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5 A DIMENSÃO DE GÊNERO E A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES NO

5.5 TRAJETÓRIAS DE INSERÇÃO NO SINTESE

Em dois momentos diferentes, foi indagado às/aos dirigentes do SINTESE sobre os motivos da filiação ao sindicato e à luta sindical. No primeiro momento, essa temática foi abordada nos questionários por meio de uma pergunta aberta, cujo intuito era deixar as/os respondentes livres para se expressarem. A palavra que mais apareceu nas respostas foi o verbo lutar e seus derivados, ao todo essa palavra apareceu 53 vezes nos 65 questionários analisados, isso denota o que o sindicato simboliza para as/os respondentes: ação, movimento, mudança. As/os sindicalistas demonstram clara consciência da classe que ocupam na sociedade e veem na entidade a possibilidade de transformação social por meio da luta empreendida pelo SINTESE.

Muitas foram as respostas52, sobre pelo quê lutar, mas, no geral, a maioria ficou em

torno de: lutar pela garantia dos direitos trabalhistas, lutar por uma educação de qualidade, lutar pela valorização do magistério, lutar por uma sociedade justa e igualitária, lutar por condições de trabalho.

Além da filiação e do engajamento na luta sindical pela busca de direitos, apareceu também nas respostas a filiação pela busca da formação político-sindical e pedagógica, isso

mostra a carência das/os docentes pela formação continuada, pois, ao se depararem com a realidade da sala de aula muitos/as professoras/os entram em desespero, alguns abandonam a profissão ou se acomodam e vivem conforme o sistema, já outros vão à procura de formação complementar para equacionar o déficit de aprendizagem da formação inicial através de cursos de especialização, encontros, congressos, seminários, conferências, entre outros. Ciente dessa necessidade, o SINTESE promove momentos de formação continuada procurando parcerias com as universidades públicas a fim de trabalhar, de maneira integrada, as dimensões pedagógica e sindical na formação dos professores. Nesses espaços a formação serve a dois objetivos: à reflexão do fazer pedagógico e como resistência às políticas neoliberais.

Para o professor Iran Barbosa53 (ex-presidente do SINTESE) a entidade aposta na bandeira da formação. Segundo ele, a formação defendida é aquela que ajuda a enfrentar a realidade vivida pelos docentes nos dias atuais. Ele revelou que, antigamente, havia uma barreira para a filiação de novas bases ao sindicato, as/os docentes só podiam se filiar depois que fizessem uma formação político-sindical para compreender a concepção política e pedagógica defendida pelo sindicato, para conhecer a história do movimento sindical, da luta de classes, como se relaciona Estado e Sociedade e analisar a conjuntura dos problemas enfrentados pelas/os docentes.

Nas respostas aos questionários, somente seis pessoas do sexo masculino se referiram à busca pela formação político-sindical e pedagógica como motivos para filiação. Já nas entrevistas, segundo momento em que foi perguntado sobre os motivos da filiação ao SINTESE, duas pessoas (um homem e uma mulher) mencionaram o sindicato como espaço de formação. A entrevistada Inês afirmou que o Estado e a prefeitura em que ela trabalha não oferecem subsídios para sua formação e que se sente privilegiada por estar na militância e ter o sindicato como espaço de formação.

Se o Estado e o município me oferecem subsídios para que eu melhore, eu não acredito nisso. Não tem. Eu tenho que procurar. Como eu tô na militância pra mim é mais fácil, porque eu convivo o tempo todo com formação. Eu tenho que ter formação. Para mim é muito mais fácil eu me sinto privilegiada, por estar na militância e ter esse espaço de formação (Inês, 45 anos).

Já o entrevistado Paulo afirmou que, em decorrência das negações de direitos, entre eles o direito a receber um salário justo que pudesse bancar a continuidade da sua formação

53 Discurso realizado no lançamento da Chapa Nossa Vida é lutar (Chapa que saiu vitoriosa para ocupar a Direção Executiva do SINTESE de 2016-2019), em 28/03/2016 na sede da CUT em Aracaju/SE.

acadêmica, procurou saber mais sobre o financiamento da educação pública e sobre gestão pública e isso o levou ao SINTESE. Infere-se da fala do entrevistado que o conhecimento é poder e esse poder, no caso das/os sindicalistas, é utilizado para transformar a realidade de submissão e negação de direitos. Para Marx e Engels “[...] acima de tudo, a experiência sindical ampliava a autoconfiança das/os trabalhadoras/es e a sua consciência de classe: como “escolas de guerra, os sindicatos não têm competidores” (BOTTOMORE, 2013, p.524).

[...] eu fui ser sindicalista, porque sempre tive o desejo de fazer o nível superior. [...] E aí eu fui estudar e [...] fui aprovado [...] E daí eu estudei um período, quando eu estava no segundo período não consegui pagar, porque o meu salário era insuficiente não dava ao menos para pagar a mensalidade. No período o fundo era o FUNDEF54 o município recebia uma quantidade de

recursos expressiva no FUNDEF, mas o salário dos professores a gente só recebia um salário mínimo, e ainda vinha com desconto e acabava recebendo abaixo do salário mínimo. Este valor não dava para pagar a mensalidade naquele período e aí eu sabia que era o meu direito que estava sendo subtraído, daí eu fui para o sindicato para entender mais de financiamento da educação, conhecer a lógica de financiamento da educação e da administração pública para lutar para que o meu direito fosse respeitado enquanto trabalhador. E aí eu sabia tinha plena convicção que se o meu direito fosse respeitado, enquanto trabalhador eu receberia um salário suficiente para pagar a progressão dos meus estudos e avançar para outras questões. Então eu entrei para o sindicato para aprender sobre financiamento da educação e sobre administração pública e lutar para que não apenas eu, mas que todos os outros professores tivessem o respeito, que eles fossem respeitados enquanto trabalhadores e que tivessem. Então, naquele período era terrível a gente trabalhava doze meses, mas só recebia nove e não recebia décimo terceiro, não recebia férias, era uma coisa absurda. [...] então eu nunca me aceitei dentro dessa lógica, da lógica de submissão, então eu disse vou estudar vou aprender e vou transformar a minha realidade e a de quem estiver por perto (Paulo, 35 anos).

Outra motivação para a filiação e militância no SINTESE apontada pelas pessoas do sexo feminino nos questionários e em 33,3% das entrevistas é a confiança na entidade que os representa e a questão da organização do SINTESE na forma de conduzir as lutas, mostrando compromisso e conhecimento. Além da questão de se sentir parte de uma organização maior que defende os interesses de toda categoria docente.

54 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) foi instituído pela Emenda Constitucional n.º 14, de setembro de 1996, e regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo Decreto nº 2.264, de junho de 1997. A maior inovação do FUNDEF consiste na mudança da estrutura de financiamento do ensino fundamental no País (1ª a 8ª séries do antigo 1º grau), ao subvincular a esse nível de ensino uma parcela dos recursos constitucionalmente destinados à educação. A Constituição de 1988 vincula 25% das receitas dos estados e municípios à educação. Com a Emenda Constitucional nº 14/96, 60% desses recursos (o que representa 15% da arrecadação global de estados e municípios) ficam reservados ao ensino fundamental. Além disso, introduz novos critérios de distribuição e utilização de 15% dos principais impostos de estados e municípios, promovendo a sua partilha de recursos entre o governo estadual e seus municípios, de acordo com o número de alunos atendidos em cada rede de ensino.