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Concepções variadas acerca da perspectiva da Sustentabilidade

No documento MARIA OLIVEIRA DA SILVA COSTA (páginas 42-46)

2.1 OS CAMINHOS DO DESENVOLVIMENTO: UMA REFLEXÃO AO LONGO DA HISTÓRIA

2.2.3 Concepções variadas acerca da perspectiva da Sustentabilidade

A evolução ao longo da história, conforme visto anteriormente, revelou como fator determinante da qualidade de vida de uma população não apenas o seu entorno natural, mas a

rede de relações entre componentes que configuram um determinado modelo de ocupação do território. São as relações entre homens e território que determinam o processo de desenvolvimento, incluindo aí seus reflexos no meio ambiente. A integração e articulação das atividades humanas com seu território retratam o potencial das dimensões da sustentabilidade presentes na teia de relações sociais, capazes de contribuir para o desenvolvimento equilibrado e sustentável. Nesse sentido, para tornar tal intuito possível, faz-se necessária a produção de conhecimento a partir da compreensão das relações dessa teia, para identificar seus elementos caracterizadores e a forma mais adequada de combinação destes elementos de modo que possam conferir satisfação e atendimento das necessidades dos atores envolvidos: homem, natureza, Estado e sociedade.

Para melhor avaliar a sustentabilidade de uma comunidade, a partir da relação entre população e território, Otis Duncan (1921:2004) sugeriu atentar cuidadosamente para as inter-relações entre os componentes a seguir:

 População – tamanho, composição e dinâmica demográfica;

 Organização social – padrões de produção e de resolução de conflitos e estratificação social;

 Entorno – ambiente físico e construído, processos ambientais, recursos naturais;  Tecnologia – inovação, progresso técnico, uso de energia;

 Aspirações sociais – padrões de consumo, valores, cultura.

A equação do POETA (DUNCAN, 1961:142) serve de instrumento para caracterizar as inúmeras variáveis capazes de proporcionar a sustentabilidade de um grupo e seu território, a partir da articulação entre as suas relações e da construção de conhecimento que viabilize a convergência dessas potencialidades, para a promoção da prosperidade social na consecução do seu processo de desenvolvimento.

Analisa-se o exemplo do Japão que poderia ser considerado um dos países mais pobres se levado em conta a sua significativa população e a precariedade em termos de recursos naturais e fontes tradicionais de energia. Contudo, graças a sua organização social e ao seu domínio tecnológico, o país consegue sintonizar seu padrão de consumo com as aspirações sociais da sua população, adaptando-se às suas limitações ambientais e territoriais. Tal convergência entre os componentes da sua realidade e suas práticas de produção e consumo

lhe dá sustentabilidade. Diferentemente, no Brasil, a dificuldade de introduzir a perspectiva da sustentabilidade no seu processo de desenvolvimento está atrelada à condição do país enquanto permanecer fornecedor de produtos primários e de recursos naturais para os países centrais, ou ainda, manter seu padrão de consumo à luz de modelos externos, e mais, não estimular a inovação tecnológica em consonância com as suas reais demandas sociais. Pode-se dizer, dessa forma, que a sustentabilidade de uma determinada comunidade Pode-se dá a partir da mensuração do seu nível de dependência em relação a padrões externos bem como pela promoção endógena da satisfação das necessidades básicas e de um estilo de vida próprio, e não aquele pasteurizado praticado pelas classes mais privilegiadas.

Este novo modelo de desenvolvimento, pautado pelos princípios da sustentabilidade, convoca para a cena a questão da ética, partindo do pressuposto que os objetivos econômicos do progresso estão intimamente relacionados ao modo de funcionamento dos sistemas naturais e às atitudes de respeito à dignidade humana e em prol da melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Seguindo esta linha de pensamento, Buarque (2001) elabora a sua definição de desenvolvimento local à luz dos princípios da sustentabilidade, para a promoção de um processo que viabilize as:

oportunidades sociais e competitivas da economia local, aumentando a renda e as formas de riqueza, concomitantemente, com a conservação dos recursos naturais, e por outro lado, observando a tendência de mobilidade da sociedade (apud BITTENCOURT, 2002:6).

Nesse sentido, é fundamental a definição das diretrizes que realmente viabilizem o desenvolvimento com base na sustentabilidade e em valores éticos e solidários que constituem o comportamento, as atitudes e as crenças da população que, por conseguinte, referendam as suas tomadas de decisão e o rumo do desenvolvimento então delineado.

É preciso, no entanto, trazer para o plano operacional as diretrizes deste novo paradigma. Na tentativa de buscar construir ações sustentáveis que concretizem as diretrizes estipuladas para alcance deste modelo de desenvolvimento, algumas considerações acerca das dimensões da sustentabilidade foram definidas. Um exemplo pode ser visto no Documento

elaborado a pedido do Ministério do Meio Ambiente, sobre o eixo Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável22:

 Sustentabilidade social: ancorada no princípio da equidade na distribuição de renda e de bens, no princípio da igualdade de direitos a dignidade humana e no princípio de solidariedade dos laços sociais;

 Sustentabilidade ecológica: ancorada no princípio da solidariedade com o planeta e suas riquezas e com a biosfera que o envolve;

 Sustentabilidade econômica: avaliada a partir da sustentabilidade social propiciada pela organização da vida material;

 Sustentabilidade espacial: norteada pelo alcance de uma equanimidade nas relações inter-regionais e na distribuição populacional entre o rural/urbano e o urbano;

 Sustentabilidade político-institucional – que representa um pré-requisito para a continuidade de qualquer curso de ação em longo prazo;

 Sustentabilidade cultural – modulada pelo respeito à afirmação do local, do regional e do nacional, no contexto da padronização imposta pela globalização.

Considerando as dimensões acima como eixo norteador, as sociedades devem ter como objetivo básico a formulação e consecução de atividades humanas articuladas que proporcionem, para além da geração de trabalho e renda, a inclusão social, balizada por políticas públicas que regulamentem a relação capitalista predatória com o meio ambiente. Todos estes aspectos devem ser considerados e analisados no bojo do funcionamento da engrenagem social a fim de que novos arranjos, pautados nessas diretrizes, possam ser compostos para melhor desempenho do processo de desenvolvimento.

Nesta linha de pensamento, fica evidente a urgência de novas práticas e de um novo estilo de vida a serem implementados capazes de superar os problemas de pobreza e desigualdade a partir de uma estratégia ambientalmente sustentável.

22

Ver, a propósito, Documento elaborado pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável – CPDS para a Agenda 21 Nacional. Consolida os seis temas básicos da Agenda 21 Brasileira: Gestão dos Recursos Naturais, Redução das Desigualdades Sociais, Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável, Agricultura Sustentável, Infra-Estrutura e Integração Regional e Cidades Sustentáveis (2000).

No documento MARIA OLIVEIRA DA SILVA COSTA (páginas 42-46)