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De qual comunidade estamos falando?

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CAPÍTULO III – COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA E COMUNIDADE: TEORIA E

2.2 De qual comunidade estamos falando?

Desponta no cenário atual a aproximação da Comunicação Comunitária nas comunidades de escolha, apesar deste segundo ser um termo pouco conhecido nas pesquisas no Brasil sobre comunidade, destacamos o artigo de Cicilia Peruzzo e Orlando Berti (2010) sobre “As novas configurações das comunidades comunicacionais nas comunidades de escolha”, para os autores, “a interconexão entre essa nova forma de comunidade e a potencialidade de concatenação com a atual práxis comunitária desafia as comunidades (presenciais ou virtuais) na conjuntura atual” (PERUZZO; BERTI, 2010, p. 13).

Em outro texto, Peruzzo faz uma síntese de como uma comunidade nos dias de hoje pode ser vista, enfoca suas implicações e características que, por vezes, não são encontradas simultaneamente em toda e qualquer comunidade. Observa-se segundo as análises da autora (2002, p. 11):

a) Participação: a pessoa participa direta e ativamente da vida da comunidade. É sujeito. Em alguns casos a participação chega a ser exercitada na partilha do poder de decisão. b) Sentimento de pertença. É sentir-me membro, parte importante do

processo e como tal contribuir para a coesão interna. c) Caráter cooperativo e de compromisso. d) Confiança, aceitação de princípios e regras comuns e senso de responsabilidade pelo conjunto. e) Identidades: não apenas no sentido de “natural e espontaneamente” como está em Tönnies, mas que podem advir de um universo simbólico e/ou ideológico comum ou das condições de existência em comum. f) Reconhecer-se como comunidade. g) Alguns objetivos e interesses comuns. Na sociedade contemporânea não se identifica uma comunidade em que todos os objetivos de seus membros sejam em comum a todos. Mas, alguns objetivos em comum são passíveis de existir, principalmente aqueles que constituem a razão de ser da comunidade. h) Alguns tipos de comunidades são voltados para o bem-estar social e ampliação da cidadania. São portadores de algo em comum: igualdade e justiça social. Há, neste sentido, movimentos em torno da construção de um projeto novo de sociedade. i) Interação: através de sistema intenso de comunicação e de troca entre os membros. j) Com ou sem lócus territorial específico. Ao mesmo tempo em que existem as comunidades virtuais, persistem aquelas de base territorial. l) Possui uma linguagem comum (PERUZZO, 2002, p. 11).

Em suma, viver em comunidade, estar em comunidade seja ela territorial ou não, é aceitar o outro na diferença, pois a comunidade é formada por lutas e tensões e não apenas pelo compartilhamento do bem comum. Viver e estar em comunidade é extrapolar os limites das redes e participar ativamente para que suas características permaneçam, pelo menos parte delas. O fortalecimento dos vínculos, das experiências, dos compromissos, da identidade e do respeito à diferença mostra o sentido tanto individual quanto coletivo do viver em conjunto. A Comunicação Comunitária, com suas ricas experiências em favorecer e fortalecer a participação, só vem demonstrando que o outro e o nosostros, se faz na diferença e na soma dessas, assim cresce a convivência e o compartilhamento de identidades. A comunidade é justamente esse local de alargamento e reconhecimento das diferenças.

3 Comunicação Comunitária na prática

Grosso modo, a Comunicação Comunitária é um instrumento de participação e mobilização social. Ela é feita pela, para e com a comunidade com o objetivo precípuo: o por em comum, de se fazer comunicar num espaço polifônico. Em Cicilia Peruzzo (2006, p. 9) a Comunicação Comunitária se caracteriza por processos comunicacionais alicerçados em “princípios públicos, tais como não ter fins lucrativos, propiciar a participação ativa da população, ter propriedade coletiva e difundir conteúdos com a finalidade de educação, cultura e ampliação da cidadania”. Contudo, para Peruzzo (2006) o uso do termo comunitário é problemático por conta da utilização que fazem dele, já que pode se referir a processos diferentes entre si, até mesmo a grande mídia se apropria para falar de suas produções

(PERUZZO, 2006, p. 2). Certo modo, este é um termo que carece ser compreendido a partir do conceito de comunidade e foi exatamente o que pretendemos na primeira parte do presente capítulo. No decorrer do texto traremos das múltiplas faces que os termos comunitário, alternativo e popular carregam e de suas definições e transformações ao longo da história.

A Comunicação Comunitária é realizada por meio de ferramentas comunicacionais que vão desde os meios mais rudimentares aos meios mais sofisticados, potencializados pelo avanço das tecnologias de informação e comunicação: Folhetins; Jornal local; Fanzine; Cordel; Teatro Popular; Rádio; Rádio postes/Sistema de alto-falantes; Televisão; Vídeos, Multimídia; Rádio e TV Web e outras tantas possibilidades criativas.

Em países da América Latina, principalmente no Brasil existem particularidades que possibilitam interpretá-la como um chamamento político de uma específica parcela da população à sua realidade marcada por injustiças e desigualdades sociais, particularmente no que tange ao acesso à comunicação. Os atores sociais alijados das benesses promovidas pelo desenvolvimento econômico e social encontram-se à margem de tantos recursos indispensáveis para a manutenção da vida, como o direito à moradia, saneamento básico, trabalho digno, educação de qualidade, etc. De certo modo, não seria diferente em relação ao direito ao acesso à informação e comunicação. Nessa conjuntura, os meios de comunicação social são grandes mediadores das relações sociais e produtores de sentidos e aqueles atores sociais que têm garantido o seu lugar de fala nos espaços midiáticos tem mais probabilidade de que suas reivindicações e demandas sejam atendidas pelo poder público. A Comunicação Comunitária desponta da necessidade de democratizar a comunicação e a informação, uma vez que a comunicação é um direito humano que precisava e precisa ser potencializado. Para Malerba (2008, p. 152) “Com a situação da oligopolização midiática no Brasil, fica claro um desequilíbrio nos locais de fala, com determinados grupos acionando seus sentidos de forma mais representativa que outros”.

Devido a fatores como a concentração de informação pelos grandes conglomerados de comunicação e com o golpe Militar de 1964, floresce no bojo das classes populares iniciativas relacionadas à Comunicação alternativa provenientes dos movimentos estudantis, movimentos sociais e movimentos de base da Igreja Católica (CEBS). Essas iniciativas são adotadas com vistas à transformação social e ampliação dos direitos de cidadania e para contribuir com a mobilização dos atores sociais que não tinham o direito de se expressar garantido por conta da concentração midiática e como resposta ao silenciamento provocado pela Ditadura. Os meios

alternativos de comunicação na época já amplamente utilizados, após o golpe passam a incorporar as demandas das classes subalternas, convergindo então para a comunicação popular, cuja temática explicitaremos mais adiante. Neste contexto, os Meios de Comunicação Comunitários surgem como alternativa na produção de novos sentidos, dando possibilidade àqueles indivíduos historicamente excluídos dos processos comunicacionais em participar por meio de suas próprias falas e reivindicações.

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