• Nenhum resultado encontrado

O estudo de intervenções recentes em casos de estudo específicos construídos no âmbito do Plano de Melhoramentos para a cidade do Porto permitiu a análise de diferentes acções relacionadas com alterações tanto no espaço público, como no exterior e espaços comuns dos edifícios ou no interior das habitações. Este teve como principal objectivo reflectir sobre a adaptabilidade e tolerância à mudança desses bairros e identificar as principais potencialidades e limitações de cada tipo de intervenção. A análise revela que estes conjuntos habitacionais apresentam, regra geral, grande potencial de transformação e consequente adaptação. A maioria das acções identificadas consistem em intervenções gerais nas fachadas, coberturas e áreas comuns que envolvem, pontualmente, pequenas intervenções em habitações devolutas. Este tipo de intervenção resolve sobretudo problemas térmicos, pela aplicação de isolamento e novas caixilharias, e questões técnicas, pela alteração das infraestruturas. Porém, não contribui para a adequação significativa do interior das habitações às exigências actuais de conforto doméstico. As alterações introduzidas por este tipo de intervenção podem causar um impacto maior (ex. Carvalhido) ou menor (ex. Falcão) na linguagem exterior dos edifícios, no entanto, tendem a preservar uma lógica geral de conjunto (ex. Engenheiro Machado Vaz). A permanência dos habitantes durante a execução dos trabalhos contribui para uma menor logística e custos associados.

As intervenções com transformação tipológica, identificadas em menor número, são mais exigentes em custos e logística, dado que implicam a mudança temporária dos residentes, o que geralmente resulta num aumento da renda depois dos trabalhos concluídos. No entanto, respondem de forma mais eficiente e definitiva aos problemas de adequação aos requisitos de conforto, tanto dos edifícios (ex. isolamentos, caixilharias, painéis solares) como das habitações (ex. áreas, distribuição funcional, equipamentos), o que resulta numa melhoria significativa das condições de vida dos habitantes. Este tipo de intervenção origina, contudo, soluções muito divergentes: por um lado, permite restaurar a linguagem do conjunto (ex. primeira fase do Conjunto Habitacional Rainha D. Leonor), por outro lado, pode levar a transformações profundas com alteração das características arquitectónicas originais (ex. CTT, Pereiró). Para além disso, também se registam casos de reinterpretação da linguagem original, no sentido de melhorar as condições de vida dos habitantes (ex. São João de Deus); e situações de demolição total para a construção de novos empreendimentos, o que resulta em perdas significativas do património habitacional (ex. segunda fase do Conjunto Habitacional Rainha D. Leonor).

As intervenções no espaço público envolvente sobressaem na integração dos conjuntos habitacionais (ex. Pio XII e Contumil) e na melhoria das ligações com as estruturas urbanas adjacentes (ex. Lagarteiro). Nas acções identificadas prevalecem a reorganização geral dos traçados (pedonais e automóveis), com acesso a pessoas com mobilidade condicionada, e a definição e hierarquização de diferentes áreas e respectivos usos.

A adaptabilidade resulta da tolerância às alterações introduzidas ao longo do tempo e que surgem em função da flexibilidade original. A tolerância à mudança e a capacidade de adaptação são características fundamentais que influenciam a permanência e a durabilidade dos espaços. Os edifícios de habitação estão em constante transformação e permanente adequação a necessidades de conforto. O que pode ser transformado ou facilmente adaptado tende a permanecer ao longo do tempo enquanto a imposição rígida de uma estrutura, forma ou função diminui em durabilidade.A flexibilidade dos espaços domésticos implica uma resistência ao tempo e às alterações sociais. Neste contexto específico, as características que evidenciam flexibilidade nestes conjuntos são o uso comum de um projecto tipificado, a definição de uma estrutura racional e a configuração e organização funcional dos edifícios. As fachadas apresentam uma linguagem simples com elementos modernos claramente definidos. No interesse da preservação, as acções devem ser ajustadas a cada caso, considerando as especificidades e qualidades inerentes ao projecto e as potencialidades e limitações de cada tipo de intervenção. Neste sentido e como conclusão, dois desafios futuros destacam-se para potenciar a valorização e preservação destes conjuntos.

