• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 O ALUNO COM AUTISMO NA CONSTRUÇÃO DAS

5.4 ANALISANDO OS DADOS COLETADOS

5.4.4 COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO

Apesar dessa questão, dele ainda não falar, ele balbucia algumas coisas e assim ele consegue se comunicar tanto comigo quanto com os amigos. Agora um pouco antes de você chegar eles estavam brincando de cachorrinho, aí pegaram ele, o chamaram e ele foi. Ele foi se adaptando no espaço com o auxílio das outras crianças, e isso é muito legal. Professora Conceição

A escolha da categoria 'Comunicação e Interação' se deu, pois são aspectos relevantes as pessoas com autismo e muito presentes nas respostas das

73

Professoras entrevistadas, pois elaborar estratégias e construir ferramentas, junto aos seus alunos com autismo, para que haja comunicação entre eles é tarefa diária, visto ser a comunicação essencial para o sucesso do processo educativo.

Ao serem apresentadas as questões: Como o(s) aluno(s) se expressam? Como eles se comunicam com a professora e pais? Como interagem com os outros alunos? foram respondidos:

O que ela não gosta, ela sai, não tá interessada e sai. Ou ela me puxa pra dizer se eu to contando alguma história, ou estou falando alguma coisa que ela não está ligando, ou ela pega na minha mão, como quem diz: não quero assim, vamos fazer outra coisa. Tipo, se a gente tá no parquinho e ela não quer retornar pra sala, ela começa um drama, chorar e espernear pra dizer que ela não quer encerrar aquela atividade e passar pra outra.

Então assim, de forma geral ela sempre informa o que está ou não gostando. Se ela não está muito satisfeita, ela balança as mãos, às vezes leva na boca, mas não morde, morder é só bem expressivo de um estado de raiva mesmo. Quando ela está feliz sacode as mãos e às vezes coloca a mão na boca mas não morde.

E sorri e canta muito quando está feliz, então essas são as formas dela me informar que ta satisfeita. Se alguma atividade é muito interessante ela pára mais um tempo pra olhar e aí eu percebo que chamou sua atenção. Isso acontece às vezes como é esse caso da música, ou seja, ela pede pra repetir aquela parte da música, cantando bate palmas e pega nas minhas mãos e também bate palma, pra eu repetir aquela parte da música. Professora Joice

Por exemplo, hoje quando eu cheguei a mãe falou que ele não quer ir pra escola, e entendo que tudo é uma questão de diálogo. Então eu fui lá e disse: "João, vamos! Nós vamos brincar de massinha, fazer atividades na sala, contar histórias.", aí o aluno foi comigo pra sala. A mãe ficou surpresa afirmando que ele estava, antes da professora chegar, gritando com ela. (...) Ele tem problema na fala, a maioria dos autista tem dificuldade na fala, em relação até a tonalidade, ou melhor entonação. Por exemplo, ele vai fazer uma pergunta, mas ele não faz uma pergunta, ele faz aquela pergunta como se não fosse: "Professora posso ir ao banheiro." Não de entonação de pergunta, então você tem que estar atento. O trabalho da fono também é interessante por conta disso.

(...)E a gente tem a Sophia também, que tem uma voz mecânica, ela imita vozes, ela fala, faz tudo, mas de forma mecânica e o andar é robotizado e ela só interage com um aluno da sala, e assim mesmo eu fui incentivando muito. Professora Monica

Vencer as barreiras da comunicação e interação do sujeito autista na escola pode ser um desafio ainda maior para o Professor, pois ele utiliza a comunicação para estabelecer sua relação com os alunos.

74

Um Professor com um olhar sensível ao seu aluno autista possibilitará, que mesmo com suas individualidades e particularidades, as questões de interação e comunicação não se tornem empecilho para um bom desenvolvimento e reconhecimento deste enquanto sujeito. Como uma das características mais marcantes do autista, as questões de fala, comunicação e interação foram muito presentes nos relatos das professoras entrevistadas que mostraram não medir esforços pra alcançar uma boa comunicação com seus alunos autistas.

A professora Joice demonstra ter conseguido mapear o estágio emocional da sua aluna, ou seja, quando está feliz, ou triste, satisfeita ou insatisfeita, buscando uma comunicação eficiente em que ambas consigam se expressar e ter um bom entendimento. Além de ter uma abordagem humana, no ponto de vista do desenvolvimento de sua aluna, ao entender o interesse dela e respeitar suas demandas apresentadas através da comunicação.

