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2. COMPREENDENDO OS CONCEITOS INTEGRADORES DA EDUCAÇÃO

2.7 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

2.7.3 Práticas Integrativas Complementares

Podemos perceber que nas áreas de saúde ainda predomina a visão biológica, centralizada nos avanços tecnológicos e de práticas médicas, mas já é perceptível um processo de mudança, mudança já vislumbrada na criação do SUS.

Partindo deste prisma, a Organização Mundial de Saúde vem estimulando há vários anos a utilização das Práticas Integrativas Complementares (PIC) através do programa de medicina tradicional, visando assim estabelecer o fortalecimento de políticas que integrassem terapias complementares nos sistemas de saúde.

Teixeira, Lin e Martins (2004) relatam que tanto a classe médica quanto a população costumam utilizar a expressão “Medicina Alternativa” para denominar métodos que não sejam os tradicionais. Contudo, essa expressão não seria a mais adequada por sugerir uma ideia de alternação, e que neste âmbito as terapias não são substituídas, mas complementares.

Este tema das Práticas Integrativas Complementares (PIC) vem sendo abordado e debatido desde a Conferência Mundial de Alma - Ata (Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde) realizada em Alma – Ata, na antiga União Soviética, nos dias de 06 a 12 de setembro de 1978, expressando a necessidade de ação urgente dos governos, de todos os trabalhadores da saúde e da comunidade mundial, para promover a saúde de todos os povos do mundo. Naquele momento, foi enfatizado o que conhecemos hoje como o conceito ampliado de saúde, assegurando ser este um direito fundamental.

De acordo com a Conferência de Alma – Ata, são essenciais os cuidados primários de saúde e estes devem ser colocados ao alcance universal dos indivíduos, da família e da comunidade. Referem-se, aqui, a cuidados primários, serviços de promoção e recuperação da saúde, incluindo a educação como peça

chave do processo. São enfocados os cuidados para saúde materno-infantil, lembrando que estas questões também foram levantadas com veemência em 1941, na 1ª Conferência Nacional de Saúde, bem como em 1950, na 2º Conferência Nacional de Saúde, e ainda em 1975, na 5º Conferência Nacional de Saúde.

A primeira Conferência Internacional sobre promoção da saúde, realizada em Otawa, em novembro de 1986, promoveu discussões baseadas nos progressos alcançados com a declaração de Alma – Ata, em 1978. Dentre elas, podemos destacar que as ações de promoção objetivam a defesa da saúde, e esta promoção vai além dos cuidados assistenciais de saúde: apoia o desenvolvimento social através da educação e intensificação das habilidades vitais. Por fim, a Carta de Compromisso com a Promoção da Saúde adotada em Otawa estabeleceu o desafio da mudança em direção a novas políticas de saúde que reafirmem a defesa da saúde como processos indispensáveis para alcançá-la.

Mediante o exposto, nas Conferências Nacionais e Internacionais, podemos evidenciar que o principal propósito de uma política pública saudável é criar ambiente social e físico comprometido com a saúde e favorável, para que as pessoas possam ter e viver vidas saudáveis.

Diante disso, preconizou a importância de uma política de atenção integral, que pudesse estimular mecanismos naturais de prevenção de doenças, promoção e recuperação de saúde, com ênfase na atenção básica, voltada para o cuidado continuado, humanizado e integral em saúde.

Luz (2005) nos mostra que estas terapias são inovadoras, reposicionam o sujeito doente, que sempre foi visto como centro do paradigma médico, colocam as relações paciente-profissional de saúde como elemento fundamental da terapêutica. Com isso, buscam-se meios terapêuticos simples, com menos dependência das tecnologias científicas duras, além de serem financeiramente mais acessíveis, com igual ou maior eficácia, focado na construção de um cuidado mais humano e integral, contribuindo diretamente na autonomia do ser e na valorização de um saber/prática centrado na saúde e não na doença.

Assim, com a garantia da integralidade na atenção em saúde, surge, em 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, atendendo, sobretudo, à necessidade de conhecer, apoiar e incorporar

experiências no âmbito da Medicina Tradicional Chinesa, Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia, Medicina Antroposófica e Termalismo-Crenoterapia (BRASIL, 2006d).

