• Nenhum resultado encontrado

O objetivo geral desta dissertação foi mostrar como traços da personagem serpente tentadora refletem a personagem Satã. Afunilou-se esta análise desde o contexto de produção e recepção literárias de Paradise Lost até as significações simbólicas da serpente tentadora, perpassando pela análise de Satã em si mesmo e em relação a outros elementos da narrativa relacionados.

Dado esse trajeto, no primeiro capítulo apresentou-se o contexto histórico da obra literária Paradise Lost, mais particularmente o movimento puritano, haja vista que o autor, John Milton, foi um escritor puritano. Essa obra épica produzida por Milton manteve relações com modelos clássicos da literatura, como por exemplo a Eneida de Virgílio. Assim como em outras épicas, pôde-se identificar a função de “herói” associada a Satã em Paradise Lost – “herói trágico”, segundo Forsyth (2014). Enfim, no tocante aos modelos clássicos, apresentaram-se as considerações de C. S. Lewis (1961) a respeito do gênero literário epopeia.

Dentro do contexto de produção e recepção de Paradise Lost, tratou-se, com base em Hill (2003), do papel da Bíblia na sociedade do séc. XVII, livro este a partir do qual Milton realizou seu intertexto Paradise Lost, que possui narrações literárias divergentes do Gênesis. Ainda no primeiro capítulo, considerou-se a influência de Milton, o segundo maior poeta da literatura inglesa após Shakespeare, segundo Carpeaux (2011) e Fletcher (1919). Finalmente, considerou-se como Milton tem sido lido até os tempos recentes.

No segundo capítulo, especializou-se mais o objeto de estudo, ou melhor dizendo, uma vez visto o contexto de produção e recepção da obra, focalizou-se Satã e as suas relações com outros elementos da narrativa. Para a análise dessa personagem, apresentaram-se alguns conceitos fundamentais de uma teoria da narrativa, a de Mieke Bal (1997); recorreu-se à fortuna crítica de Paradise Lost, em particular ao conceito de trimorfismo de Satã segundo Carey (1999) para mostrar como a personagem se transforma ao longo da trama: de arcanjo no Céu a príncipe dos demônios no Inferno, e deste a serpente tentadora no Éden; por fim, aplicaram-se conceitos da narratologia de Bal (1997) a Satã de modo que se tornassem claros recursos de criação literária na narrativa a exemplo da troca de nome de “Lúcifer” para “Satã”, da previsibilidade da personagem, da repetição de traços seus, da localização no espaço, da memória sobre a personagem como focalização, das fases do ciclo narrativo (possibilidade,

realização, resultado) nas quais a personagem está presente, da sua competência de agir (vontade, poder, conhecimento).

Pelos conceitos de “texto”, “história” e “fábula”, na terminologia de Bal (1997), fundamentou-se inicialmente os procedimentos de análise da narrativa. Em seguida, apresentou-se o conceito de “trimorfismo”, que é essencial para a compreensão da personagem em questão. Na próxima seção, Satã foi analisado em si mesmo, por exemplo seus traços e ações, e em relação a outros elementos da narrativa, por exemplo espaço e personagens, segundo a divisão feita por Bal (1997) – texto, história e fábula – em seu livro de Narratologia. Assim sendo, procurou-se apresentar uma análise da protagonista de Paradise Lost, conforme cada uma dessas três camadas da obra literária, de modo que seja melhor conhecida a personagem cujos traços a serpente tentadora simboliza.

Finalmente, tida uma visão acerca do contexto histórico de Paradise Lost e do próprio Satã, no terceiro capítulo propôs-se uma interpretação simbólica de traços da serpente tentadora, a terceira forma assumida por Satã, com base em características da serpente listadas por Charlesworth (2010).

Primeiramente, explicou-se como Charlesworth (2010) introduziu sua obra The Good and Evil Serpent a respeito da serpente. Das 32 características da serpente listadas pelo autor, tomaram-se 22 para a análise da serpente miltoniana.

