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3. CONTRASTE ENTRE METÁFORA CONCEITUAL E METÁFORA

3.3 Conceitos da abordagem de Lynne Cameron sobre metáfora

O desenvolvimento do modelo de análise da metáfora proposto por Cameron se dá, em grande parte, por certa desconfiança em relação à metáfora conceitual, pois para muitos seguidores dessa linha existem, na Teoria da Metáfora Conceitual, afirmações sobre o funcionamento da mente que não foram provadas. Na metáfora sistemática, alegações sobre processos cognitivos são feitas apenas se houver, no discurso, inúmeras instâncias de uso de expressões metafóricas que apresentem alguma indicação de que os usuários da língua acessam alguma metáfora abstrata que emerge a partir da análise das metáforas linguísticas presentes em seus discursos. Desse modo, antes de tudo é necessário haver ocorrências sistemáticas de metáforas para podermos afirmar que algum tipo de metáfora mental está sendo utilizada em determinado contexto de interação discursiva.

Os principais conceitos da abordagem de Lynne Cameron sobre metáfora são:

5 Eventos discursivos são as atividades de linguagem que se dão no tempo e em determinados ambientes

discursivos, através de gêneros textuais constituídos de modalidades discursivas e de sequências textuais, envolvendo interlocutores determinados, com objetivos específicos (MARCUSCHI, 2000).

3.3.1 Metáfora Sistemática

É uma formulação metafórica que resume uma série de metáforas linguísticas utilizadas por um indivíduo ou grupo de pessoas em determinado contexto. Ressaltamos que, as expressões metafóricas contêm veículos metafóricos e, a esse fenômeno Cameron et al. (2009) chamam de metáforas linguísticas. Seguindo o modelo da metáfora conceitual, as metáforas sistemáticas são igualmente grafadas em caixa alta. Um exemplo de metáfora sistemática citado por Cameron (2003) no decorrer de uma conversa entre um ex-terrorista e a filha de uma vítima sua é O EFEITO NEGATIVO DE USAR A VIOLÊNCIA É UM PREÇO QUE SE PAGA. Nesse evento discursivo, o ex-terrorista usou expressões metafóricas como “no final das contas”, “alto preço” e “pagar a dívida” de forma sistemática, ou seja, todas se referiram, no contexto, ao mesmo campo semântico (financeiro) para se referir à situação de violência e as consequências advindas disso.

3.3.2 Metáfora linguística

É toda unidade de sentido usada metaforicamente. Pode se manifestar na escrita ou em enunciados, por exemplo, ele ‘subiu na vida’, que é decorrente de uma descorrespondência entre ‘deslocamento’ e ‘riqueza/prestígio’. Uma metáfora linguística pode ou não ser processada na mente do ouvinte ou leitor como metáfora, mas descobrir isso não é preocupação do pesquisador que está analisando as metáforas. Ele pode avaliar uma ocorrência como sendo metafórica, embora não tenha conhecimento de que as pessoas envolvidas na interação tenham interpretado metaforicamente aquele uso (CAMERON, 2010).

3.3.3 Metáfora processual

Trata-se de uma palavra, expressão ou frase cuja ocorrência foi interpretada metaforicamente por alguém, ou seja, quando o analista sabe que uma metáfora linguística foi entendida por meio de metáfora.

3.3.4 Metaforema

Esse termo é definido como um conjunto de regularidades de forma, conteúdo e pragmática, acerca de uma palavra subjacente a uma metáfora linguística. Associa-se a um sentido semântico e pragmático. O conceito de metaforema serve para esclarecer a

relação recorrente entre uso e sentido de uma metáfora, algo que os termos existentes não explicitem satisfatoriamente.

3.3.5 Veículo

Ivor Alexandre Richards foi um teórico britânico que cunhou alguns termos técnicos utilizados atualmente na descrição da metáfora. Veículo é a porção metafórica de uma expressão metafórica. Sardinha (2007) apresenta um exemplo: “Julieta é o sol”. Na frase, o veículo é o sol, palavra que se refere ao tópico. Segundo Cameron et al. (2009) veículos metafóricos são todas as expressões usadas com sentido não concreto. Por exemplo: “eu achei sua ideia interessante.” Nessa expressão, “achar” é um veículo metafórico visto que o verbo é usado com um sentido menos concreto/experiencial do que quando dizemos “eu achei seu livro”. Veículo, portanto, é o elemento linguístico que sinaliza a metáfora linguística. Por exemplo, em ‘nosso noivado está a todo vapor’, ‘(está) a todo vapor’é o Veículo; ‘nosso noivado’ é o Tópico.

3.3.6 Tópico

É a porção não-metafórica de uma expressão metafórica. No exemplo acima,

“Julieta é o sol”, o tópico é Julieta, termo a que se refere o veículo. O Tópico é também metaforizado pela presença do Veículo: em ‘nosso noivado está a todo vapor’, ‘nosso noivado' é metaforizado como uma máquina de transporte (um trem puxado por uma locomotiva veloz ou algo assim) que está desenvolvendo alta velocidade. Ele pode ainda estar ausente ou implícito na metáfora linguística. Em uma conversa onde se discuta o noivado de um dos interlocutores, seria perfeitamente compreensível o uso de 'a todo vapor' sozinho num enunciado para se referir a noivado.

3.3.7 Domínio de veículo/de tópico

São áreas do conhecimento ou interação humana referentes ao veículo e ao tópico. Termos-veículo são o que a teoria cognitiva da metáfora chama de termos do

domínio fonte. Termos-tópico explícitos podem se fazer presentes, mas é mais comum

que veículos pareçam anômalos confrontados mais com o fluxo, relacionado com o tópico, da fala em andamento do que em relação às palavras ou frases do tópico domínio em específico. Trabalhar com termos-veículo ao invés de palavras nos apresenta uma questão diferente: metáforas embutidas em metáforas. Por exemplo, “falha” pode ser considerada metafórica quando usada para referir-se a “sistema”, uma vez que “falha”

parece ter um sentido básico de falha natural, enquanto “sistema” sugere uma organização não-natural.