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Comunicação autorizada que as organizações museológicas

5 CONCEPÇÕES DE COMUNICAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES

5.3 Comunicação autorizada que as organizações museológicas

Após apresentarmos o que as organizações museológicas compreendem como comunicação informal, além de suas concepções sobre públicos e como estes participam dos diferentes processos do museu, apresentamos aqui, com base nas entrevistas realizadas, as práticas comunicacionais materializadas no âmbito da organização comunicada (BALDISSERA, 2009b), ou seja, aquilo que tais organizações realizam no horizonte das falas autorizadas.

Nesse sentido, pudemos verificar certa vastidão de atividades que expressam a comunicação oficial da organização, conforme apontaram os entrevistados ao discorrerem sobre o que percebem como comunicacional. Nessa linha, a principal

referência sobre o que comunica em museus são as exposições. Essa indicação vai ao encontro do que é apresentado em trabalhos científicos relativos à comunicação de museus, conforme ressaltamos em nossa fundamentação teórica: a comunicação dos museus ainda tem como sua principal base as exposições. Por outro lado, também foram feitas referências ao fato de tudo comunicar, inclusive os prédios onde os museus estão instalados, conforme segue:

Por exemplo, quando nós andamos pelo Centro Histórico de Porto Alegre, nós passamos pelas fachadas dos museus, geralmente são prédios históricos que dificilmente tem uma

comunicação mais visualmente atrativa, né? Que identifique

aquele museu enquanto museu. Isso já faz com que as pessoas não reconheçam aquele espaço como museu, tá? Se você vai, por exemplo, no circuito da praça da Alfândega tá, aqueles

prédios monumentais né? Que muitas vezes a população

comum acha luxuoso né... suas portas fechadas faz com que as pessoas tenham receio de ultrapassar aquela barreira. Muitas vezes as pessoas aí, pra eu entrar aí eu vou ter que ir pagar muito caro. Então não tem também uma comunicação que fale:

entre, venha nos conhecer. (E5)

Nesse sentido, só pra eu ir conferindo contigo: a porta fechada

está comunicando alguma coisa? (Pesquisador)

Está. (E5)

Os museus são espaço, por exemplo, para o público em geral, o museu é um espaço qualificado. Normalmente está em um

prédio histórico e, em sua grande maioria, tem uma certa imponência ainda, ou tentam ter. Mesmo que atualmente sejam

um pouco decadentes, eles têm a sua imponência. Então isso é um formato de comunicação que meio que pode estar dizendo para as pessoas: não sei se aqui é o teu lugar. (E9c)

a sinalização interna do museu, por onde entra por onde sai por onde passa… muitas pessoas tem dificuldade de entender que existem duas casas. Muitas pessoas passam aqui na frente. A entrada é lá [referindo-se à segunda casa], mas passa aqui [referindo-se à primeira casa] na frente [e diz]: ‘ah, essa casa é do museu’. Eu tenho duas placas aqui na frente dizendo que a porta lá e elas passam aqui na frente e depois vão para me dizer “ai, mas o museu tá sempre fechado”, entendeu? Não tá

fechado, mas é que a porta é lá, mas isso são problemas de

comunicação do museu. (E3)

Também foi indicado que recepcionistas, sejam eles funcionários ou terceirizados, são um dos primeiros pontos de contato do museu com seus visitantes e do quanto essa comunicação precisa estar alinhada com a comunicação da organização e ser acolhedora para a pessoa se sentir bem-vinda:

A recepção de um museu te comunica muito, o seu acolhimento no museu. O bom dia, o boa tarde que te é dado,

ou que não te é dado, ou o formato que te é dado. Tu entra no

museu e tem um guarda carrancudo que já te diz que tu não pode isso, não pode aquilo, aquilo outro, normalmente tu entra no museu e tu tem uma série de nãos: não fotografa, não coma, não...não to defendendo que coma e fotografe. A questão da fotografia a gente tem que relativizar um pouco mais e acho que os museus já estão relativizando. [...] (E9c)

Essas afirmações, por indicar muitos aspectos como sendo comunicacionais, podem levar a pensarmos que os museus materializam amplos processos de comunicação no âmbito da organização comunicada. Entretanto, os dados empíricos revelam que muitos deles são apenas iniciativas isoladas de determinados museus e/ou de seus profissionais. Isto é, de modo geral, a comunicação oficial desses museus tende a estar centrada nas práticas tradicionais de circulação de informações, divulgação e publicização, como assessoria de imprensa, publicidade de exposições, criação de conteúdo para meios digitais e materiais impressos. Nessa perspectiva, grande parte das entrevistas revelou que os meios digitais são bastante utilizados pelas organizações para se comunicarem com os diferentes públicos, ainda que haja museus com estrutura tão deficitária algumas vezes não seja possível nem o acesso à internet. Mesmo assim, todos indicaram o uso de ferramentas digitais, com destaque para a presença e publicação de conteúdo em redes sociais virtuais, dentre as quais a mais utilizada é o Facebook. A presença digital também recebe grande destaque em relação à manutenção de sites institucionais e ao envio de e-mail informativo para diferentes tipos de mailing. Ademais, o e-mail e o Whatsapp também foram indicados como ferramentas de comunicação entre os funcionários, bem como o uso de blogs para projetos específicos.

Além disso, as ações de relacionamento com os variados públicos e por meio de diferentes iniciativas também foram bastante destacadas, sendo que, dentre as atividades elencadas, é possível citar: a promoção de ações educativas e de eventos, a ativação de redes de contatos, as atividades de recepção e de mediação de exposição. As atividades de assessoria de imprensa também são bastante empregadas, assim como a confecção e a distribuição de folders, publicações institucionais e a sinalização dos espaços museológicos.

Portanto, podemos afirmar que existe ampla gama de oportunidades para as organizações museológicas se comunicarem que, entretanto, por mais que essas alternativas sejam identificadas, os processos comunicativos das organizações museológicas ainda são concentradas em um escopo pequeno de atividades e naquelas que geram menos esforços. Entendemos que essa realidade seja decorrente, dentre outras questões, da falta de recursos e condições de trabalho apontadas por alguns entrevistados sobre as organizações museológicas de uma forma geral. Nesse sentido, muitas vezes há oportunidade apenas para que o mínimo seja feito, o que restringe a potência da comunicação organizacional.

A seguir, a análise recai sobre as concepções de comunicação organizacional reveladas pelos entrevistados (considerando as organizações em que trabalham), estruturadas em categorias e subcategorias.