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CAPÍTULO III RELAÇÕES PÚBLICAS E A GESTÃO ESTRATÉGICA DA

3.5 Comunicação e aspectos da cultura organizacional

Como visto, as redes e fluxos de comunicação para circulação da informação na empresa demonstram um circuito de relações que se movimentam em todas as direções e está além de um controle total, porque envolve a participação de pessoas. As pessoas possuem um cargo e uma função na estrutura formal, mas possuem características de ordem pessoal que vão acompanhar sua percepção e ações profissionais. Essas características pessoais, que são formadas devido à bagagem de conhecimento e de vivências de cada um, trazem trocas e interatividade com a organização e com os colegas, tornando-se elementos agregadores da cultura da organização, para além da cultura moldada na identidade da empresa.

Para Scroferneker (2008, p. 24), “a comunicação produz a cultura que produz a comunicação da organização”, num processo dinâmico de circularidade. A organização é um sistema vivo, expresso num conjunto de atividades constantes e contínuas, com base em uma cultura que dá identidade à empresa. Os processos de comunicação de uma organização contribuem para instituir, difundir, modificar e/ou consolidar a cultura organizacional, por isso, comunicação e cultura caminham juntas na organização. É assim que, de acordo com Nassar (2008, p. 64), “todas as organizações, independentemente de seus modelos administrativos e de outros aspectos que lhe conferem identidade em relação a outras organizações, têm na comunicação um processo complexo, integrante de suas políticas, seus planejamentos e suas ações”.

Para Oliver (2007), a cultura organizacional é criada pelo grupo dominante da organização, especialmente pelo seu fundador, quando são moldados os padrões culturais, que se tornam institucionalizados. Podemos acrescentar que organizações são criadas e desenvolvidas por um indivíduo ou grupo de indivíduos que idealizam uma proposta de trabalho, com objetivos que passam a ser apresentados e discutidos entre aqueles que vão fazer parte dessa proposta. Nesse momento inicial de criação da empresa, já está sendo formada a cultura organizacional, e já está estabelecida sua relação com a comunicação, pois as ideias e posicionamentos são transmitidos

a todos que participam do projeto. Entretanto, podemos dizer que a cultura tem um caráter dinâmico, pois pode evoluir e se modificar, alterando padrões normativos da organização e se configurando com novo padrão de cultura da organização. Algumas vezes, esse movimento pode trazer pequenos ajustes e acontecer de forma lenta e gradativa, atendendo a tendências do ambiente externo e global. Em outros momentos, em que há demanda de mudanças significativas na organização (fusões, aquisições, ampliações da empresa, transferências de sedes, etc.), essa alteração da cultura pode ter uma dimensão maior, mais profunda, e precisa ser implantada em um determinado prazo de tempo, mas com o cuidado de que os atores possam absorver as novas propostas, missão, crenças e valores antes mesmo de abandonar a cultura anterior.

A cultura consiste, pois, em “um conjunto complexo e multidimensional de praticamente tudo o que constitui a vida em comum e nos grupos sociais” (Aktouf, 1994, p. 49) e, nas organizações, não é diferente. A cultura organizacional é constituída por fatores como missão, visão, história, mitos, rituais, símbolos, linguagem e crenças, entre tantos outros elementos que são transmitidos através de diversos meios e formas de comunicação. Freitas (1999) define a cultura na organização primeiramente como “instrumento de poder”, uma vez que traz determinações quanto ao modo de ser e de fazer da empresa. Entretanto, a autora complementa sua definição, explicando que é “um conjunto de representações imaginárias sociais que se constroem e reconstroem nas relações cotidianas dentro da organização e que se expressam em termos de valores, normas, significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade, tornando a organização fonte de identidade e de reconhecimento para seus membros” (Freitas, 1999, p. 97). Como um conjunto de valores, crenças e significados compartilhados, que norteiam atitude e comportamento do quadro de colaboradores e direção, a cultura é absorvida em forma de políticas e normas da empresa e, na mesma proporção, como postura e sentimento.

Para uma definição ampla, Grunig, Grunig e Dozier (2002, p. 482) descrevem cultura com base em “pontos de consenso” identificados, também, entre outros os autores, e explicam que a cultura “é a soma de valores, símbolos, significados, crenças, pressupostos e expectativas compartilhadas que organizam e integram grupos de pessoas”. Os autores assinalam que, nas organizações, outros fatores específicos podem ser somados, de acordo com cada tipo de organização. Para Motta (1996), assim como as organizações são vistas como parte de uma sociedade, são também parte de sua cultura e representam subculturas desse meio social, o que vai demandar ajustes quando falamos em empresas multinacionais e transnacionais. Nessa linha de pensamento, Sriramesh (2014, p. 220) associa a relevância dos estudos da cultura para a

atividade de relações públicas, como gestora da comunicação em organizações: “[...] a relação entre cultura e relações públicas pode ser analisada de dois modos diferentes: a cultura das organizações em si, conhecida como a cultura organizacional, e a cultura societal, ou seja, como as organizações se moldam às culturas das sociedades em que atuam”, ponderando que, atualmente, em todo o mundo, as organizações contam com “grupos multiculturais de funcionários”, devido “à intensa mobilidade entre a população mundial” o que exerce influência direta sobre a própria cultura organizacional.

A cultura organizacional, além de ser representada pelos elementos até aqui descritos e comunicada aos colaboradores como uma filosofia da empresa a ser compartilhada entre todos os atores organizacionais, ela também se apresenta e é percebida através de elementos simbólicos, que igualmente são formas de comunicação não verbal, mas que possuem força de informação. A comunicação simbólica da cultura da organização consiste nos elementos aparentes que estão presentes tanto em aspectos do ambiente físico (cores, mobiliário, iluminação, decoração), quanto na distribuição de salas e espaços destinados aos diferentes setores. A cultura de uma organização se apresenta através de vários elementos, ela sustenta e é sustentada pela comunicação, pois, conforme Kreps (1995, p. 145), “a comunicação nas organizações é inegavelmente uma influência poderosa na cultura, assim como a cultura influi na forma em que os membros da organização se comunicam”.

Ao apresentarmos esta abordagem acerca da comunicação, redes, fluxos e cultura organizacional, ressaltamos a relevância e amplitude dos processos comunicacionais no âmbito das empresas. Para Grunig, Grunig e Dozier (2002, p. 480), “os profissionais de relações públicas que trabalham em/ou para organizações são profissionais cujo papel é estabelecer e manter um sistema de comunicação dentro dessa organização e entre essa organização e as partes interessadas em seu meio ambiente”, buscando interações e entendimento entre essas partes. Assim, os autores classificam a comunicação como um sistema que está dentro do sistema organização, por sua vez inserida no sistema maior do meio ambiente externo onde se encontram, com movimentos e flexibilidade necessária entre as partes, conforme já relatamos sobre cenários e mudanças. Para esses casos, a comunicação em organizações que passam por mudanças se apresenta com uma feição estratégica, praticada sob a gestão e visão das relações públicas, de forma a conciliar e atender aos interesses da empresa, do meio ambiente e dos atores organizacionais.