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3 Conclusões e Considerações Relativas aos Visitantes Gastronómicos

Capítulo VII Conclusões e Considerações Finais

VII. 3 Conclusões e Considerações Relativas aos Visitantes Gastronómicos

 No que respeita aos visitantes inquiridos que viajam habitualmente por motivos gastronómicos, estes podem ser classificados como turistas gastronómicos ou como excursionistas gastronómicos, todavia quer uma designação, quer outra, inserem-se no contexto do sistema turístico. Na amostra obtida, existe um equilíbrio entre turistas e excursionistas, pois dos 153 visitantes gastronómicos inquiridos, 77 são classificados como turistas e 76 como excursionistas. Assim, no caso da amostra analisada, não se pode afirmar que exista uma tendência para que as pessoas que viajam habitualmente por motivos gastronómicos sejam predominantemente excursionistas, algo que empiricamente parecia um dado adquirido.

 Tendo em conta os dados obtidos, o que se poderá inferir é que a associação empírica muitas vezes feita entre gastronomia e excursionismo pode ser justificada devido aos visitantes que esporadicamente são atraídos por um evento ou que se deslocam a uma local para degustar um determinado alimento. Mas se analisarmos as pessoas que viajam regularmente por motivos gastronómicos, aqui, já não há tanto o peso do excursionismo, e verifica-se a permanência por mais dias. Esta constatação vai de encontro ao estudo da THR (2004) (Ver III.5) que afirma que os turistas de gastronomia e vinho fazem viagens de 5 a 7 dias. Pode- se concluir que a gastronomia atrai dois tipos de visitantes, aqueles esporádicos, “não dedicados” que são na maioria excursionistas, e os “dedicados” em que existe um equilíbrio entre turistas e excursionistas. Considerando que a amostra é relativa ao mercado doméstico, o potencial da gastronomia para induzir movimentos turísticos é de realçar, e aumentar a sua relevância para o desenvolvimento local do turismo.

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 Do ponto de vista do perfil, existe uma ligeira predominância do sexo masculino na amostra, todavia com recurso ao teste do Qui-quadrado, não se pode afirmar existir uma relação entre sexo e visitantes gastronómicos. No que respeita à idade predominante dos turistas gastronómicos, pode-se perspectivar uma tendência para que os visitantes gastronómicos se situem entre os 25 e os 65 anos. Quanto às habilitações literárias dos visitantes gastronómicos, existe uma relação passível de ser comprovada pelo teste do Qui-quadrado entre viajar por motivos gastronómicos e habilitações literárias. Assim, pode-se afirmar que nos visitantes gastronómicos há uma predominância de indivíduos com habilitações literárias de nível superior em relação a outros visitantes. Os visitantes gastronómicos possuem na generalidade habilitações mais elevadas, que influenciam o seu comportamento turístico. Outro aspecto interessante é a baixa sensibilidade ao preço.

 Ainda sobre o perfil dos visitantes gastronómicos, os dados apresentados, vão de encontro ao postulado por alguns autores e referido na revisão bibliográfica. A pouca dependência do sexo para distinguir o visitante gastronómico vai de encontro aos estudos do Research Department Tourism Queensland (2003), todavia na amostra estudada há uma ligeira prevalência do sexo masculino, algo referido nos estudos de Lankford e Çela (2005). Sobre a faixa etária os dados obtidos (25-65 anos) apresentam uma “banda larga” superior aos estudos apresentados na bibliografia, onde predomina a faixa etária dos 18-45 anos. Já no que respeita às habilitações literárias, e a predominância do grau de escolaridade elevado, os dados obtidos corroboram os obtidos pelo estudo do Turismo do Ontario (2004) e pelo estudo de Lankford e Çela. A baixa sensibilidade aos preços, constatada no presente estudo, vai de encontro ao defendido por Bernier (2003) que destaca ainda que o visitante gastronómico é alguém que possui rendimentos elevados, todavia, este

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aspecto no presente estudo não foi analisado, mas poderá estar relacionado com os níveis elevados de habilitações literárias.

