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Gérard Genette (1997, p. 1,2) afirma que o texto em si, principalmente na forma de um livro, nunca está sozinho. Há sempre outros recursos que o acompanham e que variam em extensão e forma, com a função de dar presença ao texto e trabalhar na sua recepção. Alguns exemplos comuns, presentes no mesmo volume do livro, são títulos, sumários e notas de tradução. Outros, menos associados à paratextos, por estarem presentes fora do volume do livro, são entrevistas sobre o autor e reportagens sobre o livro – para Genette (1997, p. 8) “in

principle, every context serves as a paratext”22. Tais recursos são partes “indefinidas” do texto, por estarem, de certa forma, dentro e fora dele. A função geral desses recursos é colocada por Watts (2005, introd.) da seguinte maneira:

From design elements such as the raised foil-leaf lettering of much trade fiction published for the North American market to less superficial paratextual interventions such as Jean-Paul Sartre’s “preface” to Jean Genet’s complete works that runs at more than 500 pages, the paratext exists to capture readers and influence the work’s reception.23

Nelson (2005, p. 1) define paratexto como “the liminal matter that forms the bridge

between the context of a text and the text itself”24. O paratexto quase sempre explicita informações sobre a obra que não estão diretamente colocadas no texto em si. Não são, em todos os casos, textos totalmente independentes, tanto que, como também coloca Nelson (2005, p. 8), “paratext is only paratext in relation to another text which we perceive it to be

22 “em princípio todo contexto serve como um paratexto” (minha tradução).

23 “Desde elementos gráficos, como a inscrição em relevo de muitas ficções comerciais publicadas para o mercado norte americano, até intervenções paratextuais menos superficiais como o “prefácio” de Jean-Paul Sartre para a obra completa de Jean Genet que vai para mais de 500 páginas, o paratexto existe para prender os leitores e influenciar a recepção da obra” (minha tradução).

enclosing”25. São recursos que podem passar despercebidos para os leitores em geral, porém extremamente relevantes, por exemplo, no contexto da pesquisa acadêmica. Neste último caso, como aponta Dalgaard (2006, p. 181), um título ou um resumo podem ser o suficiente para um pesquisador decidir se irá ou não continuar a ler o texto que encontra em suas pesquisas.

Os tipos de paratexto foram classificados por Genette (1997, p. 4-5) em uma análise baseada em obras “originais”(i.e. não-traduções). A menção a traduções ocorre somente na classificação da autoria de notas, que podem ser de um tradutor (cf. LÉGER, 2006, p. 65-66). Há, também, outras tentativas de classificação de paratextos voltadas especificamente para o caso de traduções, apesar de bastante específicas e pouco generalizáveis, como a de Roby (2006), que investigou glosas em documentos eletrônicos voltados para o ensino de línguas.

Uma outra perspectiva teórica para o estudo dos paratextos é de Torop (2005), que, para operacionalizar o estudo da tradução propõe diferentes parâmetros, a saber: obra, língua, tempo, espaço, texto e manipulação sócio-política. Dentre eles, o parâmetro Obra, segundo Osimo (2005), é a “criação da tradução em forma de livro, como um volume publicado, em certos casos com aparato crítico, notas, epílogo, cronologias, etc.”. Portanto, num estudo de uma tradução segundo o parâmetro obra, como demonstra Ferreira (2006b) na análise de uma tradução da BG, os objetos centrais de pesquisa são os paratextos presentes no livro, vistos como objetos que influenciam a leitura e trabalham na recepção do texto pelo leitor. Osimo (2005, lição 33) afirma que estes aparatos podem

buscar o reforço da idéia que o público já tem da obra ou, pelo contrário, pretender recriá-la para estimular uma reação diferente do leitor. (...) Há quem acredite que os metatextos [paratextos] limitam a liberdade do leitor, mas também é certo que muitas vezes os leitores não dispõem dos conhecimentos necessários para compreender a polissemia do texto, seus mecanismos e seus dominantes.

No entanto a classificação de Genette (1997) se mostra mais detalhada e dá conta da contextualização terminológica necessária sobre o tema para essa dissertação. Genette utiliza três categorias de análise principais que serão detalhadas a seguir.

4.1.1 Tipos de paratexto em relação a sua distância física do texto original

Genette (1997, p. 4, 5, 211) classificaos tipos de paratexto quanto a sua distância física em relação ao texto original (texto em si, sem paratextos) de duas maneiras:

a) peritextos , quando presentes no mesmo volume físico do texto, por exemplo, título, prefácio, ilustrações etc.; ou

b) epitextos , quando se encontram fora do mesmo volume físico do texto, por exemplo, entrevistas com autor numa revista, resenhas do livro em outras publicações, contexto biográfico do autor etc.

4.1.2 Tipos de paratexto em relação à época em que surgiram

Outra classificação apresentada por Genette (1997, p. 4-5, 211) toma como critério a época em que surgiram os paratextos, podendo estes se enquadrarem em mais de um dos seguintes casos:

a) priori , quando criados antes do lançamento da obra original, por exemplo, propagandas do livro etc.;

b) originais , quando criados juntamente com a aparição da obra original, por exemplo, um prefácio na 1a edição, sumário etc.;

c) posteriores , quando criados depois da edição original, por exemplo, só da 2ª edição em diante;

d) atrasadas , quando criados depois de muito tempo do original, por exemplo, no caso de só estarem em uma nova edição feita muito tempo depois da original26; e) póstumos , quando criados depois da morte do autor;

f) anthumous , quando criados durante a vida do autor.

4.1.3 Tipos de paratexto em relação ao seu conteúdo

Outra classificação apresentada por Genette (1997, p. 4-5, 211), refere-se ao seu tipo de conteúdo:

a) textuais , elementos compostos de textos, por exemplo, prefácios, introduções etc.;

b) ilustrações , elementos não textuais, por exemplo, fotos, desenhos etc.;

26 Genette não especifica o que seria “muito” tempo, mas se acredita que dever ser algo como após a 10a edição

c) materiais , elementos da característica física da obra, por exemplo, tipografia, acabamento material do livro etc.;

d) fatuais , elementos não explícitos, mas que, quando conhecidos influenciam na recepção do texto pelos leitores, por exemplo, dados do sexo e idade do autor ou prêmios recebidos de alguma instituição renomada.

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