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Comunicação Alternativa, Popular e Comunitária

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CAPÍTULO III – COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA E COMUNIDADE: TEORIA E

3.2 Comunicação Alternativa, Popular e Comunitária

A Comunicação Popular surge nas décadas de 1970 e 1980 a partir das demandas dos movimentos populares, da oposição sindical, das organizações de base, de segmentos da igreja católica, de organizações não governamentais (ONGs), etc. Ela é caracterizada como uma forma alternativa de comunicação, que surge no interior dos grupos populares, com o intuito de suprir as necessidades de sobrevivência dos excluídos, bem como para efetivar a participação política dos mesmos. “A comunicação popular foi também denominada de alternativa, participativa, horizontal, comunitária e dialógica, dependendo do lugar social e do tipo de prática em questão. [...] o sentido político é o mesmo” (PERUZZO, 2006, p. 2).

Numa conjuntura marcada pelas precárias condições de vida de uma maioria absoluta e pela restrição à liberdade de expressão pela grande mídia, são criados meios alternativos pelos setores das classes populares, não submetidos ao controle do governo ou de empresas. Era uma comunicação diferente daquela veiculada pelos meios massivos de comunicação, pois chegou como alternativa para as denúncias e reivindicações por transformações sociais, por meio de pequenos jornais, boletins, alto-falantes, cartazes, cartilhas. Nesse cenário

marcado pela Ditadura Militar no Brasil, as produções da comunicação popular eram feitas de forma clandestina sob o risco de condenação política, por causa do controle estatal e da censura.

Aspectos teóricos da comunicação popular podem ser encontrados em vários pesquisadores latino-americanos37. Destacamos os estudos de Mário Kaplún (1985, p. 7), para ele a comunicação popular e alternativa é “uma comunicação libertadora, transformadora, que tem o povo como gerador e protagonista”. Nessa perspectiva, para Kaplún (1985, p. 7), os meios de comunicação serviriam como instrumentos para uma educação popular, na linha pedagógica freireana.

Em suas origens, a comunicação popular emerge do povo, das ações concebidas por parcelas da população excluídas dos processos comunicacionais. Sabemos que a palavra povo, inclusive, é de difícil conotação, mas neste caso aqui nos apropriamos da palavra a partir do contexto histórico no qual está inserida marcado por lutas, tensões e resistências. Estudos de autores como Jorge A. González (2011) e Néstor Gárcia Canclini (1987) também contribuem para a dimensão do popular a partir da dimensão cultural.

Nas análises empreendidas por Peruzzo (2004, p. 118), o vocábulo povo não tem estatuto teórico universal, dessa forma não cabe vê-lo sob uma categoria de análise pré-fixada. “É preciso apanhá-lo em seu contexto, com uma realização histórica, cuja composição e cujos interesses variam em função de fatores determinantes, estruturais e conjunturais, constituindo- se sempre num todo plural e contraditório” (PERUZZO, 2004, p. 118).

Em síntese, a comunicação popular-alternativa representou a luta dos movimentos sociais, cujos vieses eram de cunho político-ideológico. Contudo, após o fim da Ditadura e um potencial avanço democrático, outras parcelas da população passam a promover suas ações a partir desta comunicação, porém com um viés mais coletivo do processo. Então, não somente a bandeira politico-ideológica era levantada, a comunicação passou a servir outras demandas sociais. Outros movimentos sociais surgem, assim como outras associações comunitárias, coletivas, ONGs, projetos de extensão das universidades, projetos de rádio- escola, etc. Na atualidade, as iniciativas da comunicação popular, alternativa e comunitária ganham novas possibilidades a partir das tecnologias de informação e comunicação, com

37 Destacamos Regina Festa, Gilberto Gimenez, Mário Kaplún, Juan Diaz Bordenave, Esmeralda Villegas Uribe,

novos formatos e canais de difusão, como é o caso dos blogs, fotologs, sites, webrádios possibilitados pelo uso da internet.

É importante ressaltar na visão de Peruzzo (2008) que

Nas experiências de caráter popular-comunitário, a finalidade, em última instância, é favorecer a auto-emancipação humana e contribuir para a melhoria das condições de existência das populações empobrecidas, de modo a reduzir a pobreza, a discriminação, a violência, etc., bem como avançar na equidade social. Contudo, há que se dizer que a Comunicação não faz nada sozinha. Trata-se de processo de mobilização e de vínculo local sintonizados a programas mais amplos de organização-ação que privilegiam a Educomunicação e o atendimento às necessidades concretas de segmentos populacionais de acordo com cada realidade. No fundo, trata-se de um tipo de comunicação que se constitui em dinâmicas voltadas à mudança social – ampliação da cidadania – ou, em outros termos, de uma Comunicação para Desenvolvimento (PERUZZO, 2008, p. 5).