Disseminação e reconhecimento deste património arquitectónico

Um dos principais desafios é melhorar a consciencialização dos habitantes e dos especialistas sobre a importância deste património arquitectónico recente. Neste contexto, a base de dados desenvolvida pelo projecto de investigação “Mapa da Habitação” constitui um instrumento essencial para identificar os programas de habitação e respectivas iniciativas. Esta plataforma, disponível online, reúne os documentos do processo, bibliografia e referências fotográficas, bem como o enquadramento regulamentar para cada operação. Além disso, esta base integra também uma secção específica centrada nas acções de intervenção que compreende as principais informações sobre os projectos realizados desde a construção original dos edifícios (autor, cliente, ano) com o nível (leve, moderado, profundo e total), tipo (alteração, demolição, extensão) e objectivo (espaço público; fachada, cobertura e áreas comuns; espaços domésticos) de cada intervenção. Esta análise contribui sobretudo para identificar as principais acções realizadas e respectivos resultados. Para intervenções futuras, esta base pode auxiliar a avaliação adequada de cada caso específico.

A análise das experiências dos habitantes como indicador

Outro desafio consiste em reconhecer a experiência dos habitantes como um indicador da qualidade arquitectónica através da análise do confronto entre o desenho do espaço e a prática do uso quotidiano. Adicionalmente, a experiência do usuário deve ser reconhecida no desenvolvimento de estratégias de intervenção futuras para melhorar o conforto doméstico e, assim, promover um envolvimento efectivo da população na manutenção da habitação.

Muitas vezes, nos casos analisados, os residentes não participam no processo de tomada de decisão, tendo uma acção individual bastante restrita. Como resultado, mesmo em acções completas que incluem alterações tanto no exterior dos edifícios como no interior das habitações, os residentes continuam a realizar intervenções individuais para melhorar e/ou aumentar o espaço habitacional (ex. Rainha D. Leonor, primeira fase) num processo longo com sentido de apropriação do espaço. Como tal, as decisões sobre acções de intervenção em edifícios de habitação devem ser feitas sempre sob consulta.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi elaborado no âmbito do projecto Mapa da Habitação/CEAU, co-financiado pelo Fundo Europeu de Desen- volvimento Regional (FEDER) através do COMPETE 2020 - Pro- grama Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e fundos nacionais da FCT no âmbito do projecto PTDC/CPC- HAT/1688/2014 e POCI-01-0145-FEDER-007744.

Créditos das imagens: Luciana Rocha (2018)

BIBLIOGRAFIA

AA/VV, “Conjunto de habitação municipal Rainha D. Leonor, Por- to”. JA 236 Ser Pobre, Jornal dos Arquitectos – Portugal, 2009. ISSN-0870-1504

[s/n], Plano Director da Cidade do Porto, Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal do Porto, Câmara Municipal do Porto, Vol. 3, 1962

Câmara Municipal do Porto, Plano de Melhoramentos: 1956- 1966, CMP, Porto, 1966

Cepeda, André, Porosis: The architecture of Nuno Brandão Costa, Daniela Sá e João Carmo Simões (ed.), Monade, Lisboa, 2017. ISBN 9789899948525

Cepeda, André; Costa, Nuno Brandão, São João de Deus, Dafne Editora, Porto, 2019. ISBN: 978-989-8217-47-9

Conceição, P.; Brandão Alves F.; Corvacho H.; Restivo J.; Quintela M. e Gonçalves J., Caracterização e diagnóstico do Bairro dos CTT, Porto, Domus Social. E.M./CTT-Correios de Portugal/IC-Insti- tuto da Construção, Porto, 2010

Costa, Nuno Brandão, Conversa sobre o projecto de intervenção no Bairro de São João de Deus, FAUP, Porto, Fevereiro 2019. En- trevista concedida a Luciana Rocha.

