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4 O SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE

4.1 CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA DO SINTESE

Um sindicato que representa trabalhadoras/es, pelo menos em tese, não deve ter somente o compromisso com a luta corporativa, uma vez que implica fazer a escolha por um modelo de sociedade diferente da construída pelo sistema capitalista que exclui e discrimina os que possuem a força de trabalho. A construção de um novo modelo de sociedade perpassa pela educação. Não uma educação que serve ao capital que internaliza e reproduz os valores e as construções sociais da classe dominante, mas uma educação que liberte e emancipe os sujeitos, com o intuito de promover uma transformação social.

O SINTESE é um sindicato docente, portanto, dada à sua especificidade, espera-se que, além das concepções políticas e ideológicas, ele tenha bem definidas as concepções pedagógicas. Em busca disso, foram pesquisados no site e na sede da entidade documentos (as teses dos congressos da entidade (2006, 2012, e 2015) e o projeto Escola Democrática e popular: a educação que queremos33) que pudessem informar sob qual ou quais concepção/concepções pedagógica/s a entidade está estruturada.

O projeto A Escola Democrática e popular: a educação que queremos trata de uma proposta pedagógica para a educação pública de Sergipe que nasceu de encontros mensais durante o ano de 2012, como proposta de um grupo de trabalho composto por: professoras/es universitárias/os, dirigentes do SINTESE e professoras/es das redes públicas municipais e estadual, cujos objetivos foram, com base em um diagnóstico sobre a realidade educacional sergipana, debater e formular concepções político-pedagógicas, diretrizes e resoluções, com fundamentação teórica.

A palavra chave do projeto é a emancipação humana, portanto suas concepções pedagógicas pretendem refletir o objetivo de levar os dominados e oprimidos a compreenderem o processo de exploração capitalista à luz das lutas de classes, possibilitando

33 De acordo com SINTESE (2012), o documento é fruto de vários encontros realizados no ano de 2012, momento em que foi criado um grupo de trabalho que estabeleceu como metodologia reuniões mensais, com o objetivo de debater e formular concepções político-pedagógicas, diretrizes e resoluções, com fundamentação teórica, observando a legislação educacional vigente.

também a percepção de como a educação tradicional serve aos interesses capitalistas. Como consequência, foram estabelecidos oito princípios norteadores para o projeto:

(a) O processo de construção da emancipação humana para uma sociedade livre, igualitária e fraterna é um processo complexo, mas necessário.

(b) A educação e as demais práticas sociais delineadas pelo trabalho humano precisam ser alinhadas como atividades educativas emancipadoras.

(c) O trabalho (ato de transformação da natureza para criação das condições de vida) é uma força vital que não pode estar a serviço dos dominantes; (d) A educação, a ciência, a tecnologia são construções culturais produzidas pelo trabalho sobre dadas condições de poder. Na sociedade em que vivemos, estas condições impedem a emancipação dos trabalhadores e trabalhadoras;

(e) A educação escolar deve superar a dicotomia e a hierarquização entre trabalho manual e trabalho intelectual e suas implicações na forma de conceber o ser humano.

(f) A Escola Pública deve ser apropriada pelos trabalhadores e trabalhadoras para se tornar o centro de formação (científica, filosófica, artística e política) de crianças, jovens e adultos à luz da emancipação humana, preparando-os para se tornarem dirigentes do processo histórico;

(g) O trabalho educativo em suas múltiplas dimensões precisa ser valorizado em sua finalidade e especificidade para assegurar a sólida formação humana; (h) A participação efetiva de toda comunidade escolar. (SINTESE, 2012, p. 08).

Esses princípios foram desdobrados em quatro eixos temáticos que delimitam o projeto: Formação Humana, Gestão Democrática, Trabalho Docente e Políticas Estruturantes. O projeto tem o propósito de orientar as lutas empreendidas pelas/os docentes em torno da política educacional nas redes de ensino e, consequentemente, nas unidades escolares, propondo um projeto de educação que a entidade acredita ser capaz de promover mudanças na estrutura educacional pela formação da consciência crítica da classe dominada como também na sociedade como um todo.

