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Federação Especializada para Surdos - Educação e Integração

2.4 A Comunicação dos Surdos

A forma de comunicação dos surdos tem uma especificidade linguística pela qual a fala não é utilizada e a linguagem é expressa, através de sinais e gestos com significados, que substituem as palavras utilizando-se das mãos, do olhar e do corpo.

Cabe citar algumas afirmações de Lev Semiónovitch Vygotsky (1896-1934) sobre o desenvolvimento intelectual humano: “A função primordial da fala é a comunicação, o intercâmbio social.” (VIGOTSKI, 2008, p.6) e, também:

Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se, então, a base de uma forma nova e superior de atividade nas crianças, distinguindo-as dos animais. (VIGOTSKI, 2007, p.18).

Filosofias Educacionais para Surdos

Entende-se por filosofias educacionais para surdos, como sendo a escolha dos métodos mais apropriados para serem utilizados na comunicação de surdos.

Goldfeld (2002, pp.33 a 45) descreve as Filosofias Oralista, da Comunicação Total e o Bilinguismo, conforme segue:

ORALISMO

O Oralismo ou filosofia oralista tem como objetivo à integração da criança surda na comunidade de ouvintes, permitindo-lhe condições de desenvolver a língua oral, no caso do Brasil, a Língua Portuguesa. Ao adotar o Oralismo alguns profissionais consideram que esta deve ser a única forma de comunicação dos surdos.

A filosofia oralista utiliza diversas metodologias, conforme a opinião de alguns profissionais, na área da Fonoaudiologia, a oralização deve ser iniciada, tão logo se descubra a surdez, porque a plasticidade das vias auditivas, durante o período maturacional da cóclea favorece o desenvolvimento da criança.

Trata-se do processo de estimulação para o resgate de resquícios auditivos, que possibilitam a aprendizagem da língua portuguesa, desta forma permitirá à criança surda a sua integração na comunidade ouvinte e desenvolver uma personalidade ouvinte. São os denominados surdos oralizados.

A metodologia audiofonatória, também conhecida como Perdoncini, é bastante utilizada no Brasil.

COMUNICAÇÃO TOTAL

Esta filosofia tem como principal preocupação os processos comunicativos entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes. Preocupa-se com a aprendizagem da língua oral pela criança surda, mas acredita que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não devem ser deixados de lado em prol do aprendizado exclusivo da língua oral e, também, defende a utilização de recursos espaçovisomanuais para favorecer a comunicação.

Um dos seus princípios orientadores afirma que: os estudos, desde 1960, claramente indicam que a criança que cresce em um ambiente, onde são utilizados recursos visuais e gestuais, demonstra mais habilidade para comunicar-se e tem mais êxito na escola. Prioriza e respeita a participação da família na sua função de compartilhar seus valores com a criança surda.

A Comunicação Total em oposição ao Oralismo acredita que somente o aprendizado da língua oral não assegura pleno desenvolvimento da criança surda. Defende o uso de qualquer recurso linguístico, seja a língua de sinais, a língua oral ou outros códigos manuais, no sentido de beneficiar a comunicação entre os surdos, em detrimento do aprendizado de uma língua.

No Brasil, seus adeptos utilizam a Língua de Sinais-Libras, a datilologia (representação manual das letras do alfabeto), o cued speech (sinais manuais que representam os sons da língua portuguesa), o português sinalizado (língua artificial que utiliza o léxico da língua de sinais com a estrutura sintática do português e alguns sinais inventados, para representar estruturas gramáticas do português que não existem na língua de sinais) e o pidgin (simplificação da gramática de duas línguas em contato, o português e a língua de sinais).

O uso dos diversos códigos manuais acima citados é uma forma de comunicação denominada de bimodalismo, que é um dos recursos utilizado no processo de aquisição da linguagem pela criança e na facilitação da comunicação entre surdos e ouvintes.

A Comunicação Total não privilegia a Libras, mesmo sendo esta uma língua natural, ela procura criar recursos artificiais para facilitar a comunicação e a educação dos surdos, pois reconhece que poderá haver dificuldade entre surdos que desconhecem os códigos da língua de sinais.

BILINGUISMO

O Bilinguismo tem como pressuposto básico que o surdo deve adquirir como língua materna: a língua de sinais, que é considerada a língua natural dos surdos e como segunda língua: a língua oficial de seu país, no caso desta pesquisa a Língua Portuguesa.

Na concepção dos autores bilinguistas, o surdo não precisa desejar uma vida semelhante ao ouvinte, ele pode aceitar e assumir a sua surdez. É rejeitada a idéia de que o surdo deve tentar aprender a língua oral, para aproximar-se do padrão da comunidade ouvinte, embora que esta aprendizagem seja importante.

