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3. A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO ESTADO NA SEARA

3.2 Formas de Atuação

constitucional, deve atuar desde a elaboração das normas ambientais, acompanhando sua execução, fiscalizando seu cumprimento, e buscando a responsabilização e a reparação do dano ambiental quando este não puder ser evitado.

3.2 Formas de Atuação  

O Ministério Público é um órgão dotado de extrema autonomia e independência. Possui a seu dispor, liberdade para agir de forma a garantir a maior efetividade suas ações. No que concerne ao direito ao meio ambiente, sua atuação se dará de forma repressiva ou preventiva.

Atua o parquet de forma posterior ao dano principalmente na seara judicial, por meio da Ação Civil Pública. Principalmente, pois esta não é a única forma possível de atuação repressiva. Instrumentos como a Recomendação e o Compromisso de Ajustamento de Conduta podem ser utilizados na reparação do dano, como meio de inibir a atuação dos entes estatais, e fazer com que estes recomponham o bem atingido.

Assim, caso o Poder Público esteja agindo de forma contrária ao ordenamento ambiental, não é obrigatória a utilização da ACP, podendo o órgão ministerial atuar extrajudicialmente, desde que possível a reparação do dano. A atuação extrajudicial permite ainda a correção das condutas da Administração Pública. Logo, além de reparar os danos causados, cabe ao MP evitar a ocorrência de danos futuros.

Com a utilização repressiva da Ação Civil Pública, o parquet age de diferentes formas: primeiro, em relação aos danos ambientais propriamente ditos, causados direta ou indiretamente pelo Estado. Busca nesse caso, a condenação do responsável à reparação ambiental ou ao pagamento de indenização, quando não for possível a recomposição do estado natural.

Pode atuar também quando houver omissão estatal, verificada na ausência de fiscalização e controle das atividades poluentes ou na carência da implementação de políticas públicas ambientais.

Logo, nas palavras de Ximena Cardozo Ferreira32:

constatada inércia ilícita da Administração Pública em dar efetividade a normas constitucionais ou infraconstitucionais instituidoras de direitos sociais fundamentais – dentre os quais o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado – sujeitar- se-á o ente estatal aos sistemas de controle previstos na ordem jurídica brasileira, notadamente o controle social exercido pelo Ministério Público, na esmagadora maioria de casos, e também do Judiciário, nos casos em que o conflito foi judicializado.

Ressalte-se que não só na repressão do dano age o MP. Conforme exposto em capítulo supra, um dos pilares do Direito Ambiental é o princípio da prevenção. Destarte, como resguardador da ordem ambiental, deve o Ministério Público buscar preferencialmente evitar a ofensa ao meio ambiente.

Nesse sentido, imprescindível a atuação extrajudicial. A via judicial não pode ser utilizada como a principal forma de resolução de conflitos na seara ambiental. Com a superlotação do judiciário brasileiro, a via extrajudicial torna-se a o meio mais efetivo na resolução de conflitos ambientais, pois apresenta a celeridade que o Direito Ambiental exige.

A morosidade do andamento das ações judiciais leva a uma maior utilização de meios alternativos, pois representam uma forma mais rápida de composição de litígios ambientais33.

Segundo Marcelo Zenkner34, não é novidade afirmar que a morosidade na resolução das demandas judiciais é fonte de injustiças, de desprestígio da magistratura e de comprometimento da própria segurança jurídica. Questiona ainda o autor, no que tange ao Direito Ambiental:

Do que adianta, por exemplo, uma ação civil pública por dano causado ao meio ambiente, cuja sentença de procedência do pedido formulado na inicial venha a transitar em julgado décadas após o ajuizamento?

      

32 FERREIRA, Ximena Cardozo. A Atuação do Ministério Público na Implementação de Políticas Públicas da Área Ambiental. Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id377.htm> Acesso em 10/05/2011.

33 Idem.

34 ZENKNER, Marcelo. Ministério Público e solução extrajudicial de conflitos. In Ministério Público: reflexões sobre princípios e funções institucionais. Carlos Vinícios Alves Ribeiro (org). São Paulo: Atlas, 2010.

Nesse sentido, mais importante que a resolução da demanda, é sua efetividade. Logo, a utilização do Judiciário deve ser feita apenas em último caso.