Apoiada leitura dos documentos, percebe-se um diálogo com as concepções pedagógicas contra-hegemônicas34 ou “pedagogias de esquerda” na modalidade da Pedagogia Histórico-Crítica pautada na educação em favor da emancipação humana35. Essa Pedagogia é de orientação socialista e foi criada por Dermeval Saviani em, 1984. De acordo com Saviani (2008), a Pedagogia Histórico-Crítica valoriza a educação escolar e tem como foco a transmissão de conteúdos científicos por parte da escola, porém não é conteudistas,

34 Segundo Saviani (2008), as teorias pedagógicas se dividem em dois grupos: as hegemônicas e as contra- hegemônicas. A primeira corresponde aos interesses do grupo dominante e, por isso, tendem a hegemonizar o campo educativo que procuram orientar a educação no sentido da conservação da sociedade em que se insere, mantendo a ordem existente. A segunda busca a transformação da sociedade por meio da educação, posicionando-se contra a ordem existente buscando os interesses dos dominados situando-se, pois, no movimento contra-hegemônico.

35 Condição social que permitirá aos seres humanos libertarem-se efetivamente de todas as formas de dominação, opressão e exploração construídas pela sociedade dominante.

permitindo aos alunos compreender e participar da sociedade de forma crítica, superando a visão de senso comum. A ideia é socializar o saber sistematizado historicamente e construído pelo homem. Nesse sentido, o papel da escola é propiciar as condições necessárias para a transmissão e a assimilação desse saber. Em outras palavras, a teoria de Saviani preza pelo acesso aos conhecimentos e sua compreensão por parte do estudante para que este seja, inclusive, capaz de transformar a sociedade.

A teoria é histórica porque a educação é uma das instituições que interfere sobre a sociedade, contribuindo ou não para a sua transformação; e crítica, por ter consciência da determinação exercida pela sociedade sobre a educação. Essa teoria pedagógica busca a transformação da sociedade por meio da educação, posicionando-se contra a ordem existente buscando os interesses dos dominados. Para Saviani (1999, p.42) “[...] o papel de uma teoria crítica da educação é dar substância concreta a essa bandeira de luta de modo a evitar que ela seja apropriada e articulada com os interesses dominantes.”

A fundamentação teórica da Pedagogia Histórico-Crítica está em consonância com a concepção de mundo e de homem própria do materialismo histórico. Para essa concepção pedagógica não há mudança sem uma teoria que propõe mudança. Seus princípios derivam da compreensão de que a classe trabalhadora precisa construir o processo de sua emancipação político-econômica no sentido de estabelecer novas possibilidades de vida coletiva em que todos possam viver em condições plenas e não simplesmente sobreviver. Essa teoria entende a educação como mediação no seio da prática social global. A prática social se põe como o ponto de partida e de chegada da prática educativa. Para Saviani (2008, p.25), o método pedagógico da Pedagogia Histórico-Crítico parte

[...] da prática social onde professor e aluno se encontram igualmente inseridos ocupando, porém, posições distintas, condição para que travem uma relação fecunda na compreensão e encaminhamento da solução dos problemas postos pela prática social. Aos momentos intermediários do método cabe identificar as questões suscitadas pela prática social (problematização), dispor os instrumentos teóricos e práticos para a sua compreensão e solução (instrumentação) e viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos alunos (catarse) (SAVIANI, 2008, p.25).

Os princípios norteadores do projeto “A escola democrática e popular” do SINTESE dialoga com o método pedagógico criado por Saviani, ambos têm a emancipação humana como palavra-chave e visam a promover a transformação social a se iniciar pela formação de consciências críticas capazes de perceberem como são oprimidas/os e quem são seus opressores, tornando-se donas/os de sua própria história e de suas ações.