Em seguida, apresentaram-se citações tanto de Charlesworth (2010) sobre o animal serpente quanto da obra Paradise Lost de modo que se estabelecessem relações entre ambos. Na seção seguinte, consta um texto analítico, que parte das mesmas informações essenciais da seção precedente, onde se analisa a relação entre traços da serpente e de Satã divididos pelos espaços onde Satã esteve: Céu, Inferno e Terra. Por fim, forneceu-se uma tabela que contém uma síntese desses mesmos elementos relacionados nesta dissertação: características da serpente e passagens de Paradise Lost.

Assim sendo, pôde-se analisar a serpente e Satã em Paradise Lost com base em 22 características da serpente extraídas de Charlesworth (2010) com o objetivo de apresentar uma interpretação que se pode realizar de traços da serpente refletindo traços de Satã.

REFERÊNCIAS

AGOSTINHO, Santo. Comentário ao Gênesis. 1ª reimp. São Paulo: Paulus, 2012.

AMORA, Antônio Soares. Introdução à teoria da literatura. 13ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

BAL, Mieke. Narratology: An Introduction to the Theory of Narrative. Tradução de Christine Van Boheemen. 2nd ed. Toronto: Toronto University Press, 1997.

BALDICK, Chris. The concise Oxford dictionary of literary terms. 2ª ed. Nova York: Oxford University Press, 2001.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. 2ª imp. São Paulo: Paulus, 2003.

BLAKE, J. P.; REVEIRS-HOPKINS, A. E. Tudor to Stuart. 6th ed. Londres: William Heinemann, 1916.

BREMER, Francis J. Puritanism: a very short introduction. Nova York: Oxford University Press, 2009. BROWN, M. Dawn Henderson. Original and eternal seduction: Satan’s Psyche in Paradise Lost. 2008. 57 f. Dissertação (mestrado em Artes / inglês) – University of North Carolina Wilmington. pdf.

BUTLER, George F. Giants and Fallen Angels in Dante and Milton: The Commedia and the Gigantomachy in Paradise Lost. Modern Philology. The University of Chicago Press, v. 95, n. 3, p. 352- 363, 1998.

CAMMARERI, Nicole. The Evolution of Milton’s Satan through Paradise Lost and Paradise Regained and Milton’s Establishment of the Hero. 2011. 42 f. Dissertação (mestrado em Artes / inglês) – Stony Brook University. pdf.

CAREY, John. Milton’s Satan. In: DANIELSON, Dennis R. (Ed.). The Cambridge companion to Milton. 2nd ed. Grã-Bretanha: Cambridge University Press, 1999. epub.

CARPEAUX, Otto Maria. História da literatura ocidental (vol. 2). São Paulo: Leya, 2011.

CARTER, Ronald; MCRAE, John. The Routledge history of literature in English: Britain and Ireland. Nova York: Routledge, 1998.

CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

CHARLESWORTH, James H. The good and evil serpent: how a universal symbol became Christianized. New Haven: Yale University Press, 2010. epub.

CHRISTOPHER, Georgia. Milton and the reforming spirit. In: DANIELSON, Dennis R. (Ed.). The Cambridge companion to Milton. 2nd ed. Grã-Bretanha: Cambridge University Press, 1999. epub.

CUDDON, J. A. The Penguin dictionary of literary terms and literary theory. Revisado por C. E. Preston. Inglaterra: Penguin Books, 1998.

DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja da Renascença e da Reforma. São Paulo: Quadrante, 1999.

DANIELSON, Dennis. Paradise Lost and the cosmological revolution. Nova York: Cambridge University Press, 2014.

DRABBLE, Margareth. The Oxford companion to English literature. 6th ed. Nova York: Oxford University Press, 2000.

EDWARDS, Karen. L. Cosmology. In: SCHWARTZ, Louis (org.). The Cambridge companion to Paradise Lost. Nova York: Cambridge University Press, 2014.