Silvia Cappelli35apresenta algumas razões para a opção pela solução extrajudicial:

a) morosidade no julgamento das demandas – mesmo reconhecendo-se a costumeira complexidade das ações civis públicas por envolverem a formação de uma prova altamente técnica, a qualidade de título executivo extrajudicial do compromisso de ajustamento, expressamente prevista em lei e confirmada na jurisprudência, confere inegável vantagem à utilização do segundo, comparativamente à primeira;

b) É ainda preponderante a visão privatista- da propriedade, a opção pelos valores da livre iniciativa e do crescimento econômico em detrimento das questões ambientais nos arestos que apreciam a matéria;

c) maior abrangência do compromisso de ajustamento de conduta do que da decisão judicial em face dos reflexos administrativos e criminais;

d) menor custo, já que o acesso à justiça é caro (v.g. custo pericial, honorários advocatícios);

e) maior reflexo social da solução extrajudicial, ao permitir o trato de problemas sob diversas óticas: por ecossistema e bacias hidrográficas (promotorias regionais, temáticas e volantes), por assuntos (permitindo estabelecer prioridades, bem como a realização de audiências públicas e a intervenção da comunidade, o que resultará na obtenção de decisões consensuais, e, consequentemente, maior efetividade ao trabalho).

Além da celeridade, a atuação extrajudicial revela uma maior flexibilidade. A maior abrangência é garantida com a possibilidade de negociação entre as partes.

Em especial no que diz respeito à atuação do Ministério Público junto ao Estado, os meios extrajudiciais ganham maior relevância, pois respondem de maneira mais eficaz às necessidades da sociedade em matéria ambiental.

Assim, o parquet poderá atuar de forma mais efetiva no que diz respeito à implementação das políticas públicas ambientais, permitindo uma maior negociação com a Administração Pública, no sentido de conciliar as possibilidades do Poder Público com as necessidades do meio ambiente.

A seguir, será feita uma breve exposição dos principais instrumentos de atuação do Ministério Público junto ao Estado, seja ela judicial ou extrajudicial, preventiva ou repressiva.

      

35 CAPPELLI, Silvia. O Ministério Público e os instrumentos de proteção ao meio ambiente. Disponível em <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id14.htm>. Acesso em 03/05/2011.

3.3. Ação Civil Pública  

A Ação Civil Pública é o principal instrumento de atuação judicial do Ministério Público na defesa de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Quando não for o autor da ação, o órgão ministerial deverá atuar como fiscal da lei36.

A Lei 7.347/85 inovou na proteção aos direitos supraindividuais. A Legitimidade do parquet de atuar na proteção do meio ambiente, conferida anteriormente pela Lei 6.938/81, ganhou um instrumento judicial efetivo. O Ministério Público possui legitimação extraordinária na Ação Civil Pública, pois atua no lugar do titular do bem lesado, ou seja, da coletividade.

O eminente jurista Paulo Affonso Leme Machado apresenta as principais inovações contidas na Lei 7.347/8537:

1. Explicitamente visa proteger o meio ambiente, o consumidor e os bens e interesses de valor artístico, estético, histórico, paisagístico e turístico. Interesses difusos e coletivos, como os rotulou a Constituição Federal (art. 129, III).

2. A proteção desses interesses e bens far-se-á através de três vias: cumprimento da obrigação de fazer, cumprimento da obrigação de não fazer e condenação em dinheiro.

(...)

4. A ação civil pública consagrou uma instituição – o Ministério Público – valorizando seu papel de autor em prol dos interesses difusos e coletivos. O Ministério Público saiu do exclusivismo das funções de autor no campo criminal e da tarefa de fiscal da lei no terreno cível, para nesta esfera passar a exercer mister de magnitude social.

5. Inova, por fim, essa ação civil no sentido de criar um fundo em que os recursos não advêm do Poder Executivo, mas das condenações judiciais, visando a recuperação dos bens e interesses lesados. Não se trata nessa ação de ressarcir as vítimas pessoais da agressão ambiental, mas de recuperar ou tentar recompor os bens e interesses no seu aspecto supra-individual.

O presente instrumento poderá ser também utilizado no controle da omissão estatal no tocante à implementação das políticas públicas. Nas palavras de Ximena Cardozo Ferrera, a Ação Civil Pública possui:

relevância fundamental ao controle da omissão administrativa na implementação de políticas públicas, visto que a partir dela pode-se obter determinação estatal para que

      

36 Artigo 5º, §1º da Lei 7.347/85.

37 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 17ª ed., São Paulo: Malheiros, 2009. P. 381.

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