Cruz, Marta, “The inhabitants’ experiences as an architectural quality indicator”, 24th ENHR Conference, Lillehammer, Norway, 2012, Publicação online

Guedes, Cristina. “Intervenção no Bairro Pio XII e Contumil, Por- to”. Estudo prévio: Revista do Centro de Estudos de Arquitectura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, 2014, UAL

Lameira, Gisela e Rocha, Luciana. “Adaptação e transformação na habitação apoiada pelo Estado no século XX. As Torres Ver- melhas da Pasteleira enquanto laboratório” em Congresso da re- abilitação do património (CREPAT), Aveiro: 131-139, 2017. ISBN: 978-989-20-7623-2

Lameira, Gisela e Rocha, Luciana. “Portuguese state-subsidized housing projects. A general overview of a recent heritage”. em Heritage 2018. Proceedings of the 6th International Conference on Heritage and Sustainable Development Volume 2. Amoêda, R; Lira, S; Pinheiro, C.; Zaragoza, J. M. S.; Serrano, J. C.; Carrillo, F. G. (eds.), 1373-1383. Greenlines Institute, Barcelos, Portugal, Editorial Universidade de Granada, Espanha, 2018. ISBN: 978-84- 338-6261-7

Lameira, Gisela e Rocha, Luciana. “Portuguese state-subsidized multifamily housing projects. Emergent modernity during the mid 20th century”. em Tostões, Ana, e Koselj, Natasa (eds.), (2018) Proceedings of the 15th International Docomomo Conference - Metamorphosis. The Continuity of Change. Lisboa: Docomomo International; Ljubljana: Docomomo Slovenia, 2018, 164-163. ISBN: 978-989-99645-3-2

Lima, Ana, Habitação mínima e apropriação do espaço: O Bairro Rainha D. Leonor. Tese de Mestrado Integrado, FAUP, Porto, 2012 Ministérios da Justiça, das Finanças e dos Assuntos Sociais, “De- creto-Lei n.º 419/77 de 4 de Outubro”, Diário da República, I Série, N.º 230, 1977: 2431-2433

Ministério das Obras Públicas e Comunicações (Gabinete do Min- istro), “Decreto-Lei n.º 34486”, Diário da República, I Série, n.º 73, 1945: 232-234

Ministério do Planeamento e da Administração do Território, “Decreto-Lei n.º 310/88 de 5 de Setembro”, Diário da República, I Série, N.º 205, 1988: 3666-3668

Pereira, Virgílio Borges, A Habitação Social na transformação da cidade. Sobre a génese e efeitos do “Plano de Melhoramentos para a Cidade do Porto” de 1956, Porto, Edições Afrontamento, 2016. ISBN: 978-972-36-1478-7

Queirós, João, “O ‘Plano de Melhoramentos para a cidade do Porto’ de 1956: Enquadramento político-social e elenco de real- izações”. In V.B. Pereira (org.), O Estado, a habitação e a questão social na cidade do Porto, Porto, Edições Afrontamento, 2016: 37-64

Restivo, Joana; Alves, F. B.; Mendonça, P.; Ferreira, J. A., “Public Housing Renovation in Porto: Typology versus Occupancy Den- sity”, in International Journal for Housing Science, Vol. 36, N. 1, 2012: 9-16

Restivo, Joana, Habitação pública no Porto: Intervir para qualifi- car, Tese de Doutoramento, Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia, Porto, 2014

Restivo, Joana; Ferreira, J. A.; Alves, F. B.; Mendonça, P., “Public housing in Porto: (in)extensive refurbishment”, in Workshop Phys- ical Aspects of Design and Regeneration, ENHR, 2015

Rocha, Luciana, Intervenção no Moderno: Reconhecimento, car- acterização e salvaguarda de edifícios de habitação plurifamiliar. Tese de Doutoramento, Universidade do Porto, Faculdade de Ar- quitectura, 2016

Outras referências bibliográficas sobre os bairros referidos neste trabalho podem ser encontradas na base de dados online do MdH/Lista de bairros: [https://mappingpublichousing.up.pt/en/].

BIO

Carmen Espegel (Palencia, 1960) es Doctora Arquitecta por la Escuela Técnica Superior de Arquitectura de la Universidad Politécnica de Madrid, donde ejerce como Catedrática de Proyectos Arquitectónicos. En 1995, realizó el Master of Conservation os Historic Towns and Buildings, en el Lemaire Center for Conservation en la Katholieke Universiteit de Leuven (Bélgica).

