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CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1 Conclusões

O presente estudo analisou a experiência do Curso Normal Superior Telepresencial com habilitação para as séries iniciais do ensino fundamental, desenvolvido no Estado do Tocantins, quanto à sua caracterização e aos resultados alcançados em termos de aceitação dos egressos pelo mercado de trabalho. No que tange ao perfil da clientela, descrito nas páginas 61 a 70, pode-se dizer que a maioria dos telealunos, além de já atuarem no magistério, são constituídos pelo gênero feminino. Dedicam pouco tempo para estudo, em média, no máximo 4 horas semanais. Em termos de análise de gênero, o aspecto mais significativo se refere aos motivos de ingresso no curso. Telealunos do gênero feminino, com raras exceções, buscam o curso para o ingresso no magistério, enquanto que aqueles do gênero masculino o fazem por outros motivos não relacionados com o magistério, como a aquisição de um diploma de nível superior ou a falta de uma melhor opção.

O curso consegue ser um importante instrumento de democratização das oportunidades de acesso ao ensino superior, pois embora a maioria dos telealunos resida na cidade onde está instalada a telessala, um terço dos entrevistados viaja até 200km para assistir a teleaula. Por isso, o problema da distância se mostra de forma mais acentuada para alguns, uma vez que esse aspecto se torna motivo de dificuldade para participação nas aulas.

A estrutura curricular adotada no curso está em consonância com as principais determinações legais, tanto em termos de carga horária, quanto das dimensões dos componentes curriculares obrigatórios. A comparação com a

estrutura curricular de um outro curso Normal Superior presencial não apresentou significativas diferenças, ao contrário, mostrou que o curso telepresencial além de atender ao que determina a lei, excede quase um semestre letivo de carga horária, em comparação ao presencial que, embora oferecido presencialmente, não cumpre com a carga horária mínima exigida em lei.

O modelo de avaliação adotado no curso adota diferentes instrumentos, mas a abrangência do processo avaliativo como um todo é insuficiente para atender os critérios de qualidades indicados pelo MEC. Porém, é preciso registrar que a efetividade da avaliação, tanto em termos de ensino- aprendizagem, quanto do curso de modo geral, é difícil de ser alcançada num curso dessa magnitude e de implantação inédita no Brasil.

O trabalho em equipe pode ser considerado um dos pontos mais positivos registrados nesse análise. Essa estratégia aparece tanto na elaboração do material instrucional como no planejamento das telealunas. Além de contribuir para a auto-regulação do curso, uma vez que há mais oportunidades de discussões e trocas de experiências que ainda enriquecem a dinâmica interna do funcionamento do curso.

A percepção da receptividade do mercado em relação aos egressos ficou parcialmente prejudicada, pois a maioria dos participantes já atuava no magistério, em média, há mais de uma década. Ainda assim, o grau de satisfação e o nível de expectativa em relação ao futuro retorno do curso são positivos. O cruzamento de dados revelou que entre aqueles que consideraram não ter recebido retorno ou que manifestavam pessimismo em relação ao curso, a maior parte era formada por telealunos cujos motivos da opção de ingresso não se relacionava com o exercício do magistério. Por isso, é possível afirmar que a questão da

receptividade do mercado, representada pela satisfação dos telealunos e na sua expectativa de futuro com o curso, se mostrou bastante positiva, desde que subtraídos aqueles telealunos aversos à prática do magistério.

Outra conclusão importante se refere à natureza da estrutura tecnológica adotada no curso e, consequentemente, sua operacionalização pelos agentes envolvidos. Embora a tecnologia utilizada se baseie no uso integrado de várias mídias com o intuito de viabilizar a interatividade no processo ensino- aprendizagem e também o auto-estudo, as trocas intersubjetivas de mensagens entre professores e alunos ficaram bastante comprometidas. Primeiro, pela magnitude do programa, pois são 127 telessalas e mais de 300 turmas para uma equipe de 30 professores. O número de professores e de terminais de atendimento se mostraram insuficientes para a atender a demanda de alunos que se intensificava em períodos de pique, como final de bimestre, onde a preparação para as avaliações requer o contato com os teleprofessores para esclarecimento de dúvidas. Além disso, as tecnologias das redes telemáticas, principalmente a Internet, são pouco exploradas no curso. Sua utilização poderia amenizar tais problemas.

A sustentabilidade do curso se dá mediante a cobrança de mensalidades aos telealunos. O valor dessa mensalidade é relativamente baixo, sendo que alguns telealunos recebem bolsas parciais, tendo que prover com apenas 50% do valor cobrado. Além disso, há o apoio de órgão do governo. Houve previsões no projeto de contrapartida por parte de órgãos como a Secretaria de Estado da Educação. A sustentabilidade financeira do curso e sua viabilidade econômica só foi possível pelos criteriosos estudos prévios realizados e sua competente gestão financeira.

A dimensão política e a abrangência social do conjunto de ações que compreendem o processo de implementação e funcionamento do Curso Normal Superior Telepresencial merecem reconhecimento. A abrangência em termos populacionais do programa é um importante aspecto a ser considerado, num estado recente, criado numa região com pouca tradição em educação superior e com um contigente escolarizado muito reduzido. Em 2000/2001, quando foram abertas as primeiras inscrições para o vestibular, as estatísticas oficiais demonstravam que somente cerca de 24,5% dos inscritos nesse certame conseguiam vaga em alguma instituição de ensino superior no Estado. A alta seletividade nesse nível de ensino foi um problema amenizado com a Curso Telepresencial. Sozinho, este projeto foi responsável por um aumento de 68,14% das vagas oferecidas para o ensino superior no Estado, em 2001, segundo dados da secretaria do curso e do MEC/INEP/SEED(2002). É claro que esse aumento não se deu de forma proporcional à diversidade de áreas e cursos que compreendem as necessidades da região, isto é, o aumento no número de vagas desconsiderou a necessidade de formação específica em outras áreas do conhecimento.

Contudo, o Curso Normal Superior Telepresencial, guardadas as devidas ressalvas, além de uma bem sucedida experiência de formação de professores em nível superior, consegue inovar quando combina formação de qualidade com ampliação do acesso.

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