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Iniciaremos um estudo de alguns conceitos básicos da teoria de corpos de funções algébricas, que são necessários para a compreensão dos resultados que queremos apresentar. Denotaremos por K um corpo arbitrário.

2.1 Corpos de Funções Algébricas

Denição 2.1. Um corpo de funções algébricas F |K de uma variável sobre K é uma extensão de corpos F ⊇ K tal que F é uma extensão algébrica (nita) de K(x) para algum elemento x ∈ F que é transcendente sobre K.

Para efeito de abreviação nos referiremos a F |K apenas como corpo de funções algébricas. Denição 2.2. Considere o conjunto ˜K = {z ∈ F : z é algébrico sobre K} , que é um subcorpo de F , já que a soma, o produto e o inverso de elementos algébricos são também algébricos. ˜K é chamado de corpo das constantes de F |K.

Temos que K ⊆ ˜K $ F , e é claro que F | ˜K é um corpo de funções sobre K. Diremos que K é algebricamente fechado em F (ou que K é todo o corpo de constantes de F ) se ˜K = K.

Proposição 2.3. Em um corpo de funções algébricas, os elementos de F que são transcendentes sobre K podem ser caracterizados da seguinte forma: z ∈ F é transcendente sobre K se, e somente se, a extensão F |K(z) é de grau nito.

Exemplo 2.4. O exemplo mais simples de um corpo de funções algébricas é o corpo de funções racionais; F |K é chamado racional se F = K(x) para algum x ∈ F que é transcendente sobre K.

Cada elemento 0 6= z ∈ K(x) tem uma única representação na forma z = aY

i

pi(x)ni

onde 0 6= a ∈ K, os polinômios pi(x) ∈ K[x]são mônicos, dois a dois distintos e irredutíveis e ni∈ Z.

2.2 Anéis de Valorização, Lugares e valorizações discretas

Denição 2.5. Um anel de valorização do corpo de funções F |K é um anel O ⊆ F com as seguintes propriedades:

(1)K $ O $ F e

(2) para todo z ∈ F temos que z ∈ O ou z−1∈ O.

Proposição 2.6. Seja O um anel de valorização do corpo de funções F |K. Então acontece o seguinte: (a) O é um anel local, isto é, O tem um único ideal maximal P = O \ O∗, onde O= {z ∈ O|

existe um elemento w ∈ O com zw = 1}.

(b) Seja 0 6= x ∈ F , então x ∈ P ⇔ x−1∈ O/ .

(c) Para o corpo ˜K de constantes de F |K temos ˜K ⊆ O e ˜K ∩ P = {0}.

Demonstração. (a)Mostremos primeiramente que P é um ideal, isto é, que se x ∈ P e z ∈ O, então xz ∈ P e se x, y ∈ P então x + y ∈ P . Suponha que xz /∈ P , logo xz ∈ O∗, então existe um w ∈ O tal que (xz)w = 1 =⇒ x(zw) = 1, e daí como zw ∈ O temos que x ∈ O∗, o que contraria o fato de

x ∈ P. Logo xz ∈ O \ O∗= P.

Agora, sem perda de generalidade assumiremos que x

y ∈ O, y 6= 0. Assim 1 + x y ∈ O e x + y = y  1 +xy  ∈ P. Portanto P é um ideal de O.

Suponha agora, que P não seja maximal, então existirá um ideal I, tal que P $ I $ O. Logo existirá um x ∈ I, tal que x /∈ P . Disso segue que x ∈ O∗ e então vai existir um w ∈ O tal que

xw = 1, logo 1 ∈ I, o que implica que I = O. Mas isto é um absurdo, logo P é maximal. Finalmente, provemos que P é o único ideal maximal de O.

Suponha que exista um outro ideal H de O que seja maximal. Temos que H ∩ O∗= ∅, caso contrário

teríamos 1 ∈ H e H = O. Logo H ⊂ O \ O∗= P,mas H é maximal, portanto P = H.

b) Seja 0 6= x ∈ F . Suponhamos que x ∈ P e x−1 ∈ O, logo como P é um ideal de O temos

que xx−1 = 1 ∈ P, mas isso é um absurdo, logo x−1 ∈ O/ . Reciprocamente se x /∈ O, então da

denição de anel de valorização, x ∈ O. Suponha que x−1 ∈ O, assim existe um w ∈ Otal que

xw = 1, ou seja, w = x−1∈ O∗⊂ O. Mas isso é uma contradição, pois x−1∈ O/ . Logo x ∈ O\O= P.

c) Seja z ∈ ˜K. Suponha que z /∈ O, como O é um anel de valorização, temos que z−1 ∈ O. Como z é algébrico sobre K, segue que z−1 também é algébrico sobre K, então existem elementos

a1, a2, ...an∈ K, tal que

ar(z−1)r+ · · · + a1(z−1) + 1 = 0.

Manipulando a expressão temos,

(z−1)(ar(z−1)r−1+ · · · + a1) = −1

Multiplicando por −z,

z = −(ar(z−1)r−1+ · · · + a1) ∈ K[z−1] ⊆ O,

daí z ∈ O. Mas isso é uma contradição da suposição de que z /∈ O. Logo z ∈ O. Assim mostramos que ˜K ⊆ O.

