• Nenhum resultado encontrado

2. COMPREENDENDO OS CONCEITOS INTEGRADORES DA EDUCAÇÃO

2.6 CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE

Há aproximadamente 70 anos se iniciaram as Conferências de Saúde, cumprindo assim o disposto no parágrafo único do artigo 90 da Lei n.º 378, de 13 de janeiro de 1937, art. 90:

Ficam instituídas a Conferencia Nacional de Educação e a Conferencia Nacional de Saúde, destinadas a facilitar ao Governo Federal o conhecimento das atividades concernentes a educação e à saúde, realizadas em todo o País, e a orienta-lo na execução dos serviços locais da educação e de saúde, bem como na comissão do auxílio e da subvenção federais...

Em 1990, foi mantida a obrigatoriedade da realização das Conferências de Saúde, quando a Lei n.º 8.142 as consagrou como instâncias colegiadas de

representantes dos vários segmentos sociais, com a missão de avaliar e propor diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis municipais, estaduais e nacional, destinadas a levar ao Governo Federal o conhecimento ao que se refere às atividades de educação e da saúde.

Os objetivos principais das Conferências são: avaliar a situação de saúde e a partir desta propor diretrizes para formulação da política de saúde em todos os níveis de gestão, e orientar os governos na elaboração e definições de ações prioritárias. Pode-se observar no processo histórico e cronológico das Conferências o aumento significativo da participação da sociedade onde esta encontra espaço para discutir e apontar soluções para os problemas de saúde que permeiam na população, garantindo assim políticas elaboradas com mais democracia.

Ao longo destes anos, já foram realizadas 14 Conferências Nacionais de Saúde, como podemos visualizar na figura abaixo:

Figura 3 – Conferências Nacionais de Saúde

Podemos destacar em um breve histórico do foco principal de cada uma dessas Conferência Nacional de Saúde.

Em 1941, a 1º Conferência Nacional de saúde teve como foco a organização sanitária estadual e municipal, campanhas contra Tuberculose e Hanseníase, desenvolvimento do saneamento básico e a proteção materno-infantil. Esta foi caracterizada pelo encontro da equipe técnica dos estados e o Ministério da Saúde.

Em 1950, na 2º Conferência Nacional de Saúde, foram feitas as discussões referentes à prestação de serviços e assistência sanitária e preventiva, e as condições de segurança no trabalho e higiene, enfocando os grupos de trabalhadores e gestantes.

Em 1963, a 3º Conferência Nacional de Saúde teve como tema a situação sanitária, a municipalização dos serviços de saúde, e as atividades sanitárias nos níveis federais, estaduais e municipais.

Em 1967, a 4º Conferência Nacional de saúde teve uma abordagem especifica ao que se refere aos recursos humanos, à formação e aperfeiçoamento, bem como às responsabilidades das instituições formadoras de profissionais, traçando assim caminhos em busca do profissional que o Brasil necessita.

Em 1975, a 5º Conferência Nacional de Saúde ressaltou a importância da elaboração de uma Política Nacional de Saúde, do programa nacional de saúde Materno Infantil, do Controle de endemias e da vigilância epidemiológica.

Em 1977, a 6º Conferência Nacional de Saúde nos trouxe a preocupação referente ao controle de grandes endemias, à interiorização dos serviços de saúde e à Política Nacional de Saúde.

Em 1980, a 7º Conferência Nacional de Saúde, cujo tema central foi a “extensão das ações de saúde através de serviços básicos”, foi centrada na atenção básica de saúde.

Em 1986, na 8º Conferência Nacional de Saúde, o marco foi a participação social, pondo em pauta a saúde como direito, a democracia, bem como saúde como dever do estado.

Em 1992, na 9º Conferência Nacional de Saúde, o tema foi “Saúde: Municipalização é o caminho”.

Em 1996, a 10º Conferência Nacional de Saúde teve como tema: “SUS: Construindo um modelo de atenção à saúde para a qualidade de vida”, colocando em pauta questões de saúde, cidadania, gestão, políticas públicas de saúde, e recursos humanos.

Em 2000, na 11º Conferência Nacional de Saúde, foi discutida a efetivação do SUS, o acesso, a qualidade, a humanização, a educação em saúde e o controle social.

Em 2003, na 12º Conferência Nacional de Saúde, em que o tema principal foi “Saúde: Direito de todos e dever do Estado – A saúde que temos, o SUS que queremos”, as abordagens se referiam ao direito à saúde, atenção à saúde, e a intersetorialidade das ações.

