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Capítulo V Considerações finais

5.1 Conclusões

Do total das informações recolhidas e analisadas torna-se agora pertinente agregar, em jeito de conclusão, os principais tópicos de estudo elencados e que nos permitem refletir acerca das questões que deram origem a este relatório de estágio.

De acordo com a nossa amostra de entrevistados, e não só, a instituição castrense apresenta-se como uma organização onde o desenvolvimento de competências é um processo inato, intrínseco e que acompanha todos os militares ao longo do seu período de permanência nas fileiras. De forma generalista, podemos afirmar que a competência corresponde à capacidade de mobilizar os diferentes saberes para a resolução de problemas em diferentes contextos (Stroobants, 2006).

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A instituição militar, através dos mais variados estímulos imprimidos pelo contexto, permite aos seus homens e mulheres o desenvolvimento significativo de competências e a aquisição de aprendizagens, não formais e informais. Todo este processo, como já referido, resulta não só dos momentos de aprendizagem não formal, como aqueles que são adquiridos durante a frequência da formação em contexto de trabalho (Canário, 2006), como também os que resultam dos momentos informais e que acontecem fora das normas formativas (Lima, 2007), como por exemplo na vivência e socialização com os restantes indivíduos da organização. Podemos afirmar que estes sujeitos transportam consigo, independentemente do tempo de serviço efetivo, percursos ricos em experiências e significados que lhes permitiram, logo desde que ousaram dar os primeiros passos na instituição, o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Enquanto etapa preponderante das suas vidas é de acordo mútuo que, estando ou não agregado às fileiras, as aprendizagens e os conhecimentos adquiridos ao longo deste percurso vão continuar a fazer parte da sua vida, tanto do ponto de vista pessoal como profissional. Do vasto conjunto de competências enumeradas por estes militares e ex- militares, essenciais ao bom desígnio da profissão que decidiram abraçar, podemos afirmar que são, nos dias de hoje, competências com uma natureza transversal ao mercado de trabalho civil, num mundo altamente globalizado, competitivo e em constante mutação.

Ser militar implica a conclusão, com sucesso, de uma série de etapas que vão desde o alistamento, a aprovação em provas de classificação e seleção e o consequente término da formação de base, de acordo com determinada categoria. Mais concretamente em relação ao nosso objeto de estudo, importa referir que o cerne do nosso relatório de estágio incide na formação militar e as aprendizagens que dela resultam. Essa formação vai compreender, tal como refere Lima (2007), o aglomerado aprendizagens e experiências, que têm por objetivo o desenvolvimento de conhecimentos, saberes, comportamentos e atitudes nas diferentes áreas do saber.

Após terminada a formação de base para o ingresso nas diferentes categorias existentes no Exército Português, nomeadamente Oficial, Sargento ou Praça, é imposto ao militar a frequência de formação no âmbito da sua especialidade que o dotará com as ferramentas basilares para o cumprimento das suas funções na organização, especialidade esta que o acompanha desde o dia da incorporação. Para além desta formação de especialidade é permitido aos militares a frequência de outras formações, desde que respeitem as seguintes equações: o militar deve preencher os requisitos para a frequência

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da formação (variável de acordo com o tipo e natureza da formação) e ter autorização por parte do escalão superior. Importa ainda referir que esta atividade formativa, e em virtude das enormes flutuações ao nível de efetivos e com a renovação constante dos militares em regime de voluntariado e contrato, pode acontecer não só quando o militar se voluntaria para a sua frequência, como através de nomeação por parte do escalão superior, esta segunda com o intento de suprimir as necessidades de formação da unidade, estabelecimento ou órgão e respeitando, ambas, os critérios referidos anteriormente.

Para além do evidente crescimento pessoal e profissional que estes militares pretendem atingir quando têm como objetivo frequentar determinada formação, podemos evidenciar também o interesse na obtenção de certificação que possa ser uma mais-valia na sua reintegração aquando do regresso ao mercado de trabalho civil. No entanto, o acesso a este tipo de formação nem sempre é fácil, e se, por vezes, é o próprio militar que não reúne as condições para a sua frequência, por outro lado a falta de disponibilidade por questões de serviço aliado à baixa regularidade com que a formação é disponibilizada pode comprometer a adiar a tão desejada frequência à formação.

