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5. Resultados

5.2 Qualidade de vida dos servidores do SISBI

5.2.2 Compreensão da Qualidade de Vida

A análise do corpus “Qualidade de vida” (QV), constituiu-se a partir da transcrição das 30 entrevistas e apresentou 6.759 ocorrências de palavras, as quais geraram 1.186 formas distintas, com a frequência média de (5,7) palavras para cada forma, sendo esse o critério utilizado como ponto de corte para a inclusão no dendograma. Esse corpus foi dividido em 195 segmentos de texto e, destes, 164, ou seja, 84,1% do total de palavras foram equiparadas, após análise em classificações hierárquicas descendentes (CHDs), indicando o grau de semelhança no vocabulário das 4 classes resultantes. Nesse sentido, as palavras indicadas como as mais representativas para cada classe seguem os critérios de apresentarem: a) alta frequência total e parcial, acima do ponto de corte estabelecido (5,7), b) qui-quadrado expressivo (>3,84) e, c) significância estatística (p<0,005). Tais critérios são aplicados para as classes desse corpus, como pode ser visualizado na Figura 2.

Figura 2. Dendograma do corpus Qualidade de Vida.

Na Figura 3, visualiza-se o dendograma que demonstra as classes advindas das divisões que ocorreram na seguinte sequência: inicialmente o corpus se dividiu em duas partições. Cada parte gerou um subcorpus que passou por uma segunda divisão gerando 2 classes cada, resultando ao final 4 classes. A primeira formada, a classe 4, colocou-se em oposição a classe 2. Na partição seguinte situou-se a classe 3 ladeada pela classe 1, a partir desse ponto, não houve mais divisões.

Nomeou-se a classe 4 “Molas da QV” por apresentar itens que impulsionam a QV. Composta com conteúdo que indica uma visão bastante diversificada sobre qualidade de vida. Essa foi a maior classe do corpus (26,2%). Contribuíram para essa classe principalmente 16 participantes, 9 do sexo feminino e 7 do masculino que, em comum, estão na mesma faixa etária, entre 30 e 50 anos, e possuem pós-graduação. Como fatores de divergência observa-se que as mulheres em sua maioria (5 de 9) trabalham com carga

horária de 30 horas, são bibliotecárias e recebem acima de 5 salários mínimos. Já os homens são maioria (5 de 7) no cargo de assistente em administração, trabalham com carga horária de 40h e recebem menos de 5 salários mínimos.

As palavras mais repetidas na classe: “gosto, dia, casa, gostar” estavam inseridas em frases que vinculavam QV a significados como: realização pessoal e profissional, realização de sonhos; bem-estar, felicidade; poder fazer o que gosta, gostar de viver; respeitar pessoas e opiniões; ter força de vontade para praticar atividades físicas e de lazer; estar à vontade para trabalhar com naturalidade.

Alguns segmentos de textos ilustram a classe 4:

E_16 “(...) é lendo, é assistindo coisas que nos interessam, é ouvindo, vendo jornais, participando do conhecimento, não é? Do dia a dia sobre o nosso bem estar, o nosso viver, assim ... não é? Viajar, o que mais? Muita coisa (...)” (Mulher, assistente em administração, 40 horas, evangélica).

E_19 “(...) não que não goste de outras coisas não. Batata frita? Gosto! Gosto de tudo isso: sanduba, sandubão, mas, assim, a gente sempre preza por isso, ter uma alimentação mais ou menos saudável em casa, e eu considero um ponto importantíssimo para ter uma boa qualidade de vida.” (Homem, assistente em administração, 30 horas, católico).

É perceptível, pelos depoimentos apresentados que a QV é composta por uma gama diversificada de itens, mas há algo de abrangente e impreciso na concepção dos entrevistados. Observa-se ainda que alguns participantes atribuíram a escolha de atitudes e decisões como fatores que significam qualidade de vida, tais como: fazer concessões, ter autocontrole, respeito ao outro, harmonia, equilíbrio, amor à família, educação, valores

morais, ou seja, uma preponderância de aspectos subjetivos, alguns altruístas, como pode ser observado no próximo depoimento:

E_5 “Através do perdão aceitando as pessoas como elas são. É o respeito, não é? Muito mais do que querendo ser aceita, mirando no processo evolutivo, a gente tem que evoluir para o bem” (Mulher, bibliotecário documentalista, 30h, sem religião)

A classe 2, segunda maior (25,6%) do corpus QV, chamou-se de “As duas faces da moeda” por apresentar em seu conteúdo forte referência ao dinheiro com sentido ambíguo. Constituída por 14 participantes, 8 mulheres e 6 homens, a maioria na faixa etária entre 30 e 50 anos. As mulheres possuem maior escolaridade, mais tempo de serviço e maiores salários. A maioria (6 de 8) é casada, católica e atua em turnos de 30 horas. Os homens são predominantemente solteiros, de religiões diversas. A maioria (4 de 6) trabalha com carga horária de 40 horas e possui tempo de serviço entre 3 a 7 anos.