Para Barros e Victoria (2008, p. 850), a inserção desta nova política é impactante e atinge diversos campos, sejam eles sociais, políticos, técnicos ou econômicos, uma vez que "promove a inclusão de práticas de cuidado subsumidas no discurso e ação dominadora do complexo mercado de produtos e serviços da racionalidade biomédica".

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares busca o estado harmônico da relação mente-corpo e também da relação indivíduo- sociedade, tornando-se assim complementares aos tratamentos usuais de saúde, contribuindo para o fortalecimento dos princípios fundamentais do SUS ao atuar nos campos da prevenção de agravos, promoção, manutenção e recuperação da saúde baseada na atenção humanizada instituída na Política de Humanização do SUS.

De acordo com Brasil (2006d), destaca-se:

a) Medicina Tradicional Chinesa-Acupuntura: Sistema integral, originado há milhares de anos na China. Utiliza uma linguagem que simbolicamente retrata as leis da natureza e a harmonia visando a integridade. No Brasil, a Acupuntura foi introduzida há cerca de 40 anos. Em 1988, por meio da Resolução Nº 5/88, da Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação (Ciplan), teve as suas normas fixadas para o atendimento nos serviços públicos de saúde.

b) Homeopatia: A Homeopatia sistema de caráter holístico, complexo, baseada no princípio vitalista Este princípio dinâmico, imaterial, distinto do corpo e do espírito, integra a totalidade do organismo e rege todos os fenômenos fisiológicos.

c) Fitoterapia: Terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, se a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal.

d) Termalismo Social/Crenoterapia: O Termalismo compreende as diferentes maneiras de utilização da água mineral e sua aplicação em tratamentos de saúde. A Crenoterapia consiste na indicação e uso de águas minerais com finalidade terapêutica atuando de maneira complementar aos demais tratamentos de saúde.

e) Medicina Antroposófica: Apresenta-se como uma abordagem médico-terapêutica complementar, onde o modelo de atenção é transdisciplinar, de base vitalista buscando assim a integralidade do cuidado.

Assim, podemos perceber que as Práticas Complementares têm um grande potencial quando se referem às discussões no âmbito da saúde, estimulando

mudanças nas referências medicalizadas do cuidado. Julgamos de suma importância um amplo processo educativo que formem profissionais capacitados e sensíveis, a fim de contribuir assim com o fortalecimento da Política de Práticas Integrativas e Complementares à saúde.

Este processo levará reconhecimento e apoio às práticas, estimulando novas modalidades de terapias.

Neste ínterim, em 2011, foi aprovada a Política de Praticas Integrativas e Complementares do Rio Grande do Norte (PEPIC), através da portaria Nº 274/GS, de 27 de junho de 2011, que, além das práticas descritas, criou duas novas categorias para as PICS, com grande abrangência conceitual. São elas:

a) Práticas Corporais Transdisciplinares- PCT: Abordagens metodológicas que se utilizam da multirreferencialidade de saberes científicos, sobre o corpo, para produzir movimentos, de forma ativa ou passiva, com objetivo de harmonizar processos energéticos na estrutura corporal e transcorporal do ser humano, agregando valores éticos, estéticos e espirituais.

b) Vivências Lúdicas Integrativas- VLI: Abordagens metodológicas que propiciam diferentes modos de sentir o fluir das emoções de alegria em contextos socioculturais específicos do adoecimento humano, buscando corporalizar o princípio de integralidade da vida. Como processo de evolução das Práticas integrativas, nosso estado está avançando e alinhado à atenção integral. Em 2012, surge o CAPPIC – Centro de Atenção e Pesquisa em Práticas Integrativas Complementares – da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com parcerias entre o Departamento de Saúde Coletiva (Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva - Nesc), o Departamento de Farmácia, e a Escola de Enfermagem, todos integrantes da UFRN, compondo com a Secretaria Estadual de Saúde Pública.

Este centro de atenção é direcionado para o atendimento dos usuários do SUS, e, com a linha de pesquisa Integralidade e Transdisciplinaridade, representa um campo de pesquisa em práticas integrativas e complementares em um espaço vivencial humanescente. Assim como a política, o centro é um avanço de extrema relevância para o nosso estado.

Na utilização das práticas instituídas pela política estadual, desenvolveremos a nossa pesquisa.