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5 CONCEPÇÕES DE COMUNICAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES

5.4 Museus e suas concepções sobre comunicação organizacional

5.4.5 Comunicação como mediação

Nesta categoria, podem ser observadas as STs em que a concepção de comunicação é atrelada a processos de mediação. Cabe ressaltar que o entendimento de mediação no contexto da pesquisa empírica deste trabalho está relacionado com um

sentido bastante específico, qual seja, a mediação que ocorre preponderantemente nas exposições. Assim, a noção de mediação aqui adotada não se aplica à mediação de toda a relação entre a organização e seus públicos; o processo de mediação é referente ao trabalho pedagógico desenvolvido pelas organizações museológicas. Isso pode ser observado inclusive pela designação do cargo de mediador (seja ele exercido por funcionários ou estagiários) e geralmente é atrelado a duas ações: o ato de recepcionar visitantes e conduzi-los ao percurso de uma exposição e o trabalho realizado com grupos (com grande destaque para os públicos escolares). É a partir disso que foram delimitadas duas subcategorias para a comunicação como mediação: 1) de exposições; e 2) para feedback, como apresentamos a seguir.

5.4.5.1 Mediação de exposição

Esta subcategoria está diretamente ligada às atividades de recepção e condução ou acompanhamento de público por uma exposição. Conforme Mairesse (2015, p. 69),

A abordagem da mediação, quer seja orientada para os conteúdos, quer orientada para a relação com os visitantes, baseia-se na lógica da evolução do público, trata-se para esse de desenvolver seus conhecimentos, sua maneira de refletir ou seus modos de comunicação com o resto do grupo, em suma, de formar um cidadão para desempenhar um papel ativo dentro da sociedade.

É com esse entendimento que o papel do mediador ganha destaque nas entrevistas realizadas, conforme revelam as seguintes STs:

Nós trabalhamos com uma concepção de que não existe faixa

etária para exposição, então nossos mediadores, a gente

conversa com eles e faz formação para que eles possam entender o conteúdo, eles estudam, que eles possam percorrer a exposição com criança com fraldinhas, como eu digo, até uma pessoa não escolarizada (E9a)

Acho que o principal comunicador no museu é o mediador,

uma pessoa que está ali para receber o visitante, então quando vem visitante… (E7)

A mediação também é relacionada aos processos de recebimento de grupos, para os quais são desenvolvidas atividades específicas de acordo com as características dos seus integrantes. Na maior parte das vezes, a referência à mediação de grupos considera grupos escolares. Além disso, há menção sobre o processo de mediação ser realizado pelos visitantes, extrapolando a ideia de que a mediação é restrita a pessoas diretamente vinculadas às organizações, especialmente naquelas em que a comunicação é compreendida em sentido mais amplo e são considerados os aspectos informais da comunicação:

A gente já teve situações assim, que pra nós, funcionários de museu, foi super emocionante. Eu lembro uns sábados que a gente tava aberto e veio uma menina com um senhor, bem humilde ele, e ela entrou e os mediadores, no sábado, eram poucos e estavam com grupo e eu disse pra ela, tu quer…? E ela

disse: tu não lembra de mim? Claro que eu não lembrava. “Eu vim essa semana com a minha professora. Esse é meu avô e eu trouxe ele. Posso mostrar o museu pra ele?” Ela se dispôs a ser mediadora. Nossa, é quase êxtase profissional. (E9)

Com base nas inferências realizadas a partir das entrevistas, observamos que os mediadores e o processo de mediação de exposições são componentes importantes quando é pensada a comunicação de museus e também a maneira como as mediações podem contribuir para os processos comunicativos dessas organizações, conforme será visto na subcategoria a seguir.

