• Nenhum resultado encontrado

CONCLUSÃO

No documento O CADÁVER COMO SIGNO (páginas 105-128)

Em quase três anos de estudos sobre cadáveres, na instância de signo e de metáfora, eu tive oportunidades de refletir sobre diversos paradigmas ligados à demanda cultural, pessoal, antropológica e psicanalítica. O cadáver se tornou um grande enigma a ponto de ganhar grande parte da minha atenção, curiosidade e interesse em desvendar este signo tão presente e (anti) social que culmina todas as culturas ocidentais do mundo.

Mais que um símbolo da morte, o cadáver se tornou um objeto: obsceno, desrespeitoso, pavoroso! Sua interdição, dentro da tradição ocidental, não é um mero acaso na condição de finitude do homem e espaço. Essas questões me locomoveram a buscar respostas elucidativas e situações às quais pudesse validar a minha teoria, a de que o cadáver carrega em si, sinais que são religiosamente proibidas dentro da origem da cultura judaico-cristã.

Mas o que de tão apavorante poderá ter corpos sem vida, retornando ao processo inanimado e inorgânico? Seria a própria sexualidade humana na sua total decadência e usufruto? Muito mais que isso o cadáver expõe de forma autônoma e própria situações que lhe são inatas e que não estão dentro de nenhum parâmetro de lei, isto é, o cadáver não obedece às etiquetas sociais e tem o poder de romper com a realidade social, e despertar o recalque, provocar o caos da angústia, pelo fato de servir como um significante da morte, da própria finitude humana e do sentimento de autopiedade.

Sua liberdade e total amoralidade rompem com todas as representações míticas; nos processos químicos e fisiológicos da decomposição do cadáver ele condensa a realização de todas as formas de prazeres possíveis a partir do seu próprio corpo. O cadáver goza, no sentido metafórico aos olhos do outro! Não seria necessário um estudo técnico avançado para perceber que a face de um recém morto é muito próxima à fisionomia de quem tem um orgasmo sexual. O cadáver está dotado de toda premissa humana e se comporta como um organismo que atende a todas as demandas do mais-gozar! Algo que o sujeito tem total interdição, pela premissa cultural.

Se pensarmos nos maiores conceitos da condição humana, prescritas no plano imaginário (com interdição simbólica) como o incesto, a pansexualidade, a questão homoérotica, a pulsão de morte, e o rompimento legal e estrutural e todas as funções fisiológicas, orgânicas e físicas, como a overdose, a hipoxifilia (masturbação seguida de asfixia), o enforcamento, algumas práticas de suicídio, a anorexia, até mesmo a parada cardíaca, não iremos demorar muito para imaginar todos esses processos em constante avanço através da engrenagem cadavérica. Onde o esgotamento físico do organismo é sentido individualmente por todas as células, prontas a efetuarem o desligamento biológico e se entregarem pela energia pulsional. Esta aí a grande aproximação dos efeitos do craque no organismo ! Todas as células em alta concentração de energia e a consumação de todo seu potencial orgânico.

Este signo , o cadáver, carrega o sentido enigmático da vida, é como se ele tivesse dentro de si conhecimento e respostas, e sua condição existencial fosse capaz do desfrute de todos os rumos, maravilhas, perversões reservados a todos no beco do além.

Ele adentra o mundo dos vivos e dos mortos, com máxima naturalidade, tem passagem garantida pela alfândega do imaginário humano e ronda de forma chistosa e tentadora a vida patética e cega dos vivos, que carregam o sofrimento da angústia e de toda hipocrisia que as limitações simbólicas lhes determinam. Algumas religiões até colocam o cadáver como um grande inimigo na ordem dos que estão vivos, exatamente pela impossibilidade de deter o controle simbólico da condição de uma matéria que se decompõe a passos largos e contamina o meio ambiente do mais fétido odor e da imagem mais horripilante da condição humana que é a desintegração do seu semelhante.

O cadáver usurpa a vida, o sistema nervoso, linfático, circulatório. Ele contrai momentaneamente seus esfíncteres, até perder toda sua força! Cadáveres masculinos têm ereções, antes mesmo de derramar esperma sobre a uretra, os cadáveres femininos apresentam a contração muscular na região vaginal e uterina. E quaisquer formas autônomas de produção fisiológica todos, sem exceção, ganham rigidez física e soltam gases de alívio, pela fermentação química! Depois relaxam, voltando a amolecer a matéria para se preparem à autodestruição. Cadáveres são objetos literalmente comidos e devorados, por outros seres vivos, nota-se que tais palavras são muito recorrentes do ato de relações eróticas e no desejo humano em se autodestruir!

