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3. OS INSTRUMENTOS E A HUMANESCÊNCIA: O CAMINHO DA

3.1 TIPO DE ESTUDO

O presente estudo é uma pesquisa-ação existencial com aplicação metodológica qualitativa, pautada no marco teórico da corporeidade e nos procedimentos metodológicos de uma pesquisa participante, permitindo a mobilização de saberes a partir da reflexão e do diálogo.

Esta pesquisa de cunho qualitativo se desenvolve a partir de diferentes significados, considerando os aspectos subjetivos, abrindo espaços pra crenças, saberes, valorizando atitudes e aspectos que influenciam e, muitas vezes, determinam as relações que compõem os diferentes contextos.

Esta modalidade de pesquisa é desencadeada a partir do momento em que o sujeito reconhece a necessidade de modificar a prática. Portanto, o estudo não se desenvolve a partir de uma imposição, mas decorre das necessidades e das decisões elaboradas pelo grupo.

Pesquisa-ação é um método participativo de pesquisa, que busca ampliar os conhecimentos e também alterar as circunstâncias dos indivíduos para melhor envolvê-las no processo de pesquisa, processo complexo que exige habilidades em pesquisa e educação para mudança (SAKS; ALLSOP, 2011).

Na opinião de Barbier (2002), a pesquisa–ação obriga o pesquisador de implicar-se. Ele percebe como está implicado pela estrutura social na qual ele está inserido e pelo jogo de desejos e de interesses de outros. Ele também implica os outros por meio do seu olhar e de sua ação singular no mundo. Saks e Allsop (2011) destacam que aprender é parte fundamental do processo.

A pesquisa–ação inspirada por Dewey e trabalhada por Lewin (1946) se caracteriza por uma ciência da ação, nela são produzidos conhecimentos que ajudam a desvendar a complexidade do contexto e que facilitam a compreensão do mundo a partir das intervenções realizadas; esta se diferencia por contemplar, durante o processo investigativo, as vivências e as participações dos agentes sem desprezar a cientificidade e objetividade do conhecimento.

Asmann (2005) afirma que a pesquisa-ação se constitui como uma pesquisa de partilha, nela o pesquisador não detém o saber e conduz o estudo, ele também é um ser aprendente e constrói, a partir das vivências com os participantes, novas vivências.

Considerando toda nossa percepção de mundo, de vida e a peculiaridade da experiência vivencial na ESF, a estratégia metodológica para documentar esta experiência não poderia ser outra.

Optamos por este caminho metodológico, considerando que neste cenário o pesquisador desempenha seu papel profissional numa dialética que articula constantemente a implicação e o distanciamento, a afetividade e a racionalidade, o simbólico e o imaginário, a mediação e o desafio, a autoformação e a heteroformação, a ciência e a arte (BARBIER, 2002).

Outro aspecto fundamental da pesquisa-ação é a inclusão de uma mediação de mudança descoberta ao longo da pesquisa, onde uma fase alicerça a outra. Opção adequada de metodologia de pesquisa quando o problema a ser abordado é complexo ou pouco compreendido (SAKS; ALLSOP, 2011).

Considerando as diferentes abordagens da pesquisa-ação, optamos pela Pesquisa-Ação Existencial (PA-E), já que se trata, segundo Barbier (2002), de aplicar faculdades de abordagem da realidade que pertencem ao domínio da intuição, da criação, e da improvisação, no sentido da ambivalência e da ambiguidade, em relação ao desconhecido, à sensibilidade e à empatia.

Além disso, já que falamos em corpo, em autoformação, não poderíamos nos aprisionar em pesquisas de cunho quantitativo, que pudessem fragmentar as ações e as repercussões de histórias, de movimento, de vida, que não podem ser vistas unicamente por linhas e tabelas ou representados em gráficos.

Nelas, o espírito da criação está no cerne, sem jamais saber o que virá no final. A categoria do “sensível” corresponde a seu eixo de compreensão tendo como objetivo final uma mudança de atitude do sujeito (indivíduo ou grupo) em relação à realidade vivida de representações, de sensações, de sentimentos, de pensamentos, de valores, de cada participante (sua existencialidade interna).

Seu processo metodológico favorece bastante o imaginário criador, a afetividade, a escuta, a complexidade humana, o tempo de maturação e o instante da descoberta. Concordamos com Barbier (2002, p. 73) quando afirma:

Nada se pode conhecer do que nos interessa (mundo afetivo) sem que sejamos parte integrante, “actantes” na pesquisa, sem que estejamos verdadeiramente envolvidos pessoalmente pela experiência, na integralidade de nossa vida emocional, sensorial, imaginativa, racional (BARBIER, 2002, p.70-71).

Segundo Barbier (2002), o maior sentido da pesquisa-ação está na vivência das espirais cíclicas reflexivas, consistindo assim no efeito recursivo entre a ação refletida e a reflexão do processo. Vivenciando esse espiral, o sujeito tem a oportunidade de acompanhar o tecer da vida e transformar quando necessário.

Envolve, portanto, a autoformação maternal, o desenvolvimento da sensibilidade, abrindo o coração e a vida para a vivência humanescente da ciência. Com a experiência das aspirais, o sujeito é conduzido a viver a dança, o movimento da construção do conhecimento.

