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2 Conclusões e Considerações Relativas ao Estudo de Caso (Mealhada)

Capítulo VII Conclusões e Considerações Finais

VII. 2 Conclusões e Considerações Relativas ao Estudo de Caso (Mealhada)

 Com este estudo, fica evidenciado de forma clara, que o principal motivo de deslocação de visitantes à cidade da Mealhada é a sua gastronomia, em concreto o leitão assado à “moda da Mealhada”. Esta constatação é inequívoca, tendo em conta que da amostra total, 71% dos inquiridos viajou até à cidade com este propósito. A importância da gastronomia como atracção é ainda evidenciada pelo importante papel que igualmente desempenha como atracção secundária, bem como pelas declarações da Dr.ª Filomena Pinheiro, vice-presidente da autarquia e responsável pelo turismo.

 Através da análise dos dados e do trabalho de campo, é evidente a importância e a dependência do excursionismo no destino. A maioria dos inquiridos, são excursionistas, que se deslocam à Mealhada devido à gastronomia. Dos turistas inquiridos, a taxa de retenção é deveras pequena, apenas 9 turistas afirmam pernoitar na cidade, um valor muito baixo (10,5% dos 86 turistas presentes na amostra), assumindo-se aqui ainda mais, a vocação da cidade como destino de excursionismo. Se alargarmos o espectro de análise ao concelho, o valor aumenta para 15 turistas (17,4% dos turistas) um valor que continua a ser pequeno e a

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evidenciar a importância do excursionismo na região. É ainda de destacar que embora a oferta de camas na hotelaria tenha aumentado, o número de dormidas tem vindo a diminuir, facto que deve ser analisado com vista a serem retiradas as devidas ilações.

 No que respeita ao perfil do visitante, há uma ligeira predominância do sexo masculino, mas pouco significativa, sendo que no que respeita à faixa etária do visitante da Mealhada, predominam os visitantes compreendidos entre os 25 e os 65 anos, ou seja há uma grande heterogeneidade. Ao nível da formação académica há uma concentração maior de pessoas com Licenciatura ou com o Ensino Secundário concluído.

 Existe uma maior tendência para a deslocação à Mealhada em grupos de 2 pessoas (casal), todavia 69 dos inquiridos deslocaram-se num grupo de 4 a 6 pessoas, bem como 7 dos inquiridos afirmaram estar integrados em grupos com mais de 10 indivíduos. A Mealhada pode ser assim encarada como um destino de cariz familiar, muito pouco vocacionado para o turismo individual.

 A maioria dos visitantes afirma não ser a primeira visita à Mealhada, sendo que o principal motivo para uma visita anterior foi “provar a gastronomia local”, resposta dada por 82% dos inquiridos “repetentes” (N=127), o que é um dado positivo na medida em que o destino consegue fidelizar os visitantes. Por outro lado este valor confirma a importância da gastronomia como atracção turística primária da Mealhada.

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 Para além da visita à cidade, 54% dos inquiridos afirma ir visitar outros locais na região, sendo que 46% afirmam que a sua visita se restringirá apenas à cidade, dado um pouco preocupante pois o concelho apresenta outros motivos de interesse que aparentemente são pouco explorados ao nível da oferta, e que se reflecte ao nível da procura.

 O destino em questão, ao nível do planeamento em turismo, de acordo com a Câmara Municipal, apresenta um envolvimento muito baixo por parte dos empresários da restauração, algo que se reflecte num desenvolvimento pouco sustentável, que dá azo a queixas da parte dos clientes e que pode comprometer a imagem do local.

 A autarquia da Mealhada tem uma clara consciência do leitão como principal atracção turística, todavia não existe uma política de desenvolvimento do turismo gastronómico, em parte, pelos entraves da parte da restauração. Todavia a autarquia é aparentemente activa, procurando melhorar, dentro dos possíveis, o turismo e apostando em novos produtos que terão como complemento o leitão.

 A cidade da Mealhada ao nível do turismo depende quase exclusivamente da atracção gastronomia, sendo que esta dependência no sentido de desenvolvimento turístico sustentável pode ser perigosa. Um destino turístico que dependa excessivamente de um único recurso pode vir a confrontar-se com problemas de saturação por parte dos visitantes, monotonia da atracção, bem como ser susceptível a acontecimentos imprevisíveis. Se, por qualquer motivo, ocorresse algum problema ao nível da segurança alimentar e da qualidade da carne de porco, o afastamento previsível dos visitantes colocaria em risco todo o sistema turístico da cidade, provocando sérios problemas económicos, bem como sociais, já

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que existem directamente ou indirectamente centenas de pessoas ligadas ao negócio.