O prazer está condicionado à perda da respiração momentânea?

Quando perdemos a respiração em vida, por frações de segundos, normalmente estamos em vivência e grandes emoções que nos destinam. São sensações sublimes, capaz de se conectar aos afetos, e ao erotismo, por pura descarga de adrenalina.

O ar, ao retomar aos pulmões, recobra a consciência e toda sensação se torna um verdadeiro simulacro do gozar-mais, que se torna ajustado pela regulação do sistema Pcs-Cst, onde uma grande carga de repressão é regulada, aí voltamos a retomar nossa condição ordenada e suprimida ao respeito, e às nossas delimitações na condição de ser.

Sendo assim o cadáver rompe com seus laços simbólicos e desafia a todos; seu significante metafórico possui cargas de alta dosagem capaz de fazer que os recalques interditados seja libertos; em regime de profanação! A constante busca em simbolizar o seu cadáver, ou seja a perda do seu ente, está muito ligada à cultura regional, como no caso da fotografia mortuária de João Pessoa, e pela massificação cultural que nos chega através das artes; Cinema, Televisão, Internet e Literatura, principalmente. Hoje o cadáver ainda é um grande mistério, seu papel dentro das ciências ainda é pequeno, mas a gama de interesse cresce gradativamente na mesma proporção que o homem começa a interagir melhor com a questão da sua própria morte e vê o cadáver separado do sujeito. Acredito que a dessacralização do cadáver, a priori instaurado na Idade Média, ainda esteja em plena ascensão. A libertação do cadáver como matéria de estudos e testes tem muito para nos dizer! Afinal não é a toa que o imaginário o considera portador dos segredos que tangem a vida e a morte.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARIÈS, Philippe. O Homem Diante da Morte, Vol I 2ª edição. Mem Martins:Europa- América, 2000. (Publicação Portuguesa)

_____________. O Homem Diante da Morte, Vol II. Mem Martins:Europa-América, s/d (Publicação Portuguesa)

____________. História da Morte no Ocidente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

ALMEIDA JR, Antônio Ferreira de.;COSTA JR, J.B. de Oliveira. Lições de Medicina

Legal. 19ª edição. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1987.

AGOSTINHO, Santo. O Cuidado Devido aos Mortos, 2ª edição. São Paulo: Paulus, 1990.

ARCHER, Luís; BISCAIA, Jorge; OSSVALD, Walger (org). Bioética, Lisboa –PT : Editorial Verbo, 1996. (Publicação Portuguesa)

BAUDRILLARD, Jean. A Troca Simbólica e a Morte. São Paulo: Loyola, 1996.

BRAUNSTEIN, Néstor. Gozo. São Paulo: Escuta, 2007.

BECKER, Ernest. A Negação da Morte, Uma Abordagem Psicológica sobre a

Finitude Humana, 3ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2007.

CLARK, William R. Sexo e as Origens da Morte, Como a Ciência Explica o

CHEVALIER, Jean. GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos, 23ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1982.

CORBIN, Alain.;COURTINE, Jean-Jacques.;Vigarello, Georges. História do Corpo: Da

renascença às Luzes,Vol I. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

ECO, Umberto. História da feiúra. Rio de Janeiro: Record, 2007.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 7ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

FREUD, Sigmund. Artigos sobre Metapsicologia. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente, 21ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1994

_______________________. Introdução à Metapsicologia Freudiana, volume III, 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.

GIACOIA, Oswaldo Jr. Além do Princípio do Prazer, um dualismo incontrolável. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais – Morfologia e História. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

_______________. O Queijo e os Vermes, o Cotidiano e as Idéias de um Moleiro

Perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007.

KÜBLER-ROSS, Elisabeth. A Roda da Vida, Memórias do Viver e do Morrer, 7ª edição. Rio de Janeiro: Sextante, 1998.

______________________. Sobre a Morte e o Morrer. São Paulo: Martins Fontes , 2005.

LAPLANCHE E PONTALIS. Vocabulário da Psicanálise, 4ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

LAPLANCHE, Jacques. Vida e Morte em Psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

MARANHÃO. José Luiz de Souza. O que é Morte? São Paulo: Brasiliense, 1998. (Coleção Primeiros Passos 150)

MITFORD, Jessica. The American of Way of Death revisited. New York: Vintage, 2000.

NASIO, Juan David. 5 Lições sobre a Teoria de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.