Como demonstra Peruzzo (2006, p. 2), desde o final do século passado no Brasil, passou-se a empregar mais a expressão Comunicação Comunitária para caracterizar a comunicação popular. Ela enfatiza que até mesmo a grande mídia passou a se apropriar do termo para designar algumas de suas produções. Dessa forma, é necessário situarmos a Comunicação Comunitária a partir do contexto histórico e conjuntural onde ela é produzida, justamente para não caírmos no determinismo de rotular todo o tipo de produção dita alternativa ou popular de comunitária. Essa é uma preocupação que nos move. A Comunicação Comunitária para Peruzzo (2008, p. 5) acabou se configurando numa vertente mais específica, para além das bandeiras de cunho politico-ideológico, em decorrência das práticas sociais desenvolvidas. Cita como exemplo a rádio comunitária, que extrapola o cenário dos movimentos populares e se relaciona com públicos mais abrangentes e também os boletins informativos, que por vezes assumem características de jornal de bairro.

3.2.1 Imprensa Alternativa

Embora tenha existido em outros momentos históricos, a imprensa alternativa foi calcada pela marca da censura do regime militar no Brasil, tendo aparecido como oposição à imprensa tradicional. A imprensa alternativa também engloba o jornalismo alternativo elaborado no contexto de luta dos movimentos sociais. Ela era representada por jornais, em geral com formato tabloide, seus conteúdos eram de caráter alternativo e faziam oposição àqueles oferecidos pela grande imprensa. Segundo Peruzzo (2008),

[...] o que caracteriza este tipo de jornal como alternativo é o fato de representar uma opção enquanto fonte de informação, pela cobertura de temas ausentes da grande mídia e abordagem crítica dos conteúdos que oferece. Já os pequenos jornais, boletins informativos e outras formas de jornalismo popular também conhecidos como alternativos, do nosso ponto de vista não dispensam o acesso aos jornais convencionais, pois, os conteúdos são mais específicos e relacionados a problemáticas locais ou a determinados segmentos sociais (PERUZZO, 2008, p. 7).

Entre os jornais mais famosos destacamos alguns: PIF-PAF (1964); Pasquim (1969); Posição (1969); Opinião (1972); Movimento (1975); Coojornal (1975); De Fato (1975), entre outros. Esses jornais foram dirigidos e elaborados por jornalistas de esquerda que buscavam analisar os acontecimentos da sociedade e se preocupavam em informar a população sobre temas de interesse nacional numa perspectiva crítica.

Já no século XXI, de acordo com Peruzzo (2008, p. 7), a imprensa alternativa se revigora de forma extraordinária. “Reedita canais de expressão impressos e audiovisuais, cria novos canais e, ao mesmo tempo, se recria por meio de novos formatos digitais que o avanço tecnológico favorece” (PERUZZO, 2008, p. 7). Contudo, o caráter alternativo desses meios permanece. Entre as várias iniciativas recentes de imprensa alternativa no Brasil destacamos alguns exemplos: Agência de Informação Frei Tito para a América Latina (ADITAL); Revista Caros Amigos; jornal Brasil de Fato; Le Monde Diplomatique Brasil; Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI); Agência de Notícias Carta Maior; Intervozes; centro de mídia independente, entre outros. Concomitante a estes veículos, temos também com a chegada da internet um sem-número de blogs, sites, portais de caráter alternativo, autônomo e independente, que acabam por inverter a lógica de produção que era centrada num emissor para muitos receptores. Agora muitos podem se tornar emissores.

Essa conjuntura possibilitou a participação e mobilização social proporcionadas pelo avanço da Comunicação Mediada pelo Computador (CMC). Entretanto, da mesma forma como abordamos a comunicação alternativa, há que se ter o cuidado na hora de categorizar como imprensa alternativa qualquer produção desenvolvida na internet, por meio dos blogs, sites e afins. O que vai caracterizar tais meios como alternativos são as práticas relacionadas à ampliação dos direitos de cidadania, participação e transformação social numa perspectiva coletiva e que não venha responder a interesses particulares.

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