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Os procedimentos que envolvem contenção de bovinos em um tronco normalmente não causam dor, mas o componente medo, principalmente em animais de criações extensivas, é um componente altamente estressante (GRANDIN, 1998). No sistema de manejo de gado extensivo, os animais normalmente são alimentados pela mãe e tem um contato neutro ou aversivo com os seres humanos. Muitos problemas de bem-estar relacionados à interação entre os animais e os seus tratadores, podem surgir quando há intensificação do manejo (NEINDRE et al., 1996). Durante a contenção, os bezerros de criação extensiva possuem níveis de cortisol mais altos do que aqueles acostumados ao contato humano (GRANDIN, 1998).

A novidade é um forte agente estressante. Como as recordações de medo não podem ser apagadas da memória de um animal, é fundamental que o primeiro contato de um animal com uma experiência seja minimamente estressante. Os bovinos que tiveram uma experiência prévia ruim com a contenção em tronco

tendem a ser mais estressados em nova contenção do que aqueles que foram submetidos anteriormente a um manejo mais gentil. A contenção com manejo bruto tende a causar um impacto maior aos animais com temperamento agitado do que aqueles com temperamento mais calmo. A experiência prévia interage com os fatores genéticos (GRANDIN, 1997, 1998).

Os métodos do manejo e a seleção de animais apropriados devem ser estudados para minimizar os problemas de manejo e as suas conseqüências negativas. O estresse dos animais aumenta quando ocorrem situações particulares como inseminação artificial, exame veterinário ou manejo pré-abate. O temperamento agressivo está associado a uma carcaça de pior qualidade. A intensificação do manejo, como o aleitamento artificial por pessoas nas primeiras semanas de vida de um bezerro, leva o animal a um comportamento menos agressivo e mais fácil de trabalhar ao longo da sua vida. (NEINDRE et al., 1996).

O temperamento do gado é uma herança genética que afeta a reação do animal ao manejo. Em estudo realizado com gado europeu, os animais de temperamento agitado não se adaptaram ao contato com o tronco, realizados em quatro sessões com intervalos de trinta dias. Os animais com temperamento calmo se adaptaram à contenção não dolorosa de forma que foram diminuindo os níveis de estresse durante as etapas do experimento, ao passo que os animais agitados tiveram um aumento do estresse durante os mesmos momentos (GRANDIN, 1993, 1997). Em outro estudo, com zebuínos da raça Brahman, Solano et al. (2004) observaram que os indivíduos do lote que tendem a ser os últimos a entrar no tronco, tendem a um temperamento mais calmo e ao longo de repetidos procedimentos de manejo tem níveis mais baixos de cortisol.

Grandin (1998), para avaliação do temperamento bovino em tronco, propõe o seguinte o escore: 1) permanece calmo no tronco; 2) torna-se impaciente; 3) agita vigorosamente o tronco; 4) agita vigorosamente o tronco e tenta escapar.

Já Hickley et al. (1999) propõe: 1) brando: o animal para em qualquer direção, mas nunca arranca sobre o brete; 2) intenso: o animal arranca sobre o brete; 3) grave: o animal tenta escapar, cai e/ou dá coices.

4.2. Desmame

Os efeitos do desmame do ponto de vista do bem estar animal e da economia foram amplamente pesquisados nos últimos anos. Segundo Loerch & Fluharty (1999), o desmame é possivelmente o maior fatorr estressante no manejo de bezerros de criação de corte, já que a separação das mães é realizada de forma abrupta, não natural.

Price et al. (2003) e Smith et al. (2003) observaram que os bezerros que ao desmame permanecem em contato visual com a mãe, caminham menos e tem menor freqüência de vocalização de estresse do que os animais que são totalmente isolados do contato materno. Já Thomas et al. (2001) atribuíram a vocalização dos animais desmamados à oferta de leite, já que, segundo o trabalho dos autores, os animais que recebem maior quantidade de leite vocalizam menos.