________________. Lições sobre os 7 conceitos Cruciais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.

NAZÁRIO, Luiz. O medo no Cinema. São Paulo: Colégio Bandeirantes, 1986.

OLIVEIRA, Reinaldo Ayer de (Org.). Cuidados Paliativos, São Paulo: Cremesp, 2008.

QUINODOZ, Jean-Michel. Ler Freud. Porto Alegre: Artmed, 2007.

ROACH, Mary. Stiff, The Curious Live of Human Cadavers. New York: Norton, 2003.

ROSSET, Clément. O Real e seu Duplo, Ensaio sobre a Ilusão, 2ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1985.

________________. Anti Natureza, Elementos para uma Filosofia Trágica. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989.

SANTAELLA, Lucia. A Teoria Geral dos Signos, Como as Linguagens Significam as

Coisas. São Paulo: Pioneira, 2000.

________________. O que é Semiótica ? São Paulo: brasiliense, 1983. (Coleção Primeiros Passos 103)

_________________. Corpo e Comunicação, Sintoma da Cultura. São Paulo: Paulus, 2004.

THOMAS, Luis-Vincent. El Cadáver. D.F/ México: Fondo de Cultura Econômica, 1989.

FILMOGRAFIA

A FONTE da donzela (Jungfrukällan). Direção: Ingmar Bergman. Intérpretes: Max Von

Sydow, birgitta Valberg, Gunnel Lindblom, Birgitta Pettersson, Axel Düberg e Tor Isedal. Roteiro: Ingmar Bergman. Suécia: Versátil Home Vídeo, 1959. 1 vídeo-disco (90 min): NTSC: son, p/b.

DE TIM BURTON, a Noiva Cadáver (Corpse Bride). Direção: Tim Burton e Mike

Johnson. Intérpretes: Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Emily Watson, Tracey Ullman, Danny Elfman, Lisa Kay, Enn Reitel, Paul Whitehouse, Head Waiter, Stephen Ballantyne, Michael Gough. Roteiro: Allison Abbate e Tim Burton. Estados Unidos / Inglaterra: Warner Home Vídeo, 2005. 1 vídeo-disco (77 min): NTSC:son., color.

FRANKENSTEIN. (Frankenstein). Direção: James Whale. Intérpretes: Boris Karloff,

Colin Clive. Roteiro: James Whale. Estados Unidos: Universal Home Vídeo, 193. 1 vídeo-disco (75 min): NTSC: son, p/b.

GLAUBER, o filme. O Labirinto do Brasil. Direção: Sílvio Tendler. Intérprete: Glauber

Rocha. Roteiro: Sílvio Tendler. Estados Unidos: Paris Filmes, 2003. 1 vídeo-disco (75 min): NTSC: son, col e p/b.

ROMPENDO o Silêncio (Broken Silence). Direção: Luis Puenzo, Pavel Chukhrai,

Andrezej Wajda, Voitech Jasny, János Szász. Intérpretes: não informado. Roteiro: Luis Puenzo, Pavel Chukhrai, Andrezej Wajda, Voitech Jasny, János Szász. Estados Unidos: Universal Home Vídeo, 1995. 2 vídeos-disco (230 min) NTSC: son, col e p/b.

O TERCEIRO Tiro (The Trouble With Harry). Direção: Alfred Hithcock. Intérpretes:

Edmund Gwenn, John Forsythe, Shirley MacLaine, Mildred Natwick, Mildred Dunnock, Jerry Mathers, Royal Dano, Parker Fennelly. Roteiro: não informado. Estados Unidos: Universal Home Vídeo, 1955. 1 vídeo-disco (99 min) NTSC: son, col.

APÊNDICE – Material de Julho de 2007.

“MEATBLINK - JEANS”: Comunicação Comparada: Supermercado dos Horrores51

Há alguns meses atrás eu estava folhando algumas revistas internacionais de comportamento e moda (Vogue Itália, ID, Dazed and Confused) quando eu me deparei com um anúncio não convencional, impactante e com forte apelação imagética.

Aparentemente o anúncio não detinha nenhum tipo de mensagem verbal, exceto pelo fato da campanha estar assinada como Meatblink Jeans, e seu respectivo endereço comercial dentro da localidade denominada de Benelux52, o que demonstrava se tratar de um grife casual basics de roupas. Eu fiquei muito intrigado com sua significação, e, pelas construções de imagem contidas ali, exatamente porque o segmento destas publicações é direcionado a um público intermediário, isto é, intelectuais, ligados às áreas de criação, comunicação, arte, moda, música, televisão, etc, além de estudantes.