Falta mostrar que ˜K ∩P = {0}. Suponha que existe um x 6= 0 tal que x ∈ ˜K ∩P = {0}. Assim x 6= O∗ e x ∈ ˜K, o que é uma contradição, pois sendo ˜K um corpo, todos os seus elementos são invertíveis. Teorema 2.7. Seja O um anel de valorização do corpo de funções F |K e seja P seu único ideal maximal. Então temos

(a) P é um ideal principal.

(b) Se P = tO então cada 0 6= z ∈ F tem uma única representação na forma z = tnu, para algum

n ∈ Z e u ∈ O∗, sendo que se z ∈ O, então n ≥ 0 e se z /∈ O, então n < 0. A prova do teorema depende do seguinte lema.

Lema 2.8. Seja O um anel de valorização de um corpo de funções algébricas F |K, seja P seu único ideal maximal e 0 6= x ∈ P . Sejam x1, . . . , xn ∈ P tal que x1= xe xi∈ xi+1P para i = 1, 2, . . . , n − 1.

Então temos

n ≤ [F : K(X)] < ∞ Demonstração.

Como 0 6= x ∈ P e da proposição 2.6 temos x ∈ ˜K ∩ P = {0}, segue que x /∈ ˜K, ou seja x é transcendente sobre K, então, da proposição 2.3 temos que F |K(x) é uma extensão nita. Então é suciente mostrar que x1, . . . , xn são linearmente independentes sobre K(x), pois F é um K(X)

espaço vetorial.

Suponha então que x1, . . . , xnsejam linearmente dependentes, assim existe uma combinação não-trivial n

P

i=1

ϕi(x)xi= 0, com ϕi(x) ∈ K(x).

para i = 1, ..., n.

Fazendo a multiplicação da equação acima pelo máximo múltiplo comum dos denominadores e divi- dindo pela menor potência de x que aparece na fatoração dos numeradores, obtemos a equação

n

X

i=1

˜

ϕi(x)xi= 0

onde todo ˜ϕi(x) ∈ K[x] e x não divide todos ˜ϕi(x). Colocando a1 := ˜ϕi(0), o termo constante de

˜

ϕi(x) e denindo j ∈ 1, ..., n pela condição aj 6= 0 e ai= 0 para todo i > j, temos

X i<j ˜ ϕi(x)xi+ ˜ϕj(x)xj+ X i>j ˜ ϕi(x)xi= 0 e então obtemos − ˜ϕj(x)xj = X i<j ˜ ϕi(x)xi+ X i>j ˜ ϕi(x)xi

com ˜ϕj(x) ⊂ K[x] ⊂ O para i = 1, ..., n, xi ∈ xjP para i < j e ˜ϕi(x) = xgi(x) para i > j, onde

gi(x) ∈ K[x].

Dividindo a equação acima por xj obtemos

− ˜ϕj = X i<j ˜ ϕi(x) xi xj +X i>j x xj gi(x)xi.

Observe que toda soma do lado direito pertence a P , pois Pi<jϕ˜i xi xj ∈ P, já que xi∈ xjP e ˜ϕi(x) ∈ O e também P i>j x xjgi(x)xi∈ P pois x xj ∈ P e gi(x)xi∈ P. Logo ˜ϕj(x) ∈ P.

Por outro lado, ˜ϕj(x) = aj+ xgj(x), com aj ∈ K, então aj = ˜ϕj(x) − xgj(x). Como gj(x) ∈ K[x] ⊆ O

e x ∈ P , temos que xgj(x) ∈ P, logo aj ∈ P ∩ ˜K = {0}. Mas isso é uma contradição pois aj 6= 0.

Logo Pn

i=1

ϕi(x)xi= 0é uma combinação linear trivial, ou seja, ϕi(x) = 0, para i = 1, ..., n e x1, ..., xn

são linearmente independentes. Provemos agora o teorema 2.7

Demonstração.

a) Suponha que P não seja principal e escolha um elemento 0 6= xi ∈ P. Como P 6= x1O, existe

x2 ∈ P \ x1O. Então x2x−11 ∈ O/ , pois se x2x−11 ∈ O então x1(x2x−11 ) ∈ x1O e daí x2∈ x1O. Então

pela proposição 2.6.b temos que x−1

2 x1∈ P e então x2x−12 x1∈ x2P e logo x1∈ x2P.

Por indução obtemos uma sequência innita (x1, x2, x3, ...) em P tal que xi∈ xi+1P para todo i ≥ 1,

mas isso é uma contradição, pois pelo lema 2.8, podem existir apenas um número nito de xn com

n ∈ N satisfazendo xi∈ xi+1P.

b) Seja z ∈ F com z 6= 0. Como z ou z−1 ∈ O, podemos supor que z ∈ O. Se z ∈ O, então

z = t0z e pronto. Consideremos o caso em que z ∈ P . Existe um m ≥ 1 máximo com z ∈ tmO, já que

o comprimento da sequência x1= z, x2= tm−1, ..., xm= t é limitado pelo lema2.8.

Escreva z = tmu com u ∈ O. Então u deve ser um invertível de O, caso contrário u ∈ P = tO,

então u = tw com w ∈ O e z = tm+1w ∈ tm+1O, o que contradiz a maximalidade de m. Agora

suponha que z = tnu e z = tmv com m, n ∈ N e u, v ∈ O. Logo tnu = tmv, e então (tm)−1tnuu−1=

(tm)−1tmvu−1=⇒ tm−n = vu−1, logo tm−n ∈ O∗, ou seja, t ∈ O. Isso é um absurdo. pois teríamos

P = O

Denição 2.9. (a) Um lugar P de um corpo de funções algébricas é um ideal maximal de algum anel de valorização O de F |K. Todo elemento t ∈ P tal que P = tO é chamado um elemento primo de P . (b) PF = {P tal que P é um lugar de F |K}

Se O é um anel de valorização de F |K e P é seu ideal maximal, então O é unicamente determinado por P , isto é, O = {z ∈ F |z−1∈ P }/ de acordo com a proposição2.6(b). Isso signica que temos uma

bijeção entre os anéis de valorização e os lugares de um corpo de funções. Assim OP := Oé chamado

de anel de valorização do lugar P .

Uma segunda descrição muito útil de lugares é dada em termos de valorização.

Denição 2.10. Uma valorização discreta de F |K é uma função v : F |K → Z∪{∞} com as seguintes propriedades,

(1) v(x) = ∞ ⇔ x = 0,

(2) v(xy) = v(x) + v(y) para todo x, y ∈ F ,

(3) v(x + y) ≥ min{v(x), v(y)} para todo x, y ∈ F , (4) Existe um elemento z ∈ F com v(z) = 1, (5) v(a) = 0 para todo 0 6= a ∈ K.

Nesse contexto o símbolo ∞ signica algum elemento que não está em Z tal que ∞+∞ = ∞+n = n + ∞ = ∞ e ∞ > m para todo m, n ∈ Z.

De (2) e de (4) segue que v : F |K → Z ∪ {∞} é sobrejetora. A propriedade (3) é chamada desigualdade triangular.

Uma versão mais forte da desigualdade triangular que é bastante usada é a seguinte.

Lema 2.11 (Desigualdade triangular estrita.). Seja v uma valorização discreta de F |K e seja x, y ∈ F com v(x) 6= v(y). Então v(x + y) = min{v(x), v(y)}

Demonstração. Observe que v(ay) = v(y), para 0 6= a ∈ K, pois pelas propriedades (2) e (5) de uma valorização discreta temos v(ay) = v(a) + v(y) = 0 + v(y). Em particular v(−y) = v(−1y) = v(−1) + v(y) = v(y).Como v(x) 6= v(y), assumamos que v(x) < v(y) e suponha que v(x+y) < min{v(x), v(y)}. Então obtemos v(x) = v((x + y) − y) ≥ min{v(x + y), v(y)}, donde segue que v(x) ≥ v(x + y) ou v(x) ≥ v(y). Temos uma contradição. Logo v(x + y) = min{v(x), v(y)} para v(x) 6= v(y).

Denição 2.12. Para um lugar P ∈ PF associamos uma função vp : F → Z ∪ {∞} denida da

seguinte forma.

Escolha um elemento primo t de P . Então todo z ∈ F, z 6= 0, tem uma única representação z = tnu

com u ∈ O∗

P e n ∈ Z.

Dena vP(z) := n e vP(0) := ∞.

Observe que essa denição depende apenas de P e não da escolha do t.

De fato, seja t0um outro elemento primo de P . então P = tO = t0O. Como t ∈ P , então t ∈ t0O, logo

t = t0w, com w ∈ Op∗.

Logo, seja z ∈ F , temos que z = tnu = t0n(wnu)com wnu ∈ O∗ p.

Teorema 2.13. Seja F |K um corpo de funções,

(a) Para algum lugar P ∈ PF, a função vP denida acima é uma valorização discreta de F |K. Além

disso temos,

OP = {z ∈ F |vP(z) ≥ 0}

O∗P = {z ∈ F |vP(z) = 0}

P = {z ∈ F |vP(z) > 0}

(b) Um elemento x ∈ F é um elemento primo de P se, e somente se, vP(x) = 1.

(c) Por outro lado, suponha que v é uma valorização discreta de F |K. Então o conjunto P := {z ∈ F |vP(z) > 0} é um lugar de F |K e OP = {z ∈ F |vP(z) ≥ 0} é o seu anel de valorização correspon-

dente.

Demonstração. (a) É fácil vericar que vP satisfaz as propriedades de uma valorização discreta.

Então seja z ∈ F . Temos que z ∈ O∗

P se, e somente se, z = t0z, se, e somente se, vP(z) = 0. Daí

O∗

P = {z ∈ F |vP(z) = 0}.

Seja 0 6= w = tnu ∈ F, n ∈ Z e u ∈ O. Temos que w = tnu ∈ P se, e somente se

w−1= t−nu−1∈ O/ se, e somente se −n < 0 se, e somente se n > 0 se, e somente se vP(w) > 0.

Logo P = {z ∈ F |vP(z) > 0}.

Como O = P ∪ O∗, segue que O

P = {z ∈ F |vP(z) ≥ 0}.

(b) Seja t ∈ F um elemento primo de P . Então todo z ∈ F tem uma única representação na forma z = tnu, com u ∈ O

P e n ∈ Z. Seja x ∈ F um outro elemento primo de P . Como x ∈ F temos que

x = tmu1, com m ∈ Z e u1∈ O∗P. Como x é elemento primo de P temos que t = xnu2, com n ∈ Z

e u2∈ O∗P. Daí x = (x nu

2)mu1, ou seja, x = xnm(um2u1), com um2 u1 ∈ O∗P. Mas x = x

11, então da

unicidade da representação temos que mn = 1. Logo vP(x) = vP(xnm(um2u1)) = 1. Reciprocamente

seja t um elemento primo de P . Daí como vP(x) = 1, temos que x = t1u, com u ∈ O∗, daí xu−1= t.

Logo P = tO = xu−1O = xO.Portanto x ∈ F é um elemento primo de P .

(c) É fácil mostrar que OP é um anel. Como F é um corpo, em particular F é um anel, então

basta mostrar que OP é um subanel de F .

Veriquemos então que OP é um anel de valorização, ou seja, que K ( O ( F e que para todo z ∈ F

temos z ∈ O ou z−1∈ O.

Para qualquer a ∈ K temos que vP(a) = 0, logo K ⊂ OP. Agora como vP é uma valorização discreta,

existe z ∈ F tal que vP(z) = 1, então z ∈ OP, mas z /∈ O∗P, como K ⊆ OP∗, temos que K ( OP.

Seja 0 6= x ∈ OP, tal que vP(x) > 0, temos que 0 = vP(1) = vP(xx−1) = vP(x) + vP(x−1) =⇒

vP(x−1) = −vP(x) < 0. Logo x−1∈ F, mas x−1∈ O/ P. Portanto OP ( F .

Seja 0 6= z ∈ F . Suponha que vP(z) ≥ 0, logo z ∈ OP. Caso contrário vP(z) < 0, daí vP(z−1) =

−vP(z) > 0e então z−1∈ OP.

Mostremos agora que P é um ideal de OP.

Seja x ∈ P e y ∈ OP, então vP(x) > 0 e vP(y) ≥ 0, logo vP(xy) = vP(x) + vP(y) > 0. Portanto

xy ∈ P.

Seja a, b ∈ P . Temos que vP(a + b) ≥ min{vP(a), vP(b)} > 0, logo a + b ∈ P . Portanto P é um ideal

de OP.

Veriquemos que P é maximal.

Seja I um ideal de OP, tal que P ( I ⊂ OP. Logo existe um t ∈ I tal que vP(t) = 0. Daí seja x ∈ F

um elemento primo de P , então t = x0u, com u ∈ O. Temos que t−1 = x0u−1, logo v

P(t−1) = 0 e

t−1∈ OP. Como I é um ideal temos que tt−1= 1 ∈ I, donde segue que I = OP.

Finalmente mostremos que P é único. Seja M 6= ∅ um outro ideal maximal de OP, daí como

M 6= P, temos que existe um t ∈ M tal que vP(t) = 0. Tome um z ∈ OP, como M é um ideal de OP,

temos que tz ∈ M. Daí vP(tz) = vP(t) + vP(z) = 0 + vP(z) = vP(z)e então z ∈ M, donde segue que

OP ⊆ M. Logo OP = M.

Portanto P é um lugar de F |K e OP é o seu anel de valorização correspondente.

De acordo com o teorema 2.13, lugares, anéis de valorização e valorizações discreta de um corpo de funções são essencialmente a mesma coisa.

Seja P um lugar de F |K e seja OP seu anel de valorização.

Já que P é um ideal maximal, o anel das classes de resíduos OP/P é um corpo.

Para x ∈ OP denimos x(P ) ∈ OP/P como a classe de resíduos de x módulo P . Para x ∈ F \ OP

colocamos x(P ) := ∞.

Pela proposição 2.6 sabemos que K ⊆ OP e K ∩ P = {0}, então a aplicação de classes de resíduos

OP −→ OP/P induz um mergulho canônico de K em OP/P.

Observe que esse argumento também se aplica a ˜K em vez de K, então podemos considerar ˜K como

um subcorpo de OP/P.

Denição 2.14. Se P ∈ PF

(a)FP := O \ P é o corpo de classe residual de P .

A aplicação x → x(P ) de F em FP ∪ {∞} é chamada de aplicação de classe residual respectiva à P .

(b) grauP := [FP : K]é chamado de grau de P .

Um lugar de grau 1 é também chamado de um lugar racional de F |K.

Pode-se mostrar que grauP ≤ [F : K(X)] < ∞, ou seja, o grau de um lugar é sempre nito. Proposição 2.15. O corpo ˜K de constantes de F |K é uma extensão de corpos nita sobre K. Demonstração. Usaremos o fato de que PF 6= ∅, o que garante isso é o corolário2.19, mais adiante.

Escolha um P ∈ PF. Visto que ˜K está mergulhado em FP via aplicação classe de resíduos OP → FP,

segue que [ ˜K : K] ≤ [FP : K] < ∞.

Remark 2.16. Seja P um lugar racional de F |K, isto é, grauP = 1. Então temos Fp = K, e

as aplicações de classes de residuais vão de F para K ∪ {∞}. Em particular se K é um corpo algebricamente fechado, então todo lugar é racional e podemos ler um elemento de z ∈ F como uma função;

z : 

PF −→ K ∪ {∞}

P 7−→ z(P )

Por isso F |K é chamado de corpo de funções. Os elementos de K interpretados como funções de acordo com 2.16, são funções constantes. Por essa razão K é chamado de corpo de constantes de F .

A seguinte terminologia também é justicada por 2.16.

Denição 2.17. Seja z ∈ F e P ∈ PF. Dizemos que P é um zero de z se vP(z) > 0; P é um pólo de

z se vP(z) < 0. Se vP(z) = m > 0, P é um zero de z de ordem m; se vP(z) = −m < 0, P é um pólo

de z de ordem m.

É possível mostrar que dado um corpo de funções algébricas F |K temos que PF 6= ∅. O que

garante isto é o próximo teorema.

Teorema 2.18. Seja F |K um corpo de funções e seja R um subanel de F com K ⊆ R ⊆ F . Suponha que I ( R é um ideal não trivial de R. Então existe um lugar P ∈ PF tal que I ⊆ P e R ⊆ OP.

Corolário 2.19. Seja F |K um corpo de funções, z ∈ F transcendente sobre K. Então z tem pelo menos um pólo e um zero. Em particular PF 6= ∅.

A seguinte proposição mostra que o número de zeros de uma função algébrica é nito.

Proposição 2.20. Seja F |K um corpo de funções. Seja P1, ..., Pn zeros do elemento x ∈ F . Então r

X

i=1

vPi(x)grauPi≤ [F : K(x)].

2.3 Divisores e Espaços de Riemann-Roch

O corpo ˜K de constantes de um corpo de funções algébricas F |K é uma extensão nita de K e F pode ser considerado como um corpo de funções sobre ˜K.

Portanto de agora em diante F |K será sempre denotado como um corpo de funções algébricas de uma variável tal que K é o corpo de constantes completo de F |K.

Denição 2.21. O grupo divisores de F |K é denido como o grupo abeliano livre o qual é gerado pelos lugares de F |K e denotado por Div(F ). Os elementos de Div(F ) são chamados de divisores de F |K. Em outras palavras, um divisor é uma soma formal

D = X

P ∈PF

nPP

com nP ∈ Z e uma quantidade nita de nP = 0.

O suporte de P é denido por

SuppD = {P ∈ PF|nP 6= 0} .

Um divisor da forma D = P com P ∈ PF é chamado divisor primo.

Dois divisores D = P nPP e D0=P n0PP são somados termo a termo, isto é,

D + D0= X

P ∈PF

(nP + n0P)P.

O elemento zero do grupo de divisores Div(F ) é o divisor 0 := X

P ∈PF

rPP, com todos rP = 0.

Para Q ∈ PF e D = P nPP ∈ div(F )denimos vQ(D) := nQ, portanto

SuppD = {P ∈ PF|vP(D) 6= 0}

e

D = X

P ∈suppD

vP(D)P.

Uma ordem parcial em div(F ) é denida por

D1≤ D2 se, e somente se vP(D2) ≤ vP(D1) para todo P ∈ PF.

Se D1≤ D2 eD16= D2 também escrevemos D1< D2.

Um divisor D ≥ 0 é chamado de divisor positivo ou efetivo. O grau de um divisor é denido por

grau D := X

P ∈PF

vP(D)grau P,

e isso produz um homomorzmo de grupos grau : Div(F ) −→ Z.

Pode-se mostrar que um elemento 0 6= x ∈ F tem apenas um número nito de zeros e pólos em PF,

assim a seguinte denição faz sentido.

Denição 2.22. Seja 0 6= x ∈ F e denote por Z e N o conjunto de zeros e de pólos de X em PF

respectivamente. Então denimos (x)0= X P ∈Z vP(x)P o divisor zero de x (2.1) (x)∞= X P ∈N (−vP(x))P o divisor pólo de x (2.2) (x) := (x)0− (x)∞ o divisor principal de x (2.3) Claramente (x)0≥ 0, (x)∞≥ 0 e (x) = PP ∈PF vP(x)P.

Observe que se 0 6= x ∈ F é uma constante, isto é, x ∈ K, então vP(x) = 0para qualquer P ∈ PF, o

que implica que (x) = 0. Reciprocamente se (x) = 0 então x é um elemento sem zeros e sem pólos, pelo corolário 2.19 segue então que x não é transcendente sobre K, então x é algébrico sobre K, ou seja x ∈ ˜K = K.