Lefcourt & Elsasser (1995) apartaram das mães bezerros mestiços de Angus e Hereford com quatro a seis meses de idade. Um dia após a separação, as concentrações de adrenalina e noradrenalina aumentaram significativamente enquanto o cortisol teve um aumento discreto, permanecendo em concentrações baixas. Já Hickey et al. (2003), estudando os efeitos do desmame em bezerros mestiços das raças Limousin e Charolês acostumados ao contato humano, não encontraram alterações na concentração de cortisol, adrenalina, contagem de

leucócitos e comportamento dos animais ao manejo. Fell et al. (1999), Bueno et al. (2003) e Smith et al. (2003) também não observaram alterações na contagem de leucócitos totais de bezerros desmamados, ao passo que Coppo et al. (2003) relataram maiores contagens de leucócitos totais, neutrófilos e linfócitos nos animais desmamados e Phillips et al. (1989) observaram diminuição da contagem de leucócitos totais em animais de raças européias e mestiças com zebuínos e aumento de fibrinogênio nos últimos. Hickey et al. (2003) também observaram aumento da concentração de fibrinogênio no desmame.

Apesar de não observarem alterações na contagem total de leucócitos, Hickey et al. (2003) descreveram um aumento na relação neutrófilos:linfócitos após o desmame, resultado diferente do obtido por Smith et al. (2003), que não observaram alteração na relação neutrófilos:linfócitos.

Fell et al. (1999) pesquisaram o efeito do temperamento no desmame de bovinos com idades padrão de desmame, entre sete e nove meses, relatando que, comparados aos animais mais calmos, os animais mais nervosos tem concentrações de cortisol mais altas no momento do desmame e ganho de peso menor e morbidade mais alta 85 dias após o desmame.

Smith et al. (2003), observaram, em animais desmamados precocemente aos quatro meses de idade, maior quantidade de sinais de estresse e pior performance de crescimento em comparação aos animais desmamados à idade comum de sete meses. Já Bueno et al. (2003), estudando os efeitos da idade do desmame em bezerros mestiços da raça Angus, relataram que os animais desmamados aos sete meses têm concentrações de cortisol, glicose e proteínas totais mais elevadas do que os animais desmamados aos cinco e aos nove meses, entretanto os animais desmamados aos sete meses obtêm a melhor performance de crescimento. O

estresse, segundo os autores, influenciou positivamente o crescimento dos animais.

Albospino et al. (1994), Restle et al. (1999) e Almeida et al. (2003) não observaram diferença no peso final e na qualidade da carcaça dos animais desmamados precocemente. Para Fluarty et al. (2000) e Arthington & Kalmbacher (2003), desde que haja nutrição adequada, o desmame precoce pode trazer maior ganho de peso final. Entretanto, Catto & Afonso (2001) e Baker-Neef et al. (2001), relataram menor peso final nos animais desmamados precocemente e, para Baker-Neef et al. (2001) o resultado econômico final é desfavorável.

Na avaliação do desmame precoce deve-se considerar ainda, conforme Callejas et al. (1999), Arthington & Kalmbacher (2003) e Arthington & Minton (2003), que ocorre diminuição no intervalo entre partos da mãe do bezerro desmamado precocemente.

4.3. Transporte

O estresse do transporte ocorre por várias razões, como trajetos longos com privação de água e alimento, superlotação do caminhão, má qualidade do ar e barulhos desconhecidos. O transporte é provavelmente o evento mais exaustivo na vida de um bezerro (LOERCH & FLUHARTY, 1999).

Tarrant et al. (1989), analisando os efeitos da lotação de caminhões transportando bovinos adultos para o abate, concluíram que os animais transportados por quatro horas em lotações maiores (600kg/m2) apresentam concentrações de CK, glicose e cortisol mais altas e pior qualidade de carcaça do que os animais transportados pelo mesmo tempo em densidades menores (200 e 300kg/m2).

Comparando o comportamento do gado em diferentes densidades no transporte por distâncias maiores, de 24 horas, Tarrant et al. (1992) observaram

que há maior número de mudanças de posição dos animais quando em menores densidades, sendo mais freqüentes nas primeiras nove horas de viagem e não sendo influenciadas pela posição na carroceria do caminhão (dianteira, média ou traseira). Já Water et al. (2003), pesquisando o efeito da posição dos bezerros nos caminhões de transporte, constataram que a freqüência cardíaca dos animais aumentam 80, 38 e 72%, respectivamente durante o embarque, transporte e desembarque, sendo que os animais que permanecem no compartimento posterior do caminhão tem um aumento da freqüência cardíaca 3% maior do que a dos que permaneceram no compartimento anterior do caminhão; ao passo que o cortisol aumenta de forma inversa, sendo significativamente mais alto nos animais da parte anterior do caminhão.