Com o conhecimento de semiótica adquirida na graduação, resolvi guardar a peça para uma futura análise de decomposição de conteúdo e interpretação, mesmo sabendo que eu deveria percorrer um grande caminho para conseguir desvendar tantos processos signícos de comunicação. O único texto da campanha era bem explícito ao seu contexto ‘Meat’, isto é, carne em português, uma mensagem completamente fiel à imagem. Mas profundamente misteriosa com uma grande lacuna discursiva, a carne no contexto não era simplesmente uma carne bovina e mercadológica em si, trata-se da carne humana, uma coqueluche exótica e tridimensional levada às prateleiras do supermercado.

Hoje com envolvimento de estruturas psicanalíticas, retornei na busca da decifração, exatamente por saber direcionar o discurso a uma ciência psico-humana. Apesar da semiótica oferecer diversos caminhos e formas de significação de textos, palavras, ícones e imagens, do que valeria apenas decifrar estes enigmas de uma produção cultural, sem localizar de fato a tridimensionalidade deste sujeito discursivo.

51 Projeto apresentado em agosto de 2007 ao COGEAE, como pré-projeto de análise de especialização.

das culturas humanas, na comunicação social e de fato no sintoma cultural.

Reflexões Sobre a Peça Publicitária

Esta construção traz referências mundiais do comportamento humano, social e mercadológico. É como se demonstrasse uma soma estereotipada e exarcebada das substâncias da psique humana, em movimento, usando de imagens aparentemente ilógicas e irracionais. Numa liga formidável, com um esplendido choque de sensações desagradáveis.

A produção da peça publicitária está climatizada num ambiente a remeter um supermercado hiper-segmentado. Os produtos expostos estão individualmente separados, embalados e identificados por tipo, parte, sexo, isto demonstra praticidade e facilidade na quantidade das porções humanas, para o seu consumo imediato. A campanha sugere que o leitor identifique-se como o próprio consumidor, e use o critério da escolha como normalmente fazemos na escolhas de peças de carnes.

A pele humana como maior órgão do corpo humano protagoniza a narrativa do texto, compondo um cenário um tanto exótico por remeter a morte daqueles que se foram, como também seus respectivos fatores sexuais. Nota-se a cor da pele do seu rosa saudável, ao vermelho degustativo, referência demonstrativa de carnes vermelhas para o consumo.

Contato Exterior: no Cinema

Dentre as produções artísticas atuais eu selecionei algumas que podem ser utilizadas através de comunicação comparada, e que pode nos ajudar e compreender o momento situacional tanto da campanha Meatblink Jeans, como o seu discurso em voga.

No remake do filme “Massacre da Serra Elétrica” de 2003, o diretor Marcus Nispel deixa bastante clara a idéia do Corpo Desmembrado e a psicopatologia do personagem Thomas, mais conhecido por Leatherface, ao usar de uma serra elétrica para despedaçar o corpo de turistas e estranhos, não pertencentes ao seu tóten.

É notável, no longa-metragem a utilização de pele humana na constituição do sujeito, na busca desenfreada por roubar peles faciais, uma vez que o personagem não se constitui como “Eu”, em sua própria percepção e contato com o externo, sobredeterminada nas primeiras semanas de vida, segundo o texto “Estágio do Espelho”, Lacan.

Cena do filme: “Massacre da Serra Elétrica”, aonde policiais brincam o rosto do Leatherface.

A violência contra o corpo humano e sua respectiva separação, mutilação, o que descaracteriza o corpo como um ente, pode ser observada em outro filme: “Albergue”, o gozo reside na possibilidade de pagar, para a destruir um ser estrangeiro de forma à la carte, isto é, através do utensílio ou da forma que o cliente escolher.

Neste outro filme é uma pulsão sádica que rege a construção da narrativa, expondo e demonstrando os sentimentos mais compulsivos do homem na destruição do Outro, apenas para assegurar sua autopreservação narcísica.

Pôster de divulgação do filme Albergue

Em ambas produções cinematográficas o consumo do entreterimento foi altamente correspondido pela massa de consumidores. No quadro técnico podemos ressaltar a grande evolução da produção artística e em sua completude verossímil ao trazer nas telas imagens que correspondem exatamente ao corpo humano e a sua autodestruição gradativa, tanto do ponto de vista anatômico, quanto cadavérico.

