• Nenhum resultado encontrado

Conceitos de restauro, reabilitação e substituição

No documento Ecologia do fogo e gestão de áreas ardidas (páginas 125-129)

RESPOSTA DOS ECOSSISTEMAS

3. Conceitos de restauro, reabilitação e substituição

As est ratégias de r estauro de ec ossistemas têm c omo pr incípio genérico “imitar “ a natureza e “acelerar” a sucessão ecológica, apoiando a regeneração através de uma sequência de etapas que primitivamente se designavam de sucessão secundária e se supunham lineares (Figura 2A). Estudos posteriores vieram mostrar que esta e volução na est rutura e função dos ecossistemas frequentemente não é linear, sendo mais frequente uma situação em que existem relações não lineares, com vários estados e transições possíveis (Figura 2B). Em termos gerais, o restauro permite estancar a degradação do ecossistema, promovendo ao mesmo tempo a sua regeneração, tendo em conta a sua estrutura e as funções. De acordo com a definição da Society for Ecological Restoration (www.ser.org) em 2004, o restauro ecológico é o processo de auxílio à recuperação de ecossistemas que se encontram perturbados, deteriorados ou destruídos. Esta definição implica a recriação de um ecossistema predeterminado a partir do ecos- sistema degradado.

Outras definições mais específicas têm, porém, sido desenvolvidas (Allen, 1988; Aronson et al., 1993; Bradshaw, 1995) no sentido de formalizar o conjunto de est ratégias existentes para a int ervenção em ec ossistemas degradados. Aqui será utilizada a terminologia de Bradshaw (1995) e Vallejo et al. (2006).

FIGURA2A

Modelo clássico da evolução linear dos ecossistemas e dos conceitos de restauro, reabilitação e substituição. (Adaptado de Bradshaw, 1984).

BIOMA S S A E NUTRIENTES ESPÉCIES E COMPLEXIDADE FUNÇÕES DO ECOSSISTEMA ESTRUTURA DO ECOSSISTEMA ECOSSISTEMA DEGRADADO ECOSSISTEMA ORIGINAL Reabilitação Restauro Substituição

3.1. Restauro (sensu stricto)

Visa a reconstrução do ecossistema original anterior à per turbação. Podemos também designá-la como o processo de assistência à recuperação de ecossistemas degradados (Figura 2A). A dificuldade óbvia desta aborda- gem consiste em conhecer com exactidão a situação ecológica anterior à perturbação, especialmente na bacia d o Mediterrâneo onde os ec ossis- temas sofreram transformações profundas durante séculos. Na prática, a caracterização do ecossistema original é feita a partir de ecossistemas de referência que subsistem em pequenas áreas não perturbadas.

3.2. Reabilitação

Em alternativa ao restauro, é mais frequente pôr em prática acções de reabilitação que procuram alcançar um funcionamento ecológico seme- lhante ao do ecossistema pré-perturbação (Figura 2A). A plantação de pinheiros em zonas cuja espécie nativa é a azinheira constitui um exemplo de reabilitação.

3.3. Substituição

Neste caso o objec tivo é construir um novo ecossistema (Figura 2A), frequentemente mais simples que o or iginal e por v ezes mais produtivo, como o caso da substituição de charnecas por pastos agrícolas mais produ- tivos com baixa biodiversidade, por exóticas de crescimento rápido, ou por outra espécie florestal.

FUNÇÃO DO EC OS SIS TEMA ESTRUTURA DO ECOSSISTEMA ESTADO1 ESTADO3 ESTADO2 ESTADO5 ESTADO4 FIGURA2B

Modelo mais actual, não linear, e em que existe mais do que uma possibilidade de chegar a um dado estado de desenvolvimento do ecossistema. (Adaptado de Cortina et al., 2006).

3.4. Restauro activo, passivo e de emergência

O restauro activo exige uma intervenção mais exigente, e onerosa, do gestor florestal. Em acções de r estauro activo, num contexto florestal, recorre-se geralmente a sementeiras ou plantações. Estas técnicas apr e- sentam alguns inconvenientes, já que podem implicar a pr eparação do local, a utilização de equipament o pesado, a aquisição e t ransporte de plantas ou sementes de viveiros ou outros locais, fertilização, protectores individuais, e muitos recursos humanos (e.g. Duryea, 2000; Lamb and Gilmour, 2003; Gardiner and Oliver, 2005; Mansourian et al., 2005). Para além disso, os níveis de sobrevivência das plântulas e plantas jovens são frequentemente bastante baixos, obrigando a operações de retancha.

