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CAPÍTULO 4 O ALUNO COM AUTISMO NA CONSTRUÇÃO DAS

5.4 ANALISANDO OS DADOS COLETADOS

5.4.1 FORMAÇÃO DOCENTE

Na minha formação tinha uma disciplina mais pra tratar o histórico, como a educação inclusiva foi pensada, uma questão mais histórica, não propriamente nada que me preparasse em termos de uma técnica. Não que eu ache também que isso exista de fato, mas assim, nessa formação a gente não tinha nada assim que fosse muito importante, nenhuma instrução de ordem mais prática. Professora Joice

A categoria 'Formação Docente' surgiu a partir da importância da formação em todo processo educativo e das influências, sejam positivas ou negativas, desta no desenvolvimento do trabalho pedagógico, perspectiva apresentada pelas professoras. Considero importante abordar essa questão, partindo dos indicativos apontados nas entrevistas, para trazer para essa discussão que a Inclusão de alunos com Autismo se inicia muito antes da matrícula dos mesmo nas escolas.

Os processos inclusivos deveriam ter início nos processos formativos dos docentes, quando não ocorre, ao se depararem com as realidades em suas salas de aula, estes se dão conta da fragilidade das suas formações, no aspecto da preparação para lidar com a diversidade humana.

Ao serem questionadas: `Você acha que na sua formação foi contemplada com algum tipo de orientação ou preparo para lidar com alunos com autismo em sala de aula? As respostas foram:

A gente nunca sente que está preparada, até a gente encontrar o problema,, não que a criança seja um problema, mas, a realidade da sala de aula apresenta muitas questões . Professora Carolina

64 Olha, sobre a minha formação, eu acho que ela é um pouco superficial, pois minha formação se ateve muito à questão teórica. O professor realmente tem que buscar os conhecimentos e também a prática, (…) mas, realmente é no dia a dia que você acaba desenvolvendo seu trabalho. Professora Monica

Minha maior dificuldade é saber se estou no caminho certo, porque a gente vai tentando acertar sempre, mas nem sempre eu sei se eu estou fazendo o que de fato eu poderia fazer pra contribuir com o desenvolvimento desse aluno, ou se eu apenas estou de alguma forma fazendo o mínimo mesmo. Eu fico me perguntando isso as vezes. Eu sinto a importância do conhecimento, pois, não vi em minha formação. Só parei pra ler sobre autismo quando eu recebi o Felipe. Professora Conceição

A partir dos relatos apresentados pelas Professoras pôde-se notar que elas não se sentem preparadas para trabalhar com alunos autistas em suas turmas, pois não se acharam contempladas em suas formações com uma base que lhes dessem sustentação para o desenvolvimento desse trabalho.

Considerando a perspectiva da realidade, apresentada pela Professora Carla, é fundamental considerar os desafios sociais que a realidade expõe. Isso porque, a falta de preparo revelada pela Professora, ao mesmo tempo aponta para a dimensão de que, quando o tema é a inclusão escolar, não haverá um momento ideal de preparação que dê conta das realidades.

Tal análise é possível porque pelas variedades das realidades sociais e condições de trabalho docente, a individualidade dos alunos se apresentam muito distintas, não podendo uma formação acadêmica ou continuada contemplar todas as dimensões do ser humano. Isso não significa que, não seja relevante o conhecimento especializado nas diferentes áreas como, por exemplo, a condição da pessoa com autismo.

[...] é uma luta, um movimento que tem por essência estar presente em todas as áreas da vida humana, inclusive a educacional. Inclusão se refere, portanto, a todos os esforços no sentido da garantia da participação máxima de qualquer cidadão em qualquer arena da sociedade em que viva, à qual ele tem direito, e sobre a qual ele tem deveres (Santos,2003, p.81 grifo da autora).

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A inclusão se apresenta como um desafio que precisa ser alcançado, pois lidar com realidades distintas é fato comum aos humanos, visto que, somos todos diferentes cada um com suas capacidades e limitações. Sendo assim, ao entender a Inclusão enquanto inevitável por se tratar de uma realidade cotidiana vivenciada por todos, práticas inclusivas passam a ser comum em todos os espaços, inclusive nos de formação, que assim considerariam a diversidade e formariam para lidar com ela nos espaços escolares.

Porém, a formação docente não prepara os professores para lidarem com a diversidade que eles vão encontrar nas realidades de suas salas de aula, é uma formação que considera o todo como igual, parte de uma modelagem, de uma didática que não prepara o docente para entender as individualidades dos seus alunos. Quando estão na prática e no cotidiano escolar os professores se dão conta de que existe uma gama de personalidades, tempos diferentes de aprendizagem, formas diversas de comunicação e peculiaridades, muitos têm a sensação de não saberem fazer e não estarem preparados para lidarem com aquela situação, como é o caso da professora Carla.

