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5. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

5.1. Conclusões

A necessidade de integrar o TV-WPN no contexto profissional e de o tornar uma ferramenta ainda mais expedita levou ao desenvolvimento do programa EPAtoTV. A principal vantagem da aplicação do EPAtoTV, constatada ao longo deste documento, é a redução do fastidioso trabalho e do tempo de processamento que demoraria a tratar e a introduzir toda a informação de uma RAA real necessária para aplicação do TV-WPN, bem como, evitar possíveis erros humanos na transposição dos resultados dos modelos de simulação hidráulica para a folha de entrada de dados (pré-processamento) do TV-WPN. Porém este programa ainda apresenta como limitações: a necessidade de definir os prefixos utilizados na modelação das redes no pelo EPANET; e de inserir manualmente os reservatórios. O EPAtoTV foi testado com sucesso numa aplicação a um caso de estudo real, dado que os resultados obtidos foram confirmados como válidos.

Nesta fase, está já a ser preparado um primeiro desenvolvimento do programa EPAtoTV com a inclusão de um menu que permita registar informação adicional a retirar dos relatórios de simulação do EPANET, nomeadamente a relativa a parâmetros de qualidade da água e à do valor da pressão nos nós na rede. Esta opção foi tomada visando capacitar o EPAtoTV como pré-processador no sentido de o preparar para desejáveis evoluções da TVRAA, associada à incorporação de novos critérios de vulnerabilidade e de gestão do risco em redes hidráulicas.

Neste documento foram propostas algumas alterações aos fundamentos da TVRAA. O método alternativo proposto para quantificar percentualmente a perda de rede baseia-se na relação entre o caudal não distribuído e o caudal total, permitindo uma avaliação mais real das consequências dum cenário de dano quando comparado com a atual abordagem baseada exclusivamente nas perdas de carga. Esta proposta foca-se nos efeitos em termos de ausência de abastecimento de água aos consumidores devido à ocorrência dum evento de dano, ao contrário da atual mais centrada em questões funcionais decorrentes de impactos na variação de pressão nos nós da rede.

Todavia, no caso de redes emalhadas e face à sua redundância, o método agora proposto não é ainda totalmente satisfatório, como se referiu durante a sua apresentação e discussão deste contributo (cap. 3), pelo que se chegou mesmo a avançar com

possibilidade duma solução híbrida dos dois métodos nestes casos a ser consolidada em futuros desenvolvimentos da TVRAA. Na verdade, além de se tratar de um conceito muito importante, a diferença de abordagens traduz-se numa diferença muito significativa nos resultados obtidos para este parâmetro de vulnerabilidade, como se comprovou através dos cálculos efetuados que conduziram a valores seis vezes superiores.

A proposta concebida para a execução do processo de desaglutinação teve a finalidade de o tornar mais simples e muito mais rápido. Esta proposta não considera as sub-RAA formadas no processo de aglutinação geral como independentes e, assim, é possível realizar a desaglutinação diretamente a partir do modelo hierárquico geral. Em todos os testes realizados os resultados alcançados foram semelhantes e, como tal, considera-se esta, uma abordagem válida e correta, com a vantagem de reduzir substancialmente o tempo de cálculo, atualmente gasto a efetuar processos de aglutinação e a construir novos modelos hierárquicos para cada uma das sub-RAA formadas.

Nas simulações realizadas no EPANET foi possível apurar alguns problemas na RAA. Sendo uma zona maioritariamente rural e com baixa densidade habitacional, conduz a baixos consumos/caudais e, consequentemente, velocidades quase nulas face à adoção de um diâmetro mínimo regulamentar que induz um sobredimensionamento indesejado na maioria das condutas periféricas. Esse diâmetro é imposto devido à necessidade de garantir a segurança contra incêndios, uma vez que a zona em causa se insere na categoria de risco 1. A elevada extensão da tubagem desde o reservatório ao ponto de entrega mais longínquo, associada às baixas velocidades verificadas em muitas das condutas nas extremidades da rede conduzem a tempos de residência da água na tubagem demasiados elevados. Este facto pode originar a diminuição da qualidade da água distribuída, até por incremento da redução do cloro residual ao longo do percurso, e favorece o desenvolvimento de biofilmes de microrganismos cloro-resistentes nas paredes das tubagens. Segundo informações recentes, a entidade gestora do sistema (AGERE) adotou medidas para mitigar esta situação, que passaram por adicionar um reservatório intermédio de modo a reduzir os tempos de percurso. Mesmo assim, face aos resultados obtidos, recomenda-se, como medida preventiva, a monitorização periódica da qualidade da água nos pontos mais críticos da rede, nomeadamente os mais extremos da zona norte da RAA (nós 177, 185, 231, 268 e 280).

