• Nenhum resultado encontrado

Concepção da AMC e intenção ao implantá-la sob o olhar dos diretores, dos coordenadores e dos docentes

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 RESULTADOS QUANTO ÀS ENTREVISTAS

4.2.1 Concepção da AMC e intenção ao implantá-la sob o olhar dos diretores, dos coordenadores e dos docentes

A respeito da concepção teórico-metodológica da AMC, dois não souberam responder, talvez porque, conforme o P.2, inicialmente não existiu uma concepção filosófico-

metodológica, ela veio a posteriori, ou, provavelmente, por desconhecimento do projeto. O

P.8 sintetiza o pensamento da maioria [...] em termos de metodologia, eu sei que ela deveria

ser construída em termos da teoria de resposta ao item. As respostas dos professores

confirmam que, em relação à metodologia para construção das questões da prova houve muita divulgação, não restando nenhuma dúvida. A este respeito, P.3 foi além, afirmou que a

concepção da AMC partiu de três teorias: teoria da resposta ao item2; perspectiva dialógica

2

Teoria de resposta ao Item (TRI)) é um procedimento de medida utilizado sob a suposição de que existe no indivíduo uma característica individual determinante (traço) de como responder aos itens de uma prova que possui uma relação probalística com cada um dos itens utilizados. Considerados outros itens da prova e que a pontuação total da prova é função respostas do indivíduo a cada item, é possível verificar se os respondentes são mais ou menos hábeis, e da mesma forma se os itens podem ser considerados mais fáceis ou mais difíceis, já que itens e indivíduos são colocados na mesma escala de desempenho (VENDRAMINI, 2006, p. 48).

de Backtin 3 e o modelo teórico de interpretação de dados, utilizando a estatística. O Projeto

da AMC resume: “[...] a AMC está fundamentada nas teorias avaliativas” (UNICEUB, 2008). Segundo Fernandes, a dificuldade, quando se fala em uma teoria de avaliação, é que se precisa ter em conta teorias curriculares e de aprendizagem, além de aspectos que vão desde os sociológicos, psicológicos, antropológicos e filosóficos até os que se relacionam com a comunicação, a ética e a política. Por isso, foi possível perceber, na maioria das respostas, que não existia um conceito pronto, mas para alguns teóricos,

[...] a teoria se vai construindo através da interação com as práticas e com as realidades educativas, da construção e reconstrução de investigações empíricas, das análises e das integrações e relações que se vão descobrindo e interpretando.[...]. Nestas condições, a construção teórica é entendida como algo que surge naturalmente, não se sentindo necessidade de a preparar deliberadamente, de a racionalizar ou de a tornar explícita (FERNANDES, 2008, 349-350).

Em relação à concepção, algumas categorias podem ser inferidas a partir das respostas dos gestores:

- Processualidade: [...] a concepção nasce no entendimento de que qualquer mudança de

qualquer processo só é possível com avaliação[...] avaliação de percepção de processo para gerenciá-lo, avaliação proativa, para verificar se as metas estão sendo atingidas.(P.1)

Neste sentido, trata-se de uma metaavaliação: avalia-se todo o processo, além de trazer subsídios para avaliar o projeto pedagógico do curso.

- Construtivismo: [...] uma concepção mais construtivista, dentro da perspectiva de

problematizar as questões para que o aluno possa se posicionar dentro delas. (P.9)

Nesta perspectiva, o aluno intercambia ação e reflexão, num processo de construção do conhecimento e dentro de uma visão de avaliação formativa.

- Interdisciplinaridade: [...] interdisciplinaridade, conexão entre as disciplinas ao longo do

curso. (P.9) Esta categoria aponta para a conscientização do gestor acerca da necessidade de

mudanças na condução dos projetos pedagógicos dos cursos, mostrando uma visão interdisciplinar e problematizadora.

3Os tipos textuais compõem os gêneros discursivos, e é a designação dada a uma espécie de sequência retórica

subjacente, definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais), podendo ser classificados em narrativo, descritivo, expositivo, argumentativo e injuntivo (MARCUSCHI, 2005). A CPA propõe que, nas questões discursivas, seja privilegiado o uso dos tipos textuais argumentativo e

dissertativo, por ser o mais apropriado à apresentação de análises críticas e interpretações sobre determinado assunto (UniCEUB, 2008).

