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7 INTEGRAÇÃO ENTRE O ENSINO DA MATEMÁTICA E EDUCAÇÃO

8.2 Conclusão

Educação Matemática que se torne formadora de hábitos, atitudes e comportamentos que levem a identificar os problemas e formular propostas para atuar no sentido de preservar o meio ambiente, bem como desenvolver e aprofundar os conteúdos de Matemática de forma compreensiva, crítica e formadora da cidadania.

Não se compactua aqui com a idéia de que a Matemática é uma área do conhecimento pronta, perfeita e que serve apenas como ferramenta para o desenvolvimento de outras ciências. Diferentemente, acredita-se que o conhecimento matemático é resultado de uma construção sistemática em que o aluno interage com o meio, transformando suas ações e relações. Considerando, os relatos dos docentes, sujeitos da entrevista apresentada nesta pesquisa, percebe-se que estas profissionais esforçam-se para promover esta interação, procurando romper com a metodologia tradicional do ensino de Matemática. Tropeçam muitas vezes, porém, na falta de preparo e defasagem em sua formação acadêmica. Por isso, em suas práticas docentes, a Educação Matemática é um objetivo perseguido e nem sempre alcançado.

Por meio da análise produzida, verificou-se que os documentos que deveria conduzir a educação brasileira a um novo paradigma, os PCNs, estão sendo utilizados como instrumento para legitimar uma proposta do Governo Federal que consiste em reduzir os gastos com “programas educacionais” por meio do combate ao desperdício dos recursos naturais. A Educação Matemática proposta nos PCNs, por sua vez, é de natureza comportamental, ou seja, limita-se a mudanças de hábitos e atitudes, enfatizando as vantagens econômicas de se combater o desperdício. Os problemas são abordados sem que se tenha perspectiva de questionamento do que de fato os causa. O ensino transmite o feito e impõe os valores dominantes, que não dominam por sua validade, mas pelo poder dos interesses que, simultaneamente, ocultam e manifestam.

Por outro lado, existem temas cujo estudo exige uma abordagem particularmente ampla e diversificada, que foram denominados pelos PCNs “temas transversais” e que tratam de processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu cotidiano. Esses temas são discutidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo quanto na atuação pessoal.

Essas são questões urgentes que conduzem à interrogação sobre a vida humana e a realidade construída pela humanidade no curso de sua história, questões que, justamente

exigem, portanto, que o processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos relativos a essas duas dimensões as contemple. Esses temas envolvem um aprender sobre a realidade e a partir dela, destinando-se também a um intervir para transformá-la. Na verdade, os temas transversais prestam-se de modo muito especial para levar à prática a concepção de formação integral do ser humano.

Os fundamentos dos PCNs – Temas Transversais – Meio Ambiente, aliados aos PCNs – Matemática e às proposições da Etnomatemática e da Educação Ambiental, são, indubitavelmente, fortes motivadores de uma discussão urgente e necessária sobre experiências desse tipo, mas principalmente de uma construção coletiva que envolva as instituições de ensino e a comunidade acerca da vinculação intrínseca entre conhecimento e comportamento, com vistas a uma visão planetária de um mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado. Acredita-se que se esteja caminhando para isso. Um exemplo disso é dado por 50% (cinqüenta por cento) das professoras entrevistadas, que embora tenham uma concepção de Educação Ambiental tradicional e simplista, tentam superar-se, aproximando-se em sua docência de uma proposta de trabalho mais integradora, capaz de contribuir para a transformação de seus alunos em cidadãos críticos, éticos e responsáveis diante das questões ambientais.