EDWARDS, Karen. Milton Quarterly. Wiley-Blackwell. May 2009, v. 43, n. 2, p. 100-106. Disponível em: < http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=aph&AN=39255472&lang=pt- br&site=ehost-live >. Acesso em 15 abr. 2015.

______. Milton Quarterly. Wiley-Blackwell. May 2009, v. 43, n. 2, p. 120-122. Disponível em: < http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=aph&AN=39255484&lang=pt-br&site=ehost- live >. Acesso em 15 abr. 2015.

FALLON, Stephen M. Milton as narrator in Paradise Lost. In: SCHWARTZ, Louis (Org.). The Cambridge Companion to Paradise Lost. Nova York: Cambridge University Press, 2014.

FERNANDES, Fabiano Seixas. Lógica luciferina: argumentação em Paradise Lost, de John Milton. Acta Scientiarum. Language and Culture, Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, julho-setembro, 2013.

FLETCHER, Robert Huntington. A history of English literature. Boston, EUA: The Gorham Press, 1919.

FORSTER, E. M. Aspects of the novel. Nova York: RosettaBooks LLC, 2010.

FORSYTH, Neil. Satan. In: SCHWARTZ, Louis (Org.). The Cambridge Companion to Paradise Lost. Nova York: Cambridge University Press, 2014.

GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. 9ª ed. São Paulo: Ática, 2006.

GRIFFIN, Dustin. Milton’s literary influence. In: DANIELSON, Dennis R. (Org.). The Cambridge companion to Milton. Grã-Bretanha: Cambridge University Press, 1997. p. 243-260.

HACHT, A. M.; HAYES, D. D. (ed.). Gale Contextual Encyclopedia of World Literature (vol. 3). Farmington Hills, MI (EUA): Gale, 2009.

HARPER, Douglas. Lucifer. In: Online Etymology Dictionary. Disponível em: < http://www.etymonline.com/index.php?term=Lucifer&allowed_in_frame=0 >, acessado em 25 de agosto de 2015.

______. Satan. In: Online Etymology Dictionary. Disponível em: < http://www.etymonline.com/index.php?term=Satan&allowed_in_frame=0 >, acessado em 25 de agosto de 2015.

HILL, Christopher. A Bíblia inglesa e as revoluções do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

______. A revolução inglesa de 1640. Tradução de Wanda Ramos. Lisboa: Presença, 1977.

HUDDLESTON, Rodney; PULLUM, Geoffrey K. A student’s introduction to English grammar. Reino Unido: Cambridge University Press, 2005.

KASTOR, Frank Sullivan. Lucifer, Satan, and the Devil: a genesis of apparent inconsistencies in Paradise Lost. 1963. 218 f. Tese (doutorado em Língua e literatura gerais) – University of California, Berkeley. pdf.

KILGOUR, Maggie. Classical Models. In: SCHWARTZ, Louis (Org.). The Cambridge Companion to Paradise Lost. Nova York: Cambridge University Press, 2014. epub.

KISSLING, Paul J. Genesis: vol. 1. Joplin, Missouri: College Press Publishing Company, 2004. LEWALSKI, Barbara Kiefer. The genres of Paradise Lost. In: DANIELSON, Dennis R. (ed.). The Cambridge companion to Milton. 2nd ed. Grã-Bretanha: Cambridge University Press, 1999. epub.

LEWIS, C. S. A preface to Paradise Lost. Estados Unidos: Oxford University Press, 1961.

LONG, William J. English literature: Its history and its significance for the life of the English speaking world. Boston: The Athenaeum Press, 1919.

MATHEWS, Justin Lee. Paradise Lost and the medieval tradition. 2008. 90 f. Dissertação (mestrado em Artes / literature inglesa) – Western Kentucky University. pdf.

MERQUIOR, José Guilherme. Formalismo e tradição moderna: o problema da arte na crise da cultura. 2ª ed. São Paulo: É Realizações, 2015.

MICALLEF, Jessica. Duality in Milton’s Tragic Hero-Villain in Paradise Lost. 2013. 59 f. Monografia (especialização em Artes / inglês) – University of Malta. pdf.