 A Mealhada necessita de repensar o seu posicionamento ao nível do turismo, por exemplo, com um Plano Estratégico de Turismo, que através de uma análise aprofundada apresente uma estratégia com vista a um desenvolvimento sustentável do turismo no destino. O enoturismo está muito pouco aproveitado e o termalismo, como as estatísticas demonstram (Ver V.5), está na mesma situação. A Mealhada possui uma beleza paisagística muito interessante ao nível do Luso e do Buçaco e este potencial deveria ser mais bem aproveitado por exemplo ao nível do turismo de natureza. O próprio produto gastronomia, necessita de ser profundamente repensado.

 Embora a capacidade de alojamento tenha vindo a aumentar, o número de dormidas, pelo contrário, tem vindo a diminuir (Ver gráficos nº1, 2 e 3). Como o estudo demonstra a maioria dos visitantes da cidade são excursionistas que passam e regressam no próprio dia a suas casas. Mesmo nos turistas (pessoas que nesse dia não regressam a sua casa) que visitam a Mealhada, estes têm um comportamento de excursionista na perspectiva da cidade em causa, visto que não utilizam os alojamentos da cidade. Estes, optam pela pernoita em locais próximos, como Figueira da Foz, Coimbra ou Aveiro. É necessária uma política de oferta turística que dinamize o sector hoteleiro local, que incremente a procura. Será necessário um trabalho de fundo para desmistificar a imagem da Mealhada como destino de passagem, uma vez que o concelho apresenta diversas potencialidades não aproveitadas e que colocadas ao nível da promoção em outro formato poderiam fazer aumentar o número de dormidas e consequentemente as receitas do turismo local. Uma solução poderá passar por parcerias com operadores turísticos e pelo desenvolvimento de

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packages na região de média duração. É ainda importante apostar na promoção quer em Portugal, como no estrangeiro, a desmistificar a ideia da Mealhada como local de excursionismo.

 Uma das prioridades sentidas aquando das deslocações à Mealhada, no âmbito do presente estudo, prende-se com a necessidade de qualificação do sector da restauração. Embora um pouco por todo o país, devido à sazonalidade, a restauração utilize mão-de-obra não qualificada, no caso de um destino como a Mealhada, onde a sua gastronomia e restauração são os “cartões-de-visita”, é imperativo uma restauração com profissionais formados, com experiência, e capazes de ser bons relações públicas. Embora não constasse do questionário, nas conversas tidas informalmente com os inquiridos, diversos manifestaram o seu desagrado para com os elevados tempos de espera, mas essencialmente para com a falta de profissionalismo dos empregados do sector, nomeadamente na forma de trato para com os clientes, bem como na forma pouco profissional de servir e atender “à mesa”. Sendo uma tarefa complexa, a Câmara Municipal da Mealhada tem consciência da mesma, todavia não pode desistir de procurar unir os empresários da restauração em torno do objectivo da qualificação do sector.

 A promoção “As Quatro Maravilhas da Mesa da Mealhada” obteve uma interessante aceitação, no entanto esta “marca”, está muito pouco aproveitada. Seria interessante ao nível da promoção, uma aposta mais concreta e abrangente e não deixar cair no esquecimento esta imagem.

 Seria interessante a criação de um sistema de certificação que valorizasse o leitão assado à “moda da Mealhada”

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como património intangível. Observando-se as considerações de Domingos Guzman(Ver II.3) sobre as condições para a gastronomia de um local ser património intangível, verifica-se o cumprimento de uma série de critérios: na zona da Mealhada criaram-se utensílios e materiais associados ao assar do leitão, igualmente a forma de cozinhar o leitão é própria e tradicional do local, foram estabelecidos costumes associados ao leitão como por exemplo o acompanhamento com a laranja bem como o vinho frisante, a receita e variantes têm passado de geração em geração e ainda incorporaram-se conhecimentos de outras cozinhas, sem desvirtuar o prato principal. Um sistema que valorizasse esta gastronomia típica poderia ser implementado na restauração permitindo certificar para os visitantes quais os restaurantes que de facto devem ser referência e que são representantes do património intangível da Mealhada. Claro que, como a Dr.ª Filomena Pinheiro realçou, a certificação é complexa no entanto seria interessante uma solução intermédia, valorizando os restaurantes que mais se aproximassem da confecção tradicional da iguaria, e que garantissem qualidade e um atendimento de nível superior.

 A Mealhada poderia ainda aproveitar o património intangível ao nível da museologia, pois tal como referenciado na revisão bibliográfica é já feito em outros destinos. Sendo o leitão património intangível da cidade, porque não a criação de um espaço museológico (com a história do leitão (nas suas diversas versões), sua forma de preparação, com exposições permanentes e temporárias) ou seja seria assim criada uma oferta associada à gastronomia que não assentaria apenas na restauração e que iria ao encontro dos visitantes gastronómicos culturalmente motivados.

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