Transparência do Really Show

Os pedaços humanos estão disponibilizados através do filme plástico, transparecendo todas as qualidades da carne, favorecendo suas características fisiológicas ao respectivo consumo. Engessado ao plástico podemos tanto observar, como sermos observados pelas peças de carne.

Com a explosão do really show o dimensionamento do observador direto e indiscreto, ganhou uma gama enorme em justaposição com o fetichismo e a metáfora. O voyeur assumiu seu papel mais devastador dentro da cultura e da sociedade promovendo diversos lay out´s de superexposição do corpo, e da comunicação e da cultura.

Dos vídeos de sexo-explícito, escorregados na imprensa marrom aos vídeos pré e pós-fabricados, com meras funções: de propagar e midializar o corpo, em situações tanto sensuais como mortais. Com as particularidades humanas expostas e televisivas, somos convidados a lidar com as idéias prescritas por Freud sobre a Pulsão de Morte e a Pulsão de Vida, que rege o corpo humano em sua plena latência. São monitorações feitas por arsenais tecnológicos, com funções científicas, registrados às exposições públicas e midiáticas, bem como para o consumo sexual fetichista.

Em meados de 2002, a polêmica do site Necrocam, despertou curiosidade e muita repercussão na exposição de um registro em formato de Internet. Uma webcam, estrategicamente sobre a parte interna do esquife, gravou a decomposição completa de um corpo humano, desde o sepultamento à condição esquelética, tudo arraigado por contos de um grupo de amigos, inconformados com a perda.

Outras decorrências têm à explosão de vídeos caseiros, pela Internet, sobre tragédias, assassinatos, mutilações, torturas, que são de grande audiência e retratam sempre o corpo em processos de desmembramentos. São anexos de grande veiculação por contas de e-mail, como em portais altamente direcionados.

As produções culturais de Andy Warhol foram substituídas por imagens do foto- jornalismo após grandes tragédias e atentados mundiais.

Após o atentado de 11 de setembro, nas torres gêmeas WTC, em NYC, o corpo humano deformado nunca se tornou tão presente na cultura, como antes. Sua aparição ganhou cenários naturais que remetem sempre a situação cosmopolita e atual do cotidiano, sobre explosões, escombros, entulhos e pó. Entre um atentando e outro, não importa o fuso horário, nossa atenção estará sempre direcionada os pontos de maior veiculação pública, como no atentado do trem de Madri, ao atentado de metrô em Londres.

Já por outro lado, temos algumas fatalidades expostas e totalmente fabricadas para o consumo da mídia. Vídeos de fundamentalistas islâmicos mostram sempre o corpo sendo mutilado, na mais alta manifestação de dor e sofrimento. Cenas que tratam pessoas como, um corpo sem sujeito, sem alma, muito antes do óbito.

Nem mesmo 20 dias da pior tragédia da aviação nacional, envolvendo um avião da TAM, seu problema de pouso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Somos bombardeados pelas imagens com as fotos da tragédia, assim sucessivamente, tragédia após tragédia. Não importa a companhia aérea, ou mesmo o meio de transporte, carro, moto ou avião.

O corpo humano se tornou definitivamente fracionado e condicionado a sobreviver ou “sobremorrer” no condicionamento de bonecos-manequins. Sempre remetendo a idéia de comércio e venda, dentro de um grande supermercado dos horrores.

Leatherfaces Saem do Cinema

Após um procedimento inédito em toda história da medicina um dos cirurgiões do hospital de Amiens, França, declarou: “ Nós passamos do imaginário ao possível, da ficção à realidade”, ele fazia parte da equipe responsável pelo primeiro transplante de rosto no mundo,em 2005.

Na busca da reconstrução do “Eu”, descaracterizada por uma fatalidade, a receptora do rosto, Isabelle Dinoire de 38 anos, que havia perdido o nariz, os lábios e parte do queixo tornou-se a primeira pessoa a ter um rosto híbrido no mundo.

O primeiro transplante da história da medicina

O segundo paciente em toda história foi um chinês, Li Guoxing de 30 anos, que teve seu rosto reconstituído após ter sido atacado por um urso, sofreu uma grande desfiguração. Sua cirurgia mais até mais complexa durou cerca de 14 horas, pois houve recebimento de bochecha, lábio superior, nariz, sobrancelha, apenas de um único doador.

O paciente examinando seu rosto após transplante de rosto

O desenvolvimento da medicina, na busca, e na reconstrução dos processos fisiológicos. Deram um grande salto no desenvolvimento da engenharia humana. A

No documento O CADÁVER COMO SIGNO (páginas 105-128)

Documentos relacionados