Se a avaliação formativa requer transformações no planejamento, no currículo e na prática pedagógica, é necessário que o docente possa ter o espaço para interlocução com os pares para avaliar, interpretar e reorganizar o ensino.

A percepção dos gestores a respeito das intenções ao implantar a AMC na instituição pode ser assim categorizada:

a) Preparação para o ENADE (e avaliações afins)

- [...] a intenção inicial de preparar para o ENADE. (P.13)

- [...] que a intenção primeira, mesmo que isso não tenha sido declarado, ou explicitado, é de

que ela realmente fosse um processo, um instrumento, digamos, preparatório para o ENADE.

(P.2)

O imaginário social era povoado pela preocupação com os resultados do desempenho acadêmico em relação à prova, que era considerada isoladamente, embora o SINAES buscasse apreender o fenômeno educativo através de diferentes dimensões. Segundo Cunha (2005, p. 97), “[...] reduzir a avaliação à aplicação de uma prova é reforçar uma visão mecanicista e simplificadora, constituída por uma tecnificação da formação”. Este desempenho, que por diferentes razões, não atendia às expectativas, desencadeou nas instituições algumas iniciativas, tais como: incentivo à participação nas provas com oferecimento de lanches e bolsas de estudo para os alunos com melhores notas. Além disso, foram oferecidas oficinas, workshops e palestras no intuito de ‘complementar’ os conteúdos a serem cobrados nas provas do ENADE.

. [...] precisávamos ter um instrumento que avaliasse o nível em que os nossos alunos, em

diferentes cursos, se encontravam, para a chegada desse alunado ao ENADE [...] ela tivesse uma preparação mais adequada em termos do tipo de questão utilizada no ENADE. (P.2)

Apesar de mostrar preocupação com a performance do alunado no ENADE, o professor já apresenta uma preocupação com a diferença da avaliação praticada na instituição e a avaliação feita pelo ENADE.

. [...] estimular esse pensamento reflexivo do aluno e resgatar esses conteúdos, tentando

integrar os conteúdos dessas disciplinas e simulando um pouco o que acontece [...]na prática profissional do aluno, como também na prática das avaliações que ocorrem na ENADE e outras avaliações afins. (P.9)

A visão do professor, hoje, embora ainda se refira às avaliações do ENADE, mostra preocupação com a prática profissional, a integração dos conteúdos e a importância do pensamento reflexivo para a formação integral do aluno.

. [...] a intenção é realmente treinar o aluno para responder questões operatórias, essas

questões que estão sendo mais cobradas, principalmente em concursos públicos [...] este tipo de questão que exige conhecimento de várias disciplinas, de vários semestres. (P.10)

Percebe-se que, para alguns professores, a intenção da AMC foi, realmente, preparar o aluno para responder questões semelhantes às do ENADE e, ainda nesta visão tecnicista, um professor fala em treinar o aluno, isto é, fazer exercícios repetitivos, modelando o comportamento. Em educação, segundo Menezes (2003, p. 314),

[...] não estamos preocupados em modelar comportamentos ou esperar reações padronizadas; estamos ocupados em educar pessoas que exercem suas funções profissionais pautadas pelos desempenho do corpo físico, da emoção e da inteligência, e não apenas pela expressão de um deles em detrimento dos demais.

Portanto, a dificuldade não é fazer a prova, saber fazer este tipo de questão. O desafio por trás deste problema é como formar pessoas que pensam, que participam, que argumentam.

b) Acompanhamento do PPC e do processo ensino-aprendizagem . O acompanhamento do PPC é um processo que precisa ter indicadores. (P.1) . [...] instrumento que fosse fornecer indicadores para a gente avaliar o curso. (P.8)

Para os gestores, a AMC é mais um instrumento que permite fazer um diagnóstico do curso e na avaliação institucional traz subsídios para analisar se os objetivos da IES estão sendo realmente alcançados e se as potencialidades ou dificuldades indicam a necessidade de mudanças e revisões. Segundo Araújo (2004, p. 84), “A avaliação na educação superior deve ser entendida, portanto, como um processo mais amplo, com desdobramentos coletivos, institucionais e individuais.”

