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Procedemos esta investigação sob o rigor da pesquisa fenomenológica. A partir da leitura de Bicudo (2011) entendemos que, na postura fenomenológica, é fundamental olhar com atenção aquilo que se mostra, uma vez que "a clareza do percebido dá-se pontualmente no momento do ato da percepção. Passado o momento, restam os atos da consciência – psicológicos, cognitivos, de ajuizamento – que articulam o percebido, organizando-o e expressando-o na linguagem" (BICUDO, 2011, p. 19). Isso que pela linguagem é expresso se torna passível de análise e interpretação.

A linguagem abarca não apenas a oralidade, mas também a escrita, os gestos, etc. e deve ser registrado da maneira mais fidedigna possível para constituírem os dados da pesquisa que se abrem a interpretação. Em nosso caso, os dados de pesquisa foram registrados em

vídeo que, ao serem transcritos, se constituíram em descrições da experiência vivida nos encontros com os alunos.

A análise dos dados, na pesquisa que assume a abordagem fenomenológica, dá-se de modo rigoroso, devendo o pesquisador estar atento para as ambiguidades de sentido e de significado que a linguagem apresenta. Embora não haja um procedimento fechado e imutável para tal análise, deve-se prestar especial atenção para não assumir as concepções prévias como: a opinião pessoal do investigador, a dos sujeitos participantes da pesquisa, ou dos autores estudados.

Ao assumir a postura fenomenológica para a pesquisa, a perspectiva básica de trabalho do pesquisador é, segundo Fini (1994, p. 25) descrever o fenômeno e não explicá-lo. Isso significa que o pesquisador fenomenólogo não deve se preocupar em buscar relações causais, uma vez que é pela descrição que o pesquisador poderá compreender o fenômeno.

Buscando explicitar o que chamamos de fenômeno encontramos em Mocrosky (2010) uma interpretação para esse termo a partir das ideias do filósofo alemão Martin Heidegger. A interpretação da autora nos mostra que "fenômeno é o que se mostra, mas que preserva a característica de ser perspectival, ou seja, de manter-se oculto, velado a ângulos específicos não abarcados por nosso olhar em determinadas circunstâncias" (MOCROSKY, 2010, p. 25).

É, então, aquilo que se doa à consciência, mas que exige também, uma doação da consciência, ou um voltar-se atentivamente com a intenção de compreendê-lo mais e mais em suas dimensões, buscando o que no mostrar-se é essencial. Ou seja, o mostrar-se do fenômeno solicita o olhar atento do pesquisador.

O fenômeno sempre está em uma realidade, a qual se constitui como região de inquérito para o pesquisador que busca compreendê-lo. Portanto, o fenômeno não é visto como um objeto físico com existência própria, mas algo que se mostra na e para a percepção do pesquisador, e que está sempre imerso em uma realidade. Nessa perspectiva não é possível analisar um fenômeno sem levar em consideração o sujeito e sua realidade.

Em nossa pesquisa a realidade da experiência vivida é marcada pelos encontros realizados, e cada experiência que vivenciamos ao estarmos com os alunos é significativa. Ao transcrever o que em cada encontro foi vivenciado, abrimos possibilidade de, pelo movimento da compreensão/interpretação, compreender o modo pelo qual os sujeitos se mostram alunos na aula de matemática. Buscando nos dados da pesquisa àquilo que se mostra como invariante, ou seja, a essência do fenômeno.

Lammoglia (2013, p. 171) apresenta uma interpretação do trazido por Bicudo (2000) relativo ao termo essência expondo que “a essência do fenômeno não diz respeito a uma

verdade objetiva e única, mas sim aos aspectos estruturantes do fenômeno que se mostraram significativos mediante análises críticas e reflexivas e interpretações [...] no decorrer da pesquisa”.

Na busca pelos invariantes o pesquisador deve, primeiramente, abrir-se ao fenômeno de forma que este possa se mostrar, não objetivando uma universalidade das análises, mas dando maior relevância às peculiaridades do que é percebido por um determinado sujeito que vivencia o fenômeno interrogado.

Bicudo (2010, p. 41) ao discutir esse movimento expõe o sentido da investigação fenomenológica como “o movimento que vai da intuição sensorial à intuição eidética ou essencial. Vamos do mundo percebido à elaboração da estrutura do fenômeno, mediante movimentos de redução”.

Buscando explicitar a concepção que assumimos para o termo redução devemos esclarecer que na fenomenologia esse termo não é tomado no sentido usual da linguagem do senso comum, como um processo de simplificação de algo que se mostra complexo. Mas sim, como um movimento intencional de interpretação e reflexão sobre algo que é destacado – o fenômeno – buscando compreender os seus aspectos característicos essenciais (LAMMOGLIA, 2013, p. 171).

Nesse sentido, a analise da descrição inicia uma trajetória que tem como ponto de partida o mundo da experiência vivida e, orientado pela sua interrogação, o pesquisador efetua uma busca pelo que se mostra como invariante do fenômeno, pelo processo de redução. Ou seja, ao considerar as descrições o pesquisador é orientado pelo sentido do que quer compreender na pesquisa. Neste momento é importante que o pesquisador não se valha de arcabouços teóricos para que possa colocar o fenômeno em epoché.

Colocar em epoché, significa que o pesquisador põe em suspensão o fenômeno, “deixando-o livre de conceitos e concepções teóricas prévias que possam postular o que ele é”. (BICUDO, 2010, p. 41). É o momento em que o pesquisador deve deixar que seus dados

falem.

Com isso a análise das descrições, que são expressão da experiência vivida pelos alunos na aula de matemática, visa explicitar o sentido do percebido por eles e que pode ser compreendido pelo pesquisador. Esta análise tem dois grandes momentos: o da Análise Ideográfica e o da Análise Nomotética, explicitados nos próximos capítulos.

5 Análise ideográfica

Após situar a pesquisa e expor nossa concepção sobre o tema, vemo-nos prontos para dar início ao momento de análise. Neste capítulo apresentaremos o movimento de análise realizado segundo a perspectiva fenomenológica.

Inspirados nos trabalhos de Detoni e Paulo (2000; 2011) organizamos os dados da pesquisa em cenas significativas, que subsidiaram o movimento de análise e interpretação que realizamos buscando compreender nossa inquietação expressa no item anterior.

Os sentidos individuais que se mostram ao pesquisador são analisados segundo o procedimento de análise ideográfica, que tanto nos permitiu a demarcação das cenas significativas, quanto nos possibilitou a identificação das ideias nucleares presentes em cada cena.