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Para a seleção do conteúdo do corpus, procurou-se adotar critérios que possibilitassem uma quantidade representativa de NT e, ao mesmo tempo, exaustividade quanto às traduções que se enquadrassem nesses critérios. A intenção de obter uma quantidade representativa de NT era a de possibilitar a observação de eventuais padrões quanto ao tipo de NT em diferentes traduções, bem como encontrar maior variedade de tipos de NT. Já com a questão da exaustividade, visava-se permitir a descrição das NT de forma representativa e mais objetiva possível, ou seja, evitando-se a descrição das NT com exemplos coletados de forma aleatória. Postos estes critérios, foram realizados três recortes dentro do universo de todas as traduções da BG existentes até se chegar às obras utilizadas no corpus.

6.1.1 Primeiro recorte: português do Brasil

Há centenas de traduções da BG para diversos idiomas, sendo que várias oferecem notas de tradução. Primeiramente, tentou-se incluir traduções de diferentes idiomas europeus (i.e. português, espanhol, inglês, francês, alemão e italiano), porém, este recorte não se mostrou viável para se atingir a exaustividade. Então se tentou o recorte para as edições brasileiras, pois uma pesquisa bibliográfica prévia havia demonstrado uma grande quantidade de NT nas traduções dentro deste recorte, bem como a possibilidade de se atingir a exaustividade.

Dado este primeiro passo, realizou-se um levantamento de todas as traduções da BG para o português do Brasil, através dos seguintes locais:

a) mecanismos de busca na internet (Google e Yahoo!35); b) livrarias na internet36;

c) Fundação Biblioteca Nacional – Brasil (Rio de Janeiro)37; d) catálogos de bibliotecas universitárias na internet38; e) traduções da BG (através das referências).

O resultado desta busca revelou 22 traduções (veja a lista completa no Apêndice A, p. 122). Nestas traduções, incluem-se as que se declaram diretas do original em sânscrito, bem como as que se declaram indiretas, baseadas em traduções para outro idioma que não o português do Brasil – neste caso apenas o inglês e o espanhol. Das 22 traduções encontradas, 15 não entraram no corpus. Duas39 delas porque não se teve acesso aos textos, nem fisicamente, nem digitalmente, e as outras 13 devido aos recortes que serão detalhados a seguir.

6.1.2 Segundo recorte: texto padrão da BG

O segundo recorte, depois de selecionarem-se as traduções existentes para o português do Brasil, foi incluir somente as traduções que apresentam o texto traduzido na estrutura de versos e capítulos segundo as edições críticas de Calcutá ou de Puna, ou seja, com 18 capítulos e 700 ou 701 versos (na distribuição apresentada na Tabela 17, p. 93). Adotando-se este critério, pôde-se identificar a localização de cada NT segundo uma numeração de capítulos e versos alinhados entre todas as traduções do corpus e, por isso, foi possível realizarem-se comparações. A exceção é Rohden (1997), que omite os primeiros 25 versos do capítulo I. Com este segundo recorte, seis traduções foram excluídas:

a) três40 eram versões resumidas ou parciais (não apresentavam grande parte dos versos do texto original ou sintetizavam os versos);

35 Disponíveis em: <http://www.google.com>; <http://www.yahoo.com>. Termos de busca: bhagavad, bhagawad, bhagvad, bhagwad, gita, geeta, gitá, gîtâ, guita, gítá.

36 Algumas lojas e os locais na internet onde estão disponíveis: Saraiva <http://www.livrariasaraiva.com.br>; Siciliano <http://www.siciliano.com.br>; Submarino <http://www.submarino.com.br>; Arte Pau Brasil <http://www.paubrasil.com.br>; Bazar das Palavras <http://www.bazardaspalavras.com.br>; ReLer.com.br <http://www.reler.com.br>; Papirus <http://www.sebopapirus.com.br>; Livraria Osorio <http://www.livro net.com.br>; Traça <http://www.traca.com.br>; Sebo OnLine <http://www.sebol.com.br>.

37 Catálogo disponível em: <www.bn.br>. Visitas pessoais em 2005 e 2006.

38 Bibliotecas em que se encontraram traduções da BG: UFU, UFPR, UFSC, UFRJ, PUCRS, USP. 39 Row (1993); Paramazend ([19--?]).

b) uma41 tradução era uma adaptação para crianças (com modificações na estrutura dos versos);

c) uma42 apresentava estrutura de capítulos e quantidade de versos significativa- mente diferente das edições críticas (mais capítulos e versos);

d) uma outra43 continha apenas a tradução de alguns capítulos iniciais (1 a 6).

