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Dependendo da sua intensidade, o fogo controlado pode eliminar combustíveis de transição entre o sub-bosque e o estrato arbóreo

No documento Ecologia do fogo e gestão de áreas ardidas (páginas 146-150)

PRINCIPIOS GENÉRICOS DE GESTÃO PÓS FOGO VI.

4. Dependendo da sua intensidade, o fogo controlado pode eliminar combustíveis de transição entre o sub-bosque e o estrato arbóreo

(ramos mor tos, cascas suspensas, ar bustos alt os, r egeneração natural), subir a base da c opa por dessecação foliar , e causar mortalidade nos indivíduos dominados. Estes efeitos concorrem para dificultar um fogo de copas e diminuir o potencial de focos secundários.

Métodos manuais e mecânicos

As alternativas ao fogo controlado mais óbvias e mais usadas baseiam- -se em meios mot o-manuais ou mecânicos. O corte da vegetação pode recorrer a motorroçadoras, corta-matos de facas e de correntes acoplados a tractor, destroçadores de mar telos e r oçadores montados em br aço hidráulico. Comparativamente ao fogo controlado, as desvantagens mais óbvias residem nas restrições impostas pela topografia e tipo de solo, e na dificuldade, ou mesmo impossibilidade, de remover o combustível, com implicações económicas e de eficácia. Quando o combustível permanece no local, a efectividade das intervenções mecânicas na redução do perigo de incêndio está m uito dependente do grau de modificação est rutural conseguido, por e xemplo através de c ompactação ou estilhaçament o. Em plantações florestais é muito comum a g radagem com discos, que simultaneamente corta e enterra todo o combustível. No entanto, à seme- lhança dos restantes tratamentos mecânicos, não afecta o c ombustível situado nas linhas de plantação, e por conseguinte dificilmente impede a progressão de um fogo impelid o pelo vento. A prática, por vezes usada, de utilização de lâmina frontal associada a buldozer, pode acarretar efeitos negativos no solo, paisagem e património arqueológico.

Herbicidas

A aplicação de produtos fitocidas é eficiente no controlo da vegetação do sub-bosque, pese embora o custo relativamente elevado e a possibi- lidade de contaminação ambiental. O impacte não é contudo imediato, e a combustibilidade é temporariamente elevada por conversão de biomassa viva em morta (Brose e Wade, 2002).

Pastoreio

O pastoreio é essencialmente um complemento a outras intervenções, prolongando o espaço de t empo entre dois tratamentos consecutivos. O seu impacte é selectivo e disperso e depende do encabeçamento utili- zado (e.g. Tsiouvaras et al., 1989), combinando o consumo de biomassa com um efeito de compactação.

O fogo e o pastoreio são processos ecológicos conceptualmente aná- logos. Ambos induzem per turbações da c omunidade vegetal nomea- damente mortalidade de indivíduos e libertação de recursos e ambos são condicionados por car acterísticas da vegetação comuns. Por exemplo, a quantidade de biomassa em pé, a proporção de material verde ou seco, a presença de compostos voláteis afectam tanto a probabilidade de ignição e propagação do fogo como a probabilidade de selecção de plantas pelos herbívoros (Bond e Keeley, 2005). Ambos os processos induzem efeitos nas comunidades tais como a alteração do balanço competitivo entre espécies ou da estrutura da comunidade.

No entanto, as características da vegetação que a tornam susceptível ao fogo são também aquelas que tornam a vegetação menos “apetecível” para os her bívoros. Estes normalmente evitam nas suas dietas plantas ricas em compostos voláteis ou anti-nutricionais e preterem o material seco ao verde, características que, ao invés, o fogo selecciona. Este factor tem implicações no c ontrolo da vegetação combustível pelo pastoreio pois por vezes é necessário “obrigar” os animais a consumirem vegetação que normalmente não seleccionariam. Tal é possível utilizando-se suple- mentos alimentares ou cargas de pastoreio elevadas.

O conhecimento da estratégia alimentar dos animais (se são predomi- nantemente consumidores de plantas lenhosas ou herbáceas) e o controlo da carga animal são factores essenciais na gestão da vegetação combustível pelo pastoreio. Por exemplo, em Portugal, no Alto Alentejo, experiências

de exclusão de pastoreio com cervídeos evidenciaram reduções de biomassa de herbáceas de 2 t/ ha para 1.5 t/ ha a cargas animais aproximadas de 0.4 indivíduos/ha (Ramos, 2006) o que pode ter implicações na propagação de fogos de superfície pois existe uma correlações forte e positiva entre a biomassa de herbáceas, em especial gramíneas, e a frequência dos fogos de superfície (Bond et el., 2001; Briggs et al., 2005). A utilização de animais cujas dietas sejam preferencialmente de herbáceas estará portanto mais vocacionada para o controlo do combustível fino e dos fogos de superfície que aquele origina (Hobbs, 2007).

