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1 INTRODUÇÃO

2.2 O conceito de mobilidade urbana

O conceito de mobilidade urbana é recente, mesmo assim, observa-se uma evolução à medida que se percebeu que a interação de diversos aspectos da vida em sociedade contribui para moldar as cidades, de modo singular, mas com suas peculiaridades e similaridades.

Kneib (2012) ensina que são vários os conceitos e definições que retratam o termo mobilidade, isso se dá, principalmente, em razão da complexidade em relacionar os aspectos envolvidos nos deslocamentos dentro das cidades. Os conceitos contemporâneos abrangem questões relacionadas à qualidade de vida da população, aos impactos ambientais e não apenas às questões de transporte, como inicialmente ocorria. Nesse sentido, a autora apresenta as seguintes considerações:

[...] se relaciona à capacidade de deslocamento das pessoas e bens, nas cidades, cujas variáveis intervenientes, contudo, são tão complexas quanto as variáveis que constituem a própria cidade. Assim sendo, a consolidação e apreensão desse conceito, e de seus aspectos correlatos, ainda constitui um desafio. Inicialmente utilizado como sinônimo de transporte, hoje já se tem um consenso de que a busca por uma mobilidade urbana de maior qualidade ou mais sustentável deve considerar uma série de variáveis que impactam os deslocamentos nas cidades, e deve basear-se na priorização e valorização dos modos coletivos e não motorizados de transporte. (KNEIB, 2012).

Segundo o entendimento defendido por Kneib (2012), devido a sua natureza, a mobilidade está condicionada aos efeitos de várias políticas públicas, por exemplo, aquelas relacionadas ao transporte, com implicações sobre o Sistema Nacional de Trânsito2, meio ambiente, saúde, indústria, comércio e emprego. A autora observa que “essa multiplicidade de políticas, que afetam e são afetadas pela mobilidade das pessoas, confere a este tema uma noção da sua complexidade”. Em virtude dessa complexidade, Kneib questiona se a mobilidade pode ser mais bem compreendida como uma política pública ou como resultante da interação de várias outras políticas (KNEIB, 2012).

De qualquer forma, faz-se preponderante que se considere questões ambientais, socioculturais e econômicas no planejamento das ações do Estado, tanto naquelas diretamente focadas na mobilidade urbana, como nas políticas susceptíveis de suas implicações.

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O “Sistema Nacional de Trânsito” encontra-se definido no Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997), no Capítulo II.

Para exemplificar a dificuldade de se estabelecer apropriadamente um conceito para o termo “mobilidade urbana”, as concepções governamentais defendidas pelo Ministério das Cidades têm evoluído ao longo do tempo:

A mobilidade urbana [...] pode ser entendida como resultado da interação dos fluxos de deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano, contemplando tanto os fluxos motorizados quanto os não motorizados. (BRASIL, 2005).

O governo brasileiro, por intermédio do Ministério das Cidades, também defende o seguinte conceito:

Mobilidade Urbana pode ser definida como um atributo relacionado aos deslocamentos realizados por indivíduos nas suas atividades de estudo, trabalho, lazer e outras. Nesse contexto, as cidades desempenham um papel importante nas diversas relações de troca de bens e serviços, cultura e conhecimento entre seus habitantes, mas isso só é possível se houver condições adequadas de mobilidade para as pessoas. (BRASIL, 2006).

A recém-aprovada Lei Nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade (BRASIL, 2012a), em seu artigo 4º, apresenta uma concepção própria, que pode ser considera demasiadamente genérica e que deixa de enfatizar a importância sócio ambiental que é defendida no bojo da própria lei, conforme abaixo:

Art. 4º Para os fins desta Lei, considera-se:

II - mobilidade urbana: condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano.(BRASIL, 2012a).

E ainda, mais recentemente, o Ministério das Cidades (BRASIL, 2014) propõe uma concepção de mobilidade mais abrangente, com a pretensão de contemplar as questões ambientais por meio da sustentabilidade:

A Mobilidade Urbana Sustentável pode ser definida como o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos não motorizados e coletivos de transportes, de forma efetiva, que não gere segregações espaciais, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável. (BRASIL, 2014).

Essa nova visão governamental é retratada na Política Nacional de Mobilidade Urbana (BRASIL, 2012a), onde se evidenciou as questões relacionadas ao meio ambiente e a inclusão social. O Ministério das Cidades (BRASIL, 2014) reproduz esse entendimento em seu portal da internet:

A Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável trouxe prioridades e objetivos, dentre eles o direito à cidade, a consolidação da democracia, a promoção da cidadania e da inclusão social, a modernização regulatória e desenvolvimento institucional e o fortalecimento do poder local. Desta forma, trabalha-se com três macro-objetivos, além de seus desdobramentos: o desenvolvimento urbano, a sustentabilidade ambiental e a inclusão social. (BRASIL, 2014).

Pare efeito comparativo, recorre-se à citação de Fortes (2012) sobre o entendimento de “mobilidade urbana sustentável” conforme a proposta do governo espanhol3:

[...] a mobilidade urbana sustentável é o conjunto de processos e ações orientadas ao deslocamento das pessoas e bens no território para acessar as atividades e serviços, minimizando os efeitos negativos sobre o entorno e a qualidade de vida das pessoas. Tem como premissa dissuadir o uso do veículo privado e fomentar o uso de modos mais sustentáveis, especialmente os não motorizados, por meio de percursos para os pedestres e ciclistas, com consequências positivas sobre a saúde pública, a economia e o meio ambiente. (MINISTERIO DE FOMENTO; MINISTERIO DE MEDIO AMBIENTEY MEDIO RURAL Y MARINO, 2009 apud FORTES, 2012).

De fato, as questões ambientais e sócio inclusivas têm alçado maior evidência nas esferas governamentais. Contudo, os resultados práticos somente serão alcançados se as políticas públicas conceberem ações orientadas por esses conceitos. É proveitoso compreender os ensinamentos de Souza (2006), que retratam as políticas públicas como o resultado de uma disputa política, inclusive com a participação de representantes de interesses econômicos consolidados e grupos organizados da sociedade.

Cita-se como exemplo positivo a mobilização ao longo dos últimos anos de alguns setores da sociedade civil em torno da demanda por ciclovias na cidade de São Paulo.

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MINISTERIO DE FOMENTO; MINISTERIO DE MEDIO AMBIENTEY MEDIO RURAL Y MARINO.

Estrategia Española de Movilidad Sostenible. 2009. Disponível em: <http://www.fomento.gob.es

/NR/rdonlyres/149186F7-0EDB-4991-93DD-CFB76DD85CD1/46435/EstrategiaMovilidadSostenible.pdf>. Acesso em: 29 maio 2011.