 Analisando as motivações gastronómicas à luz da teoria defendida por Kevin Fields (2002)(Ver III.3.3), há nos visitantes gastronómicos uma maior predominância das “motivações gastronómicas físicas”, associadas ao prazer de degustar uma boa refeição, todavia há igualmente uma relação bem clara entre as viagens gastronómicas e as “motivações gastronómicas culturais”, o que vai de encontro à perspectiva de Bernier (2003) em que os turistas gastronómicos são pessoas com um nível cultural elevado e que procuram compreender a gastronomia e a sua autenticidade. Já as motivações de carácter “interpessoal” aparecem num terceiro plano, sendo as de “status e prestigio” relegadas para último lugar. Embora o turismo gastronómico não necessite de fortes campanhas de comunicação, seria interessante aproveitar as motivações gastronómicas, e tê-las presentes aquando da criação de material promocional. Sendo, pelos dados obtidos, as “motivações gastronómicas físicas” e “culturais” as mais relevantes, estas poderiam ser exploradas em campanhas evidenciando consoante os destinos o bom sabor da gastronomia local, e o património intangível que representa.

 No que respeita às viagens, os visitantes gastronómicos procuram essencialmente boa gastronomia, qualidade, bom atendimento e autenticidade. Todos estes aspectos vão de encontro aos pontos apresentados por Bernier (2003). É assim importante que as autoridades estejam atentas, aquando da promoção da gastronomia, ao aspecto da qualidade e do atendimento, sensibilizando os vários parceiros para a relevância destes factores a médio e longo prazo.

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 Em relação às distâncias quilométricas que os visitantes gastronómicos se dispõem a fazer por gastronomia, predominam nesta amostra as distâncias entre 201 e 300 Km, todavia é de notar que uma parte significativa faz, sem problema, mais de 301 Km apenas por motivos gastronómicos. Assim, fica evidenciado que as rotas gastronómicas fazem todo o sentido e devem ser desenvolvidas.

 Na amostra estudada, a maioria dos visitantes gastronómicos inquiridos, adquire nos destinos visitados, produtos gastronómicos para consumir em casa e uma parte relevante adquire igualmente para ofertar a amigos e familiares. Esta situação constatada no estudo de caso, suporta a teoria apresentada em III.6, na medida em que o turismo gastronómico pode de facto contribuir para o desenvolvimento sustentável regional, e ser um importante complemento económico para as populações locais. Como referido o caso de Covide, existem condições em Portugal para desenvolvimentos semelhantes em outros locais, que beneficiariam decerto as populações.

 No que respeita ao movimento associado ao turismo gastronómico, parece haver uma clara consciência de que este está bastante presente actualmente, com cada vez mais pessoas a viajarem por estes motivos, havendo uma percepção de que a gastronomia é património intangível, é uma forma de cultura representativa dos povos. Assim parece haver uma procura que justifique, no caso de Portugal, a criação de rotas gastronómicas nacionais, o que iria reforçar o produto gastronomia e vinho (Ver III.7). Outro dado que pode contribuir para justificar estas rotas é a constatação na amostra deste estudo de que os visitantes gastronómicos apresentam uma maior predisposição para efectuar touring, do que os visitantes “não gastronómicos”. No caso de serem criadas rotas gastronómicas em Portugal, estas deveriam privilegiar a região Norte, a

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Bairrada e o Alentejo, de acordo com os principais destinos gastronómicos em Portugal, na opinião dos inquiridos que viajam habitualmente por motivos gastronómicos.

 Existindo no mercado doméstico, um interesse crescente pela gastronomia de qualidade, o que se comprova pelas declarações do jornalista Mário Augusto, e as audiências do seu programa, no âmbito do PENT, seria interessante o Turismo de Portugal apoiar programas do género, mas eventualmente mais institucionais, que promovam o turismo de gastronomia e vinhos no nosso país, e ainda no estrangeiro.