• Nenhum resultado encontrado

A investigação assume a perspectiva qualitativa com abordagem fenomenológica. Porém, antes de trazermos os procedimentos referentes a esta pesquisa, queremos explicitar o compreendido acerca de alguns aspectos da investigação.

Ao falar do sentido de fazer pesquisa, Bicudo (2011) afirma que o termo pesquisar é amplamente utilizado no meio acadêmico, porém muitas vezes sem que haja uma reflexão sobre “o que é pesquisar?”. Segundo essa autora um número considerável de publicações aborda o “como pesquisar”, ou seja, os procedimentos de coleta e análise de dados, sem que se atenham às questões que discutam o “como inferir” ou “como e quando posso confiar em meus dados”. Ou, ainda, não se perguntam “qual o sentido de pesquisar?”.

Entendemos, pela leitura de Bicudo (2011), que ao investigarmos devemos estar atentos à realidade do investigado, pois é nessa realidade que os procedimentos de pesquisa serão desdobrados. Assim, para além da descrição dos procedimentos de investigação, devemos nos atentar à descrição da dimensão epistemológica. Para Bicudo (2011) a consonância entre as dimensões ontológica e epistemológica, entendidas como o “o quê” e “o como” se investiga, confere um grau de confiabilidade maior para a pesquisa.

O pesquisador, ao assumir uma postura investigativa diante daquilo que ele quer saber, deve levar em consideração que esse algo a ser conhecido se encontra em um solo e que, portanto, não pode ignorar seu contexto. Ou seja, é importante que no movimento de investigação esteja-se atento à realidade do investigado. Assim, o rigor advindo pelos procedimentos da pesquisa poderá possibilitar a compreensão da questão levantada do ponto de vista do investigado, na realidade que está imerso.

No que tange à questão da realidade, assumiremos, com Bicudo (2000), que a construção/produção da realidade e a construção/produção do conhecimento são faces de um mesmo movimento, e que para o pesquisador que se preocupa em conhecer as características do que é investigado as respostas lineares que estão, a priori, baseadas em teorias, já não são suficientes. A complexidade do movimento do pesquisar está emaranhada na construção da realidade e na produção do conhecimento que, no movimento de compreensão e interpretação do interrogado, vai se expondo mediante a análise.

Compreendemos, com Bicudo (2011), que a realidade não é estática, pois tanto os sujeitos quanto o próprio investigado são-no-mundo e, por isso, estão em constante movimento. Em outras palavras, o “é”, presente na sentença “o que é investigado” traz sempre consigo possibilidades de abertura que estão enraizadas na experiência do mundo vivido, nas lembranças e nas expressões, além de antecipar possibilidades de acontecimentos futuros. Desse modo o investigado já é sempre sendo, na dinâmica da investigação e dá-se a compreender em perspectivas que no ir e vir do movimento interpretativo vai se revelando.

Ao compreender a relevância desse movimento de pesquisa exposto pela autora abrem-se, para nós, possibilidades de compreensão do sentido de realidade do pesquisar que nos permite entender a relevância das nuanças do investigado fazendo-nos atentos a dinâmica presente no entorno do interrogado.

Ao estarmos com os alunos, sujeitos de nossa pesquisa, em uma prática didática na aula de matemática, devemos estar atentos ao que se mostra a cada encontro, pois, isso que se mostra aparece de maneira única uma vez que são sujeitos distintos presentes na aula com estados de ânimo variáveis a cada momento vivido.

Buscamos, na pesquisa, compreender o que se mostra e, para isso, devemos estar atentos à realidade vivenciada pelos alunos.

Ainda, para nós, era importante clarear o sentido de qualitativo, termo usado para caracterizar a modalidade de pesquisa que assumimos. Envolvemo-nos pois nesse estudo e, para este texto, trazemos de modo breve, nossas compreensões.

Vimos que, ao se falar em qualitativo estamos buscando dizer das qualidades dos dados. Porém qualidade pode ser compreendida de vários modos e essa gama de possibilidades é ampliada quando consideramos que na vida cotidiana dificilmente se consegue separar o qualitativo do quantitativo.