5.4.5.2 Mediação como processo para o feedback

A mediação como forma de comunicação também se mostra relevante para que os museus levem em consideração as repercussões realizadas pelos públicos, de forma que essa atividade seja compreendida como maneira de as organizações museológicas obterem feedback de seus visitantes. Assim, os mediadores desempenham um papel de destaque para a obtenção de retornos dos públicos, seja por meio de processos informais de escuta e repasse de informação ou através de estudo de público em que os relatórios são preenchidos pelos mediadores:

A gente tem um trabalho com os mediadores, então eles atendem o público e eles fazem um relatório de mediação. E

muitas vezes no relatório de mediação vem essas impressões assim. Aí o grupo, porque tem coisas que são sutilezas do olhar ali né. A gente do educativo que tá aqui junto com o público. Então um grupo chega super agitado, daí tu consegue fazer uma fala e as pessoas saem, muitas vezes eu to aqui, olhei ali um pouco, participei, venho para cá e quando eu vejo está terminando a mediação, batem palma. Aí eu penso: “olha só gente, tem gente batendo palma. Isso tá bacana, a gente conseguiu chegar lá, a gente conseguiu estabelecer uma relação, um diálogo com esse público”. Então esse feedback os

mediadores sempre nos dão. (E10)

A gente normalmente está tendo um feedback dos professores sempre muito satisfeitos assim. É raro um professor ter

alguma insatisfação com a mediação, que é justamente essa comunicação do museu com seu público. (E3)

A figura do mediador como coletor de feedbacks também é evidenciada nas seguintes STs:

Os mediadores também, que são a equipe do educacional

também fazem um relatório no espaço. Olham as pessoas

[que] passam por aquele objeto e nunca ninguém olha, ou passa e não presta atenção, ou passam e quebram. Enfim, tem manifestação de tudo que é jeito. E aí a gente analisa: bom, não olham porque não conhece? Por que aquilo que a gente escreveu ninguém tá entendendo nada? (E11)

a gente tem o retorno dos professores, que é solicitado também, um retorno específico dos grupos de professores e

mediadores. (E11)

Os mediadores, eles têm um local que eles assinam, que eles

colocam impressões, fazem um relatório sobre o que que

aconteceu, o que a pessoa disse, como é que foi a mediação com a escola, essas coisas assim. (E9a)

Através das mediações a gente elabora uma planilha... de

como é que se diz? Avaliação dos professores. A gente vai ter isso tanto quanto uma escola que faz um agendamento quanto com a escola espontânea. (E3)

Nesse sentido, o processo de comunicação entendido como mediação e a partir do qual algumas organizações museológicas conseguem obter informações para qualificar suas atividades repercute, inclusive, nos processos comunicacionais. Exemplo disso é a adequação de linguagem, conforme aponta E3:

[...] na criação de uma linguagem de mediação diferenciada

entre adultos e crianças, isso é um exemplo bem prático. (E3)

Dessa forma, analisamos que a comunicação como mediação se desdobra em importantes atividades de escuta e a partir da qual a compreensão de comunicação em museus se direciona para uma atividade mais interativa, diferente das concepções de comunicação mais voltadas para processos centrados nas organizações. A comunicação como mediação, como ficou evidenciado a partir das entrevistas, ainda se restringe a alguns processos, particularmente relacionados à mediação das visitações às exposições. Não houve referências a outros processos que também poderiam ser qualificados pela mediação, como, por exemplo, as manifestações nas mídias sociais.

5.4.6. Comunicação idealizada como diálogo

Por fim, identificamos nos dados empíricos desta pesquisa uma categoria relativa à concepção de comunicação como diálogo, compreendida para além da ideia de aproximação e relacionamento abordados na categoria anterior. Primeiro, ponderamos que, embora parte dos dados obtidos tenham potência para indicar que as organizações museológicas levam em consideração as impressões dos públicos e estejam abertas às suas contribuições, de acordo com os relatos dos entrevistados, é fundamental avaliarmos se as organizações almejam de fato o diálogo com os seus diferentes públicos ou se essa ideia se materializa apenas com qualidade de conversação. Trazemos essa questão, pois, se por um lado o termo ‘diálogo’ é bastante citado nas respostas dos entrevistados (“estabelecer um diálogo”, “diálogo com os públicos” etc.), por outro, as materializações comunicacionais tendem a não traduzir a ideia de diálogo como prática. Assim, a noção de diálogo é voltada à condição de ideal de comunicação, como fica bastante claro nas STs: