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4.1 CONCEITUAÇÃO DE ONTOLOGIA

Originária da área da Filosofia, ontologia é o estudo da existência do ser e a compreensão de sua identidade, grupos e relações. O termo ontologia deriva do grego onto, ser, e logia, discurso escrito ou falado, ou a palavra em si. Conforme levantamento histórico apresentado por Moreira; Alvarenga e Oliveira (2004, p. 2-3), a Ontologia, com letra maiúscula, tem sido empregada na área da filosofia a partir dos séculos 17/18 e estuda as teorias sobre a natureza da existência. Para as autoras, a visão aristotélica sobre ontologia se faz presente, devido à influência, tanto na “ciência da computação, quanto na ciência da informação. Na ciência da informação, esta influência se faz notar nos fundamentos teóricos da área, como, por exemplo, o uso de categorias na teoria do conceito de Dahlberg e na classificação facetada de Ranganathan”. Na computação, Aristóteles está presente na área da inteligência artificial,

com a lógica que, com o transcorrer dos anos é utilizada para a representação e dedução de conhecimentos e no “uso das categorias para organização dos conceitos registrados nas bases de conhecimento”.

Corroborando Almeida et al. (2005, p. 54) identificam que ontologia “é proveniente do grego ontos (ser) e logos (palavra)”. Afirmam ainda que a origem do termo ontologia relaciona-se com a palavra

categoria, utilizada por Aristóteles como base para classificar uma entidade. Aristóteles introduz ainda o termo differentia para propriedades que distinguem diferentes espécies do mesmo gênero. A técnica de herança é o processo de mesclar differentias definindo categorias por gênero. Moreira; Alvarenga e Oliveira (2004) apresentam uma cronologia do uso do termo ontologia na computação/inteligência artificial, desde seu surgimento em 1990, com a organização de “bases de conhecimento compartilháveis e reutilizáveis”. As ontologias deveriam ter “a propriedade de ser usada em várias aplicações e em aplicações distribuídas, como sistemas multi-agentes, fornecendo o suporte necessário para a troca de informação entre agentes”.

Resumidamente, se confirma que, em inúmeros conceitos encontrados na literatura, o termo Ontologia é originário da Filosofia, enquanto área de estudo específica do conhecimento, aparecendo com a grafia de sua primeira letra em maiúscula. Já nas áreas da computação, inteligência artificial, das tecnologias de informação e comunicação, o termo ontologia assume outro significado – o de ser um recurso que define as relações entre termos e conceitos (BERNERS-LEE; HENDLER; LASSILA, 2001).

Constata-se que são várias definições e adaptações do termo ontologia, principalmente o confronto de definições entre as áreas da saúde, computação e ciência da informação. Para Gruber (1993) ontologia é a representação de uma conceitualização, um conjunto de conceitos estudados e especificados sobre uma determinada área de domínio. Sowa (1999) descreve que ontologia é um catálogo de tipos de coisas, que se supõem existir um domínio, na perspectiva de uma pessoa que usa uma determinada linguagem.

Meersman (2002) comenta que ontologia é como um vocabulário contém termos ou etiquetas (tag, labels), a definição conceitual e seus relacionamentos para um dado domínio do conhecimento.

Segundo Morshed e Singh (2005), a ontologia pode ser usada para compartilhar conhecimento usando o vocabulário, a semântica e os

relacionamentos similares entre conceitos de um domínio. Complementam ainda, que podem ser usados também os tesauros e as taxonomias, abordados semanticamente e migrados para as linguagens específicas para a Web semântica.

Almeida e Bax (2003, p. 17) afirmam que as ontologias proporcionam

melhorias na recuperação da informação ao organizar o conteúdo de fontes de dados que compõem um domínio. Ontologias permitem formas de representação baseadas em lógica, o que possibilita o uso de mecanismos de inferência para criar novo conhecimento a partir do existente. Dessa forma, representam uma evolução em relação a técnicas tradicionais.

Van Rees (2003) apresenta conceito para o termo ontologia, sob os aspectos da metafísica, que significa a natureza e as relações de ser, ou uma teoria particular sobre a natureza de ser e suas relações; na tecnologia para discutir os aspectos da Web semântica; indicada pelo W3C como um recurso a ser utilizado pelas máquinas, possibilitando a leitura e interpretação das questões dos usuários, ou seja, a criação de classes e subclasses e os relacionamentos entre si. Horridge et al. (2005) corrobora quando define que ontologias descrevem os conceitos de um domínio, principalmente, porque trata as relações que existem entre esses conceitos.

Uma definição amplamente usada para ontologias e, constantemente citada na literatura da área computacional e inteligência artificial é a de Gruber (1993, p. 2), que apresenta ontologia como “uma especificação explícita de uma conceitualização [...] o conhecimento de um domínio é representado por um formalismo declarativo, um conjunto de objetos e as relações entre eles”. Portanto, ontologia é uma identificação conceitual de uma determinada área específica de conhecimento, analisada por uma equipe multidisciplinar, que constrói uma lista de conceitos e seus relacionamentos, que deverão responder as necessidades de representação dos assuntos questionados pelos usuários desta área.