Denição 2.23.

P rinc(F ) := {(x); x ∈ F, x 6= 0} é chamado de grupo dos divisores principais de F |K.

Note que P rinc(F ) é um subgrupo de Div(F ), já que para x, y ∈ F ,com x 6= 0 e y 6= 0 temos que (x) − (y) ∈ P rinc(F ), pois

(x) − (y) =P P ∈PFvP(x)P − P P ∈PF vP(y)P = P P ∈PF vP(x)P + P P ∈PF −vP(y)P =P P ∈PF(vP(x) + vP(y −1))P =P P ∈PF(vP(xy −1)P = (xy−1) ∈ P rinc(F ).

Logo P rinc(F ) também é abeliano e portanto é um subgrupo normal de Div(F ), então a seguinte denição faz sentido.

Denição 2.24. O grupo de quocientes Cl(F ) := Div(F )/P rinc(F ) é chamado de classe de grupos divisores de F |K. Para um divisor D ∈ Div(F ) o elemento correspondente no grupo quociente Cl(F ) é denotado por [D], a classe divisora de D.

Dois divisores D, D0∈ Div(F ) são ditos equivalentes, e escrevemos

D ∼ D0

se [D] = [D0], isto é, se D = D0+ (x) para algum x ∈ F \ {0}.

Nossa próxima denição é de grande importância na teoria de corpos de funções algébricas. Denição 2.25. Para um divisor A ∈ Div(F ) denimos o espaço de Riemann-Roch associado a A por

L(A) := {x ∈ F : (x) + A ≥ 0} ∪ {0}. Essa denição vem da seguinte interpretação: se

A = r X i=1 niPi− s X j=1 mjQj, com ni> 0, mj > 0, então (x) + A = (P P ∈ZvP(x)P − P P ∈N(−vP)(x)P ) + ( Pr i=1niPi− Ps j=1mjQj) = (P P ∈ZvP(x)P −P s j=1mjQj) + (P r i=1niPi−PP ∈N(−vP)(x)P ) ,

daí L(A) consiste de todo elemento x ∈ F tal que

i) x tem zeros de ordem ≥ mj em Qj para j = 1, . . . , s e

ii) x pode ter pólos somente nos lugares P1, . . . , Pr com ordem dos pólos em Pi menor ou igual do que

ni para i = 1, . . . , r.

Remark 2.26. Seja x ∈ Div(F ). Então

a) x ∈ L(A) se, e somente se, vP(x) ≥ −vP(A) para todo P ∈ PF.

b) L(A) 6= {0} se, e somente se, existe um divisor A0∼ Acom A0≥ 0.

Demonstração. a) Da denição de ordem parcial temos que (x) ≥ −A se, e somente se vP(x) ≥

vP(−A), para todo P ∈ PF, ou seja, x ∈ L(A) se, e somente se, vP(x) ≥ −vP(A) para todo P ∈ PF.

b) Se L(A) 6= {0}, existe um 0 6= x ∈ F tal que (x) + A ≥ 0. Colocando A0 = (x) + A, temos que

A0∼ Ae A0≥ 0. Reciprocamente, se A0∼ Ae A0≥ 0 , existe um x ∈ F \ {0} tal que A0= (x) + A e

(x) + A ≥ 0, logo x ∈ L(A).

Lema 2.27. Seja a ∈ Div(F ). Então temos que a) L(A) é um espaço vetorial sobre K,

b) Se A0 é um divisor equivalente a A, então L(A) ' L(A0).

Demonstração. a) Seja x, y ∈ L(A) e a ∈ K. Então para todo P ∈ PF temos que vP(x + y) ≥

min{vP(x), vP(y)} ≥ −vP(A) e vP(ax) = vP(a) + vP(x) = vP(x) ≥ −vP(A). Logo x + y e ax estão

em L(A) pela observação 2.26(a).

b) Por hipótese, A = (z) + A0, com 0 6= z ∈ F . Considere a aplicação

ϕ : 

L(A) −→ F

x 7−→ xz

Dados x, y ∈ L(A) e a ∈ K temos que ϕ(x+λy) = (x+λy)z = xz+(λy)z = xz+λ(yz) = ϕ(x)+λϕ(y). Além disso, temos que (x) + A ≥ 0, logo (x) + (z) + A0≥ 0, donde segue que (xz) + A0≥ 0 e portanto

xz ∈ L(A0). Logo essa é uma aplicação K-linear cuja a imagem está contida em L(A0). Da mesma maneira

ϕ0: 

L(A0) −→ F

x 7−→ xz−1

é uma aplicação K-linear de L(A0) em L(A), pois para x ∈ L(A0), temos que (x) + A0 ≥ 0, logo

(x) − (z) + A = (x) + (z−1) + A = (xz−1) + A ≥ 0. Portanto xz−1∈ L(A). Agora note que

ϕoϕ0(x) = ϕ(ϕ0(x)) = ϕ(xz−1) = xz−1z = x o que implica que ϕ é sobrejetora e ϕ0 é injetora e

ϕ0oϕ(x) = ϕ0(ϕ(x)) = ϕ0(xz) = xzz−1= x. o que implica que ϕ0 é sobrejetora e ϕ é injetora, logo ϕ e ϕ0 são bijetoras

Além disso toda aplicação K-linear em particular é um homomorsmo.

