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CAPÍTULO IV: TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

4.2 Estrutura pedagógica do Curso Normal Superior

4.2.3 Estrutura pedagógica: avaliação

Em quaisquer instituições de ensino se procura medir e classificar o desempenho dos alunos. Esse sentido, segundo Luckesi (1997), remonta da Didática Magna, quando Comênio instaura o medo “como meio para estimular os estudantes ao trabalho intelectual da aprendizagem” (p. 23). Esse modelo de avaliação pressupõe uma compreensão de mundo, uma visão de sociedade. As experiências de avaliação “nas quais prevalece o controle sobre a assimilação dos conteúdos transmitidos aos alunos, buscam um resultado que deve se aproximar de um objetivo único, universal e ideal” (Picanço, 2003b, p. 129). Portanto, a avaliação, se se pretende tomar como mecanismo co-propulsor das aprendizagens dos discentes, deverá rever alguns princípios já cristalizados e legitimados em função da visão de mundo e sociedade que os sustentam.

Os modos de se avaliar na EaD, segundo Picanço (2003b) está equivocado por desvincular a avaliação do processo de ensino-aprendizagem que lhe é próprio. No caso da EaD, esse grau de desvinculação ou independência da avaliação em relação à educação como um todo acaba rompendo alguns aspectos que caracterizam essa modalidade de ensino.

Rompe-se, principalmente, com a flexibilidade do espaço, uma vez que os exames devem ser prestados presencialmente. Também se rompe com a flexibilidade de tempo, uma vez que os alunos devem sincronizar seu ritmo de estudo aos prazos definidos para apresentação dos resultados do processo de aprendizagem/assimilação (Idem, p. 132).

A decisão de como avaliar em EaD, portanto, está intimamente relacionada a uma concepção de educação que subjaz, aprioristicamente, qualquer modelo de avaliação. Os dados coletados na realidade do curso telepresencial indicam que a compreensão desse modelo vem se delineando no exercício da prática coletiva dos teleprofessores, tutores, coordenadores a partir das experiências vividas com os telealunos.

Os instrumentos de avaliação do aprendizado dos alunos são: prova objetiva, prova discursiva, port-fólio, seminários, artigos, relatórios.

Quadro 06 - Instrumentos e formas de avaliação

Instrumento de avaliação Elaboração Aplicação Correção Prova Objetiva (A -1 e A-3)

02 por semestre Equipe de professores Tutor Leitura óptica Prova subjetiva Disciplinar

(ASD – A -2) 01 por semestre

Equipe de professores Tutor Professores Portfólio - Semestral

02 trabalhos por disciplina Equipe de professores Tutor Tutor Seminário (PPP) Equipe de professores Tutor Através de

apresentação Artigos e relatórios

(PPP²) Equipe de professores Tutor Professores Fonte: Pesquisa de Campo

A prova objetiva é elaborada pela equipe de professores e enviada via malote para as telessalas. Os alunos respondem a essas avaliações, preenchem um gabarito correspondente às respostas das questões das provas e o enviam para o estúdio em Palmas. O gabarito é corrigido via leitura óptica e em seguida o resultado é disponibilizado aos alunos através do portal. O acesso a este resultado é feito via login e senha.

As avaliações subjetivas são compostas de duas questões discursivas. Uma vez respondidas, essa avaliações são corrigidas pela equipe de professores e as notas são processadas e anunciadas via Internet. Para composição da média geral, prevalece o critério da média aritmética simples.

Além dessas duas avaliações, há também a avaliação que é ministrada pelo tutor. “Em cada bimestre, cada equipe tem um trabalho. Então eles apresentam lá na sala de aula. O tutor auxilia nessa avaliação, corrigindo os trabalhos (Prof. 05)” . Nessa outra forma de avaliação, os professores elaboram atividades a serem realizadas pelos alunos, muitas vezes na forma de seminários, cuja avaliação é de responsabilidade do tutor.

Quadro 07

Depoimento de um teleprofessor sobre o modelo de avaliação

Fonte: Pesquisa de Campo

Esse é um problema que nós enfretamos. O nosso “ouro” é o tutor. A atividade sala, por exemplo, é o tutor o responsável pela correção. Então a gente dá uma atividade sala para que o tutor tenha a responsabilidade de olhar. Passamos os critérios e o tutor vai fazendo as avaliações. Duas provas de múltipla escolha e uma prova mais subjetiva, com duas questões dissertativas. Além de outros trabalhos de port-fólio. Esse trabalho de port-fólio o tutor que faz a avaliação. O que nós acompanhamos diretamente é a nossa avaliação dissertativa, com duas questões discursivas. Então esse é o ponto mais forte que nós temos. Inclusive nós estamos agora corrigindo essas provas que foram dadas no final de dezembro que não pôde ser corrigida. (Prof. 03)

Mas, como em todo curso, a ditadura dos prazos e das pressões internas por resultados se impõe de forma imperiosa. Com um grande número de avaliações para serem corrigidas, os teleprofessores se sentem pressionados e com poucas condições de atender a enorme demanda, muitas vezes reprimida em função dos prazos, do enorme contigente de alunos e do cronograma de trabalho a ser cumprido.

Um problema citado por pelo menos dois professores em entrevista diz respeito à descontinuidade da avaliação como instrumento para acompanhar o crescimento do aluno. Não há uma fidelidade no acompanhamento do aluno de uma avaliação para outra, ou seja, a cada bimestre, os alunos avaliados não são os mesmos por cada professor.

Eu, professora que tenho 40 horas, peguei 1024 artigos para corrigir em um mês e alguns dias. Não são os mesmos alunos do bimestre anterior, porque eu já trabalho no curso há alguns anos. Não são os mesmos que eu já corrigi em outras épocas, são outros. Então eu não tenho como ver se esse aluno de fato cresceu. Porque eu já estou corrigindo agora outras telessalas. Devido a quantidade de alunos então fica difícil verificar se houve realmente crescimento (Prof. 07).

Com isso, fica difícil orientar, corrigir, incentivar, ponderar ou mesmo elogiar a produção do aluno, pois não se sabe em que nível de compreensão ele se encontrava na etapa anterior.

Além disso, há incerteza por parte dos professores entrevistados quanto à elaboração dos trabalhos: “... por a gente também não estar próximo, quem garante que esse artigo foi feito por eles?” (idem). Face a essa incerteza, não há muito que se fazer para evitar o problema. Trata-se de um fantasma que assola os teleprofessores, porém, pouco podem fazer para evitar que essa situação comprometa a qualidade da formação dos telealunos.

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