Os animais que c onsomem pr eferencialmente espécies lenhosas encontram-se mais vocacionados para o controlo da vegetação arbustiva e ar bórea. Por e xemplo, em H uesca, Espanha, o c ontrolo de Genista

scorpius, uma arbustiva nativa problemática (devido ao se u potencial invasor e facilidade de ignição), foi efectivo através da utilização de pasto- reio com cabras domésticas no Outono (tendo-se reduzido a sobrevivência da G. scorpius para 58% relativamente a áreas não pastadas) (Valderrábano e Torrano, 2000).

Ao nív el d o planeament o da paisagem, a utilização int egrada d o pastoreio e a instalação de pastagens pode contribuir para o controlo dos matos e a dimin uição do risco de incêndio. Em Portugal, o past oreio poderá contribuir para manter as redes de gestão de combustíveis. Caso a vegetação seja adequada em t ermos nutritivos, para além da r edução da carga c ombustível, poderão pot encialmente oc orrer ganhos de produção animal. Nos Estados Unidos da América (e.g. GoatsRUs, Goats Unlimited), e também em P ortugal (Caprinos & Companhia) existem iniciativas empresariais cujos ser viços são o c ontrolo de vegetação ou eliminação de r esíduos de cultur as agrícolas, através da utilização de pastoreio por caprinos. Os rebanhos são transportados até às zonas alvo, confinados at ravés de v edações eléc tricas, c om quantidades de água suficiente e deixados a pastar até que os objecti vos de redução de carga combustível sejam cumpridos. Em alguns casos é nec essário o for ne- cimento de suplementos de alimentação, particularmente se os tipos de vegetação a consumir tiver valores nutritivos baixos. A inventariação do potencial de utilização de herbívoros para controlo da carga combustível nas redes primária e secundár ia pode ser feit o através da avaliação da disponibilidade e qualidade nutritiva da vegetação presente.

4.2. Gestão do combustível de copas

As intervenções silvícolas no estrato arbóreo recorrem à desramação das árvores e ao desbaste do povoamento, usando meios de corte moto- -manuais ou mecânic os. O fogo c ontrolado é também uma o pção a considerar, particularmente em formações jovens ou de pouca estatura. O tipo e intensidade do desbaste e a evolução posterior da vegetação determinam o impacte no complexo combustível e no pir o-ambiente (Graham et al., 2004). A redução significativa do potencial de fogo de copas activo em resinosas exige desbastes relativamente fortes que originam po- voamentos sub-lotados (Reyes e O’Hara, 2002). Um compromisso entre produção lenhosa e redução da combustibilidade é atingido através de des- bastes pelo baixo que removam algumas árvores codominantes e dominantes (Peterson et al., 2003), especialmente recomendado para florestas densas constituídas por indivíduos pequenos (Weatherspoon e Skinner, 1996).

Paradoxalmente, o efeito imediato das operações silvícolas de trata- mento do c ombustível das c opas é de ag ravamento das c ondições do piro-ambiente, de vido à adição de c ombustível ao sub-c oberto e à abertura do povoamento ao vento e luz (Graham et al., 2004). Na verdade a remoção ou dest roçamento do material produzido por um desbast e mais do que compensa o segundo efeito, sendo irrelevante um aumento da intensidade potencial do fogo de superfície na presença de uma redução drástica do possibilidade de fogo de copas (Weatherspoon, 1996). Inter- venções c omplementares de t ratamento d os r esíduos de desbast es e desramações são por tanto indispensáveis, tal como diversos estudos de caso demonstram (Graham et al., 2004). O custo envolvido é ele vado, apesar de poder ser mitigado pelo valor comercial (inclusivamente para aproveitamento energético) do material lenhoso extraído.

5. Gestão de combustíveis no espaço e no tempo

O sucesso das ac tividades de pr evenção de incêndios depende de adequado planeament o, o qual de ve c onsiderar questões espaciais e temporais. Onde intervir, como, quando e em que extensão? Nesta secção abordaremos sucintamente questões relacionadas com o planeamento, desempenho e optimização da gestão de combustíveis.

Do pont o de v ista espacial, a o peracionalização d os pr incípios e estratégias de gestão de combustíveis é redutível a duas opções, respec- tivamente intervenção linear ou em área. Em Portugal, as Redes Regionais de Defesa da Floresta contra Incêndios (RDFCI) foram conceptualizadas em torno destas duas opções. Estas RDFCI, propostas pelo C onselho Nacional de Reflorestação na sequência dos grandes incêndios de 2003 e 2005, e traduzidas em lei pelo Decr eto-Lei nº 124/2006 de 28 de J unho (posteriormente alterado pelo Decreto-Lei nº 17/2009 de 14 Janeiro), têm como função pr imordial concretizar territorialmente, de for ma coor- denada, a estratégia regional de defesa da floresta contra incêndios (DFCI), a qual tem por finalidade a redução da taxa anual de incidência de fogos florestais para níveis social e ec ologicamente aceitáveis. Esta est ratégia aborda de forma integrada 3 áreas fundamentais:

1. Prevenção da eclosão d o fogo, visando diminuir o númer o de

No documento Ecologia do fogo e gestão de áreas ardidas (páginas 146-150)