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3 DA INCIDÊNCIA DO ITBI SOBRE A PARCELA DO VALOR DOS BENS

3.1 Conceito de integralização do capital social

Como demonstrado no tópico do capítulo anterior relativo à imunidade específica do ITBI, prevista no artigo 156, § 2°, I, da Carta Magna, a norma imunizante tem como finalidade, na parte que interessa ao recorte feito neste trabalho, a proteção ao exercício da atividade econômica pela desoneração das operações de transmissão de bens imóveis na integralização do capital social de pessoas jurídicas.

Destarte, considerando que o dispositivo de competência negativa se utiliza, para expressar seu sentido, de instituto jurídico largamente estudado pela doutrina comercial, não constituindo conceito jurídico indeterminado, como já explanado em momento anterior desta monografia, é fundamental compreender qual o significado de realização ou integralização de

capital. Para tanto, precisa-se de sólida noção do que seja o próprio capital social. Pela

abalizada doutrina de Fran Martins, no tocante às sociedades anônimas, especificamente:

As sociedades anônimas vivem em função de seu capital. Este será formado pela contribuição de todos os sócios, devendo ser sempre expresso em moeda nacional, muito embora possa ser formado com qualquer espécie de bens, corpóreos ou incorpóreos, desde que sejam suscetíveis de avaliação em dinheiro50.

O ensinamento de Fran Martins pode ser estendido a outros tipos societários, dada a essencialidade do capital social para sua constituição e estruturação.

Segundo João Luís Nogueira Matias:

50 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial: empresa comercial, empresários individuais,

microempresas, sociedades comerciais, fundo de comércio. 4. ed. ref. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1992.

O capital social da sociedade anônima é formado pela contribuição de todos os sócios, devendo ser sempre expresso no estatuto social em moeda nacional, embora possa ser formado com qualquer espécie de bens (desde que suscetíveis de avaliação em dinheiro), como imóveis (art. 89, Lei n° 6404/1976), móveis ou direitos de uso, por exemplo51.

Por sua vez, Waldírio Bulgarelli chama atenção para o que pode o conceito de capital determinar a depender da perspectiva:

O conceito jurídico de capital na sociedade anônima determina, internamente, a posição do sócio, e externamente diz quanto à garantia dos credores, sendo, portanto sua importância não apenas fundacional (pela exigência da lei de que seja mencionado no ato constitutivo), mas também funcional52.

Pode-se dizer que o capital social é medida inicial da capacidade econômica da companhia, significando o conjunto de contribuições dos sócios em dinheiro ou noutros bens que possuam expressão monetária53. Inicial porque no momento da constituição da companhia

há apenas o capital subscrito pelos sócios. Waldírio Bulgarelli afirma:

Não há assim que se confundir capital social com o patrimônio da companhia. Este que é o conjunto de bens, direitos e obrigações (bruto) ou de bens e direitos menos as obrigações (líquido) é essencialmente variável, sofrendo as mutações próprias da vida empresarial, nem sempre correspondendo ao capital social. Daí por que os autores costumam apontar o fato de que ao menos no início da vida da sociedade o capital social corresponde ao patrimônio, verificando-se, posteriormente, as alterações próprias como consequência da atividade empresarial, observando, contudo, Ascarelli que nem sempre, no início da sociedade, o capital corresponde ao patrimônio, tendo em vista as despesas de constituição ou com emissão de ações abaixo do par54.

Verifica-se, pelo contraponto feito pelo autor, que uma das diferenças entre o capital e o patrimônio é que, enquanto este é, por natureza, variável, aquele permanece, salvo alterações que demandam processo deliberativo fixado em lei, constante durante toda a vida da companhia, não sofrendo, é certo, alterações decorrentes do exercício das atividades empresariais.

A constância do capital se justifica em razão das funções que ele exerce. Por determinar a posição dos sócios, servindo de base à sua participação nas deliberações e

51 MATIAS, João Luís Nogueira. Manual de Direito Comercial. Fortaleza: CreateSpace Independent

Publishing Plataform, 2016. p. 168.

52 BULGARELLI, Waldírio. Manual das sociedades anônimas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1993. p. 77.

53 A lei n° 6404/76 assim dispõe: Art. 7º O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou

em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro.

distribuições de resultados, e por servir de garantia aos credores, como acima enunciado, uma variabilidade do capital traria instabilidade para a companhia.

Waldírio Bulgarelli aponta ainda uma outra função:

A doutrina destaca três funções básicas do capital social, a saber: 1. a da sua produtividade, como fator patrimonial para obtenção de lucros, por meio do exercício da atividade compreendida no objeto social; 2. a de garantia, cujos aspectos mais importantes já examinamos, mas que, basicamente, se revela na obrigação imposta pela lei de que o valor real dos bens e direitos que integram o patrimônio ativo da companhia supere o total das dívidas e obrigações que o gravam, em quantia ao menos igual à que é expressa pelo capital; e 3. a da determinação da posição do sócio, que diz respeito à situação do acionista em face da porcentagem que possua do capital social55.

A seu turno, Hugo de Brito Machado, comentando a disposição do CTN equivalente à imunidade específica do ITBI, assim se pronuncia:

Não obstante as diferenças de palavras, a norma a rigor é a mesma. Ela se refere à transmissão dos bens imóveis ou direitos a eles relativos da pessoa de quem constitui uma pessoa jurídica, ou eleva seu capital social, como forma de pagamento do capital subscrito. É operação geralmente conhecida como incorporação de bens ao capital social. Os bens, nessa operação, constituem o meio de pagamento do capital subscrito. Diz-se que o capital social, neste caso foi integralizado em bens diferentes de dinheiro56.

Com essas contribuições já é possível formular um conceito de integralização do capital social para fins de definição do alcance da norma imunizante tema deste trabalho: integralizar o capital constitui o ato pelo qual o sócio cumpre a obrigação assumida no momento da subscrição para formação do capital, conferindo à companhia bens e direitos que possuam valor monetário e que sejam necessários para o desempenho por ela das suas atividades econômicas, não se confundindo com a constituição de outros elementos componentes do patrimônio líquido, a exemplo de reservas de lucros e de capital57.

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