desmamados na semana anterior às coletas de amostras e submetidos ao transporte rodoviário por quatro horas (GD7T), segundo os momentos avaliados.

4. Cortisol

Os resultados da concentração sérica do cortisol dos animais dos quatro grupos, nos momentos avaliados, estão representados pelas medianas na tabela 7 e figura 2.

A concentração do cortisol nos grupos GL, GD e GDT não apresentou variação significativa (p>0,05) durante o experimento. No GD7T, a concentração do cortisol aumentou sucessivamente (p<0,05) no segundo e terceiro momentos, retornando ao valor do primeiro momento (p>0,05) nos momentos seguintes.

Entre os grupos, diferença significativa da concentração sérica do cortisol (p<0,05) foi observada no MD16T4, com GD7T maior que GDT e GL, e estes, maiores que GD.

Outros pesquisadores investigaram a concentração do cortisol no desmame de bovinos. Hickey et al. (2003) não observaram alterações da concentração deste hormônio durante o desmame de bovinos acostumados ao contato humano. Lefcourt & Elsasser (1995) relataram aumento significativo na adrenalina e noradrenalina e não significativo do cortisol no desmame de bovinos mestiços de raças européias. Já Fell et al. (1999) e Bueno et al. (2003) correlacionaram o aumento do cortisol no desmame com o ganho de peso dos animais, com resultados contraditórios.

A ausência de alterações significativas no cortisol dos animais lactentes e desmamados durante as etapas de coleta de amostras do presente experimento indicam que as primeiras 48 horas de desmame não foram um estímulo suficiente para o aumento da concentração sérica deste hormônio.

Investigando a correlação do transporte com o cortisol, Warris et al. (1995) observaram que a concentração deste hormônio após cinco horas é mais alta do que após 10 ou 15 horas de transporte. Resultado semelhante foi relatado por Tadich et al. (2003), comparando três e 16 horas de transporte. Já Villarroel et al. (2003) concluiram que a elevação do cortisol é maior nos trajetos com duração de uma a duas horas, quando comparados aos trajetos inferiores ou superiores a estes. Diferente dos resultados destes trabalhos, no presente experimento não foi observada alteração significativa na concentração do cortisol do GDT no momento imediatamente após o transporte de quatro horas. Além das características de comportamento dos animais, uma possível justificativa para esta

discordância de resultados é que Tarrant el al. (1989, 1992) relataram que em bovinos adultos transportados em alta densidade de animais no veículo, a concentração de cortisol é aproximadamente o dobro daquela dos animais transportados em densidade média, que por sua vez é cinco vezes maior que a dos animais transportados em densidade mais baixa. Segundo os padrões propostos por estes autores, o presente experimento empregou o transporte dos animais em baixa densidade.

O aumento da concentração do cortisol no GD7T no MD12T0, indica um maior impacto do manejo de contenção nestes animais. Outro aumento ocorreu no momento seguinte ao transporte (MD16T4). Estes resultados, somados à diferença entre os grupos (GD7T > GDT) no MD16T4, sugerem uma maior susceptibilidade ao estresse do manejo e do transporte nos animais desmamados uma semana antes do evento, quando comparados aos animais desmamados 12 horas antes. Entretanto, apesar do presente experimento intencionar uma distribuição aleatória dos animais de mesma idade pelos quatro grupos, foi constatado que os animais do GD7T possuíam uma origem genética diferente daquela dos outros três grupos. Como o comportamento, segundo Neindre et al. (1996), é uma herança genética, não se pode descartar esta influência na diferença da concentração do cortisol na resposta ao estresse nos animais do GD7T.

Esta diferença do cortisol sérico dos animais GD7T, seja ela motivada pelo tempo de desmame ou por fatores genéticos, corrobora com a observação de Grandin (1998), que as variáveis envolvidas no estresse podem resultar em resultados conflitantes nas diferentes pesquisas sobre manejo e transporte.

Nos animais do presente experimento, o grupo que possuía o maior peso médio dos animais, GD7T (tabela 26), foi aquele que apresentou concentrações

mais altas de cortisol. Para Bueno et al. (2003), os animais desmamados com sete meses de idade têm um desempenho de crescimento melhor por possuírem níveis séricos de cortisol mais elevados do que os animais desmamados com cinco ou nove meses. Entretanto, Fell et al. (1999) compararam o ganho de peso de bovinos com idades entre sete e nove meses, concluindo que os animais com menor concentração sérica do hormônio tem melhor desempenho de crescimento. A origem genética diferente dos animais GD7T não permite maiores considerações sobre influência do cortisol no ganho de peso, já que outros fatores genéticos estão envolvidos. Mas uma consideração deve ser feita. Dos 10 animais do GD7T, dois vieram a óbito no dia seguinte ao término do experimento. A necropsia dos animais apontou como causa mortis o carbúnculo sintomático, enfermidade associada ao estresse físico e psicológico e ao maior peso dos bovinos.

Quanto à correlação do cortisol com o comportamento no brete de contenção, Solano et al. (2004) relataram que os bovinos que tendem a ser os últimos do grupo a entrar no tronco, possuem concentrações menores de cortisol. No presente experimento não foi observada correlação (p>0,05) entre a posição de entrada no tronco e o cortisol, assim como entre o escore de comportamento e o cortisol.

Tabela 7: Medianas e análise estatística de cinco repetições da concentração sérica de cortisol

(U/L) de bovinos da raça Nelore de sete a oito meses de idade, dos grupos lactentes (GL), desmamados (GD), desmamados e submetidos ao transporte rodoviário por quatro horas (GDT), e desmamados na semana anterior às coletas de amostras e submetidos ao transporte rodoviário por quatro horas (GD7T), segundo os momentos avaliados. Momentos Grupos MD0T-12 MD12T0 MD16T4 MD36T24 MD48T36 GL 4,46 Aa 4,91 Aa 5,51 Ba 4,33 Aa 3,79 Aa GD 4,90 Aa 4,64 Aa 3,03 Aa 3,67 Aa 3,58 Aa GDT 4,45 Aa 5,51 Aa 5,02 Ba 4,36 Aa 4,90 Aa GD7T 4,29 Aa 6,78 Ab 10,48 Cc 3,84 Aa 4,17 Aa Letras minúsculas. Para cada grupo, momentos representados pelas medianas seguidas de letras iguais não diferem significativamente (p>0,05).

Letras maiúsculas. Para cada momento, grupos representados pelas medianas seguidas de letras iguais não diferem significativamente (p>0,05).

0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 MD0T-12 MD12T0 MD16T4 MD36T24 MD48T36 Momentos U I/L GL GD GDT GD7T

Figura 2: Medianas de cinco repetições da concentração sérica de cortisol (U/L) de bovinos da

raça Nelore de sete a oito meses de idade, dos grupos lactentes (GL), desmamados (GD), desmamados e submetidos ao transporte rodoviário por quatro horas (GDT), e desmamados na semana anterior às coletas de amostras e submetidos ao transporte rodoviário por quatro horas (GD7T), segundo os momentos avaliados.

5. Hematologia

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