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3. A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO ESTADO NA SEARA

3.4. Compromisso de Ajustamento de Conduta

especial no que concerne à Ordem Socioambiental.38

Não se trata de interferência do Judiciário no Poder Executivo. Aquele não irá assumir o papel de administrador e determinar os rumos das políticas públicas. O que ocorre é a determinação do cumprimento de preceitos constitucionais, no sentido de dar efetividade à proteção ambiental estipulada pela Carta Magna.

A ACP pode ser utilizada tanto para deferir direitos sociais ainda não regulamentados como para impor ao Estado obrigações de fazer e não fazer. A possibilidade da cumulação dos pedidos de fazer e de indenizar confere uma maior efetividade ao instituto no campo ambiental. Assim, com uma mesma ação busca reparar o dano causado e impedir a realização de novo ilícito.

3.4. Compromisso de Ajustamento de Conduta  

Surgido no ordenamento jurídico brasileiro por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90)39, o Compromisso de Ajustamento de Conduta foi consagrado após o surgimento do Código de Defesa do Consumidor. Instrumento norteador da tutela dos interesses difusos, o CDC, por meio de seu artigo 113, inseriu o §6º no artigo 5º da Lei da Ação Civil Pública (7.347/85).

O citado artigo trouxe a possibilidade de realização de Compromisso de Ajustamento de Conduta na defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, senão vejamos:

§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

      

38 FERREIRA, Ximena Cardozo. A Atuação do Ministério Público na Implementação de Políticas Públicas da Área Ambiental. Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id377.htm> Acesso em 10/05/2011.

39 O ECA prevê em seu artigo 211 que “os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo extrajudicial”.

A principal vantagem do Compromisso é a liberdade de negociação entre as partes. Na Ação Civil Pública, a prestação jurisdicional fica restrita ao pedido realizado na inicial. Já no ajustamento, as partes podem ampliar os termos do acordo, abordando questões técnicas, temporais e financeiras40

Isso faz com que as partes cumpram de forma mais eficiente o que fora estipulado, diferentemente do que ocorre com as decisões judiciais, nas quais uma das partes é obrigada a cumprir determinação judicial, o que gera certa resistência na execução do estipulado.

Com o ajuste do resultado ao melhor interesse de ambos os lados é possível o imediato cumprimento do acordo realizado, garantindo a celeridade necessária nas questões ambientais. Há ainda, a possibilidade de alterações pactuadas nos termos do ajuste, para melhor adequar o acordo às situações surgidas posteriormente.

Caso não haja o cumprimento voluntário do acordo, o termo pode ser levado ao Judiciário para execução, uma vez que é considerado título executivo extrajudicial. Assim, poderá o Poder Público, como parte que assume compromissos com o Ministério Público, ser compelido a cumprir as obrigações devidas, entre elas as de fazer, como a implementação efetiva das políticas públicas ambientais.

Ressalta-se que, por ser o direito ao meio ambiente um direito difuso, não pode o Ministério Público negociar livremente a reparação ambiental, em face de seu caráter indisponível. Destarte, o acordo extrajudicial deve abranger toda a matéria que seria tratada judicialmente, contemplando a totalidade da recomposição, com ajustes quanto ao modo, tempo e lugar de cumprimento41.

Tal característica é apontada por Marcelo Zenkner como uma dificuldade na aplicação prática desse instituto, em face da “impossibilidade de se abdicar de parcela do direito lesado ou ameaçado de lesão, ficando o ajuste limitado à forma pela qual se dará a sua reparação ou a não realização do ato que importaria em sua violação.”42

      

40 FERREIRA, Ximena Cardozo. A Atuação do Ministério Público na Implementação de Políticas Públicas da Área Ambiental. Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id377.htm> Acesso em 10/05/2011.

41 CAPPELLI, Silvia. O Ministério Público e os instrumentos de proteção ao meio ambiente. Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id14.htm>. Acesso em 03/05/2011.

42 ZENKNER, Marcelo. Ministério Público e solução extrajudicial de conflitos. In Ministério Público: reflexões sobre princípios e funções institucionais. Carlos Vinícios Alves Ribeiro (org). São Paulo: Atlas, 2010.

3.5. Recomendação  

A recomendação é instrumento previsto na Lei Orgânica do Ministério Público (8.625/93), que em seu artigo 27, parágrafo único, inciso IV dispõe que:

Parágrafo único. No exercício das atribuições a que se refere este artigo, cabe ao Ministério Público, entre outras providências:

IV - promover audiências públicas e emitir relatórios, anual ou especiais, e recomendações dirigidas aos órgãos e entidades mencionadas no caput deste artigo, requisitando ao destinatário sua divulgação adequada e imediata, assim como resposta por escrito.

No mesmo diapasão, o Estatuto do Ministério Público da União (LC 75/93) assim preceitua:

Art. 6º Compete ao Ministério Público da União:

XX - expedir recomendações, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como ao respeito, aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo razoável para a adoção das providências cabíveis.

Dirigida “aos órgãos públicos, aos concessionários e permissionários de serviço público estadual ou municipal e às entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município, ou executem serviço de relevância pública” 43, é instrumento bastante utilizado

no combate aos danos ambientais.

É expressão da atuação política do Ministério Público44. Não há uma ordem, nem

seu descumprimento tem o condão de gerar qualquer sanção, pois não é título executivo. Serve como um estímulo à correção de condutas que possam vir a gerar ou já estejam causando anos ao meio ambiente.

Assim, o ente recomendado é cientificado da irregularidade da conduta que está cometendo, cabendo-lhe a decisão de cumprir ou não a recomendação. Em caso do não cumprimento, o ente já fica sabendo quais serão as consequências legais de seu ato.

      

43 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 17ª ed., São Paulo: Malheiros, 2009. P. 377.

44 FERREIRA, Ximena Cardozo. A Atuação do Ministério Público na Implementação de Políticas Públicas da Área Ambiental. Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id377.htm> Acesso em 10/05/2011.

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