Com o seu cariz rígido e exigente, o contexto militar implica a necessidade de possuir atributos bem desenvolvidos, como é o caso da condição física e psicológica, para que o sujeito consiga cumprir com sucesso tudo aquilo que lhe é determinado, com o pressuposto máximo do sucesso da missão do Exército e do país. Através da natureza mais prática e utilitária, e devido à sua especificidade, a formação no Exército Português aparenta não corresponder as exigências do mercado de trabalho civil, de acordo com os entrevistados. Podemos afirmar, assim, que grande parte da formação ministrada na instituição tem como finalidade principal o cumprimento da missão primordial do Exército e das Forças Armadas, no âmbito dos seus compromissos com a OTAN.

No entanto, no que diz respeito à consideração do militar enquanto profissional, e na sua perspetiva individual de valorização humana, enquanto prestador de um serviço ao país em regime de contrato, não é observável uma evidente preocupação em capacitar estes homens e mulheres com as ferramentas necessárias aquando do término do seu período contratual. Importa referir que esta oferta existe, apesar de estar longe de ser suficiente ou de conseguir abranger todos os militares nesta situação profissional. Apesar das diretivas emitidas aos Estados-Membros da União Europeia, no âmbito da Estratégia Europeia de Emprego, podemos afirmar que o Exército Português, enquanto elemento das Forças Armadas e instituição do estado português não aparenta nos seus processos formativos espelhar uma real valorização da aprendizagem ao longo da vida nem do

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sujeito, sujeito este que deve ser entendido, como refere Lima (2007), enquanto ser social que adquire e desenvolve competências e saberes fora do comum sistema formal de aprendizagem.

Com uma grande predisposição e desejo de experienciar todos os valores, princípios e desafios impostos pela condição militar, estamos perante um grupo de homens e mulheres que na sua generalidade encontram na instituição uma possibilidade para realização e concretização pessoal das suas metas e objetivos, em que muitas das vezes o descrevem como um sonho alimentado desde terna idade, sejam elas associadas às diferentes implicações daquilo a que ser militar acarreta, seja na busca de alguma estabilidade financeira, apesar dos relatos da baixa compensação salarial na base da pirâmide, isto é, nos postos mais baixos e em concreto na categoria das Praças.

Existe, na generalidade, a concordância de que a instituição militar apresenta uma oportunidade de amadurecimento pessoal e profissional, com a aquisição e desenvolvimento de competências e aprendizagens importantes, para os desafios profissionais que estes sujeitos irão encontrar ao longo da sua vida. Para alguns, mais do que as ferramentas de trabalho, foi a possibilidade de seguir uma carreira no final do seu período de permanência nas fileiras, de acordo com as formações frequentadas na instituição militar.

Face aos testemunhos recolhidos podemos afirmar que são poucos os militares que acreditam vir a exercer alguma função no mercado de trabalho civil em função das formações frequentadas na instituição militar, resultado do cariz estritamente militarizado das formações que frequentaram, evidência esta que é claramente suportada por aqueles que já abandonaram as fileiras. Mesmo assim, importa referir que apesar deste cenário generalista, tal como evidenciado na nossa análise de dados, podemos encontrar casos de sucesso nesta matéria.

Muitos destes homens e mulheres veem na instituição militar uma oportunidade não só de crescimento pessoal e profissional, durante o período contratual, como uma oportunidade de fazer carreira dentro do Exército Português, assim como de seguir, oportunamente, para as Forças de Segurança do nosso país. Em relação àqueles que não têm interesse em permanecer nas Forças Armadas, nem seguir o caminho das Forças de Segurança, afirmam que a realidade do mercado de trabalho civil apresenta condições mais atrativas.

Apesar da valorização atribuída a quem concluiu o seu serviço militar, por parte do mercado de trabalho civil, tal como descrito pela globalidade dos entrevistados, existe

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a necessidade de criar medidas objetivas e aptas a anular de forma eficaz a realidade precária que os militares em regime de contrato ou voluntariado encontram por imposição legal, no final dos 6 (seis) ou 7 (sete) anos de serviço, em que decidiram dedicar a sua vida a uma causa maior, à defesa dos interesses do país. Torna-se fundamental reconhecer estes percursos de vida, abundantes em aprendizagens e experiencias, através da merecida valorização dos saberes e competências que vão muito além dos sistemas tradicionais de formação (Lima, 2007).