Ainda segundo Tarrant et al. (1992), quanto à orientação, em densidades baixa e média, os animais evitam principalmente a posição diagonal e, em segundo lugar, a posição paralela ao trajeto. Quando em alta densidade, os animais evitam somente a posição diagonal. Posteriormente, Nanni-Costa et al. (2003), pesquisando a influencia da umidade relativa do ar e da temperatura ambiente (Temperature-Humidity Index, THI) sobre o transporte de gado, observaram que com aumento do THI, ocorrem mudanças no posicionamento dos animais no caminhão, passando da posição perpendicular ou paralela em relação ao trajeto para a posição diagonal.

Tarrant et al. (1992) acompanharam por oito horas os movimentos agudos dos animais, observando que, nos animais que viajaram em densidades baixa e média, ocorre maior quantidade de mudança de passo para manutenção do equilíbrio, 153 e 142, respectivamente, quando comparados aos animais transportados em densidade alta, 26. Porém, os movimentos mais bruscos dos animais para a

manutenção do equilíbrio ocorreram em maior quantidade (10) nos espaços mais densos, quando comparados (cinco e quatro) aos outros dois tipos de densidade. Mais significativo, ocorreram oito quedas no transporte de alta densidade e apenas uma em cada tipo de menor densidade. Após o transporte, os autores observaram diferenças significativas no cortisol, glicose e CK plasmáticos dos animais dispostos nos diferentes tipos de lotação. As concentrações de cortisol e glicose e a atividade da CK foram, respectivamente, de 0,1; 0,5 e 1,1ng/ml; 0,81; 0,93 e 1,12mmol/l e 132; 234 e 367U/l para animais transportados, respectivamente, em baixa, média e alta densidades.

Warris et al. (1995) estudaram, em 24 bovinos machos castrados com 12 a 18 meses de idade, os efeitos do transporte por cinco, 10 e 15 horas, respectivamente, 286, 536 e 738km. A concentração do cortisol antes da viagem (mediana de 2,5µg/100ml) aumentou significativamente após cinco horas de viagem (7,2µg/100ml) e diminuiu significativamente após 10 e 15 horas de viagem (respectivamente 4,5 e 3,7µg/100ml), levando os autores a sugerir que a concentração de cortisol aumenta em resposta ao estresse associado com o embarque e os estágios iniciais da jornada. A concentração de CK dos animais aumentou progressiva e significativamente nos três tempos de percurso (medianas de 126, 372 e 615U/l, respectivamente para os transportes de cinco, 10 e 15 horas), permanecendo alta nos dois primeiros dias e retornando aos valores iniciais no quinto dia após a viagem. A possível fadiga muscular, segundo os autores, não foi suficiente para que os animais deitassem durante o transporte. A concentração de glicose aumentou significativamente após os três tempos de jornada, sem, entretanto, haver diferença significativa entre elas, retornando aos valores controle dois dias após a viagem. A concentração de uréia sérica

aumentou significativamente nos momentos logo após as viagens e novamente no dia posterior, retornando ao momento controle entre o segundo e o quinto dia. Segundo os autores, a ação das catecolaminas na glicogenólise é a provável causa do aumento de glicose mesmo no dia posterior ao transporte, enquanto que o aumento de uréia um dia após o descanso dos animais deveu-se a ruptura dos padrões normais de alimentação dos animais. Ocorreram ainda aumentos discretos de proteínas totais e albumina séricas, atribuídas à desidratação, sem, contudo, serem acompanhadas de aumento no volume globular. Os autores concluíram que, baseados nas avaliações fisiológicas, o transporte de bovinos por períodos de quinze horas é aceitável sob o ponto de vista do bem-estar animal.

Posteriormente, Knowles et al. (1999) estudaram os efeitos de transportes mais longos, de até 31 horas, observando que a atividade mais alta da CK ocorreu em 26 horas de transporte. A diminuição da CK após a vigésima sexta hora, segundo os autores, deveu-se ao fato que alguns animais passaram a deitar-se a partir da vigésima hora de transporte, provavelmente por extrema fadiga. O comportamento de sete dos quinze animais transportados que deitaram após 24 horas de viagem levaram os autores a concluir que a jornada máxima a qual os bovinos devem ser submetidos é de 24 horas. Além disso, outros achados do experimento, como aumentos progressivos de uréia e osmolalidade do plasma, sugerem avanço da desidratação e da quebra protéica.