As palavras mais representativas: “querer, dinheiro, só, vida, qualidade, ir”, aparecem vinculadas a textos tais como: querer dizer a verdade, querer adquirir coisas, realizar desejos, querer saúde. Em relação à palavra “dinheiro”, apesar de ter ficado um pouco abaixo do ponto de corte, foi incluída por ter sido apenas nessa classe em que o termo foi mencionado com recorrência; conforme depoimentos nos quais constam as palavras “quero” e “dinheiro”:

E_24 “Saúde é uma coisa importantíssima em primeiro lugar, pois quando dizem assim: ‘você prefere dinheiro ou saúde’, eu quero é saúde, deixe dinheiro pra lá, porque você com dinheiro só, não adianta”. (Homem, auxiliar em administração, 40h, católico).

E_4 “(...) eu quero estar na frente de uma loja e, se eu desejar ter aquela coisa da loja, eu querer ter isso pra mim é qualidade de vida.” (Mulher, assistente em administração, 30h. católica)

O segundo subcorpus gerou as classes 3 e 1 que foram nomeadas “O essencial é invisível” e “Prioridades da QV” respectivamente. Ambas são bastante amplas (compostas por segmentos de textos de autores distintos) e também compilam significados abrangentes para QV.

A classe 3 “O essencial é invisível”, assim denominada por ter o conteúdo das falas mais vinculados a aspectos subjetivos, foi a terceira maior (25%) em segmentos de textos. Nela prevaleceu a participação masculina (10). Os homens dessa classe são predominantemente solteiros (6). Estão inseridos na faixa etária entre 30 e 50 anos e seguem religiões diversas. A maioria trabalha em turnos de 6 horas e recebe acima de 5 salários mínimos. Estão bem divididos entre todos os cargos. Entre as mulheres (6) há predominância das casadas (4), católicas (5), e pós-graduadas (4) e as que trabalham há mais de 7 anos (4). Todas, com exceção de uma que optou por reduzir seu tempo de serviço para 30 horas, e consequentemente seu salário, recebem acima de 5 salários mínimos. As palavras mais representativas da classe 3 foram: “equilíbrio, saúde, conseguir, social, pessoal”. Portanto, em “O essencial é invisível” registram-se depoimentos que falam da importância de ter equilíbrio emocional, físico, mental e espiritual; de ter harmonia nas relações familiares e do trabalho, de ser tranquilo, das interferências da vida pessoal no trabalho, da necessidade de ter assegurados os direitos básicos de saúde, educação, lazer e segurança para se ter QV. Há, nessa classe, uma linha chamada equilíbrio, que permeia diferentes fatores relatados para a constituição da QV. Esse equilíbrio está presente em todos os aspectos (físico, mental, espiritual), vivenciado na família e no trabalho, sendo portanto, o item “equilíbrio” dentro dessa classe, a chave da QV, como pode ser observado nas falas de alguns participantes:

E_30 “Qualidade de vida é isso: é você ter equilíbrio emocional, é você ter um emprego que lhe satisfaça financeiramente, é você ter assistência à saúde e a educação. Eu

acho que todos esses ingredientes ai.” (Homem, auxiliar em administração, 30 horas, Espiritualista).

E_10 “A atividade que você exerce em si no trabalho, se você gosta, se você consegue desempenhar essa atividade no tempo hábil, acho que interfere muito; a questão de trabalho interfere muito na qualidade de vida.” (Mulher, bibliotecária documentalista, 30 horas, Católica).

A classe 1, denominou-se “Prioridades básicas da QV”, por conter representações consideradas imprescindíveis e apresentar menor percentual de segmentos de textos (23,2%). Participaram da classe 9 homens e 4 mulheres. Em comum todos estão na mesma faixa etária (30/50 anos) e possuem pós-graduação. As mulheres, em sua maioria, são casadas e bibliotecárias (3 de 4). Todas são católicas. Estão equitativamente divididas em turnos de 30 e 40 horas. Todas recebem acima de 5 salários mínimos. Os homens estão bem divididos entre solteiros e casados, havendo também um divorciado. Apesar de serem de religiões diversas, há predominância dos católicos (3). A maioria é assistente administrativo (5), trabalha em turnos de 30 horas semanais e recebe menos que 5 salários mínimos. As palavras mais representativas - “família, atividade, relação, lazer, relacionamento e amigo”, estavam no escopo de frases que apontavam as condições prioritárias para se ter QV, como relatado nos segmentos de textos:

E_18 “A QV pra mim é poder estudar, trabalhar, melhorar no trabalho e poder sustentar minha família com o meu trabalho; poder desenvolver minhas atividades e com isso garantir para meus filhos o estudo (...)” (Homem, assistente em administração. 30h. Evangélico).

E_13 “(...) amigos, atenção a mim mesmo em relação a minha saúde, ao meu bem estar, convívio com a sociedade, a estar bem no meu ambiente de trabalho, de ter condições de me aperfeiçoar”. (Homem, assistente em administração. 40h. Ateu)

Observou-se nas falas dos entrevistados, que há constantes referências aos laços familiares e afetivos. Além das necessidades básicas preenchidas, a existência de relacionamentos afetivos equilibrados é apontada como item imprescindível para a QV.

5.2.3 Análise das conexões entre os elementos constituintes do significado da Qualidade