. [...] porque a gente fazendo a avaliação, pode identificar as disciplinas ou conteúdos que

estão defasados e podemos, também, observar qual a dificuldade dos alunos[...] e ainda poder fazer interferências para poder melhorar o desempenho acadêmico da instituição do ponto de vista docente e discente. (P.1)

. [...] a AMC consegue integrar os conteúdos e colocar dentro de um contexto prático e o

aluno tem o seu posicionamento através das questões. (P.9)

. [...] é uma maneira de fazer uma avaliação e, através dos dados da AMC, a gente tentar

corrigir alguma coisa que por acaso não tenha sido bem fundamentada, tentar descobrir porquê, e reforçar aquele determinado conteúdo. (P.11)

Para os gestores, a AMC pode auxiliar coordenadores e professores a identificar

disciplinas e ou conteúdos que precisam ser revistos ou trabalhados de forma diferente para melhor compreensão do alunado. É uma oportunidade para que o corpo docente e discente exercite a interdisciplinaridade. Esse exercício, para o corpo discente, é uma preparação para a vida profissional, para a qual precisará acionar múltiplas competências e conhecimentos de várias áreas.

c) Verificação das competências, habilidades e conhecimentos adquiridos antes do estágio

. [...] era ter um retorno concreto de quanto o aluno conseguia realizar a conexão do que ele

teve até o inicio do estágio (P.4)

. [...] para fazer uma análise mesmo da evolução do conhecimento que eles obtiveram durante

a graduação [...] a proposta da AMC é voltada para questões mais operatórias [...] para que seja possível analisar também a capacidade de raciocínio, do desenvolvimento e da maturidade desse aluno, durante a graduação. (P.12)

As avaliações por disciplinas, frequentemente, apresentam uma abordagem estática, fragmentada, sem considerar os conhecimentos de disciplinas anteriores. A AMC é uma oportunidade para promover esta interdisciplinaridade.

. [...] uma prova em que pudéssemos medir, antes do aluno ingressar no estágio, se as

competências e habilidades previstas no PPC tinham sido desenvolvidas. (P.3)

. [...] a intenção foi verificar como o aluno chegava em termos de conhecimento ao estágio. (P.4, P.6, P.7)

Apesar de, na opinião de alguns respondentes, a implantação da AMC ter sido uma preparação do aluno para participar do ENADE, embora esse não tenha sido o discurso oficial (P.2), todos concordam que a intenção foi verificar como o aluno chegava em termos de

conhecimentos no início do estágio, ou seja, pretendeu-se avaliar o desempenho dos alunos ao longo da graduação e verificar se o aluno tinha desenvolvido as habilidades e competências previstas no Projeto Pedagógico (P.8), pois a maioria das Diretrizes

Curriculares apontam para o desenvolvimento de competências, ainda que vinculadas ao domínio de conhecimentos, saberes e práticas próprias da área profissional.

Pondera o P.9, a intenção foi estimular o pensamento reflexivo do aluno [...] tentando

integrar os conteúdos dessas disciplinas, trazendo novamente a ideia de interdisciplinaridade

e o P.10 completa os coordenadores pedem que a gente formule questões operatórias,

questões que exijam o raciocínio dos alunos e não só a decoreba.

A esse respeito, Ronca e Terzi (1991, p. 42) afirmam que a prova será ‘operatória’ 4:

4

Segundo Ronca e Terzi (1991, p. 34-35), o termo foi pinçado da Teoria Desenvolvimentista de Jean Piaget, que atuou no séc. XX, em Genebra, nos campos da Filosofia, Religião, Biologia, Sociologia e Psicologia. O tema de seu maior interesse e aquele que mais estudou foi a Inteligência.

[...] quando, longe de ser mecânicos questionários, testes ou exercícios, for um momento a mais para o aluno viver intensamente a construção ou reconstrução de conceitos ao longo do caminho da aprendizagem[...]. Em vez de fim de processo, ela estará dinamicamente inserida no contexto do estudo daquele conteúdo e daquela Ciência.