• Nenhum resultado encontrado

3.3 DIREITO PENAL ECONÔMICO: CONCEITO

3.3.2 Conceito amplo

A corrente ampla entende que o significado de ordem econômica como bem jurídico-penal consiste em toda regulação normativa da produção, distribuição e consumo de bens e serviços.420

Essa teoria valoriza a proteção dos interesses patrimonias individuais e os interesses coletivos econômicos do mercado.

Nesse sentido, Miguel Bajo Fernandez define o direito penal econômico como conjunto de infracciones que afectando a un bien jurídico patrimonial individual, lesionaban o ponían en peligro en segundo término la regulación jurídica de la producción, distribuición y consumo de bienes y servicios.421

Klaus Tiedemann, também adepto da corrente ampla, sustenta que o direito penal econômico tem um objeto jurídico duplo, primeiramente afetando um interesse individual patrimonial e, via de consequência, colocando em perigo o bem jurídico supraindividual.422

420 Um dos expoentes da corrente ampla é Lindeman, para quem o direito penal econômico é el

elenco de conductas punibles que se dirigen contra el conjunto total de la Economía o contra ramas o instituciones fundamentalmente importantes de ese conjunto . Essa corrente orientou o

Congresso de Roma, em 1953, tendo sido, inclusive, parcialmente adotada pelo sistema do Código italiano de 1930 [apud CERVINI, Raúl. Derecho penal económico democrático: hacia una perspectiva integrada. In: SANCHEZ VILARDI, Celso et al.et al. (Coord.). Direito penal econômico: análise contemporânea, p. 17-18]

421 BAJO FERNANDEZ, Miguel. Derecho penal económico aplicado a la actividad empesarial, p. 32

apud CERVINI, Raúl. Derecho penal económico democrático: hacia una perspectiva integrada. In:

SANCHEZ VILARDI, Celso et al. (Coord.). Direito penal econômico: análise contemporânea, p. 15. Carlos Perez del Valle também adere à concepção ampla, criticando a posição restrita de que a raiz do direito penal econômico estaria na crise do modelo liberal de mercado. O autor reconhece a dificuldade de um conceito dogmático definitivo, mas sustenta sua aproximação considerando os

delitos económicos aquellos comportamientos descritos en las leyes que lesionan la confianza en el orden económico vigente con carácter general o en alguna de sus instituciones en particular y, por tanto, ponen en peligro la propia existencia y las formas de actividad de esse orden económico. Por tanto, el Derecho penal económico en sentido estricto está dedicado al estudio de estos delitos y de las consecuencias jurídicas que las leyes prevén para sus autores. (PEREZ DEL

VALLE, Carlos. Introducción al derecho penal econômico. In: BACIGALUPO, Enrique. Derecho

penal económico, p. 33-35)

422 Na doutrina nacional, Rodolfo Tigre Maia sustenta um conceito provisório (elaborado para os fins

do seu estudo) segundo o qual o direito penal econômico “tem por objeto específico a sistematização dogmática do conjunto axiológico compreendido pelos crimes econômicos, que são aqueles expressos em normas jurídico-penais incriminadoras cuja objetividade jurídica é a proteção global da ordem econômica”. (MAIA, Rodolfo Tigre. Tutela penal da ordem econômica: o crime de formação de cartel, p. 72)

Para o autor, o direito penal econômico visa principalmente à protección

de bienes jurídicos supraindividuales (sociales o colectivos, intereses de la comunidad. Segundo ele, diante dessa perspectiva de bens supraindividuais se

obtém una conceptualización satisfactória (de la mayoría) de los delitos

económicos.423

Tiedemann afasta a crítica daqueles que sustentam que os bens jurídicos supraindividuais seriam apenas construções estéreis e nebulosas, inventadas livremente, aduzindo que esses bens devem ter caráter institucional.424

Em síntese, para os adeptos da concepção ampla, o direito penal econômico

se caracteriza por incluir infracciones que vulneran bienes jurídicos supraindividuales de contenido económico que, si bien no afectan directamente a la regulación jurídica del intervencionismo estatal en la economía, transcienden la dimensión puramente individual, trátese de intereses generales o trátese de intereses de amplios sectores o grupos de personas (supraindividualidad propiamente dicha).425

Para os adeptos dessa corrente, o delito econômico é o

comportamieto realizado por un agente económico con infracción de la confianza que le há sido socialmente depositada y que afecta a un interés individual (bien jurídico patrimonial individual) y pone en peligro el equilíbrio el orden económico (bien jurídico supraindividual).426

A corrente ampla sofre a crítica de que seu conceito de ordem econômica é excessivamente amplo, desnaturando a própria noção de bem jurídico. Dessa

423 TIEDEMANN, Klaus. Derecho penal económico: introdución y parte general, p. 74. 424

TIEDEMANN, Klaus. Derecho penal económico: introdución y parte general, p. 73-75.

425 BALCARCE, Fabian I. Derecho penal económico, p. 29. O próprio conceito do autor, para quem

direito penal econômico é el conjunto de normas en las cuales la sanción tiende a proteger los

fines y políticas econômicas del Estado en la sociedad, o, desde otro punto de vista, a la genérica política de protección de las condiciones de la vida económica, prestando especial atención a ciertos derechos supraindividuales y derechos individuales que hacen a la producción, circulación y consumo de bienes tradicionales y de última generación para asegurar en definitiva el objetivo de justicia social propio de su conformación contemporânea, enquadra-se na corrente ampla.

(BALCARCE, Fabian I. Derecho penal económico, p. 25)

426 TIEDEMANN, Klaus. El concepto de delito económico: nuevo pensamento penal, p. 465 apud

CERVINI, Raúl. Derecho penal econômico: concepto y bien jurídico. IBCCRIM, n. 43, p. 104. Na doutrina nacional, o professor Maurício Schaun Jalil os define como “infração penal que viola o preceito proibitivo contido na norma criminal que dispõe sobre toda e qualquer área de interesse econômico, devidamente tutelado como bem jurídico-penal”. (JALIL, Mauricio Shacun.

forma, sem a definição de um objeto jurídico específico, a teoria se afasta do fundamento antropológico que deve orientar toda intervenção penal dentro do Estado Democrático de Direito.427

Raúl Cervini, pretendendo superar essas dificuldades, propõe um conceito integrado, segundo o qual o direito penal econômico, mediando un proceso

de legitimidad democrática y exacta determinación del bien jurídico, consiste no

cojunto de delitos compostos por comportamentos violadores dos mecanismos

ordinários de la economía, afectando a un interés patrimonial individual y/o poniendo en peligro el equilibrio económico de un colectivo determinado.428