Tadich et al. (2003) pesquisaram a influência da contenção sem água ou alimento por três e 16 horas (isolamento) e do transporte pelo mesmo período em novilhos do Chile. Os animais transportados por três e isolados por 16 horas apresentaram elevações na concentração de cortisol, enquanto os animais submetidos ao transporte por 16 e isolados por três horas não apresentaram

alterações desta variável. O hematócrito diminuiu nos animais isolados por três horas e aumentou significativamente nos indivíduos transportados por três e 16 horas. Os valores de leucócitos totais não apresentaram um padrão consistente, mas aumentaram significativamente nos animais transportados. A concentração de glicose plasmática aumentou em todos os grupos, ao passo que a creatina quinase (CK) aumentou significativamente apenas nos grupos transportados.

Tadich et al. (2000) descreveram que, em bovinos adultos mestiços de Angus e Hereford transportados no Chile por 36 horas para abate, uma parada de descanso de oito horas após 24 horas de viagem resultou em menores alterações nas concentrações sangüíneas de CK, glicose e hematócrito, comparados aos animais que percorreram o mesmo trajeto sem parada de descanso, concluindo que o descanso em longas viagens é benéfico pois diminuem os índices de estresse.

Nanni-Costa et al. (2003) observaram que as concentrações de CK, glicose e cortisol aumentam devido ao transporte, mas somente a CK aumenta concomitante ao THI (Temperature-Humidity Index).

Steinhardt & Thielscher (2000) transportaram 47 bezerros de 60 dias de idade por 60 minutos, concluindo que os animais que vivem em grupo estável manifestam maiores índices de estresse do que aqueles que vivem isolados ou em grupos com mudanças de composição.

Radic et al. (2003) pesquisaram os efeitos do transporte por 150 e 300km e do isolamento por 12 horas em bezerros. As concentrações séricas de CK e creatinina aumentaram significativamente nos grupos transportados, enquanto a uréia aumentou nos animais isolados. A glicose aumentou significativamente no grupo transportado por 300km e diminuiu no grupo isolado. No hemograma

observaram-se aumentos significativos na contagem de leucócitos em todos os grupos, sendo significativamente mais elevados nos grupos transportados em relação ao grupo isolado. Observaram-se também diminuições significativas de eosinófilos nos grupos transportados e de linfócitos em todos os grupos.

Parker et al. (2003) estudaram os efeitos do transporte e/ou da privação de água e alimento no equilíbrio ácido-base de zebuínos adultos, concluindo que a desidratação dos animais submetidos as condições do experimento resultam em elevação das proteínas séricas e conseqüente discreta acidose.

Villarroel, et al. (2003) pesquisaram 39 viagens de gado a abatedouros da Espanha, constatando que as concentrações de cortisol, glicose e CK e a relação neutrófilos:linfócitos estão aumentados nos animais transportados e que a elevação do cortisol é maior nos trajetos com duração de uma a duas horas, quando comparados aos trajetos inferiores à uma hora e superiores a duas horas.

Phillips et al. (1989) observaram que o transporte tem efeito sobre o leucograma de bovinos, aumentando a contagem total de leucócitos, enquanto o aumento da concentração de fibrinogênio é bastante variável. Os autores não observaram diferenças entre o leucograma e a concentração de fibrinogênio do gado europeu comparado ao gado mestiço europeu e zebuíno submetidos ao transporte.

5. Hemoparasitos

A babesiose e a anaplasmose são doenças economicamente importantes que afetam o gado nativo em várias partes do mundo, entre estas, a Américas do Sul. Além disso, grandes perdas podem ocorrer em rebanhos importados não vacinados (GUGLIELMONE, 1995, GAUNT, 2000).

5.1. Babesiose

Os protozoários Babesia bovis e B.bigemina causam anemia hemolítica nos bovinos. A anemia intravascular com hemoglobinúria e a babesiose cerebral ocorrem principalmente em animais infectados com a B.bovis. A babesiose bovina é transmitida por várias espécies de carrapatos, ocorrendo em várias partes do mundo. Outras espécies de babesia podem infectar os bovinos, incluindo B.major,

B.divergens, B.jakimovi e B.ovata. Entretanto estas espécies ocorrem com menor

freqüência e tem patogenicidade menor (GAUNT, 2000).