Com o intuito de detetar os problemas verificados na aplicação do TV-WPN ao caso de estudo, foi realizado um estudo independente a duas zonas distintas da mesma RAA, uma exclusivamente ramificada e outra mista. Realizou-se a aplicação do TVRAA manualmente e por intermédio do TV-WPN e foram comparados os diversos processos. Detetaram-se falhas no TV-WPN, nomeadamente no cálculo dos parâmetros de vulnerabilidade para as duas redes e no processo de desaglutinação apenas para a rede mista. Foi realizado um estudo intensivo sobre as suas possíveis causas, tendo-se chegado às seguintes conclusões:

 Parâmetros de vulnerabilidade – a falha tem origem no cálculo da perda de rede, mas tem influência nos resultados dos parâmetros de vulnerabilidade. As disparidades verificadas são devidas a um ligeiro erro no código do programa, que é de fácil correção. O numerador da perda de rede é calculado em função da perda de carga na sub-RAA em análise, em vez da RAA como um todo.

 Processo de aglutinação – segundo foi possível apurar, as falhas verificadas advêm de problemas na consideração dos reservatórios fictícios nas sub-RAA formadas no processo de aglutinação. Esta situação leva a definição de cenários incompletos pois não causam a inoperacionalidade total da rede. Foi ainda detetado um caso em que um critério de desaglutinação foi incorretamente aplicado.

Apesar de se ter realizado este estudo mais aprofundado, não foi possível encontrar as causas para a não conclusão da simulação no caso de estudo da RAA a Este S. Mamede. Contudo, a questão associada à complexidade/extensão não parece ser a causa mais plausível, mas sim a presença de condutas com velocidades de escoamento muito baixas (porventura entendidas como nulas pelo programa) numa parte substancial da rede, dado que, após a alteração desta situação nas sub-redes (ramificada e mista), a aplicação do TV-WPN foi concluída com sucesso. A representação dos cenários de dano e dos parâmetros de vulnerabilidade no TV-WPN é realizada de forma conveniente e satisfatória sendo um precioso e inquestionável contributo para a disseminação da aplicação TVRAA a casos reais. Todavia, entende-se que o ambiente gráfico do TV-WPN não é ainda suficientemente amigável para o utilizador comum, a apresentação dos resultados é por vezes confusa e a sua interpretação torna-se complexa, principalmente na análise aos modelos hierárquicos das RAA. No processo de aglutinação, além de estarem explícitos os critérios utilizados, deveria ser apresentada uma tabela-resumo de todo

processo para uma análise mais sumária desse processo. O processo de desaglutinação também devia ser exibido de um modo mais claro, pois também neste caso não mencionados os critérios utilizados em cada um dos passos.

Em suma, a TVRAA tem um claro potencial para se tornar num importante instrumento de gestão de RAA, especialmente se integrado em sistemas de suporte à decisão. A possibilidade de prever e detetar, no ciclo de vida das RAA, as zonas mais vulneráveis e suscetíveis a diferentes cenários de dano, tornam-na uma ferramenta de inegável interesse e aplicabilidade no dimensionamento, construção, controlo operacional e reabilitação das RAA, constituindo uma mais-valia a explorar por projetistas e entidades gestoras destas infraestruturas.

Contudo necessita ainda de ser mais desenvolvida em alguns aspetos e devidamente testada em mais situações reais, de modo a poder atingir um patamar de confiabilidade que promova a adesão crescente de novos utilizadores. O TV-WPN, agora complementado com a interface informática (EPAtoTV) aqui desenvolvida, é um instrumento essencial para difundir e incentivar a aplicação da TVRAA. Sem ele torna-se praticamente inviável a aplicação da teoria, devido aos mecanismos iterativos que esta implica para a sua execução. No entanto, também este programa carece de novos desenvolvimentos de modo a solucionar os problemas evidenciados ao longo deste documento.

Por último pode afirmar-se que todos os objetivos definidos para este trabalho no capítulo introdutório foram alcançados com sucesso. Deu-se o contributo possível para desenvolvimento da TVRAA e de aplicação do TV-WPN à gestão sustentável de RAA reais, com a expectativa de que novos trabalhos neste âmbito surjam para concretizar as enormes potencialidades desta metodologia emergente, nomeadamente em termos de avaliação do risco, no que se refere à distribuição de uma água segura para consumo humano, visando a salvaguarda da saúde pública.