A atenção voltada a comunicação, para além da fala, é essencial num processo educativo. A aprendizagem acontece, principalmente nessa etapa, Educação Infantil, primordialmente a partir daquilo que é vivenciado pelas crianças. Portanto, para que a educação e a aprendizagem ocorram é necessário investir nas diversas formas de comunicação, e superar as dificuldades com os autistas nas questões de comunicação e interação, isso buscando compreender suas formas de expressão e seu modo de agir.

No relato da professora Monica está evidenciado o momento emocional da mãe do seu aluno, seu desgaste, suas contradições e os conflitos emocionais presentes em grande parte da realidade das famílias, em que há uma criança com autismo. Ao mesmo tempo a professora foi sensível as demandas familiares e paciente, apontando que em entende que há inúmeras condições de entender o quadro apresentado para além do óbvio, do imediato. Além de, demonstrar um desenvolvimento nas habilidades de comunicação e diálogo, com seu aluno com autismo, que atendeu prontamente a sua solicitação após uma conversa.

A professora também fala sobre a atenção que é importante ser dada quando o aluno com autismo utiliza da fala como recurso para a comunicação, questão essa, como já discutida anteriormente, que não é comum em pessoas com autismo. Pois,

75

muitas vezes ao falarem não carregam suas frases de sentido e conotações que retratem o verdadeiro objetivo do que se deseja transmitir, como nos exemplos dados pela Professora.

Ao serem questionadas: Como é a interação deles com seus colegas de classe? responderam:

Já foi mais difícil, agora é um relacionamento mais tranquilo, vou tentar me explicar, era mais difícil em termos de aceitar proximidade física, agora eu acho que ela lidar melhor com isso, às vezes um aluno esbarra e isso não é mais um problema, o brincar perto dos colegas, mas ela ainda não fez nenhuma comunicação, ela brinca perto dos colegas, mas não brinca com os colegas, ela faz um trabalho perto, mas ela não faz um trabalho com... um dupla, em parceria. Ela não dialoga, assim a interação é bastante comprometida. Professora Joice

Tem horas que ele não quer. E apesar de pequenos, a gente tenta passar pra eles, o amigo não quer brincar agora, deixe ele, então assim tem horas que ele fica assim, sabe, na dele, e assim é o momento de respeitá-lo por isso. Professora Conceição

Elas se davam muito bem, uma que tinha dificuldade de interação com os colegas porque eles estão muito na fase do egocentrismo ainda na Educação Infantil, estão se desapegando das coisas,então ela tinha dificuldade de emprestar as coisas, de socializar, então as vezes ela brigava com os coleguinhas pra eles não pegarem as coisas dela. Professora Carla Quando se trata da interação com os colegas de classe, a interferência das Professoras e atenção em relação a quais estratégias utilizar para auxiliá-los nessa questão se mostraram fundamentais, por ser uma questão muito presente.

No relato da professora Joice ela explica como essa interação é comprometida em relação aos colegas, mas que apesar dessa dificuldade ela já demonstrou avanços nesse sentido, ao não se incomodar tanto com a presença dos amigos e possíveis esbarrões. De igual forma, a professora coloca essa dificuldade em relação aos seus alunos, porém ao ensinar aos colegas o respeito pelo tempo e espaço do amigo demonstra sensibilidade e ensina seus alunos a lidar com a diversidade e respeitá-la.

Para a comunicação acontecer precisa existir uma pré-disposição de comunicar algo e uma disponibilidade de se buscar entendimento pelo que está sendo comunicado, neste aspecto o Professor precisa estar atento aos sinais dados

76

por seus alunos. Para tanto, faz-se necessário aprender com seus alunos com autismo a forma como estes comunicam.

Para isso, no cotidiano escolar, se a atenção do Professor estiver voltada para a metodologia, para as regras, para a disciplina no ambiente escolar poderão ser deixadas de lado valiosas oportunidades de comunicação com seus alunos.

A fala da professora Carolina demonstra conhecimento sobre as fases do desenvolvimento relacionadas as crianças, mas ao mesmo tempo um desconhecimento em relação aos fenômenos apresentados por crianças autistas, que nesse caso parecem não reconhecidos.

Conclui-se portanto que a postura das professoras analisadas nas questões de comunicação e interação apresenta fortes elementos de uma formação humana que ultrapassa uma restrita formação inicial ou continuada por meio de cursos ou capacitações, pois suas interações no cotidiano da sala de aula e atendimento aos alunos em muito destaca a preocupação com a formação do sujeito autista e de todos os sujeitos envolvidos, incluindo todos os alunos, aspecto que em muito não é encontrado em cursos de formação que tratem de maneira específica as questões do autismo. É claro que essa perspectiva de formação não exclui o conhecimento teórico e técnico para melhores estratégias no desenvolvimento do trabalho, mas ao mesmo tempo indica que há importância, de igual forma, a do conhecimento especializado.

Documentos relacionados