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Com base nas hipóteses originalmente pensadas para este trabalho e no conjunto de saberes, atitudes e usos que os entrevistados demostraram com relação aos insetos, pode-se concluir que:

Os moradores de Pedra Branca e comunidades vizinhas possuem um relativo conhecimento sobre a entomofauna local, que inclui aspectos de taxonomia, biologia, hábitat, ecologia, abundância, sazonalidade, fenologia e comportamento de diferentes espécies locais, notadamente daquelas que são culturalmente importantes, como abelhas e vespas sociais, mangangás, formigas, cavalos-do-cão, cigarras, besouros etc.

Nem todos os moradores compartilham das mesmas opiniões no que se refere aos conhecimentos sobre os insetos. A variabilidade intracultural no conhecimento etnoentomológico, já esperada acontecer, foi devida a diferentes aspectos, tais como: o estresse de estar sendo questionado e/ou avaliado pelo pesquisador; o tempo e qualidade do contato com o inseto; interesse pelo animal; e tipo de informação cultural acerca do mesmo. Embora tenha havido diferenças nas respostas dos informantes, a etnoentomologia dos habitantes da região da Serra da Jibóia poderia resultar útil para os pesquisadores que realizam investigações sobre a diversidade entomofaunística local.

Os indivíduos percebem diferentes animais não-insetos como pertencentes ao domínio etnozoológico “inseto”. A formação da etnocategoria “inseto” pelos moradores de Pedra Branca corrobora a hipótese da ambivalência entomoprojetiva, ao tempo em que apóia a suposição de que o domínio etnozoológico “inseto” provavelmente ocorre como um padrão nos sistemas de classificação etnobiológicos. É necessário dar desenvolvimento a um estudo etnotaxonômico com o objetivo de esclarecer a semântica dos nomes populares e as características gerais do sistema de classificação local.

Os moradores de Pedra Branca costumam utilizar insetos como fontes de recursos medicinais, alimentares, lúdicos, estético-decorativos, mágico-ritualísticos, entre outros. Desse modo, os insetos participam efetivamente da vida sócio-cultural dos habitantes da região da Serra da Jibóia em diferentes contextos culturais. No que diz respeito ao uso de insetos como medicamentos, foi registrado um total de 27 etnoespécies que são recomendadas para o tratamento de várias enfermidades. Reconhecendo o valor farmacológico já demonstrado pelos artrópodes, é possível que compostos bioativos de fato estejam presentes nos corpos dos insetos citados pelos entrevistados. Valeria a pena, pois, conduzir estudos laboratoriais para testar a eficácia desses entomoterápicos. No mesmo sentido, talvez fosse possível incentivar o uso de insetos como fontes de alimento para o homem e como ração animal devido às taxas elevadas de proteínas, lipídeos, vitaminas e sais minerais que já foram cientificamente observadas.

Pelo menos duas etnoespécies de abelhas sem ferrão recebem processo de manejo e semidomesticação, uma vez que possuem importância cultural significativa. Jataís e uruçus são criadas artesanalmente em cortiços, sendo o mel o principal produto utilizado para fins diversos e, às vezes, comercializado.

Os moradores de Pedra Branca que exercem atividade agrícola geralmente combatem os insetos considerados pragas das culturas locais por meio da aplicação de agrotóxicos, sem se preocuparem com o meio ambiente e nem com a própria saúde.

Em que pesem as considerações acima, o conhecimento entomológico tradicional dos moradores da região da Serra da Jibóia traduz-se em um recurso valioso que deve ser considerado tanto nos processos de desenvolvimento da região, como na possível transformação da área em algum tipo de Unidade de Conservação, quanto em estudos de inventário da fauna local.

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