Além disso, as diversas tendências presentes nas propostas curriculares brasileiras apontam para um intenso debate. As reformas curriculares em curso nas escolas de Ensino Fundamental e Médio refletem-se e derivam de uma nova visão interdisciplinar do conhecimento, dos diferentes progressos ocorridos nos campos científico e tecnológico e da discussão que tem dominado o cenário pós-moderno sobre a inclusão da ética, do respeito ao meio ambiente, da cidadania, do multiculturalismo, da estética, da saúde e da sexualidade e, principalmente, dos direitos humanos. Nessa perspectiva, procura-se tecer os possíveis pontos de convergência entre as várias áreas e a relação epistemológica entre as disciplinas, com o intuito de modificar o processo-ensino pedagógico.

A interdisciplinaridade, já presente na práxis de alguns educadores, conforme visto na análise dos relatos das entrevistadas permite questionar a fragmentação dos diferentes campos de conhecimento. Com ela, adquirem-se mais conhecimentos quanto aos fenômenos naturais e sociais, que são normalmente complexos e irredutíveis ao conhecimento obtido quando são estudados por meio de uma única disciplina. As interconexões que acontecem nas disciplinas facilitam a compreensão dos conteúdos de uma forma integrada, aprimorando o conhecimento do educando.

A contextualização desenvolve um pensamento que situa todo acontecimento, informação ou conhecimento em relação de inseparabilidade com seu meio ambiente - social, cultural, econômico, político e natural - e incita a perceber como esse o modifica ou o explica de outra maneira, tornando-se um pensamento complexo.

Sendo assim, passa a ser primordial entender a complexidade da relação homem- natureza na realidade local. Essa compreensão na escola, por meio da formação de professores e dos alunos, é que poderá fazer a diferença na formação de indivíduos críticos, participativos, prontos a enfrentar os problemas ambientais e uma possível crise dos recursos naturais disponíveis, dentre eles a água.

Diante dos resultados obtidos por essa pesquisa, pode-se afirmar que a Gestão do Conhecimento poderá contribuir efetivamente para uma prática moderna de gerenciamento, ultrapassando o campo teórico e tratando a relação entre as instituições de ensino e seus alunos, professores, pesquisadores e a sociedade, valorizando os conhecimentos tácitos e explícitos alcançados pelos componentes de cada um desses segmentos sociais.

Apoiando-se na Gestão do Conhecimento, em relação ao plano de ações pedagógicas quanto aos conteúdos matemáticos, detectou-se que os textos ou as obras apresentados (as) em sala de aula devem ser trabalhados (as) da forma mais variada possível para possibilitar a abordagem de diferentes questões sócio-ambientais, assim como o desenvolvimento dos conteúdos interdisciplinares. Com essa diversidade de tópicos que caracteriza a atualidade, tanto aqueles relativos ao contexto local dos alunos quanto à realidade nacional e mundial, pode-se desenvolver um trabalho que promova a compreensão dos problemas sócio-ambientais em suas múltiplas dimensões: geográfica, histórica, biológica e social, considerando-se o meio ambiente como o conjunto das inter-relações entre o mundo natural e o mundo social, mediado por saberes locais e tradicionais, além dos saberes científicos. Há que se explorar também o entorno da escola ou a própria escola, o bairro ou a cidade, levando o aluno a perceber que a educação não está restrita aos bancos escolares. O relato do projeto desenvolvido com alunos da 1ª séria do Ensino Médio por esta pesquisadora, numa escola estadual de Santa Catarina, com uma visita a Barragem de São Bento, é um exemplo da viabilidade de inter-relacionar disciplinas, aparentemente, tão díspares quanto Educação matemática

como uma torneira vazando na escola, para a reflexão além dos muros da escola. Pode- se afirmar, por fim, a pertinência da utilização da interdisciplinaridade para analisar os estudos desenvolvidos em Educação Matemática e Educação Ambiental, pela importância em um contexto histórico social e sua característica principal de superação das perspectivas racionalistas e empiristas, atribuindo ao sujeito o papel ativo que introduz ao conhecimento uma visão de realidade social nele transmitida. Além do mais, considerar tais aspectos no processo educativo não é só importante como urgente e necessário.