O restauro passivo é basead o no apr oveitamento da e xistência de regeneração natural, proveniente de sementes ou rebentamento de toiça, e consiste em proteger as áreas em regeneração de out ras perturbações, permitindo o desenvolvimento da vegetação através de processos suces- sionais natur ais (Lamb and Gilmour , 2003; Vallejo et al., 2006). Esta abordagem é frequentemente menos dispendiosa, apesar de poder implicar alguma intervenção (o que se designa por vezes de restauro assistido), por exemplo para evitar uma quantidade excessiva de regeneração (efectuando desbastes), seleccionar as var as a manter e as que de vem ser eliminadas, evitar a presença de animais her bívoros, ou ainda c ontrolar a vegetação não desejada (matos, ou espécies e xóticas invasoras) (ver Capítulos VI e XII). A utilização da rebentação de toiça, em particular, é particularmente eficaz, já que as plantas que estão a r egenerar têm um sist ema radicular bem desenvolvido e com reservas energéticas armazenadas que lhes conferem uma grande probabilidade de sobrevivência e potencial de crescimento. O restauro passivo não necessita de preparação de solo nem de equipa- mento pesado. Consequentemente, a mobilização e r iscos de erosão do solo são menores. Se considerarmos que, para além disso, proporciona taxas de sobrevivência e crescimento geralmente superiores ao restauro activo (ver Capítulo XII), torna-se óbvia a maior relação esforço-benefício desta estratégia ainda pouco utilizada em muitas regiões.

O restauro de emergência justifica-se quando existe um risco elevado de oc orrer er osão do solo , nomeadament e em ár eas c om decli ves acentuados, com um tipo de solo bastante erosionável, e onde se espera

uma baixa capacidade de r egeneração rápida da v egetação. As técnicas normalmente utilizadas nestas int ervenções são as sement eiras ou a aplicação de mulching, ou seja, qualquer material que proteja a superfície do solo (e.g . palha, r esíduos lenhosos r esultantes de desbast es ou desramações). Podem ser também usadas outras técnicas como estruturas de obstrução (troncos deitados, pilhas de r esíduos florestais, etc.) cujo objectivo é reter a matéria orgânica, nutrientes e propágulos, bem como diminuir a velocidade de escorrência da água (ver Capítulo X).

3.5. Como planear o restauro?

Na discussão que se segue o t ermo r estauro será usado par a nos referirmos tanto a reabilitação como a restauro (sensu stricto). Em ger al, perante um ecossistema que não atingiu um estado de degradação muito avançado e quando o objectivo do restauro é re-estabelecer o ecossistema previamente existente, assume-se que é possível a regeneração espontânea do mesmo pela simples remoção dos factores antrópicos (incluindo o fogo) adversos (Aronson et al., 1993). Neste contexto, as acções de r estauro são necessárias quando a regeneração natural é incerta ou demasiado lenta para os objectivos pretendidos e, particularmente, quando há a necessidade de evitar a progressão da degradação ou o risco de desastres. Há no entanto situações em que o nív el de deg radação é de tal for ma avançado que o ecossistema não consegue regenerar sem uma intervenção mais activa.

Após identificada a necessidade de restauro e definidos os objectivos para a área a restaurar, é necessário projectar a intervenção. Aronson et al. (1993) enumeraram alguns atributos fundamentais da estrutura e função do ecossistema que deverão ser restabelecidos por intermédio do restauro. Os ecossistemas degradados perderam alguns dos componentes-chave do ecossistema original. Alguns são evidentes (certas espécies estruturais: as espécies principais de ár vores e ar bustos e a macr ofauna directamente associada), mas a maior par te é desc onhecida ou inc erta (espécies de plantas pouco frequentes, microrganismos, etc). Além disso, nos ecos- sistemas degradados algumas funções ou as respectivas taxas encontram-se alteradas. Alguns pr incípios básic os no planeament o d o r estauro de ecossistemas degradados são de ampla aplicabilidade:

1. A estratégia de restauro consiste em imitar a natureza (Jordan et

No documento Ecologia do fogo e gestão de áreas ardidas (páginas 125-129)