MILTON, John. Paradiso perduto. Edição bilíngue inglês/italiano. Milão: Arnoldo Mondadori Editore, 1984.

______. Paraíso perdido. Tradução de Antônio José Lima Leitão. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.

______. Paraíso perdido. Tradução de Daniel Jonas. 1ª ed. São Paulo: Editora 34, 2015.

MINER, Earl; MOECK, William; JABLONSKI, Steven. Paradise lost, 1668-1968: three centuries of commentary. Cranbury, NJ, EUA: Associated University Presses, 2010.

MISTLER, Thomas Christopher. The paradise within thee: the undying promise of transcendence in Paradise Lost. 2012. 43 f. Dissertação (mestrado em Artes / inglês) – Stony Brook University. pdf. MOISÉS, Massaud. A criação literária: prosa I. 7ª ed. São Paulo: Cultrix, 1999.

NICOLSON, Marjorie Hope. A reader’s guide to John Milton. 1st ed. Nova York: Syracuse University

Press, 1998.

NETO, Alípio Correia de Franca; MILTON, John. Literatura inglesa. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009.

OWEN, Thomas Clinton. The humorous despair: the melancholy of Satan in John Milton’s Paradise Lost. 1971. 95 f. Dissertação (mestrado em Artes / inglês) – Texas Tech University. pdf.

PACE, Roy Bennett. English literature. Norwood, EUA: Norwood Press, 1918.

PEARCE, Zachary. A review of the text of the twelve books of Milton’s Paradise Lost: in which the chief of Dr. Bentley’s emendations are consider’d; and several other emendations and observations are offer’d to the public. Londres: John Shuckburgh, 1733.

REISNER, Noam. John Milton’s Paradise Lost: a reading guide. Edinburgo: Edinburgh University Press, 2011.

ROMAG, Frei Dagoberto. Compêndio da história da Igreja: a Idade Moderna. Petrópolis: Vozes, 1941. SANDERS, Andrew. The short Oxford history of English literature. Nova York: Oxford University Press, 1994.

SHOULSON, Jeffrey. Milton’s Bible. In: SCHWARTZ, Louis (Org.). The Cambridge Companion to Paradise Lost. Nova York: Cambridge University Press, 2014.

SIEMENS, Katie. Milton’s Satan: a study of his origin and significance. 1953. 180 f. Dissertação (mestrado em Artes / inglês) – The University of British Columbia. pdf.

SOUZA, Roberto Acízelo Quelha de. História da literatura: trajetória, fundamentos, problemas. São Paulo: É Realizações, 2014.

STUTZ, Chad P. No “Sombre Satan”. Religion and the Arts, Boston, v. 9, n. 3, p. 208-234, 2005. TESKEY, Gordon. The poetry of John Milton. Londres: Harvard University Press, 2015.

THE FREE DICTIONARY. Companionate marriage. Disponível em: < http://www.thefreedictionary.com/companionate+marriage>, acessado em 10 de fevereiro de 2016. THE JOHN MILTON READING ROOM: Paradise Lost. Disponível em: < https://www.dartmouth.edu/~milton/reading_room/pl/intro/text.shtml >, acessado em 9 de outubro de 2015.

TULLOCH, John. English Puritanism and its leaders: Cromwell, Milton, Baxter, Bunyan. Edinburgo: William Blackwood and Sons, 1861.

WARREN, William Fairfield. The Universe as Pictured in Milton’s Paradise Lost. Nova York: The Abingdon Press, 1915.

WIEST, Kari Anne. Milton’s feminized Satan: a study of gender imbalance in Paradise Lost. 2014. 64 f. Dissertação (mestrado em Artes / inglês) – Grand Valley State University. pdf.

ZART, Paloma Catarina. O etos satânico: a oratória entrecortada de um rebelde renegado. 2011. 137 f. Dissertação (mestrado em Letras) – Universidade Federal de Santa Maria. pdf.

Documentos relacionados