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O termo Ideográfico refere-se à representação de ideias por meio de símbolos. Nesta fase da análise as descrições são lidas de maneira individual pelo pesquisador que busca lançar luz ao fenômeno, desvelando ideias que estão expressas nas descrições dos sujeitos.

Em nossa pesquisa, optamos por filmar os encontros buscando registrar as situações vividas da maneira mais fidedigna possível. Entendemos que vídeo não é capaz de registrar o todo da experiência vivida, uma vez que “a câmera já traz eleito um foco” (PAULO, 2001, p. 62), porém, ele é um recurso que nos auxilia na transcrição. Uma vez que esse recurso nos permite retomar lembranças e acontecimentos do vivido que foram percebidos pelo pesquisador.

Assim, para a análise dos dados, primeiramente, transcrevemos os vídeos, utilizando os recursos textuais possíveis na tentativa de descrever aquilo que foi vivido. Para iniciarmos a análise do texto, lemos as transcrições repetidas vezes, buscando compreender o transcrito. Nesse processo voltamos ao vídeo, quantas vezes se fizeram necessárias para evidenciar um gesto ou uma expressão que não se mostravam na transcrição, mas que o pesquisador, ao viver a experiência que estava transcrita, havia percebido.

Em seguida, fizemos a leitura de forma mais rigorosa buscando o sentido daquilo que estava expresso à luz da pergunta orientadora de pesquisa. Interrogamos a transcrição buscando ver como a expressão revela possibilidade de os sujeitos serem alunos. Percebemos

que os nossos dados de pesquisas iam se constituindo não apenas pela oralidade, mas por uma expressão que envolvia a fala, o olhar, os gestos, o cenário, o outro.

A leitura interpretativa do texto nos fez perceber que devíamos nos atentar para essa complexidade de modos expressivos dos alunos, e não apenas para a oralidade. Uma situação similar é descrita em Paulo (2001).

A fala dos sujeitos não poderia ser tomada em si, pois dirigíamos nosso olhar a outros modos expressivos: à fisionomia dos gestos e dos olhares, às circunstâncias espaço-temporais em que cada sujeito entra no discurso coletivo, e, enfim, a como ele vive os momentos desse coletivo, formando uma unidade dentro do sentido do todo. (PAULO, 2001, p. 66)

A complexidade de nossa descrição nos direcionou para o modo pelo qual organizaríamos os dados. Optamos, portanto, pelas cenas significativas.

As cenas significativas foram descritas como possibilidade de organização dos dados da pesquisa por Detoni (2000), em seu trabalho de doutorado e Paulo (2001), em seu trabalho de mestrado. Ao vivenciarem situações de pesquisa nas quais os procedimentos usuais da fenomenologia não eram suficientes para expor o que nos dados se revelava, os autores empreenderam um estudo que os levou a construção da possibilidade das cenas significativas. Além do que é exposto nas pesquisas citadas acima, encontramos um estudo das possibilidades desse recurso para organização e análise de dados em Detoni e Paulo (2000, 2011).

Esse modo de organização dos dados da pesquisa permite pôr em evidência não apenas uma fala do sujeito, mas um momento, um episódio, que se constitui por uma situação na qual os alunos além de falarem, agem, interagem, situam-se e são alunos. Assim, não é mais uma fala que ilumina a busca pela compreensão, mas são essas conversas, situações, articulações que ao se enredarem umas com outras nos encontros vão mostrando possibilidades de compreensão dos modos de ser aluno.

O movimento de leitura interpretativa das transcrições de nossos encontros nos foi mostrando que as cenas significativas são o procedimento mais indicado para que não fosse perdido o movimento do diálogo entre nossos sujeitos. Compreendemos que a constituição da cena não é um recorte nos dados de modo a selecioná-los, mas é uma forma de organizá-los permitindo que os sentidos das experiências vividas pelos sujeitos se mostrem para o pesquisador.

O delineamento da organização dos dados nos permite seguir a trajetória de análise. Buscamos, nesse momento, os trechos que se mostram mais significativos no texto, que foi

transcrito a partir das gravações, para a compreensão do fenômeno investigado. Esses trechos evidenciam sentidos que consideramos importantes para compreensão de nossa interrogação de pesquisa.

Chamamos esses trechos de Unidades de Sentido. Entendemos que são momentos que se distinguem da totalidade do texto por apresentarem uma mudança no significado da situação vivida e relatada pelo sujeito.

Na pesquisa fenomenológica, a articulação desses trechos é chamada de Unidades de Significado e, segundo Bicudo (2011, p. 57), “elas não estão prontas no texto, mas são articuladas pelo pesquisador”, que no momento da análise ideográfica, destaca-as e representa-as por meio de símbolos, ou códigos, buscando explicitar os modos pelos quais o fenômeno se mostra.

Em nossa investigação assumimos a postura fenomenológica de proceder segundo a organização de dados em cenas significativas. Isso mostra que não buscamos evidenciar a expressão dos sujeitos em unidades de significado. Mas, ao invés disso, buscamos “dizer do núcleo significativo a que as expressões de nossos sujeitos nos enviam” (PAULO, 2001, p. 66). E com a articulação dos sentidos que se mostram nesses núcleos o nosso fenômeno vai se mostrando.

Segundo Detoni e Paulo (2000), delimitar esse núcleo,

não significa escolher situações ao acaso, mas considerá-las a partir de manifestações dos sujeitos, que oferecem nuanças do sentido do todo. Não há, para essa delimitação, a crucialidade de uma fala, de um gesto ou de um silêncio, que exponha o núcleo cristalizado. (DETONI; PAULO, 2000, p. 143)

Em nossa pesquisa, os trechos que evidenciam o sentido do todo abarcam não apenas a oralidade, mas todo um modo expressivo que deve ser considerado. Nesse sentido a articulação das unidades de sentido constituem cenas significativas. Estas cenas se constituem na percepção do pesquisador ao interrogar seus dados.

Demarcamos as cenas pela dinâmica dos alunos nos encontros. Por exemplo, pela postura dos alunos diante de uma contação de história ou pelo envolvimento deles na realização de uma tarefa. Enfim, o movimento de ação dos alunos nos encontros é o que nos fez demarcar a cena.

Para que seja possível ao leitor acompanhar esse movimento compreensivo de nossos dados, organizamos o texto de modo que cada encontro esteja identificado por um número, pela data em que foi realizado e por sua duração. Procuramos ainda, antes de apresentar a

organização dos dados em cenas, trazer um resumo de cada encontro e em seguida as cenas que foram constituídas em cada um deles.

A apresentação das cenas se dá por meio de quadros. Nos quadros, a primeira coluna traz as unidades de sentido, ou seja, aquilo que no todo do texto se destaca e permite-nos demarcar as cenas significativas. Na segunda coluna apresentamos uma primeira compreensão das Unidades de Sentido. E, ao final de cada quadro, fazemos uma síntese interpretativa para explicitar as ideias nucleares presentes na cena.