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No decorrer do presente estudo, constatou-se que a Constituição Federal de 1988 definiu e estruturou o modelo da seguridade social no Brasil, fixando políticas afirmativas envolvendo e responsabilizando tanto o Estado como a própria sociedade.

A seguridade social abrange as áreas da saúde, da assistência social e previdência, constituindo-se em uma ampla estrutura securitária social, objetivando a eficácia dos direitos fundamentais reconhecidos no artigo 3º da Constituição Federal.

A Constituição Federal, no ramo da previdência social, instituiu o Regime Geral de Previdência Social, de abrangência nacional, o qual engloba compulsoriamente todos aqueles que auferem renda decorrente do trabalho, bem como aqueles que facultativamente optam em aderir ao regime, desde que não se enquadrem como obrigatórios, excetuando-se apenas aqueles que contribuem aos regimes próprios.

O Regime Geral de Previdência Social tem como objetivo garantir aos segurados e, na falta deles, a seus dependentes, quando da ocorrência de um dos sinistros acobertados pelo sistema securitário, a substituição da renda auferida no momento anterior à contingência social.

Desta forma, para fazer jus às prestações previdenciárias, há a necessidade de preencher determinados requisitos legais, dentre os quais ser filiado ao Regime Geral de Previdência Social, manter a qualidade de segurado, bem como preencher outros requisitos como carência e a própria contingência geradora da prestação.

Todo esse aparato está alicerçado em princípios tributários e previdenciários, tendo em vista que é construído com base na sistemática de repartição e pautado em um pacto entre gerações. Ademais, seria impensável sustentar economicamente um sistema protetivo em que vige o princípio da solidariedade sem o estabelecimento de regras fortes que preservem a saúde econômica e a segurança do sistema.

Logo, considerando a necessidade de vinculação à previdência social para obtenção de cobertura, tem-se que o segurado manterá essa qualidade enquanto estiver vertendo contribuições ou em gozo de benefício, bem como nos prazos estabelecidos em lei, os quais poderão ser de até trinta e seis meses, lapso temporal este denominado de período de graça.

Além disso, a possibilidade de concessão de determinadas prestações não ocorre de imediato ao ingresso no sistema, tendo-se como requisito para algumas delas o transcurso do período de carência. Portanto, esse ínterim afigura-se indispensável para garantir a saúde

financeira da previdência social, obstruindo o intento de segurados adentrarem no sistema apenas para fruir prestações, o que afrontaria a premissa securitária de cobrir eventos futuros e incertos.

Por conseguinte, no terceiro capítulo, tratou-se acerca do benefício de auxílio- acidente, destacando sua natureza indenizatória, a qual ensejou as divergências apontadas nessa pesquisa. Nesse sentido, tem-se que os benefícios previdenciários substituem a renda do segurado quando eclodir uma das contingências abrangidas pela previdência social.

Diferente das demais prestações, o auxílio-acidente possui natureza indenizatória, complementar, constituindo-se em compensação pecuniária pela incapacidade parcial em razão da consolidação da sequela do acidente de qualquer natureza.

Logo, esta redução da capacidade laboral é diversa dos conceitos de incapacidade previstos para a concessão do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez. Assim, consolidadas as sequelas, o seu beneficiário pode, de forma concomitante a fruição do auxílio- acidente, retornar a auferir renda decorrente do trabalho ou contribuir como facultativo.

Destarte, suscitou-se, no quarto capítulo, a possibilidade do simples gozo de auxílio-acidente ser indicativo suficiente para a manutenção da qualidade de segurado, conforme preconizado no artigo 15, inciso I, da Lei 8.213/91.

Expôs-se que, em relação a esse questionamento, alguns especialistas na área entendem que o beneficiário do auxílio-acidente que vise a receber, futuramente, prestação diversa, deveria retornar a verter contribuições à previdência social na forma obrigatória ou facultativa.

Por outro lado, sob ótica diversa, outros defendem que como o legislador não excepcionou a aplicabilidade do dispositivo legal em comento ao beneficiário de auxílio- acidente, mesmo considerando sua expressa natureza indenizatória, não deve o intérprete da norma realizar interpretação restritiva.

De outra parte, divergem, ainda, os entendimentos acerca dos efeitos decorrentes da manutenção dessa qualidade de segurado quanto à possibilidade de computar o período em auxílio-acidente como carência e tempo de contribuição.

Assim, constatou-se que a legislação não menciona expressamente acerca dessa possibilidade no tocante ao auxílio-acidente, citando-se, por vezes, meramente o termo „benefício por incapacidade‟.

A jurisprudência, em parte, vem indicando que a abrangência da utilização da denominação „benefício por incapacidade‟ comporta o auxílio-acidente. Ademais, equiparam o segurado em gozo do benefício em comento àqueles que estão fruindo aposentadoria por

invalidez e auxílio-doença, eis que, na essência, todos visam acobertar o segurado em momentos em que resta caracterizada a incapacidade.

Sob outra perspectiva, há entendimento de que a natureza indenizatória do auxílio-acidente extrapolaria o conceito de benefício por incapacidade, tendo em vista que referida prestação não teria por escopo a substituição do trabalho do segurado como fonte de sustento.

Desta forma, o benefício em análise distinguir-se-ia de modo significativo em relação aos efeitos decorrentes de sua percepção, quando realizado um comparativo com os demais benefícios, tendo em vista que o segurado, na referida situação, não encontra óbice ao retorno de sua rotina laboral.

Ademais, apontou-se a distinção realizada no tocante a natureza do acidente que deu origem a sequela (acidente de trabalho ou acidente de qualquer natureza), uma vez que a lei somente exige a intercalação dos períodos de gozo do benefício com períodos de contribuição, para as finalidades já expostas, quando o benefício não decorrer de acidente de trabalho.

A análise dos princípios norteadores do tema em discussão, quanto às controvérsias acima apontadas, afigurou-se essencial ao deslinde do presente estudo, a fim de verificar se as teses suscitadas acarretariam em possível inobservância ou ofensa aos princípios da precedência do custeio, do equilíbrio econômico, da isonomia e da proteção.

Portanto, depreende-se do exposto que os argumentos apresentados por ambos os posicionamentos, acerca das questões estudadas, são plausíveis, bem como justificáveis, considerando-se todo o estudo realizado acerca da seguridade social e das características inerentes ao auxílio-acidente.

Por fim, compete ao legislador sanar as controvérsias suscitadas, em virtude da omissão da lei, estabelecendo uma visão equânime, a fim de concretizar os ideais preconizados pela previdência social, eis que o único impeditivo visualizado nas ponderações realizadas cinge-se a questão legal.

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