Assim ϕ é um homomorsmo bijetor de L(A) em L(A0), isto é, L(A) e L(A0) são isomorfos.

Lema 2.28. a) L(0) = K, b) Se A < 0 então L(A) = {0}.

Demonstração. a) Seja 0 6= x ∈ K, então (x) = 0, logo x ∈ L(0) e K ⊆ L(0). Por outro lado, se 0 6= x ∈ L(0), então (x) ≥ 0. Isso signica que x não possui pólos (pois vP(x) ≥ 0 para qualquer

P ∈ PF), logo pelo corolário2.19, x ∈ K.

Assim L(0) ⊆ K e portanto L(0) = K.

b) Suponha que exista um elemento 0 6= x ∈ L(A). Então (x) ≥ −A > 0, o que implica que x possui pelo menos um zero, mas não possui pólos. Mas isso é impossível, logo L(A) = {0}.

Nosso próximo objetivo, é mostrar que L(A) é de dimensão nita para qualquer divisor A ∈ Div(F ). Lema 2.29. Seja A, B divisores de F |K com A ≤ B. Então temos que L(A) ⊆ L(B) e

dim (L(B)/L(A)) ≤ grau B − grau A .

Proposição 2.30. Para cada divisor A ∈ Div(F ) o espaço L(A) é um espaço vetorial sobre K de dimensão nita.

Mais precisamente, se A = A+− A− com os divisores A+ e A− positivos, então

dim L(A) ≤ grau A++ 1.

Demonstração. Como A+ = A + A−, temos que A ≤ A+ e daí L(A) ⊆ L(A+), é suciente então,

mostrar que

dim L(A+) ≤grau A++ 1.

Temos que 0 ≤ A+, então do lema 2.29segue que

dim (L(A+)/L(0)) ≤grau A+−grau 0 = grau A+. (2.4)

Tome a aplicação K-linear

φ : 

L(A+) −→ L(A+)/L(0)

x 7−→ x.

Agora observe que x ∈ Kerφ se, e só se φ(x) = 0 se, e só se x = 0 se, e só se x ∈ L(0) se, e só se x ∈ K. Logo Kerφ = L(0) = K. Claramente φ é sobrejetora, isto é Imφ = L(A+)/L(0). Logo pelo

teorema da Dimensão e Imagem e de2.4, temos que

dim L(A+) =dim (L(A+)/L(0)) +dim K = dim (L(A+)/L(0)) + 1 ≤grau A++ 1

Denição 2.31. Para a ∈ Div(F ) o inteiro `(A) := dimL(A) é chamado de dimensão do divisor A. Um dos mais importantes problemas da teoria de corpos de funções, é calcular a dimensão de um divisor. A solução para esse problema será dada pelo teorema de Riemann-Roch na próxima seção. O próximo teorema nos diz que um elemento 0 6= x ∈ F tem tantos zeros quanto o número de pólos, desde que contados propriamentes.

Teorema 2.32. Todo divisor principal tem grau zero. Mais precisamente, seja x ∈ F |K, (x)0 e (x)∞

os divisores zero e pólo de x respectivamente. Então

grau (x)0=grau (x)∞= [F : K(x)].

Demonstração. Seja n := [F : K(x)] e B := (x)∞ r

P

i=1

−vPi(x)Pi, onde Pi, ..., Pr são todos os pólos

de x. Lembremos que Pi, ..., Pr são zeros de x−1, logo da proposição 2.20temos que r X i=1 −vPi(x)grauPi= r X i=1 vPi(x −1)grauP i≤ [F : K(x−1)] = [F : K(x)] = n.

Mostremos então que n ≤ grau B.

escolha uma base u1, ..., un ∈ F |K(x)e um divisor C ≥ 0 tal que (ui) + C ≥ 0para i = 1, ..., n. Temos

que

`(lB + C) ≥ n(l + 1), para qualquer l ≥ 0, Isso segue imediatamente do fato de xiu

j ∈ L(lB + C)para 0 ≤ i ≤ l e 1 ≤ j ≤ n, pois

(xiuj) + lB + C = (xi) + (uj) + lB + C

= i(x) + (uj) + lB + C

= i((x)0− (x)∞) + (uj) + l(x)∞+ C

= i(x)0+ (i − l)(x)∞) + (uj) + C ≥ 0

Observe que esses elementos são linearmente independentes sobre K, visto que u1, .., unsão linearmente

independentes sobre K(x) e xi ∈ K(x) para i = 1, . . . , l ser linearmente independente sobre K.