Su trayectoria se apoya en tres áreas complementarias: investigación, académica y profesional. Su orientación en la investigación se centra principalmente la relación de la mujer y la arquitectura, en la vivienda colectiva, y en la crítica arquitectónica. Dirige el Grupo de Investigación “Vivienda Colectiva”- GIVCO. A nivel académico ha impartido conferencias en Estados Unidos, Suecia, Bélgica, Holanda, Italia, México, Brasil o Argentina. Ha escrito numerosos libros y artículos mostrando su pensamiento crítico, donde resaltan, Women Architects in the Modern Movement (2018), Collective Housing 1992- 2015 Vol.II (2016), Vivienda Colectiva en España Siglo XX 1929-1992 Vol.I (2013), Eileen Gray: Objects and Furniture Design (2013), Aires Modernos, E.1027: Maison en bord de mer de Eileen Gray y Jean Badovici (2010) y Heroínas del espacio (2008).

En el ámbito profesional comienza su trayectoria en 1985 y constituye con Concha Fisac en 2003 la firma espegel-fisac arquitectos cuyas obras han sido reconocidas en diferentes ocasiones. Participa y gana numerosos concursos nacionales o internaciones donde destacan las 500 Viviendas de Interés Social para Bogotá en Colombia, el Centro Cultural y Ayuntamiento de Gumpoldskirchen en Austria, la Remodelación del barrio Tiburtino III en Roma, el Mercado de Chamartín, las Viviendas para Realojo en Embajadores 52, ambos en Madrid, o el Parque del Salón de Isabel II en Palencia. Su obra ha sido recogida en libros y revistas de prestigio como El Croquis, Arquitectura Viva, ON diseño, Arquitectura, Pasajes, Arquitectos, Future y Oris, o en Exhibiciones como la Shanghai World Exposition (China), el Royal Institute of British Architects de Londres (RIBA) y la Gallery AEDES am Pfefferberg (Berlin). Ha recibido, entre otros, el Premio COAM (Colegio Oficial de Arquitectosde Madrid) en los años 2013, 2011, 2005, 2003, 2000 y 1993; el Primer Premio ATEG de Galvanización 2004; o el Premio a la mejor propuesta construida de la Vivienda Social (2002) del Consejo Superior de Colegios de Arquitectos de España.

ABSTRACT

Ernst May como concejal de arquitectura y urbanismo, auspiciado por los idearios sociales de la República de Weimar, entendió que la nueva ciudad para la clase obrera necesitaba no sólo racionalizar la célula de habitación, mecanizar el proceso constructivo o normalizar sus elementos, sino que debía indagar sobre una nueva manera de habitar de forma colectiva. Una vida en común, una realidad compartida en la ciudad de todos que obligaba a transformar los programas previos y que hizo crecer una sentimiento de comunidad inexistente hasta entonces. La condición fundamental pasaba por la reforma de la ley del suelo. Las 15.000 unidades levantadas entre 1925 y 1930, que representaron más del noventa por ciento de las viviendas terminadas en esa ciudad en ese momento, no hubieran podido lograrse sin el empeño puesto en la eficiencia económica desde el diseño a la construcción. La estrategia urbana contemplaba un planeamiento descentralizado mediante un crecimiento polinuclear con la formación de diversos complejos satélites que, dotados de servicios colectivos, funcionasen a modo de colonias autosuficientes, en estrecha relación con la entorno natural. El punto de partida para la racionalización fue el dimensionamiento de la célula de habitación mínima. Si bien, la investigación sobre la racionalización de la economía del hogar se centró en la denominada Cocina de Frankfurt, diseñada por Margarete Schütte-Lihotzky, donde se redujeron las dimensiones y se mejoró su funcionamiento. Aunque para obtener la economización de la vivienda también fue necesaria la mecanización de los sistemas constructivos, mediante el desarrollo de unos paneles prefabricados de hormigón armado de gran formato, que redujesen el tiempo en obra. Al mismo tiempo, May insistió en elevar la calidad de los elementos constitutivos de la vivienda como puertas, ventanas o picaportes por lo que realizó un cuidadoso estudio de homologación y normalización que quedó reflejado en el Registro de Frankfurt, de obligado cumplimiento para los contratistas del momento. Por último, el equipo de Frankfurt comprendió la importancia de la divulgación, especialmente a la hora de concienciar al ama de casa, por lo que mostró su investigación en exposiciones, conferencias, libros, revistas o films. Con esta visión global del hecho urbano, Frankfurt am Main se convirtió en un experimento en materia de vivienda obrera de gran trascendencia.

Outline

Documentos relacionados