Sobre a fala da professora Monica, cabe ressaltar a sua incompreensão da relevância do conhecimento teórico na realidade prática e cotidiano educacional, isso porque, se o conhecimento teórico é entendido como algo a parte, separado da prática, não há de fato conhecimento teórico consistente. Tal afirmação é possível compreendendo a dialética necessária em que o conhecimento teórico dialoga continuamente com a prática, e a prática o mesmo. E é nesse movimento contínuo que se encontra o desenvolvimento de um trabalho necessário para a inclusão escolar.

Considerando a resposta da professora Cláudia observa-se uma preocupação contínua do trabalho pedagógico realizado por ela, pois ela utiliza diversas palavras em sua narrativa revelando tamanha angústia. Quando em sua preocupação está também o desejo de uma formação mais ampla, observa-se a dedicação da professora em considerar a relevância da escola e do conhecimento acumulado pela humanidade no desenvolvimento social, cognitivo e afetivo do aluno com autismo.

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A professora Joice demonstra dúvidas em relação a forma como deveriam acontecer esses processos formativos, pois ao mesmo tempo que fala da falta de técnicas para o trabalho compreende que não existem mecanismos de instrução prática para tal atividade.

Desse modo, a fala das professoras apresenta receio em relação ao preparo que receberam em seus processos formativos para o desenvolvimento do trabalho com a inclusão escolar, mas ao mesmo tempo o entendimento de que não há formação que dê conta de prepará-las diante do novo que se apresenta e que é formado na prática, essa angústia é apresentada por elas há todo tempo.

Quando perguntadas se 'A SME/Caxias oferece cursos de capacitação na área da educação na perspectiva inclusiva?' responderam:

Há de fato pra mim uma negligência muito grande da Rede, no que diz respeito a oferta de cursos, de capacitação e formação. Por isso acho que a negligência é ainda maior por não ter,pelo menos, um espaço de escuta, de reunião desses professores que estão em sala de aula, para trocarem experiências. Porque eu sei que nenhum curso de capacitação daria conta do que é a experiência na prática, mas se tivessem esses encontros de escuta pra troca de experiências entre professores da rede, eu acho que a gente já estaria num caminho melhor, pelo menos nós iríamos compartilhar nossas angústias. Professora Joice

Assim, tem algumas formações na Rede. Hoje eu vejo bem menos, já participei de algumas nesse tempo que eu to aqui, mas assim eu sinto que também há uma necessidade de você fazer uma pesquisa sobre qual é a real necessidade do professor, porque muitas vezes são coisas que são válidas mas, que talvez não é a necessidade desse professor naquele momento. Professora Conceição

Então, a gente tem as formações precariamente, por exemplo esse ano a gente ta discutindo o PEI, mas a teve dois encontros até agora, pra discutir, então formação, formação dentro da Rede a gente tem um pouco de dificuldade, embora a gente saiba que é garantido por Lei que haja essa formação, ela não tem acontecido como deveria não. Professora Carla

Esse ano não houve(....)tiveram alguns encontros, mas eu não posso dizer que é educação continuada, eu na verdade acredito que é tampar o sol com a peneira. Porque eles não procuram saber qual é a necessidade do professor, por exemplo, a necessidade de um professor que trabalha sem um estimulador dentro da sala ou mediador. Professora Monica

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Em relação as formações oferecidas pela Rede e apoio ao trabalho realizado, as Professoras destacam que sentem falta de uma maior formação e interação com demais colegas que também vivenciam a inclusão de alunos autistas.

Analisando a fala da professora Joice, pôde-se concluir que não há um espaço/tempo para se construir estratégias, projetos, adequações e compartilhamento de experiências favoráveis aos alunos com autismo nas escolas e de igual modo na Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias. Essa fragilidade revela que houve pouco desenvolvimento de interesse. A narrativa da professora apresenta possibilidades que não demandariam grandes estruturas ou altíssimos valores econômicos para a mudança na realidade educacional da SME/DC, mas, indica possibilidades de fácil desenvolvimento e alcance se a gestão educacional do Município estivesse aberta ao diálogo, as fragilidades, se estivesse mais presente no cotidiano desses docentes, dentre outras inúmeras questões apresentadas no âmbito da gestão.

A Professora Conceição deixa claro que apesar de acontecerem alguns encontros, estes não atendem as demandas das Professoras, pois não há uma pesquisa prévia nas escolas para sondar quais são suas necessidades e questões que precisam de maior atenção por parte da SME/DC, o que também é reforçado pela Professora Monica.

Estes relatos revelam um cotidiano que pouco recebem contribuições de seu órgão central de educação, no que diz respeito a formação e prática inclusiva, formação esta que seja minimamente condizente a inclusão de alunos autistas, apesar de estar garantida em Lei a formação continuada dos docentes para trabalharem com a inclusão, como relatado pela Professora Carolina.

O Artigo nº 62, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/96 em seu parágrafo único diz:

Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a

que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)

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A legislação está posta para ser cumprida, os ganhos legais após um período histórico de lutas, garantem políticas públicas para legitimarem os direitos de crianças com autismo. Porém, infelizmente, muitas vezes ficam apenas como registros e não tem uma efetividade nas Redes de Ensino, que sobrecarregam os professores e prejudicam os alunos, por não ser realizado o trabalho da maneira adequada.

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