Colocando c := grau C obtemos pela proposição 2.30que

n(l + 1) ≤ ` L(lB + C) ≤grau (lB + C) + 1 = lgrau B + c + 1. Assim

l(grau B − n) ≥ n − c − 1, para todo l ∈ N. (2.5) Como o lado direito de (2.5) é independente de l, só podemos ter grau B−n ≥ 0, pois se grau B−n < 0, como l ≥ 0, existiria l tal que a desigualdade (2.5) não se satisfaria. Portanto grau B ≥ n e logo grau B = n, ou seja grau (x)∞ = [F : K(x)].

Visto que (x)0= (x−1)∞, concluímos que

grau (x)0=grau (x−1)∞= [F : K(x−1)] = [F : K(x)].

Corolário 2.33. a) Seja os divisores A, A0com A ∼ A0. Então temos `(A) = `(A0)e grau A = grau A0.

b) Se grau A < 0 então `(A) = 0.

c) Para um divisor A de grau zero, as seguintes armações são equivalentes: (1) A é principal

(2) `(A) ≥ 1 (3) `(A) = 1

Demonstração. a) Do lema2.27 temos que L(A) ' L(A0), logo `(A) = `(A0). De A = A0+ (x) com

x ∈ F \ {0}, temos que

grau A = grau (A0+ (x)) =grau A0+grau (x).

Do teorema 2.32temos grau (x) = 0 e logo grau A = grau A0+grau (x) = grau A0.

b) Suponha que `(A) > 0, Pela observação 2.26 existe um divisor A0 tal que A0∼ A e A0≥ 0, assim

grau A = grau A0≥ 0, mas isso contraria a hipótese, logo `(A) = 0.

c) (1) ⇒ (2).Se A = (x) é um divisor principal, então x−1 ∈ L(A) pois (x−1) + A = −(x) + A = 0 e

logo `(A) ≥ 1, já que x 6= 0,

(2) ⇒ (3) : Assumamos que `(A) ≥ 1 e grau A = 0, de `(A) ≥ 1, temos que L(A) 6= {0}, então da observação2.26.b segue que A ∼ A0 para algum A0≥ 0. As condições A0 ≥ 0e grau A0 = 0implicam

que A0= 0,assim `(A) = `(A0) = `(0) = 1, já que L(0) = K.

(3) ⇒ (1) : Suponha que `(A) = 1 e grau A = 0. Escolha 0 6= z ∈ L(A), então (z) + A ≥ 0. Visto que grau ((z) + A) = grau (z) + grau A = 0 + 0 = 0 temos que (z) + A = 0, e logo A = −(z) = (z−1).

Portanto A é principal.

Na proposição 2.30vimos que a inequação

`(A) ≤ 1 +grau A (2.6)

ocorre para todo divisor A ≥ 0. De fato (2.6) ocorre para todo divisor de grau maior ou igual a zero. Para vericar isso podemos assumir que `(A) > 0, logo L(A) 6= {0} e pela observação2.26 temos que A ∼ A0, para algum A0≥ 0, então pelo corolário 2.33,

`(A) = `(A0) ≥ 1 +grau A = 1 + grau A0.

É possível mostrar a existência de um limite inferior para `(A) semelhante à inequação 2.6. É o que garante a próxima proposição.

Proposição 2.34. Existe uma constante γ ∈ Z tal que para todos divisores A ∈ DivF o seguinte acontece

grau A − dim A ≤ γ.

Temos que γ não depende do divisor A, ele depende apenas do corpo de funções F |K. Denição 2.35. O gênero g de F |K é deninido por

g := max{grau A − `(A) + 1 : A ∈ Div(F )}. Observe que essa denição faz sentido pela proposição 2.34.

Corolário 2.36. O gênero de F |K é um inteiro não negativo

Demonstração. Na denição de g, coloque A = 0, então `(0) − dim (0) + 1 = 0, assim g ≥ 0. Teorema 2.37. (Teorema de Riemann) Seja F |K um corpo de funções de genero g. Então temos a) Para todo divisor A ∈ Div(F ),

`(A) ≥grau A + 1 − g,

b) Existe um inteiro c, dependendo apenas do corpo de funções F |K, tal que `(A) =grau A + 1 − g,

toda vez que grau A ≥ c.

Demonstração. a) Segue da denição de gênero, pois g ≥ grau A − `(A) + 1, assim `(A) ≥ grau A + 1 − g.

b) Escolha um divisor A0 com g = grau A0−dim A0+ 1e seja c := grau A0+ g.

Se grau A ≥ c então

`(A − A0) ≥ grau(A − A0) + 1 − g ≥ c −grau A0+ 1 − g = 1.

Então existe um elemento 0 6= z ∈ L(A − A0). Considere o divisor A0:= A + (z), o qual é ≥ A0, pois

z ∈ L(A − A0), logo (z) ≥ −A + A0 e daí A0= A + (z) ≥ A − A + A0. Assim

grau A − `(A) = grau A0− `(A) A0 (pelo corolário 2.33)

≥grau A0− `(A0 (pelo lema2.29)

= g − 1 Assim `(A) ≤ grau A + 1 − g.