• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – O ÔNUS DA PROVA NOS PROCESSOS RELATIVOS A

3.1. ÔNUS DA PROVA

3.1.1. CONCEITO

Ônus significa incumbência. Ônus probatório se traduz em necessidade de provar os fatos ao juiz no interesse de que seja atingido o seu convencimento213. À parte incumbe provar os fatos alegados, convencer o magistrado da sua existência ou inexistência.

O ônus probatório não se equipara a uma obrigação, haja vista que não existe sanção ou ilicitude em seu descumprimento. A parte que deixar de cumprir seu ônus poderá não obter o resultado pretendido.

A satisfação do ônus da prova é interesse do próprio onerado, não há sua sujeição, seja ao juiz ou à outra parte da demanda, mas apenas escolha entre satisfazer (o ônus) ou dispor da tutela do seu interesse214.

O professor Cassio Scarpinella Bueno relaciona o ônus “com a necessidade da prática de um ato para a assunção de uma específica posição de vantagem própria ao longo do processo e, na hipótese oposta, que haverá, muito provavelmente, um prejuízo para aquele que não praticou o ato ou o praticou insuficientemente215.

Mais adequado à definição de ônus seria a possibilidade de atuar, produzir prova em benefício próprio, de acordo com regras pré-estabelecidas. A omissão da parte nesse sentido poderá apenas prejudicá-la.

Todavia, mesmo diante dessa omissão, o julgamento pode ser favorável à parte omissa, pois o julgamento favorável pode se fundar em provas produzidas de ofício ou pela parte adversa216.

O Código de Processo Civil estabelece qual o ônus probatório de cada uma das partes litigantes, quais os fatos cuja responsabilidade lhe é atribuída para promover sua comprovação.

213 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. São Paulo:

Saraiva, 1995. p. 344.

214 MIRANDA, Pontes. Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo IV, 2 ed. Rio de

Janeiro, forense, 1979, p. 322.

215 BUENO, Cassio Scarpinella, Ob. Cit. p. 255. 216 MARINONI, Luiz Guilherme. Ob. Cit., p. 179.

Dessa forma, outro relevante papel do ônus probatório exsurge nas hipóteses de carência de provas217, haja vista que o magistrado deverá proferir uma decisão que encerre a lide. Caberá ao juiz, dada a precariedade das provas produzidas, avaliar se as partes cumpriram o ônus que lhes era atribuído para decidir de maneira desfavorável àquela que não cumpriu seu respectivo ônus.

Neste caso, a regra do ônus da prova equivaleria a uma regra de decisão, aplicável nos casos de dúvida, para eliminá-la, iluminar o juiz que não se convenceu sobre como os fatos ocorreram218. Os fatos deverão ser considerados como não provados, na hipótese da parte não cumprir o ônus que lhe cabia219.

Além de ser uma forma de auxílio ao juiz para o deslinde do caso, as regras de distribuição do ônus da prova servem também como orientação às partes acerca de sua incumbência para o pleno exercício de seus direitos no processo.

Em regra, a distribuição do ônus da prova é feita de acordo com o estabelecido no artigo 333 do Código de Processo Civil, que determina que o ônus da prova incumbe:

I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;

II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

Fato constitutivo transforma situação genérica em juridicamente relevante ao processo, trata-se exatamente da comprovação da possibilidade de exercício do direito. Constitui-se como suporte fático a partir do qual se pretende a tutela do direito220.

Deve o autor comprovar a subsunção do fato à norma, a situação fática a lhe permitir o exercício do direito ou o pedido para que o juiz assim o faça.

Por outro lado, caberá ao réu a prova de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor.

217 MARQUES, José Frederico. Ob. Cit., p. 380. 218 MARINONI, Luiz Guilherme , p.Ob. cit. p. 170. 219 ALVIM, Eduardo Arruda. Ob. Cit. p. 530. 220 BUENO, Cassio Scarpinella, Ob. Cit. p. 255

Fatos extintivos encerram a relação jurídica objeto do litígio, ao passo que os impeditivos evitam seu efeito normal ou próprio e os modificativos não excluem nem impedem os efeitos da relação, mas os alteram221.

Com o surgimento do Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista a natureza protetiva de seus princípios, houve uma sensível alteração na forma de se interpretar a fase de instrução do processo.

Ainda que o destinatário da prova seja o juiz, as provas pertencem ao processo. Os fatos podem ser comprovados, independentemente de quem tenha produzido a prova em função222 do princípio da aquisição da prova223. A confissão, a título de exemplo, relevante meio de prova, é produzida por quem não tinha o ônus probatório224.

A delimitação das regras a serem cumpridas por cada parte tem um sentido maior de organização, atribuição de responsabilidades para o processo cumprir sua finalidade e o litígio ser solucionado.

Tais regras podem limitar a produção de provas, seja no aspecto temporal, ao estabelecer uma fase específica para tanto, como também no aspecto material, ao negar validade para determinados tipos de prova, como a prova ilícita, ou estabelecer presunções legais.

Essas regras não visam a impedir ou prejudicar o exercício dos direitos das partes, mas sua orientação em sentido proveitoso ao processo. Trata- se de critério objetivo de atribuição de encargo, haja vista que as partes sempre terão interesse em fazer provas dos fatos, seja de sua existência ou de sua inexistência.

221 SANTOS. Moacyr Amaral. Ob. Cit., p. 140/141. 222 BUENO, Cassio Scarpinella, Ob. Cit. p. 258.

223 Também é comum a referência ao “princípio da aquisição da prova”, é dizer, a prova, porque

destinada ao juízo e ao próprio juiz, deve ser considerada, analisada e avaliada independentemente de quem a produziu em juízo e, em última análise, pode, até mesmo, acabar por prejudicar que a trouxe para o plano do processo, isto é, quem a produziu. Trata-se de princípio segundo o qual é irrelevante quem tenha sido aquele que produziu a prova em juízo que passa a pertencer ao próprio processo longe da disponibilidade ou dos interesses da parte ou de eventuais terceiros. BUENO, Cassio Scarpinella, Ob. Cit. p. 254.

Todavia, a distribuição do ônus da prova poderá ser feita de maneira diversa da estabelecida no CPC, conforme as hipóteses a seguir abordadas.

Documentos relacionados