Na filosofia bilíngue há duas maneiras distintas de definição:

1) autores acreditam que a criança surda deve adquirir a língua de sinais e a modalidade oral da língua de seu país, sendo que depois a criança deverá ser alfabetizada na sua segunda língua, no caso a língua portuguesa;

2) outros autores acreditam ser necessário para o surdo adquirir a língua de sinais, sua língua materna, e a de seu país na modalidade escrita, apenas.

No Brasil, grande parte dos surdos e seus familiares não conhecem Libras. Há um grande número de crianças, adolescentes e adultos surdos que não participam de comunidades surdas, não utilizam a língua de sinais e, também, não dominam a língua oral. Estes vivem à margem da sociedade, sem acesso à comunicação e à educação desejadas, precisando criar entre os membros de suas famílias seus próprios sinais de linguagem para serem compreendidos.

2.4.1 A Língua Oficial dos Surdos: Libras

A Língua Brasileira de Sinais – Libras é uma das línguas faladas no Brasil e obteve o seu reconhecimento oficial do governo brasileiro pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que foi regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005:

Artigo 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Artigo 4º Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais-Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.

A lei prevê, também, a garantia do direito à educação das pessoas surdas ou com deficiência auditiva, conforme capítulo VI, do Decreto 5.626/2005.

A sua legalização e oficialização representa a luta de muitos anos da comunidade surda, pelo reconhecimento de sua língua.

Para melhor explicitar o tempo, acima citado: “muitos anos” considera-se para o início da contagem: a data de fundação do INES, 26 de setembro de 1857, durante o Império de D. Pedro II, até o dia 24 de abril de 2002, data da lei nº 10.436, que dispõe sobre a Libras, que só foi regulamentada no dia 22 de dezembro de 2005, pelo Decreto nº 5.626.

Definição de Libras – Língua Brasileira de Sinais, conforme a Feneis: “É a língua materna dos surdos brasileiros”. Como língua é composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como a gramática, semântica, pragmática sintaxe e outros elementos, preenchendo os

requisitos científicos para ser considerada instrumental linguístico de poder e força. Possui todos os elementos classificatórios identificáveis de uma língua e demanda de prática para o seu aprendizado, como qualquer outra língua. É uma língua viva e autônoma, reconhecida pela linguística. (SITE: www.feneis.com.br/Libras/index.shtml).

A Libras é uma língua dinâmica e seu vocabulário está sempre se ampliando com a criação de novos sinais. Esta modalidade de língua, também, sofre variações regionais, semelhante ao que ocorre com as palavras, na Língua Portuguesa, da seguinte maneira: há sinais utilizados no estado do Rio de Janeiro que são diferentes de outros sinais utilizados em São Paulo ou até em outros estados do país, com o propósito de representar o mesmo significado. Compara-se com os termos abóbora e jerimum, o significado é o mesmo, mas difere o seu uso, dependendo de qual estado do Brasil a pessoa esteja.

Cabe registrar que a língua de sinais não é universal. O Brasil tem a sua própria língua, o mesmo ocorre com outros países.

2.4.2 As Barreiras da Comunicação

Goldfeld (2002, p.80) em sua pesquisa sobre o tema Surdez observou que:

A dificuldade dos surdos ocorre pelo fato de as línguas – auditivas-orais serem as únicas utilizadas pela grande maioria das comunidades e a surdez impossibilita a criança de adquiri-la espontaneamente.

2.4.2.1 Surdos com Surdos

A realidade brasileira, com relação à Surdez, é que grande parte dos surdos e suas famílias não conhecem a Língua de Sinais. Este fato cria barreiras na comunicação entre os surdos que dominam a Libras e aqueles que não a conhecem porque gestos isolados não representam as palavras.

A condição da surdez torna-se mais precária, no tocante a comunicação e a socialização, porque de acordo com Goldfeld (2002, p.46) “há crianças, jovens e adultos que não participam de comunidade surda, não utilizam a língua de sinais e também não dominam a língua oral”.

A comunicação utilizando a linguagem escrita poderá ser uma alternativa, desde que as pessoas surdas tenham conhecimento das palavras, em Língua Portuguesa.

2.4.2.2 Surdos com Ouvintes

A comunicação entre surdos e ouvintes ocorre com o uso da língua de sinais, pela leitura labial ou pela oralização do surdo.

A comunicação utilizando a linguagem escrita poderá ser uma alternativa, desde que as pessoas surdas e ouvintes tenham conhecimento das palavras, em Língua Portuguesa.

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