Viver essa experiência expande as possibilidades, tornando o sujeito capaz de visualizar os caminhos a serem percorridos, identificar suas potencialidades e refazer sua trajetória, corporalizando o processo da autopoiese humana (MATURANA; VARELA, 2001).

Nela, o pesquisador necessita apresentar um conhecimento pautado nos aspectos objetivos e subjetivos, estar disponível, ter capacidade de renovar-se e adaptar-se, demonstrando prazer e confiança em realizar sua prática.

O pesquisador intermedia o processo de construção e ressignificação a partir do aprender e autoformar-se. Sujeito que vivencia a ação de “corporeificar” pelo exemplo (FREIRE, 1996), e é reconhecido por suas habilidades no ouvir, no agir, no envolver e ser perante suas ações, um ser ético.

Quando me dispus a ser pesquisadora participante, tal fato me permitiu ampliar meu olhar, visualizar a beleza dos gestos, dos movimentos, captar as expressões – e, muitas vezes, interpretá-las –, observar e compreender que um corpo é dotado de restrições, marcas determinadas pela história, movimentos, habilidades e beleza.

Dentro da pesquisa, as vivências apresentam destaque, a partir delas há a construção dos saberes, a autoformação, constituindo ferramenta importante para recriação, a formação de um novo sujeito, o sentir das sensações e emoções.

Toda a dinâmica e evolução a partir das vivências só serão possíveis se o sujeito se envolver e/ ou mediar o processo, embarcar numa viagem para dentro de si mesmo.

o processo de caminhar para si apresenta-se, assim, como um projeto a ser construído no decorrer de uma vida, cuja atualização consciente passa, em primeiro lugar, pelo projeto de conhecimento daquilo que somos, pensamos, fazemos, valorizamos e desejamos na nossa relação conosco, com os outros e com o ambiente humano e natural (JOSSO, 2004, p 59).

Nesse sentido, buscamos, por meio das vivências experenciadas, envolver os participantes e fazê-los compreender o sentido de gerar, de acolher e de acompanhar uma vida.

3.2 TÉCNICAS DE PESQUISA 3.2.1 Observação participante

De acordo com Lakatos e Marconi (2006a, p.275) “a visão não consiste apenas em ver ou ouvir, mas também examinar fatos ou fenômenos que deseja estudar”. Neste contexto, procura-se perceber as experiências vivenciadas, constituindo o caminhar para si e para o mundo. Nesta pesquisa, procuramos ter uma observação que vê o mundo com os sentidos, o corpo em sua inteireza, e com o coração.

A observação participante existencial (OPE): o pesquisador está implicado desde o início, porque já era membro do grupo antes de começar a pesquisa, deverá expor abertamente seu caráter observador e ter o aceite dos participantes do estudo.

Nela, o investigador é o responsável pelo sucesso da investigação, mesmo sem entrevistas ou questionários, responde às questões problematizadas.

Esta técnica, por fazermos parte da comunidade há mais de uma década e já ter estabelecido fortes vínculos, foi natural, afinal de contas, já participávamos do processo mesmo antes de seremos propriamente pesquisadores.

3.2.2. A escuta sensível

De acordo com Barbier (2002), a escuta sensível se apoia na empatia, o pesquisador necessita saber sentir o universo imaginário e afetivo do outro,

compreendendo comportamentos, atitudes e ideias de valores. Reconhece e compreende a aceitação do outro sem julgamentos e comparações, transmite emoções, é presente e consistente.

A escuta sensível é sempre “multirreferencial”, aceita se surpreender pelo desconhecido e continua lúcida sobre suas fronteiras e zonas de incertezas, é uma arte. A audição, o paladar, o tato, olfato e visão podem se aplicar à escuta sensível.

Alguém só é pessoa através da existência de um corpo, de uma imaginação, de uma razão e de uma afetividade, todos em interação permanente. O pesquisador deve saber sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro para “compreender do interior” as atitudes e os comportamentos, o sistema de ideias, de valores, de símbolos e de mitos (ou “existencialidade interna”, na minha linguagem). 3.2.3. Fotorreportagem

Registro fotográfico das experiências vivenciadas, dos encontros humanescentes mais significativos da Autoformação Maternal. Este acervo torna a pesquisa viva, com brilho, emoções e cores, mas não apenas para a pesquisa, ao final, todos os participantes receberam as imagens organizadas carinhosamente em um colorido álbum, eternizando esta incrível viagem ao universo afetivo.

3.2.4. Práticas Corporais Transdisciplinares

Abordagens metodológicas que se utilizam da multirreferencialidade de saberes científicos, sobre o corpo, para produzir movimentos, de forma ativa ou passiva, com objetivo de harmonizar processos energéticos na estrutura corporal e transcorporal do ser humano, agregando valores éticos, estéticos e espirituais, promovendo alterações biológicas que produzem o bem-estar integral do ser humano e aumentam sua luminescência (PEPIC/RN, 2011).

3.2.5 Vivências Lúdicas Integrativas

Atividades vivenciais lúdicas que se caracterizam pela integralidade nas abordagens metodológicas da alegria de viver, fazendo emergir processos auto-eco-

organizadores da ludicidade humana, proporcionando prazer, melhora da autoestima e aumento da imunidade. Esta abordagem metodológica propicia diferentes modos de sentir o fluir das emoções de alegria em contextos socioculturais específicos do adoecimento humano, buscando corporalizar o princípio de integralidade da vida (PEPIC/RN, 2011).