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3 DA INCIDÊNCIA DO ITBI SOBRE A PARCELA DO VALOR DOS BENS

3.3 Finalidades das reservas de capital

A Lei n° 6.404/1976 também se ocupa, em dispositivo próprio, de disciplinar quais seriam as finalidades das reservas de capital constituídas nas hipóteses já citadas:

Art. 200. As reservas de capital somente poderão ser utilizadas para:

I - absorção de prejuízos que ultrapassarem os lucros acumulados e as reservas de lucros (artigo 189, parágrafo único);

59 BULGARELLI, op. cit., p. 105. 60 MARTINS, op. cit., p. 350.

61 Art. 1053 da Lei 10.406/2002. (...) Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da

II - resgate, reembolso ou compra de ações; III - resgate de partes beneficiárias; IV - incorporação ao capital social;

V - pagamento de dividendo a ações preferenciais, quando essa vantagem lhes for assegurada (artigo 17, § 5º).

Parágrafo único. A reserva constituída com o produto da venda de partes beneficiárias poderá ser destinada ao resgate desses títulos.

Observa-se que as finalidades das reservas são variadas e merecem atenção particular por permitirem compreender qual a contrapartida, direta ou indireta, a ser recebida pelos sócios em razão de sua constituição.

Assim, passa-se a analisá-las.

3.3.1 Absorção de prejuízos

O objetivo do exercício da atividade empresarial é a obtenção de lucros pelo desempenho de atividade econômica sob a forma societária escolhida62.

A apuração dos resultados oriundos das atividades desenvolvidas pela companhia, por sua vez, segue ordem na Lei n° 6.404/1976 prevista63, sendo realizada por meio da Demonstração dos Resultados do Exercício. É com base nos lucros apurados nessa demonstração que é feita a distribuição de dividendos para os titulares de ações do capital social64.

No entanto, como o referido diploma legal assevera, antes das destinações para participações sobre os lucros, deve o resultado apurado ser utilizado como base de cálculo

62 MARTINS, op. cit., p.15.

63

O Art. 187 determina que “a demonstração do resultado do exercício discriminará: I - a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; II - a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; III - as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; IV – o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; V - o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão para o imposto; VI – as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa; VII - o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social. § 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados: a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda; e b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos (...)”.

64 Art. 201 da Lei n° 6.404/1976. A companhia somente pode pagar dividendos à conta de lucro líquido do

exercício, de lucros acumulados e de reserva de lucros; e à conta de reserva de capital, no caso das ações preferenciais de que trata o § 5º do artigo 17.

para o Imposto de Renda e para absorver os prejuízos acumulados65, de modo que quanto

maiores os prejuízos acumulados em exercícios anteriores, menores serão os dividendos a serem distribuídos ao titulares de ações.

Neste ponto, a finalidade das reservas de capital ora sob escólio assume destacada importância: ao absorverem os prejuízos, quando para tanto não bastarem os lucros acumulados e as reservas de lucros, as reservas de capital permitem que a companhia tenha maior base cálculo sobre a qual possa definir os valores a serem distribuídos na forma de dividendos para os sócios.

3.3.2 Resgate, reembolso ou compra de ações

Sobre estas operações, João Luís Nogueira Matias escreve:

O resgate consiste no pagamento do valor das ações para retirá-las definitivamente de circulação, com redução ou não do capital social, mantido o mesmo capital, será atribuído, quando for o caso, novo valor nominal às ações remanescentes. (...)

O reembolso é a operação pela qual, nos casos previstos em lei, a companhia paga aos acionistas dissidentes de deliberação da assembleia-geral o valor de suas ações. De uma forma geral, as hipóteses que garantem o reembolso estão previstas no artigo 136, da Lei n° 6.404/1976.66

Quanto à compra, nada mais é que a aquisição pela própria companhia dos títulos que lhe representam o capital. Ações adquiridas desta forma constituem a conta conhecida como Ações em Tesouraria67.

3.3.3 Resgate de partes beneficiárias

Valores mobiliários "são títulos de investimento que a sociedade anônima emite para obtenção dos recursos de que necessita"68.

Dentre esses títulos, encontram-se as partes beneficiárias, que são estranhas ao

65 Art. 189 da Lei n° 6.404/1976. Do resultado do exercício serão deduzidos, antes de qualquer participação, os

prejuízos acumulados e a provisão para o Imposto sobre a Renda.