Nas Américas do Sul e Central, as espécies B.bovis e B.bigemina são encontradas do Uruguai e norte da Argentina até a Guatemala, sendo que, nesta localização, o Chile é o único país livre da enfermidade. Esta distribuição geográfica coincide com a presença do principal vetor, o carrapato Boophilus

microplus, já que, nestas regiões, o carrapato B.annulatus só transmite a Babesia

sp. para bovinos do norte da América Central (GUGLIELMONE, 1995).

No Brasil, Osaki et al. (2002) relataram que, de 642 amostras de soro de bovinos de Umuarama, Estado do Paraná, 64,2% resultaram positivas para anticorpos contra Babesia bovis e Souza et al. (2000) relataram que, de 532 amostras de soro de bovinos da região norte do Estado do Rio de Janeiro, 69,7% resultaram positivas para Babesia bigemina, não encontrando diferença entre as raças, idade e sexo dos animais.

As infecções primárias em bezerros com menos de sete meses de idade normalmente não resultam no aparecimento de sinais clínicos e o desenvolvimento de uma imunidade duradoura não é dependente de re-infecção. Portanto, os riscos de ocorrência de perdas econômicas relevantes são mínimas em rebanhos mantidos com altas ou baixas taxas de inoculação de Babesia sp. O

maior problema ocorre em rebanhos expostos a uma taxa intermediária de inoculação de babesia, sendo que o clima, o tipo de solo e o biotipo do gado modulam a capacidade da região em suportar as populações de Boophilus

microplus e, portanto, a taxa de infecção de Babesia sp. (GUGLIELMONE,

1995).

Estudos comparativos em rebanhos de Bos taurus e Bos indicus mantidos em condições de pastagens idênticas demonstraram menor parasitemia de B.bovis e

B.bigemina em Bos indicus (MAHONEY, 1981; PARKER et al. 1985; AGUIRRE

et al. 1990; VIANNA et al., 1992; GUGLIELMONE, 1995; BOCK et al., 1997; BOCK et al., 1999a).

No Brasil, Vieira et al. (2000) e Mendonça et al. (2003) estudaram os comportamentos clínico e hematológico na infecção experimental de B.bigemina em bezerros Nelore com idades, respectivamente, de seis e entre sete e nove meses, observando alterações clínicas e hematológicas leves, como leucocitose e hipercelularidade da série eritróide.

5.2. Anaplasmose

A anemia hemolítica em bovinos por anaplasmose é causada por duas espécies de ricketsia: Anaplasma marginale nas regiões tropicais e subtropicais e

A.centrale na América do Sul e sul da África. A A.marginale é considerada mais

patogênica do que a A.centrale. A A.marginale aparece no esfregaço sangüíneo como 1 ou 2 inclusões basofílicas intracelulares, normalmente localizadas na periferia das hemácias. A morfologia da A.centrale é semelhante, porém tem localização celular mais central. A A.marginale causa anemia hemolítica no gado adulto com mortalidade mais freqüente nos animais com três anos de idade ou mais velhos (GAUNT, 2000).

A distribuição geográfica da A.marginale nas Américas do Sul e Central é semelhante à distribuição da Babesia bovis e B.bigemina com exceção do sul da Argentina. A A.marginale é endêmica na Argentina em áreas onde o carrapato

B.microplus está erradicado e surtos esporádicos de anaplasmose ocorrem em

zonas temperadas naturalmente livres de carrapatos. A epidemiologia da anaplasmose é difícil de compreender já que a A.marginale é geralmente considerada transmitida pelo carrapato B.microplus (GUGLIELMONE, 1995).

Segundo Gaunt (2000), os bezerros com menos de um ano de idade são resistentes aos efeitos patogênicos da A.marginale. Entretanto, Valeska et al. (2001) estudaram a dinâmica das infecções naturais por A.marginale em bezerros da raça Holandesa criados no Estado de Minas Gerais, relatando que animais nascidos entre março e julho sofreram infecção entre outubro e novembro, independente da idade, enquanto que os que nasceram no período de setembro e dezembro adquiriram a infecção nos primeiros dias de vida, com parasitemia patente a partir dos 30 dias de idade e, durante o período patente, o hematócrito reduziu na primeira semana de infecção variando entre 20 e 23%.

Ao contrário do observado na babesiose bovina, vários estudos demonstraram não haver diferença na resistência à anaplasmose entre as sub-espécies Bos

indicus e Bos taurus (OTIM et al., 1980; WILSON et al., 1980; BOCK et al.,

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