Destacando a importância da multidisciplinariedade na construção de ontologia, analisado no resgate histórico, ontologia representa uma parceria – um contrato ou registro – que permite a comunicação com segurança dentro do contexto do domínio de informação.

Neste sentido, Campos (2010) destaca que as ontologias passaram a receber atenção por parte da Ciência da Informação, permitindo definir um vocabulário comum para uma determinada comunidade que precisa compartilhar seu domínio, definindo conceitos básicos e suas relações entre estes de forma que sejam interpretados por agentes inteligentes, na recuperação das informações.

Guarino (1998, p. 22), discute sobre regras que regulam a combinação entre os termos e as relações. As relações entre os termos são criadas por especialistas e os usuários formulam consultas usando os conceitos especificados. Uma ontologia define uma linguagem (conjunto de termos) que será utilizada para formular consultas.

Grüber (1993) propõe um conjunto de critérios para o desenvolvimento de ontologia, apresentados por autores como Horridge et al. (2005) e Sachs (2006) entre outros, para buscar eficiência na proposta de construir um conhecimento compartilhado e a interoperabilidade entre os programas, como:

a) Clareza: deve comunicar o significado pretendido dos termos definidos. Suas definições devem ser objetivas e independentes do contexto social ou computacional. Formalismo é um meio para esse fim. Uma definição deve ser declarada, sempre que possível, em axiomas lógicos. Onde for possível uma definição completa é preferida em relação a uma definição parcial, e todas as definições devem ser documentadas com linguagem natural, para reforçar a clareza; b) Coerência: deve ser coerente, isto é, as inferências devem ser

consistentes com as definições. As definições axiomáticas devem ser logicamente consistentes. Coerência também deve ser aplicada para os conceitos que são definidos informalmente, como aqueles descritos em documentos de linguagem natural e exemplos;

c) Extensibilidade: deve ser projetada para antecipar usos do vocabulário compartilhado, ou seja, uma ontologia deve oferecer um conceito fundamentado por uma gama de tarefas antecipadas e sua representação deve ser hábil para que possa ser estendida e especializada. A ontologia deve ser capaz de definir novos termos para usos especiais baseado em um vocabulário já existente, de modo que não requeira a revisão de definições;

d) Compromisso mínimo com implementação: a conceitualização deve ser especificada no nível do conhecimento sem depender de uma codificação particular no

nível simbólico ou de codificação. Uma tendência de codificação resulta quando escolhas de representação são feitas puramente para a conveniência de notação ou implementação. Assim, essa tendência de codificação deve ser minimizada porque os agentes que compartilham conhecimento podem ser implementados em diferentes sistemas e estilos de representações;

e) Compromisso ontológico mínimo: requer o mínimo compromisso ontológico, suficiente para atender à intensão da atividade compartilhada do conhecimento. Uma ontologia deve fazer poucas imposições sobre o mundo que está sendo modelado, permitindo que as partes comprometidas com a ontologia fiquem livres para especializar e instanciar a ontologia, sempre que necessário.

Ao analisar os conteúdos referenciais sobre ontologias que são inúmeros em várias áreas do conhecimento, percebe-se a busca por conceituações e exemplos nas ciências antigas. Para Moreira, Alvarenga e Oliveira (2004) os tradicionais tesauros da área da Ciência da Informação e as atuais ontologias usadas na área da Ciência da Computação são de propostas e origem diferentes. No primeiro caso, origina-se de instrumento prático que auxiliavam os indexadores e pesquisadores a tratarem documentos e, mais tarde pela necessidade de descrever multimeios (objetos) e suas relações e, no segundo, na computação, a situação não está clara, ou seja, tudo que modela um segmento de qualquer realidade pode ser chamado de ontologia.

Dentro deste contexto, pode-se afirmar que os próprios tesauros, largamente disseminados pela Ciência da Informação e utilizados em várias áreas, podem ser estruturados como uma ontologia terminológica. Saracevic (1996) discute a relação entre as ciências e comenta que a ciência da computação trata algoritmos que transformam informações, enquanto a ciência da informação trata da natureza da informação e sua comunicação para uso. O fato é que a atenção volta-se a ontologias, nas duas áreas – computação e informação – para realizar o objetivo-mor que norteia a ciência da informação: coletar, organizar, tratar, disseminar e preservar informações, em especial, as de cunho científico. Com a era do conhecimento, com toda a evolução tecnológica, a computação incorpora esse objetivo, somado aos seus preceitos tecnológicos e de busca pelos mesmos resultados, talvez, ficando a questão da preservação fora, mas, em uma visão muito singular e ainda em construção, as duas áreas se completam.