Entendemos, na leitura de Bicudo (2011), que as pesquisas quantitativas se valem de cálculos, estatísticas e teorias baseadas em dados quantitativos para transformar seus dados em leis e dar explicações gerais para os fenômenos naturais. Com isso o investigado “diz

respeito às coisas em si, ou seja, às coisas enquanto existentes fora do campo da percepção” (BICUDO, 1999, p. 16).

Por outro lado, a pesquisa qualitativa leva em conta a realidade a qual pertence o investigado. Portanto, não busca encontrar leis e regras, mas visa à compreensão, de modo que aquilo que foi visto em um determinado ambiente de pesquisa, possa, em alguns casos, ser visto e/ou reproduzido em outra região de investigação com suas próprias especificidades mas com características semelhantes. Ou seja, na pesquisa qualitativa não se tem teorias sobre o investigado de modo que o obtido se torne universal mas explicitam-se características gerais que dizem do interrogado.

Desse modo, ao dizermos que estamos realizando uma pesquisa qualitativa assumimos que o pesquisador se mostra atento à realidade inerente ao investigado e não busca uma explicação última e verdadeira. Caminha no sentido de compreender e não de explicar. Busca encontrar características que se mantenham constantes e se mostrem essenciais para a compreensão do interrogado.

Bicudo (2011) afirma, ainda, que o pesquisar pode ser entendido como "perquirir sobre o que nos chama a atenção e que nos causa desconforto e perplexidade, de modo atento e rigoroso" (BICUDO, 2011, p. 21). Ou seja, o pesquisar revela um buscar com afinco a compreensão de algo que nos causa estranheza tornando-o claro.

Fini (1994, p. 24) também nos diz que, segundo Joel Martins “pesquisar quer dizer ter uma interrogação e andar em torno dela, em todos os sentidos, sempre buscando todas as suas dimensões e, andar outra vez e outra ainda, buscando mais sentido, mais dimensões, e outra vez…”.

Esses autores nos levam a entender que o modo de pesquisar, exige uma interrogação que leva o pesquisador a buscar o caminho para a compreensão do que nos dados da pesquisa se mostra.

Porém, esse mostrar-se não acontece de modo natural, ou espontâneo. O mostrar-se exige o olhar atento do pesquisador que se dirige ao que busca e está constantemente interrogando. Essa dinâmica é o movimento da interrogação de que fala Joel Martins que envolve o pesquisador permitindo-lhe perceber as diferentes nuanças do interrogado.

Tendo compreendido o sentido da pesquisa qualitativa nos encaminhamos para a busca por sentidos que permitam distinguir o pesquisar do questionar. Interpretamos pelas leituras realizadas, que é a interrogação que nos permite dizer sobre tal diferença. A interrogação é persistente para o pesquisador, ou seja, ela não se esgota com a pesquisa, uma

vez que é por meio da interrogação que ele expõe sua perplexidade a respeito de um aspecto da realidade que tematiza.

Assim, podemos sempre retomá-la com um novo olhar. Os questionamentos de uma investigação repousam sobre a interrogação, ou seja, mesmo quando se obtêm uma resposta para um questionamento não respondemos nossa interrogação, apenas adquirimos um novo olhar sobre ela que tenta, de algum modo, compreender uma possibilidade do que é investigado.

Bicudo (2011) nos permite entender que um olhar mais atento ao sentido ontológico da interrogação favorece a diferenciação entre o pesquisar e o questionar. A interrogação vai além da pergunta, entendida como indagação que necessita de um esclarecimento; vai além do problema, que equaciona uma situação a partir de variáveis pré-definidas; da hipótese que é colocada sob suspeita e dependerá da pesquisa para sua validação ou não. Entende-se que essas modalidades repousam sobre a interrogação e são maneiras pelas quais podemos abordá-la por várias perspectivas, uma vez que esta é concebida como uma perplexidade do pesquisador para com o mundo, fazendo-o capaz de continuar sua busca, investigando e inquirindo sobre ela. Logo, pesquisar não é questionar, mas é interrogar.