66 MATIAS, op. cit., p. 173-174.

67 Art. 178. No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e

agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia. (...) § 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: (...) III – patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados.

capital social e desprovidas de valor nominal69, não podendo ser emitidas por companhias

abertas70. O titular de partes beneficiárias terá direito a participar dos lucros da companhia71, embora não lhe sejam franqueados direitos típicos de sócios, senão o de fiscalizar as atividades da sociedade72.

Assim, uma vez sendo utilizadas para o resgate das partes beneficiárias, as reservas de capital diminuem o número de titulares de direito a participar nos lucros da companhia, permitindo que os acionistas que as subscreveram e integralizaram angariem maior parcela dos dividendos.

Cabe observar que a reserva de capital que tenha sido constituída com o produto da alienação de partes beneficiárias pode ser utilizada para o resgate desses valores mobiliários73.

3.3.4 Incorporação ao capital social

Esta é uma das formas de uso do saldo das reservas de capital de mais simples compreensão. Aqui usam-se as reservas como forma de integralização ou aumento do capital social. Os benefícios de tal uso são inegáveis se relembradas as finalidades do próprio capital social, acima abordadas, mormente as relativas à garantia que credores têm nas tratativas com a companhia e à produtividade, relacionada à obtenção de lucros.

3.3.5 Pagamento de dividendo a ações preferenciais

Acima abordou-se forma de classificação das ações em relação ao seu valor de emissão, dividindo-as entre aquelas que são emitidas com valor nominal, representando a parcela do capital social a elas correspondente, e aquelas emitidas sem valor nominal.

Outra classificação apontada pela doutrina e referenciada pela própria lei74 é a que divide as ações em ordinárias, preferenciais ou de fruição. Na lição de Fábio Ulhoa Coelho:

69 Art. 46 da Lei n° 6.404/1976. A companhia pode criar, a qualquer tempo, títulos negociáveis, sem valor

nominal e estranhos ao capital social, denominados "partes beneficiárias".

70 Art. 47 da Lei n° 6.404/1976. (...) Parágrafo único. É vedado às companhias abertas emitir partes beneficiárias. 71 Art. 46 da Lei n° 6.404/1976. (...) § 1º As partes beneficiárias conferirão aos seus titulares direito de crédito

eventual contra a companhia, consistente na participação nos lucros anuais (artigo 190).

72 Art. 46 da Lei n° 6.404/1976. (...) § 3º É vedado conferir às partes beneficiárias qualquer direito privativo de

acionista, salvo o de fiscalizar, nos termos desta Lei, os atos dos administradores.

73 Art. 200 da Lei n° 6.404/1976. (...) Parágrafo único. A reserva constituída com o produto da venda de partes

beneficiárias poderá ser destinada ao resgate desses títulos.

74 Art. 15 da Lei n° 6.404/1976. As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus

Segundo a espécie as ações são:

a) Ordinárias _ aquelas que conferem aos seus titulares os direitos que a lei reserva

ao acionista comum. O estatuto não precisará disciplinar esta espécie de ação, uma vez que dela decorrem, apenas, os direito normalmente concedidos ao sócio da sociedade anônima.

b) Preferenciais _ ações que conferem aos seus titulares um complexo de direitos

diferenciado, como por exemplo, a prioridade na distribuição de dividendos ou no reembolso do capital, com ou sem prêmio etc. As ações preferenciais podem ou não conferir o direito de voto aos seus titulares.

c) De fruição _ são aquelas atribuídas aos acionistas cujas ações foram totalmente

amortizadas. O seu titular estará sujeito às mesmas restrições ou desfrutará das mesmas vantagens da ação ordinária ou preferencial amortizada, salvo se os estatutos ou a assembleia geral que autorizar a amortização dispuserem em outro sentido75.

Pois bem, dentre os tipos de ações aqui referenciadas, de acordo com a espécie, as ações preferenciais são aquelas que podem ser beneficiadas pelo pagamento de dividendos com base em reservas de capital. Para tanto, é preciso que este benefício lhes seja assegurado segundo permissivo legal76.

3.4 Concretização da hipótese de incidência do ITBI em face da formação de reservas de

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