Em 2007, na 13º Conferência Nacional de Saúde, como o tema: Saúde e qualidade de vida: Política de Estado e Desenvolvimento, foram discutidos em eixos as políticas públicas para a saúde e qualidade de vida, os desafios para a efetivação dos direitos humanos e a participação da sociedade na efetivação do direito humano à saúde.

Em 2011, na 14º Conferência Nacional de Saúde, cujo tema foi “Todos Usam o SUS! SUS na seguridade Social – Política Pública, patrimônio do povo brasileiro”, teve como objetivo principal a discussão da política nacional de saúde, segundo os princípios e integralidade, universalidade e equidade.

Nesses espaços de Conferências, com a mobilização e articulação da sociedade, é assegurado as múltiplas formas de pensar o SUS e disseminar informações sobre o mesmo com o intuito de fortalecimento do sistema, bem como o exercício dos direitos de cidadania, contribuindo assim com o fortalecimento da gestão participativa e do controle social.

Nesse ínterim, podemos ressaltar que a VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, foi um marco: a primeira Conferência Nacional de Saúde a ser aberta à sociedade, um dos principais momentos de luta e clamor pela universalização da saúde no nosso país, com participação de diferentes atores sociais como populares, profissionais de saúde, sindicatos e representantes de vários movimentos sociais. Essa união jamais vista impulsionou a Reforma Sanitária, que obteve sua legitimação na Constituição de 1988.

De acordo com Brasil (2006), essa Conferência colocou em pauta três aspectos necessários à Reforma Sanitária: conceito mais ampliado de saúde, que extrapola a visão limitada e meramente biologicista, saúde como direito de cidadania e dever do Estado, e a instituição de um sistema único de saúde pautado nos princípios da universalidade, integralidade, equidade, descentralização e participação da comunidade.

A 8ºConferência foi um evento duplamente inédito. Inédito na história das políticas de saúde porque não se tem notícia de que o poder executivo brasileiro jamais tenha convocado a sociedade civil para o debate de políticas ou programas de governo, menos ainda no estágio ou momento de sua formulação na escala de que o fez naquele momento. Todas as sete conferências de saúde anteriores pautaram-se por um caráter eminentemente técnico e pela baixíssima representatividade social marcada pela participação

praticamente restrita a gestores e técnicos governamentais (CARVALHO, 1995, p.53).

Conforme estabelece a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, considera-se saúde na sua complexidade, em que se evidencia como um bem econômico não restrito ao mercado, direito que se afirma quanto política, dimensões garantidas de acesso universal, hierarquização e qualidade. E nos mostra em seu artigo 196:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).

Fica claro que a saúde vai além de um dever do Estado, é também a garantia de políticas econômicas e sociais que promovam, protejam e recuperam a saúde do indivíduo, entendendo-se assim que a saúde é resultante das condições do trabalho, lazer, esporte, hábitos de vida, educação e acesso aos serviços de saúde (BRASIL, 1988).

Nesse novo conceito de saúde, em sua forma ampliada, faz-se necessário reconhecer não apenas a patologia que o acomete, mas o ser humano como ser integral e a saúde como qualidade de vida, deixando claro que as ações na área de saúde devem exceder à assistência e atuar em outras esferas, objetivando assim a saúde integral do individual e da coletividade.

Diante do exposto, historicamente, a saúde no Brasil tem investido em políticas de promoção, proteção e recuperação da saúde, priorizando assim um modelo cujas ações atuem na melhoria da qualidade de vida.

Em 2005, o Ministério da Saúde definiu a Agenda de Compromisso pela Saúde, que agrega três eixos: O Pacto de Gestão, O Pacto em Defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), e o Pacto em Defesa da Vida, o qual iremos destacar tendo em vista que este possui, entre suas prioridades, a ênfase no fortalecimento e na qualificação estratégica da Saúde da Família, bem como na promoção, na informação e na educação em saúde com intuito de promover saudáveis de vida.

O Pacto pela Vida pactua seis prioridades, entre elas está a promoção da saúde, fortalecimento da atenção básica e redução da mortalidade infantil.

Neste ínterim, uma perspectiva ampliada de saúde, como definida no âmbito do SUS e das Cartas de Promoção da Saúde, define que o modo como as pessoas elegem determinadas opções de viver, organizam suas escolhas e criam e recriam novas possibilidades, está posto no seu processo de construção, no contexto da própria vida.