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3. A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO ESTADO NA SEARA

3.6. Inquérito Civil

praticada. Com isso, não poderá o agente poluidor argüir que agia de boa fé, pois já estava ciente da ilicitude de seu ato.

Destarte, “pode o Ministério Público, pois, estimular a definição de políticas públicas da Ordem Socioambiental também através do importante instrumento da recomendação, de notável caráter moral e político, além de eficácia comprovada no plano fático” 45.

Paulo Affonso Leme Machado cita alguns exemplos da utilização da Recomendação na seara ambiental:

O Ministério Público pode expedir recomendações: para a elaboração do Estudo Prévio de Impacto Ambiental ou sua reformulação; para o tipo de local e horário da audiência pública (a simples solicitação do Ministério Público da realização da audiência já a torna obrigatória); para a realização de inspeções em determinados locais ameaçados de terem o meio ambiente danificado ou onde o dano já foi produzido; para a apuração de infração administrativa contra o meio ambiente; para que o órgão público ambiental não expeça a licença, a autorização ou a permissão enquanto o inquérito civil não termine.46

Assim, atua como instrumento muito importante na relação com os entes públicos. Em grande parte dos casos, a recomendação é atendida, evitando assim, a propositura de ação judicial. Logo, ganha-se tempo, garante-se a efetividade da tutela ambiental, e ainda, poupa-se recursos, pois a demanda judicial apenas prejudicaria a coletividade, que arcaria, ainda que indiretamente, com os custos das duas partes.

3.6. Inquérito Civil  

Conforme visto em item supra, um dos principais instrumentos de atuação ministerial é a Ação Civil Pública. Para o ajuizamento da ação pertinente, deve o membro do

parquet estar convicto de suas alegações. Com vistas a levantar os elementos necessários para

a propositura da ação, foi instituída a figura do inquérito civil, nos termos da lei 7.347/85:       

45 FERREIRA, Ximena Cardozo. A Atuação do Ministério Público na Implementação de Políticas Públicas da Área Ambiental. Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id377.htm> Acesso em 10/05/2011

46 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 17ª ed., São Paulo: Malheiros, 2009. P. 378.

Art. 8º Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

Assim, cabe ao MP recolher os elementos necessários para instruir a ACP, valendo-se para isso, da instauração do devido inquérito civil. O inquérito é um procedimento administrativo exclusivo do Ministério Público.

A instauração do inquérito pode ocorrer por ofício ou por solicitação de terceiros, como denúncias de particulares ou mesmo com a remessa de autos de infração ambiental ao órgão ministerial.

O inquérito é um procedimento de natureza inquisitória. Ou seja, não é necessário o contraditório. Destarte, a parte interessada só se manifestará no feito se o promotor achar por bem colher informações a respeito do suposto ilícito. O Ministério Público possui o poder de requisitar as informações necessárias, podendo punir aqueles que não se prestarem ao atendimento das solicitações.

O promotor presidirá livremente as investigações com vistas a verificar a ocorrência de ilícito no caso concreto. Caso não encontre elementos suficientes para a propositura da ação, optará pelo arquivamento. Este para ser válido, deve ser homologado pelo Conselho Superior do Ministério Público, que poderá também devolver os autos para a realização de novas diligências47.

      

47 Nos termos do artigo 9º da Lei 7.347/85, que assim dispõe:

“Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.

§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.

(...)

§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento.

§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação”.

Em caso contrário, verificando a ocorrência de ilícito, o MP poderá, de acordo com as peculiaridades do caso concreto, propor a ACP ou buscar a composição do conflito de forma extrajudicial, por meio de compromisso de ajustamento de conduta ou pela expedição de recomendação.

Assim, o inquérito civil serve como base para as ações dos promotores de justiça junto ao Estado, reunindo elementos que fundamentarão e nortearão as atitudes tomadas posteriormente.

Nesse sentido, pode o Ministério Público utilizar-se do Inquérito Civil para formar sua convicção quanto à ilicitude da omissão administrativa na implementação de políticas públicas, de modo a embasar sua atuação e possibilitar a conclusão do procedimento pela firmatura de compromisso de ajustamento de conduta, pela expedição de recomendação, pelo ajuizamento de demanda junto ao Poder Judiciário ou pelo arquivamento dos autos perante o Conselho Superior do Ministério Público48. 

Logo, caso o Estado, por meio de seus agentes, cometa algum dano ao meio ambiente, o parquet coletará todas as informações necessárias para o ajuizamento da ação reparatória, ou para a aplicação de medidas extrajudiciais.

3.7. Atuação no processo legislativo  

Devido ao seu dever constitucional de proteger os interesses difusos e à autonomia que lhe é concedida, o parquet exerce sua influência diretamente na função normatizadora estatal.

A regulamentação estatal serve como base para a verificação da licitude da conduta do particular. As normas funcionam como limites impostos que devem ser obedecidos sob pena de se aumentar os riscos da ocorrência de danos ambientais.

Logo, o Estado deve valer-se de extrema cautela na elaboração das regras em matéria ambiental. Para isso, conta com a ajuda do Ministério Público, que como grande       

48 CAPPELLI, Silvia. O Ministério Público e os instrumentos de proteção ao meio ambiente. Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id14.htm>. Acesso em 03/05/2011.

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