6.1.3 Terceiro recorte: presença de notas de tradução

O terceiro e último recorte foi o de selecionou, dentre as que passaram pelo segundo recorte, as traduções que apresentam NT. Nesta etapa, seis traduções44 foram descartadas. Este recorte, apesar de aparentemente simples, foi o mais complexo, devido a questões conceituais do que seria uma NT. Esta questão ficou evidente no processo de digitalização das NT de Stella (1970), que utilizou as notas de rodapé somente para as referências bibliográficas de citações que ele faz nos “comentários”, isto é, peritextos destacados logo após os versos traduzidos. A observação do conteúdo desses “comentários” de Stella, em comparação às NT de rodapé, no final de capítulo ou de livro de outras traduções do corpus, mostrou que a diferença era apenas na forma de apresentação (diagramação). Ou seja, tratava-se apenas de uma opção de organização visual do paratexto – ao invés de se colocar uma nota de rodapé, colocou-se um texto logo após o verso, como encontra por Trabelsi (2005) em traduções do

Corão

Algo parecido ocorre na tradução de Lima (1992), que também apresenta um peritexto “comentário” após vários versos da tradução, bem como os peritextos de notas numeradas e agrupadas no final de cada capítulo. Porém, através de uma análise do material, percebeu-se que os “comentários” foram peritextos de autoria do primeiro tradutor, M. K. Gandhi, do sânscrito para o gujaráti. As notas ao final dos capítulos são dos dois tradutores seguintes, do gujaráti para o inglês e do inglês para o português, diferenciadas entre si por uma aviso “N.T.”, quando eram um produto da tradução para o português (veja Apêndice D, p. 138).

41 Vishaka (1996). 42 Wilmer (2002).

43 Torres Jr e Torres (1994). Aparentemente outro volume com tradução dos outros capítulos seria publicado, mas não foi encontrado.

44 Azevedo (1981); Duarte (1998); Arieira (1981); Pombo (1976); Desimon (2006); Chandramukha Swami (2006).

Apesar de esta constatação de similaridade entre as “notas-comentário” e as outras com diagramação convencional permitir sua inclusão no corpus, devido à falta de tempo hábil para o término dessa dissertação, e a necessidade de se estabelecer mais claramente a diferença entre comentários e “notas-comentário”, não foi possível incluir todas as ocorrências de comentários encontrados em edições brasileiras. O corpus utilizado apresenta apenas algumas (280) “notas comentário”, sendo todas da tradução de Stella (1970). Há, dentre as traduções a que se teve acesso e que passariam pelos dois primeiros recortes, outras cinco obras45 que poderiam oferecer centenas de “notas-comentário” para um estudo.

A quantidade final de NT selecionadas para a composição do corpus, divididas por tradução, pode ser visualizada na seguinte tabela:

Tradutor Contagem Percentagem

Prabhu e Dasi (2002) 4 0,4% Mesquita (1987) 7 0,7% Kleinert (1994) 41 4,1% Lima (1992) 42 4,2% Lorenz (1999) 68 6,8% Rohden (1997) 114 11,3% Stella (1970) 302 30% Ferreira (1973) 427 42,5% TOTAL 1.005 100,%

Tabela 1: Contagem e percentagem de NT em cada edição da BG no corpus

Como se pode perceber pela Tabela 1, há grande diferença na quantidade de NT entre as várias traduções que compõem o corpus. Este fato exige relativização das informações baseadas no corpus como um todo, como as médias estatísticas gerais. Porém a inclusão de diferentes traduções, mesmo com poucas NT, aumenta a chance de se encontrar mais diversidade qualitativa de NT. Também, apesar dessa variação quantitativa, as traduções com poucas NT devem ser adicionadas ao corpus devido aos critérios objetivos de seleção do

corpus.

Algumas traduções presentes no corpus possuem outras edições além da que foi utilizada nessa dissertação, como é o caso de Lorenz, Rohden e Ferreira. No caso de Lorenz utilizou-se a edição que se teve acesso fisicamente (i.e. 1999), apesar de haverem edições mais antigas e outras mais recentes. A edição de Rohden (1997) utilizada parece ser identica, em conteúdo, às edição mais recentes, de 2000 e 2003, porém apresenta mais facilidade de digitalização. Quanto à tradução de Ferreira (1973), esta é identica (cópia facsímile) à edição mais recente, de 2005.

Deve-se levar em conta que todas as traduções presentes no corpus também possuem outros tipos de peritexto além das NT. São introduções, glossários, ilustrações, apêndices etc. As NT, assim, compõem um ponto na combinação paratextual possível em uma tradução.

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